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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

- Carta Enigmática

CARTA ENIGMÁTICA, DIVERSÃO PARA ADULTOS E CRIANÇAS (ANTIGAMENTE. É CLARO)

Mais uma contribuição importante do nosso colaborador, e colunista Carlos Braga Mueller, Jornalista/escritor em Blumenau
Por Carlos Braga Mueller
Lendo o que André Luiz Bonomini escreveu sobre o Almanaque Renascim no seu blog A Boina, e que também foi divulgado no blog do Adalberto Day, lembrei-me dos meus tempos de infância, quando eu pude acompanhar a atividade do meu pai, farmacêutico, à frente da sua Farmácia Popular.
Meu pai, também Carlos Müller (com trema no u) começou a trabalhar na Drogaria Hoepcke de Florianópolis por volta de 1941. Era cidadão alemão e chegara ao Brasil em companhia dos pais quando tinha apenas 7 anos de idade. Quando o Brasil declarou guerra à Alemanha foi transferido para a filial da Drogaria de Lages. Mas logo resolveu montar seu próprio negócio e foi em Capão Alto que ele instalou sua primeira farmácia.
Capão Alto hoje é município, mas por volta de 1944 era uma povoação bastante modesta.
Como meu pai estava sempre em busca de novos horizontes, poucos anos depois ele mudou a farmácia para Serril; depois para Braço do Trombudo, e finalmente para Rio Cerro II.
Enquanto isso, para não prejudicar os estudos, eu criança, estudava em Blumenau, morando com meu avô Thomé Braga e minhas tias. Mas nas férias vivia entre o balcão e os frascos de remédios da farmácia.
Neste locais, longe de cidades maiores, não existiam médicos; por isso o farmacêutico era considerado um doutor.
Mas o que me remete agora ao Almanaque Renascim SADOL, relembrado pelo Bonomini, é a expectativa que todos tínhamos, no final de cada ano, com a vinda do Almanaque anual, editado pelo Laboratório Catarinense de Joinville, Os exemplares vinham acondicionados nas caixas dos medicamentos, entre a palha que forrava as embalagens.
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No seu livro “Do Almanack aos Almanaques”, Marlyse Meyer revela que a primeira edição foi publicada em 1946, e com apenas 1.000 exemplares..
Marlyse cita algumas curiosidades. Por exemplo: o depois famoso artista plástico Juarez Machado, joinvilense, teve seu primeiro emprego como desenhista na gráfica e editora do Laboratório Catarinense, onde eram elaboradas as embalagens dos remédios e os almanaques. Ficou três anos ali e só depois de um ano de prática foi autorizado a desenhar para o Almanaque, a verdadeira “menina dos olhos” do Sr. Bornschein, dono da empresa. Até “cartas enigmáticas” passaram pelas mãos do então aprendiz Juarez Machado.
Outro fato interessante: no pós-guerra houve racionamento de papel no país. Considerado como publicação didática, o Almanaque conseguiu ter acesso ao papel necessário à sua impressão.
E também me lembrei de um almanaque que guardo até hoje, herdado de minhas tias: o ALMANACK CABEÇA DO LEÃO (Antigo Manual de Saúde), do Dr. Ayer, edição de 1939, ano em que nasci.
FOTO DA CAPA DO ALMANAQUE
Naquele ano o Almanaque estava completando 87 anos de existência e anunciava os medicamentos do Laboratório do Dr. Ayer:  Salsaparilha, Peitoral de Cereja, Vigor do Cabelo, Pílulas Catharticas (contra prisão de ventre), Digestivo Destex e Linimento de Sloan.
E mais: este tipo de almanaque publicava  a previsão do tempo para os 12 meses do ano (como será que conseguia ?), calendário com hora do nascer e do pôr sol, e do pôr da lua para o norte e sul do Brasil, horóscopo, o que plantar, o que semear, informações diversas (lá está: “Santa Catharina – Pouco maior do que Portugal.”), ou seja, um verdadeiro modelo para os almanaques farmacêuticos que apareceram no Brasil durante o Século XX..
FOTO DA PÁGINA DO MÊS DE MAIO DE 1939
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Os Almanaques optaram por colocar também páginas dedicadas ao entretenimento, com charadas, cartas enigmáticas, palavras cruzadas.
O que mais me intrigava, em criança, eram as “Cartas Enigmáticas”, um emaranhado de desenhos e letras que, decifrados traziam uma bela mensagem.
Encontrei mais recentemente uma carta enigmática que traduzi conforme abaixo:
FOTO DA CARTA ENIGMÁTICA
Uma lâmpada, significando luz
Luz menos z, mais cio = Lucio
Pano costurado, significando costura
Costura menos ura, mais a = Costa
Um pé, menos o p = é
Ovo, menos vo = o
Auto mais r = autor
Dado, menos da = do
Planta, menos ta, mais um o = plano
Pilhas, menos has, mais oto = piloto
Dedo, menos do = de
Brasil mais ia = Brasilia
Tradução da frase:
“Lucio Costa é o autor do plano piloto de Brasília.
E assim, decifrando cartas enigmáticas ou cruzando palavras o brasileiro do século XX passou boa parte do seu tempo.
E ninguém se arrepende disso.
Texto e fotos do Jornalista e escritor Carlos Braga Mueller.

6 comentários:

  1. Meu caro Adalberto,
    Apesar de não ter vivido muito estes tempos,sempre é muito bom ler seus textos, sejam quais forem os temas.

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  2. Excelente....gostei demais......
    James Locatelli

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  3. Fiquei encantado com o Blogue divulgando antigos almanaques Renascim. Acredito que devo ter lido vários destes almanaques na Biblioteca do Seminário Sagrada Família de Santo Angelo. Cheguei a pensar em montar um Almanaque (anual) aqui em Lajeado, neste formato antigo, pois era o tipo de leitura que me despertavam interesse pela leitura de revistas e, depois, de livros, a ponto de pulicar 14 livros (de história e biografias) em Lajeado, de 1989 a 2010. Mas, não sei se 81 anos ainda é idade para esse novo projeto...

    Ab.
    José Alfredo Schierholt

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  4. Meu carissimmo amigo, Todas essas coisas, esses fatos e acontecimentos aqui narrados já passaram por mim com grande saudade. Como é bom reviver isso tudo, por isso, se recordar é viver, viva Blumenau, que tem um filho abençoado como você, e, diga-se de passagem, saudações respeitosas ao caro e precaro jornalista Braga Müller, com sua preciosa coletânea de fatos e acontecimentos na vida dos Blumenauenses. Meu grande abraço ao amigo.
    Eutraclinio Antônio dos Santos

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  5. Bom dia prof! é encantador Todas essas coisas, esses fatos e acontecimentos,e penso q não devia ter ficado no passado,e sim ser aproveitado em nosso presente,e futuro.Textos assim só nos trás sonhos,educação,aprendizado, cultura.ABRAÇÃO QUERIDO PROF, E OBRIGADO SEMPRE!!!!

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  6. Muito legal, amigo Adalberto, e parabéns ao Braga Mueller pela bela postagem. Muitos daqueles que nos antecederam tiveram pouca oportunidade de estudar, pois eram lavradores e a sua vida se resumia praticamente ao trabalho. Acredito que os almanaques, que todos tinham, mesmo no interior, tenham sido uma pequena compensação a isso. Bem ou mal, muitos sabiam ler e aprendiam com os almanaques, não apenas sobre as coisas do campo, mas também sobre história, geografia, curiosidades, etc. São justas, a meu ver, estas homenagens que se faz à memória dos almanaques. Cumpriram um papel educativo que nem sempre a educação formal foi capaz de suprir. Grande abraço!

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