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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

- Casa São José

A HISTÓRIA DA CASA SÃO JOSÉ DE BLUMENAU

por Carlos Braga Mueller (Jornalista e Escritor)

Pediu-me o amigo Adalberto Day que elaborasse um texto contando a história de um casarão que, na primeira metade do século XX, era um dos pontos mais conhecidos e frequentados da cidade de Blumenau, a Casa São José, depois transformada em hotel, um ponto de reuniões e diversões na então pacata Blumenau.
Pesquisando os arquivos da revista Blumenau em Cadernos, lá encontramos muitas e interessantes informações sobre o assunto, fruto do estudo e persistência das pesquisas do historiador José Ferreira da Silva.
 fotos década de  1920
 Como tudo começou 
A história da Casa São José está intimamente ligada à religiosidade dos católicos de Blumenau.
Foi no dia 7 de setembro do ano de 1884 que foi fundada na Paróquia de São Paulo Apóstolo a Sociedade de Homens São José, a S. Joseph Männer-Verein, destinada , segundo se imagina, pois não se localizaram os estatutos originais, a auxiliar seus associados em dificuldades. Indo mais além, previa atendimento aos sócios nas doenças, pensão na velhice, montepio aos herdeiros, auxílio funeral.
Como era de cunho essencialmente voltado à religião, estabelecia até punições para os sócios que não comparecessem a determinadas procissões ou que não participassem das comunhões mensais, como conta Ferreira da Silva.
Todos os domingos e nos dias santos, durante a missa, era acesa uma vela no altar de São José.
Em março de 1892, o padre José Maria Jacobs transferiu a paróquia e o Colégio São Paulo Apóstolo para os padres franciscanos e o novo vigário,  Frei Zeno Wallbroehl, depois de discussões e constatada falta de interesse dos sócios pela Sociedade, sugeriu que a mesma fosse extinta, o que realmente aconteceu.
O fundo de caixa foi destinado a ações da paróquia.
Enquanto isso, sob o comando dos franciscanos, a paróquia foi atraindo cada vez maior número de católicos às práticas religiosas na igreja matriz. Aos domingos vinha gente à missa de todas as partes da Colônia. Uns vinham a cavalo, outros de carroça, até de canoa, e geralmente se defrontavam com dificuldades para estacionar seus veículos ou montarias e encontrar um local para se alimentar e pernoitar.
A matriz localizava-se onde hoje está situada a Catedral de São Paulo Apóstolo, na Rua 15 de Novembro.
Foi então que foi sendo firmada a ideia de se reerguer a antiga Sociedade São José, com finalidades mais amplas e atuais. Além do lado beneficente teria uma sede onde os colonos do interior encontrariam hospedagem em suas horas de permanência na cidade quando chegavam para assistir as missas e demais ofícios religiosos.
E assim, em 1905, sendo vigário da paróquia o frei Crisólogo Kampmann, reestruturou-se a associação, tendo sido eleito seu presidente o médico Wiegando Engelke.
Nesse tempo ainda existia na entrada da Rua das Palmeiras, atual Alameda Duque de Caxias, o antigo Barracão dos Imigrantes, que jazia inaproveitado depois de ter servido, por décadas, como abrigo provisório aos colonos recém-chegados. O Governo do Estado pretendia desfazer-se dele e graças à interferência de frei Beda Koch, que era amigo pessoal de Vidal Ramos, então na chefia do governo, o casarão foi vendido à Associação São José, que o demoliu, empregando o material na construção de sua sede, um casarão em terreno cedido pela paróquia, em frente ao Convento franciscano, no lado direito da Rua 15 de Novembro, fazendo fundos com o Rio Itajaí Açú. O local hoje é ocupado pela Praça Professor João Mosimann, em frente ao castelinho da Havan. 
No dia 31 de agosto do ano de 1905, Dom Duarte Leopoldo e Silva, bispo diocesano de Curitiba, a quem a paróquia estava subordinada, chegou a Blumenau em visita pastoral e lançou a pedra fundamental da "Casa São José", solenidade da qual foi lavrada ata.

SURGE A CASA SÃO JOSÉ 
No ano seguinte a Casa São José foi inaugurada. O anúncio publicado no jornal "Blumenauer Zeitung" anunciava:
"Quinta-feira, 1º de novembro de 1906. Às 11 horas, inauguração da sede da Sociedade e às 19 horas, no mesmo local, teatro com peças em alemão e português. Entrada 1$000. Para os sócios $500."

Ainda segundo a imprensa daquela época, a cerimônia inaugural constou de missa solene e benção do prédio, seguindo-se almoço no local.
Às 7 da noite começou a representação teatral no palco do salão. Inicialmente foi apresentada uma peça em português, em 2 atos, e em seguida outra peça, em alemão, em um ato, seguindo-se mais uma peça em alemão, em 5 atos. No encerramento houve um esquete cômico ambientado em uma escola pública no começo do século 19, arrancando muitas gargalhadas da plateia. Testemunhas diziam  que os artistas amadores haviam desempenhado seus papeis com bastante naturalidade, parecendo atores experientes. 
A partir dessa data a Casa São José passou a ser administrada por um ecônomo, ao qual cabia provê-la do necessário, organizando o atendimento das hospedagens e alimentação, atendendo aos associados do interior. O ecônomo pagava aluguel e recebia como pagamento parte dos lucros. O primeiro ecônomo foi Henrique Wahlbroell. José Maria Flesch foi ecônomo até 1909, seguindo-se o Sr. Wloch, até 1911, Scharf até 1912, Jean Michel, até 1917 e, por último, Ricardo Buerger até 1927, quando, pelo progresso verificado na cidade, onde já haviam se estabelecido várias casas de hospedagem e muitas outras facilidades de acomodações para os que viessem de fora, e pela decadência em que se encontrava a Sociedade propriamente dita, foi a mesma dissolvida e a "Casa São José" vendida ao Sr. Henrique Michels, que a geriu até 1952. Nesse ano, pela lei municipal nº 318, de 19 de março, parte do terreno e o prédio foram declarados de utilidade pública para fins de desapropriação. O espaço seria destinado a abertura de um acesso para a construção de uma ponte , ligando o centro de Blumenau ao bairro da Ponta Aguda. Coube à Prefeitura demolir o prédio.
Durante todos esses anos a Casa/Hotel São José teve preponderante papel  na vida social dos católicos blumenauenses, e da comunidade de um modo geral. Ali era o local preferido para reuniões e festas. Os casamentos e batizados geralmente acabavam em alegres cervejadas e danças, sempre na maior ordem e camaradagem. Também os  cafés, depois das primeiras comunhões, eram realizados ali, pois o local era muito próximo da igreja.
Aconteciam  seguidamente representações teatrais no palco do salão e houve um tempo em que também foi instalado um cinema no local.
Muitos ônibus interurbanos paravam ali - e dali partiam - no tempo em que Blumenau ainda não possuía uma rodoviária. 
Desaparecia, assim, um estabelecimento que já se tornara tradicional em Blumenau.
Como José Ferreira da Silva  escreveu:
"Marcou época a Casa São José !"
  
DEPOIMENTO 
Grete Medeiros, já falecida, de tradicional família blumenauense, também na revista "Blumenau em Cadernos", publicou em 1995 um relato intitulado "A Rua Quinze dos Anos Vinte", no qual, entre outros pontos citados, também destaca a Casa São José:
"Sob a direção de Henrique Michels e sua grande família, o hotel era conhecido por sua boa comida caseira. O Sr, Michels foi quem organizou a primeira feira livre da cidade, que funcionava em frente ao hotel. Carroceiros do interior e tropeiros vindos do planalto de Lages ofereciam as mais variadas mercadorias. Esperavam a noite para entrar na cidade num tropel cujo barulho atraía os compradores para as mercadorias, logo expostas sobre mantas de couro. Traziam frutas (maçãs, ameixas, pêssegos, frutas secas), charque, queijos os mais diversos, etc. Em pouco tempo o pátio em frente ao hotel ficava muito movimentado. Ainda me lembro do cheiro característico de toda aquela atividade! Até palco para espetáculos teatrais havia na velha Casa São José. Mais tarde serviu como "estação rodoviária" para algumas linhas de ônibus interurbanos, antes de desaparecer para dar lugar à ponte que faz a ligação com o bairro Ponta Aguda."
Fontes: Blumenau em Cadernos Tomo IX - 1968 e Blumenau em Cadernos Tomo XXXVI - 1995   - Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

- Getúlio Vargas

Discurso do Presidente
A Palavra do Presidente Getúlio Vargas em Blumenau. No dia 10 de março de 1940, a cidade de Blumenau recebeu a visita do Presidente da República, Getúlio Vargas. Grandes homenagens foram programadas neste dia.
Em frente ao Teatro "Carlos Gomes ". em um palanque armado, o presidente Vargas, o interventor Dr. Nereu Ramos, o interventor municipal José Ferreira da Silva e demais autoridades. assistiram ao desfile do 32" Batalhão de Caçadores, das Escolas. Sociedades Desportivas. Culturais e várias entidades da cidade.
O Presidente da República. impressionado com a multidão que se formou pronunciou 11m discurso eloquente que teve grande repercussão no país. "Não posso deixar de manifestar a minha surpresa e a minha admiração ao penetrar num município como Blumenau. situado no âmago da região colonial e um daqueles a respeito dos quais se dizia que a língua portuguesa era desconhecida e os sentimentos de brasilidade jaziam amortecidos.
Tive exatamente a sensação do contrário. Notei. por toda parte, o entusiasmo espontâneo e luminoso. o sentimento de fraternidade brasileira e de amor à nossa terra, o desejo imenso de viver a nossa vida, como brasileiros.
Tal transformação, que a ninguém seria lícito obscurecer. a testemunhei por toda parte. demonstrada quer nos homens adultos e válidos, como nos moços e nas crianças sobretudo nas crianças que me rodeavam em bandos álacres e que tinham, na profundeza dos olhos azuis e nos acenos cheios de carinho. a efusão inequívoca do sentimento que lhes iam n'alma. enquanto suas cabecinhas douradas ao sol pareciam um trigal maduro. Tive a impressão. ao vê-las. de uma geração nova do Brasil, que se erguia. Este município. um dos menores do Estado. com mil e tantos quilômetros quadrados de superfície. tem mais de 50.000 habitantes. mais de 300 fábricas e uma população operária superior a 12.000 pessoas. Esta capacidade de produção e este desenvolvimento progressista demonstram evidentemente que as correntes emigratórias selecionadas fortalecem a organização nacional. contribuindo com a sua colaboração sadia para o engrandecimento do país. (Palmas).
 
Presidente Getúlio Vargas com o Interventor Nereu Ramos
Há anos passados chegava ao Vale do Itajaí a primeira colônia de povoadores alemães. No vale deserto, no meio de imensas florestas. foram deixados ao abandono. Derrubaram em seguida a floresta. lavraram a terra. Lançaram a semente, construíram suas casas, formaram as lavouras e ergueram o edifício de sua prosperidade. Dir-se-á que custaram muito a assimilar-se à sociedade nacional. a falar a nossa língua. Mas a culpa não foi deles. a culpa foi dos governos que os deixaram isolados na mata, em grandes núcleos. sem comunicações. Aquilo que os colonos de então pediam era o binômio de cuja resultante deveria sair a sua prosperidade. Só pediam duas coisas: escolas e estradas, estradas e escolas. (Palmas.) (muito bem!).
Estradas para que o produto do seu trabalho pudesse ser transportado para os mercados de consumo: para lerem a certeza e a confiança
de que aquilo que produziam não ficaria em abandono. Pediam estradas afim de que. através delas, se carreasse a sua riqueza, produto de seu labor. Pediam escolas, afim de que seus filhos. nascidos no Brasil, que aqui. pela primeira vez, abriram maravilhados os olhos à luz, que é o primeiro amor da vida. procurassem, ao mesmo tempo, harmonizar o seu desdobramento com a natureza que os rodeava mediante a articulação que devia identificá-los no meio em que surgiam. No entanto. a população que prosperava isolada. devido somente ao seu próprio esforço. só tinha uma impressão da existência do governo: era quando este se aproximava dela como algoz para cobrar-lhes impostos ou como mendigo para solicitar-lhe o voto. (Muito bem!). (Aplausos prolongados) O Governo que se aproximava para solicitar votos perdia a respeitabilidade, porque vivia de transigências. E, a troco desses VOTOS não vacilava em desprezar os próprios interesses da nacionalidade. (Palmas) hoje, as coisas mudaram. Os próprios partidos políticos, então simples agremiações regionais, sem finalidades nacionais. foram dissolvidos. O Governo já não se aproxima dos colonos para pedir-lhes votos: O Governo tem por eles sentimentos paternais. e que deles só se aproxima para ampará-los. para dar-lhes justiça, para garantir-lhes o trabalho e a tranquilidade. para a sua economia para aumentar a sua riqueza. (Palmas). Se o Governo dissolveu os partidos políticos porque eram força que encerrava sua atividade nos limites dos Estados, não poderia permitir, também, que elementos estranhos, vindos de fora. procurassem perturbar a tranquilidade das populações coloniais, tentando arrastá-las e organizá-las para o exercício de atividades contrárias aos interesses da Pátria.
Assim como as conveniências da política regionalista não podiam prevalecer. por isso que eram impostas contra a vontade do povo. do mesmo modo os agentes forasteiros não poderiam constranger a população colonial, a qual, por seus interesses. por suas inclinações e pelas tradições de sua vida. é genuinamente brasileira!
Hoje. compreendeis, perfeitamente, o alcance destas medidas. Os países da Europa estão em guerra, e as mais cultas civilizações procuram, mutuamente .se entre destruir. Nós apenas lamentamos esses acontecimentos, mas. de qualquer forma, não tomamos parte nas suas lutas.
o Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano que faz respeitar as suas leis c defende os seus interesses. O Brasil é brasileiro. (Aplausos gerais). Agora, e a população, de origem colonial, que há tantos anos exerce sua atividade no seio da nossa terra. constituída de filhos e netos dos primitivos povoadores, é brasileira. Aqui todos são brasileiros, porque nasceram no Brasil, porque aqui receberam a educação.

O Exército nacional também não pode ser indiferente à educação do elemento de procedência estranha. Nos países novos, as forças militares têm uma alta função educadora c nacionalizante. Pelos quartéis!) passam, todos os anos milhares de jovens que aprendem a servir o Brasil. Por isso as forças militares estão, com justo título, colaborando eficientemente na grande obra da educação nacional. Mas ser brasileiro. não é somente respeitar as leis do Brasil e acatar as suas autoridades. Ser brasileiro é amar o Brasil. É ler o sentimento que lhes permite dizer: "O Brasil nos deu o pão, mas nós lhe daremos o sangue." (Aplausos) É ter o sentimento de brasilidade, pela dedicação, pelo afeto. pelo desejo de concorrer para a realização dessa grande obra, na qual lodos somos chamados a colaborar. porque só assim poderemos contribuir para a marcha ascensional da propriedade e da grandeza da Pátria. (Muito bem!). (Aplausos),"
Para saber mais sobre a visita do Presidente Vargas em Blumenau, acessem:
Revista Blumenau em Cadernos – julho de 1997 Páginas 31/34

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

- Giovani Rossi







Mais uma contribuição inédita do Jornalista e Escritor Carlos Braga Mueller. (foto)



                                                                                                  
LIBERTÁRIO E ANARQUISTA, GIOVANI ROSSI AJUDOU A   MPULSIONAR A AGRICULTURA DE BLUMENAU

Em 1975 o cineasta francês Jean-Louis Comolli realizou o filme La Cecília, retratando a história da Colônia Cecília, a primeira tentativa efetiva de implantação do ideário anarquista no Brasil.
Em 1989 a Rede Bandeirantes de Televisão exibiu a minissérie “Colônia Cecília”, abordando o mesmo assunto.
E a Globo focou a Colônia Cecília na minissérie de 1984, “Anarquistas, Graças a Deus”.
Afinal, o que provocou tamanha repercussão tanto tempo depois dessa comunidade ter existido?
Talvez reflexos dos ideais libertários de maio de 1968, que nascidos na França, espalharam-se pelo mundo.
A Colônia Cecília foi implantada pelo agrônomo e veterinário italiano Giovani Rossi em 1890 no município de Palmeira, Estado do Paraná, e deixou de existir em 1893, ou seja, durou apenas quatro anos.

COMO NASCEU A COLÔNIA CECÍLIA NO BRASIL 
Giovani Rossi  - Foto divulgação Internet
Rossi nasceu na cidade de Pisa, Itália, no dia 12 de janeiro de 1856.  Faleceu em 9 de janeiro de 1943
Influenciado pelos socialistas libertários franceses, escreveu vários livros sobre a criação de comunidades experimentais, despertando a atenção de lideranças em vários países, inclusive no Brasil.
Sua proposta de uma comunidade libertária previa o equilíbrio da liberdade de relações, a abolição da propriedade privada, o amor sem fronteiras, a ausência de hierarquias e de dogmas.
Em abril de 1888, passando por Milão para tratamento da saúde, o Imperador do Brasil, Dom Pedro II, manteve um encontro com Rossi. O monarca havia lido um dos livros dele, no qual o autor situava uma comunidade libertária na América do Sul. Interessado na superação das desigualdades, Pedro II tinha interesse em acompanhar uma experiência desse tipo. Foi mais além.
Comprometeu-se a conceder terras para que Giovani Rossi implantasse sua Colônia no Brasil.
E assim, no dia 20 de fevereiro de 1890, Rossi embarcou em Genova com destino ao Brasil, acompanhado de poucos mas fiéis discípulos. Embora o destino fosse Porto Alegre, desembarcaram em Paranaguá, agoniados com os constantes enjôos provocados pela embarcação. No Paraná, conseguiram uma área de terras na localidade de Palmeira.
Graças a uma campanha de divulgação, a Colônia teve a adesão de muitos interessados, originários da Itália principalmente.
Enfrentando sérias dificuldades para a manutenção da Colônia, batizada de Cecília, homenagem a uma personagem de seus livros,
Rossi em pouco tempo teve que concordar que sua idéia não estava dando certo. Inclusive, para incentivar a livre manifestação do amor entre os habitantes da Colônia, chegou a partilhar com eles sua companheira. Proclamada a República em 15 de novembro de 1889, o ato de doação das terras, assinado pelo Imperador, foi considerado nulo, obrigando a que Rossi adquirisse as terras ocupadas. De nada adiantou; aos poucos os moradores foram abandonando Rossi e partindo em busca de novos horizontes.
E assim, em 1893 a Colônia se extinguiu. Mas deixou história.

ROSSI NÃO FOI EMBORA
Giovani Rossi não retornou para a Itália. Foi residir em Taquara, no Rio Grande do Sul. Depois acabou vindo para Blumenau, em Santa Catarina.
De seu bom relacionamento com o então Superintendente do município, José Bonifácio da Cunha, conseguiu que  em 1898 o então Governador Hercílio Luz lhe designasse, por ato oficial, para ser o Diretor da Estação Agronômica da localidade de Rio dos Cedros, que então fazia parte do município de Blumenau.
Eram inegáveis os seus conhecimentos como agrônomo.
Sua presença era reconhecida pela comunidade não só na agricultura, mas também na vida social.
Em 1900, por ocasião da comemoração dos 25 anos da imigração italiana no Vale do Itajaí, o município de Blumenau também comemorava uma data especial, seus 50 anos de fundação. E lhe foi confiada a tarefa de elaborar o texto oficial desse evento, uma saudação a Blumenau, por quem Rossi sentia profundo amor e respeito.
Em 1902 viajou para a Europa, em missão oficial do Estado, para estudar a fabricação de manteiga, levando consigo certa quantidade para análise e estudos bacteriológicos. Efetuou experimentos de novas culturas, entre elas a do tabaco e da oliveira, com sementes trazidas da Itália.
Criou uma cooperativa agrícola entre os colonos italianos de Rio dos Cedros, agindo como mediador e favorecendo a exportação do tabaco, principalmente para a Itália.
Na pequena e católica localidade de Rio dos Cedros, mesmo com toda a ação voltada ao desenvolvimento da agricultura da região, e embora não pregasse abertamente suas idéias socialistas e libertárias, era visto com desconfiança por muitos habitantes, enfrentando sérias reações e hostilidades, especialmente por parte dos padres franciscanos.
A morte das filhas lhe havia deixado seriamente abatido.
Em 1904 um decreto do Governo transferiu a Estação Agronômica para Florianópolis. Em 1907 Rossi foi exonerado do cargo de Diretor da empresa. Mesmo assim indicou, e teve aprovado, o nome de seu conterrâneo Túlio Cavallazzi para substituí-lo.
Retornou a Itália assumindo um consórcio agrário em San Remo.
Em cartas enviadas em 1907 e 1909 ainda mostrava interesse em favorecer a exportação de produtos da agricultura catarinense para o mercado europeu, principalmente o tabaco e o mate.
Mandou para os agricultores catarinenses sementes e dados tecnológicos sobre o crescimento do bicho-da-seda.
Voltando a morar em Pisa, sua cidade natal, Rossi exerceu ainda as funções de veterinário, escrevendo em periódicos sobre suas experiências com a Colônia Cecília.
Não se envolveu mais com movimentos políticos e morreu em Pisa, aos 87 anos, no dia 9 de janeiro de 1943.
Foi inegável a contribuição que deu ao desenvolvimento da agricultura no Vale do Itajaí, integrando-se assim à galeria das pessoas que ajudaram a construir o nosso progresso.  
O QUE  GIOVANI ROSSI ESCREVEU E FOI DIVULGADO NOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DE BLUMENAU
O historiador José E. Finardi, no seu livro “Colonização Italiana de Ascurra – 1876-1976”, transcreve o texto redigido por Giovani Rossi para as comemorações dos cinqüenta anos do município de Blumenau, festejado no limiar do século XX, em 1900.
Uma peça realmente inspirada, que revela o carinho que o italiano Rossi dedicava a Blumenau e ao seu povo.
Assim começava:
“Ó Blumenau, recanto gentil do mundo descoberto por Cabral, eu desejaria ser filósofo, artista e poeta para entender e cantar a tua glória. O teu céu límpido, azul e profundo canta hinos de paz e de alegria. Mas algumas vezes é brumoso e velado, como a pobre alma humana.
Nas tardes de verão inflama-se em um oceano de calor, de luz e de força sideral, terror do viandante, mas sublime doador de vida à flora opulenta; depois se cobre de espessas nuvens e desaba a chuva, entre fulgores de relâmpagos e estrondos de raios. E nas noites serenas as estrelas cintilam como em outros céus nunca vi e, mais do que em nenhum lugar, pesa sobre nosso pensamento a visão do infinito.”
E o texto prossegue com o enfoque sobre o clima temperado (e tempestuoso) de uma região tropical como a nossa:
“Se o teu verão é ardente e chuvoso, o teu inverno é enxuto e tépido, como uma primavera na Itália. Tão doce que a videira, apenas perdidas as folhas, os brotos repontam, túrgidos, como mamilos de púbere precoce, desejosas de amor . Os teus montes são majestosos com seu esqueleto de granito e seu manto soberbo de florestas virgens, perenemente tocadas com todas as inimagináveis tonalidades do verde. Os teus vales são férteis, banhados pelos afluentes do largo e pitoresco Itajaí, que te beija e ao mesmo tempo te ameaça, e algumas vezes te invade, amigo infiel e caprichoso, ó gentil cidade de Blumenau !”
Em outro tópico, Giovani Rossi, há mais de cem anos, já previa a devastação de nossas florestas, quando escreveu:
“Os teus bosques são ainda preciosos tesouros pela madeira que escondem, pelo húmus que acumulam, pelas fontes que conservam. Tenha piedade deles a bárbara foice do colono”.
A saudação aos 50 anos de Blumenau termina assim:
“Ó Blumenau ! O fado quer que o teu nome germânico te anuncie caríssima a Flora. E de tuas flores são enredadas as casas dos teus agricultores; de flores que muitos ricos jardins invejariam, na fria Europa. De flores e de plantas raras que rodeiam e alindam magnificamente os palacetes da tua industriosa cidade.
De flores, eternos símbolos da poesia; de flores das tintas mais vivas, das formas mais bizarras, de inebriante perfume é esmaltado  todo o teu vasto território, que mais parece um só jardim. Mas as tuas flores mais belas e mais gentis, ó Blumenau, não são as orquídeas das tuas florestas; são as moças dos teus lares, que todas as flores vencem em beleza, na doce primavera da vida; são os recém-nascidos nos teus berços, são as crianças das tuas escolas que, sobre as ruínas da nossa civilização, decrépita e mentirosa, ainda verão um dia, talvez, esplender o futuro.” 
Bibliografia:
- Blumenau, Arte, Cultura e as Histórias de sua Gente - Edith Kormann
- Colonização Italiana de Ascurra - 1876-1976 - José E. Finardi

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

- C. N. Ipiranga e América

Sim isso mesmo Blumenau teve duas grandes equipes de Remo.
Curiosidades de uma época
-  O Patrão Nos anos que antecederam a segunda guerra mundial, O' remo era um esporte muito praticado. Havia em Blumenau dois clubes" sendo um situado na descida para o porto fluvial entre o Jardim e a firma Breitkopf (local anterior). O Clube Náutico América como era chamado, não só se dedicava eficazmente à prática do remo. como promovia festas sociais com bailes que marcaram época. S.C. Wahle 1995. No Natal, Carnaval, Páscoa, Pentecostes, aniversário do Clube, etc., os .banes não raro varavam a madrugada afora, alcançando o café da manhã. O outro clube, conhecido por Clube Náutico Ipiranga, com sede própria situado na Itoupava Seca, também conhecido pela aplicada prática do remo, era conhecido também pelas boas festas com animados bailes, muito frequentados peia mocidade de Blumenau. Na prática do remo havia uma" grande rivalidade entre Blumenau e ltoupava-Seca. Na estatística final, talvez o lpiranga levasse uma certa vantagem em número de vitórias. " Havia no América guarnições tradicionais, como a dos Otte que durante muitos anos permaneceram juntas " Talvez, o Sr. Sebald Otte, seja um dos que melhor conheceu as atividades do remo do América.
O América chegou a vencer páreos até em Montevidéu. Duas pessoas fizeram época, uma no América e outra no Ipiranga. Trata-se dos patrões. No América foi durante algum tempo patrão João Kracick Neto. Bubi como era conhecido, era um moço sempre alegre e de um raro bom humor. Trabalhava no Banco Nacional do Comércio. Como não via condições de progredir na vida em Blumenau, transferiu-se para o mesmo Banco em Curitiba. Lá além de suas atividades no Banco, conseguiu-se eleger presidente do sindicato dos bancários. Fez o ginásio em curso noturno, e prestou exame vestibular para direito. Uma vez formado em direito, passou a exerc1er a advocacia, acumulando a presidência do sindicato. Aos poucos entrou, na política onde depois de alguns anos foi eleito vereador por diversas vezes. Chegou a presidente da câmara dos vereadores, e numa determinada ocasião com o afastamento do prefeito passou a assumir a prefeitura ", de Curitiba.
O patrão do Ipiranga na época era Carlos Haser, mecânico-encanador, que trabalhava nas oficinas de Estrada de Ferro Santa Catarina, na manutenção das Locomotivas, principalmente relacionado com o sistema de vapor. Carlos Raser era uma pessoa de pequena estatura, franzina e o tipo ideal para patrão de remo. Era um cidadão alemão que, embora casado com uma blumenauense, achava que deveria voltar à Alemanha, pois o nazismo encontrava-se em pleno apogeu. Mas, como para tantos outros, terminada a guerra, tratou de voltar ao Brasil. Embora, fosse casado com brasileira e ter filhos brasileiros, na volta ficou retido na ilha das Flores no Rio de Janeiro, para ver o seu aproveitamento. Foi nesta ocasião, que ele foi selecionado por uma comissão da Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda, para trabalhar na Usina como encanador de linhas de vapor. O sistema de vapor, estendia-se por vários quilômetros. Quando eu assumi o departamento de manutenção mecânica na CSN em Volta Redonda, Carlos Haser reconheceu-me e ficou muito satisfeito por ficar subordinado a um blumenauense. Com reformulação dos quadros de pessoal, passou a assumir a responsabilidade de todo o sistema de vapor nas funções de encarregado geral, onde prestou relevantes serviços até a sua aposentadoria.
Revista Blumenau em Cadernos – Fevereiro de 1997 nº 2 – páginas 37,38.
Para saber mais acesse:

quarta-feira, 4 de julho de 2018

- Karsten

Por André Bonomini

Antigamente: A Karsten, uma História moldada através dos tempos.
Uma gigante encravada na simpática região do Testo Salto. De uma família em busca de segurança e uma nova chance de prosperar para uma das organizações mais sólidas do Brasil no setor têxtil. 
Encravada no simpático Testo Salto, nos confins de Blumenau, ela alcançou 0 centenários em setembro/1982 mas nem de longe se parece com uma velha senhora, muito embora viveu com intensidade vários momentos da história blumenauense, brasileira e mundial, numa espécie de Benjamin Button germânica.
E quando se fala em simpática, é para o desorientado que ainda não viu o seu tamanho naquele caminho de Pomerode. Os dois lados do nº 260 da rua que leva o nome do fundador mostram somente um pouco daquilo que ela representa para o setor têxtil, industrial e, claro para a história da cidade que, pelos idos de 1860, abrigou uma família em busca de novas chances para prosperar e para fugir da agitação que permeava a Europa. Era a saga de Johann e os seus que originaria a gigante Karsten, a sexta mais antiga empresa do Brasil.

De saída da Alemanha para uma grande história
E foi assim, meio que em fuga mas também em busca de prosperidade que a família Karsten deixou a bordo do navio Nancy a região da Schleswig-Holstein. Eram os primeiros movimentos do que viria a ser, em 1870, a unificação alemã sob o comando de Bismarck e a região, controlada pela Dinamarca, entra no meio de um conflito com austríacos e prussianos pelo seu domínio.
A propriedade dos Karsten no Rio do Testo. A moenda de grãos e serraria era o sustento da família até a violenta enchente de 1880 (Reprodução)
Era, também, o início das grandes migrações de europeus pelo mundo, especialmente o Brasil, que era propagandeado como uma terra de grandes perspectivas para um povo que vivia a mercê de guerras quase em todo o tempo. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, a família numerosa ruma para a jovem colônia de um farmacêutico prussiano, Hermann Blumenau, em Santa Catarina, onde lá encontram guarida e a chance de recomeçar ao lado das águas do calmo Rio do Testo.
Logo, os Karsten se colocam ao trabalho. Aproveitam a força do rio para instalar uma roda d’água responsável por fornecer energia, mover a serraria e moer grãos. Nada era fácil naqueles primeiros tempos, nem mesmo controlar a força do outrora calmo, mas também violento Rio do Testo, que assim como o Itajaí-Açu, subiu e arrasou propriedades como a da família durante a temerosa enchente de 1880, a maior de todos os tempos.
A família Karsten. Johann, o patriarca, teria de achar outro caminho para manter a família. Encontraria-o no ramo têxtil, que iniciaria dois anos depois da cheia Reprodução / Karsten)
Com a propriedade arruinada, o jeito era mudar de rumos com relação ao que fazer da vida. Johann Karsten teve a saída: montar uma tecelagem. Não que fosse novidade naqueles idos, a região do Vale tinha lá algumas pequenas tecelagens, mas era uma forma de ganhar a vida perdida nas águas turvas do Rio do Testo. O dinheiro era pouco, mas Johann foi em frente e montou uma sociedade com Henrich Hadlich para iniciar a empreitada no segmento.
Ideia plantada, Hadlich seguia para a Alemanha com as poucas economias que tinham no negócio para montar a nova empresa. Neste caminho, ele passou pelo Rio de Janeiro, onde encontrou-se com o tecelão Gustav Roeder, que foi convidado por Hadlich a juntar-se aos negócios. Batata! Em setembro de 1882, tendo seis teares e 300 fusos, a firma dá inicio as atividades sob o nome de Roeder, Karsten & Hadlich.
Entre as dificuldades, a consolidação
No entanto, quem achava que era fácil montar um negócio assim no difícil Vale do Itajaí daqueles idos está bem enganado. O algodão logo mostrou-se a maior dificuldade da nova empresa. A primeira tentativa foi o plantio, o que não deu muito certo por conta das chuvas da região. Depois, outra tentativa utilizando ovelhas, mas com resultados esparsos.
No fim, era necessário importar a matéria-prima de Londres, o que demorava meses e meses até uma simples caixa de fios chegar a firma. Da Inglaterra até Desterro (Florianópolis), de Desterro até Itajaí, de Itajaí até Blumenau e de Blumenau até o Rio do Testo. Uma saga para começar a produzir. Mas mesmo nestes momentos difíceis, a empresa começa a prosperar. Foi quando Roeder e Hadlich deixaram a sociedade, tornando Johann o único a tocar os negócios já bem consolidados mesmo abaixo de tantos obstáculos a ser superados.
João Karsten assumiu o comando da firma junto do irmão, Christiano, dando continuidade a consolidação e adaptando a marca ao mercado feminino (Reprodução / Karsten)
Os panos fabricados para forros de cobertas, travesseiros e colchões eram o carro-chefe da firma, passando com o tempo a também fabricar tecidos para o vestuário. Lá fora dos muros da empresa, o mundo se transforma. O Brasil abole a escravidão e proclama a república, eram bons tempos para os Karsten.
Isto até chegar 1914, quando a Primeira Guerra explode na Europa. A exportação de fios, que já era penosa, torna-se inviável por conta do conflito, o que força muitos dos funcionários a voltarem a agricultura de subsistência para garantir o sustento. Nestas mudanças todas, a firma também passa por um processo de renovação. Johann abre caminho, em 1916, para os filhos Christiano e João no comando da empresa, mudando seu nome para Karsten Irmãos.
A marca Karsten Irmãos, criada na administração dos irmãos João e Christiano Karsten. Anos depois, Christiano deixa a sociedade e João fica sozinho a frente da empresa (Reprodução)
Termina a guerra e o mundo reencontra-se com o crescimento econômico. Na década de 1920, as mudanças na sociedade também forçam a empresa, de volta nos trilhos, a acrescentar novos itens na sua linha de produção. Entram as toalhas, panos com estampas variadas e que atraiam os olhos das mulheres, cada vez mais em busca de seu espaço na sociedade e auto-determinando-se o poder de compra. Neste meio-tempo, Christiano deixa a sociedade e a Karsten passa a ser uma sociedade anônima sob o comando de João Karsten.
Os anos passam e a empresa ganha estabilidade e reconhecimento cada vez maior no mercado, com números interessantes. Era mais um dos tantos negócios familiares do Vale do Itajaí que ganhava notoriedade nas páginas de economia de grandes jornais brasileiros como bons exemplos. Nos anos 40, já sob o nome de Cia. Textil Karsten, a empresa aperfeiçoa sua linha de produtos graças as inovações trazidas por Walter Karsten, filho de João, da Alemanha, e outras mudanças estavam a caminho.
Eis a década de 1970 no horizonte. Dentro de um país que se enquadrava como a oitava economia no mundo, a Karsten estava muito bem, obrigado no contexto econômico de Blumenau. A outrora pequena cidade agora era uma economia de respeito, destaque em vários setores industriais, especialmente o têxtil, onde a empresa estava muito bem colocada entre as grandes da cidade, como Teka, Garcia, Artex e outras.
Revoluções setentistas, força nas crises e o futuro
Mas para a Karsten, os anos 1970 vieram com embalo geral na sua estrutura, tirando-a do simpático Testo Salto e a levando para o mundo. Já em 1971, a empresa abre o capital e passa a exportar produtos, chegando a exportar no fim da década cerca de 60% do que produzia. Um ano depois (1972), conquista a cobiçada licença da marca Disney, uma das mais fortes no mercado mundial. Em 1974, expõe seus produtos na Feira Têxtil de Frankfurt, a Heimtextil, uma das maiores do mundo. Mais dois anos a frente, em 1976, começa a produzir felpudos e, no mesmo ano, resolve o antigo problema dos fios ao implantar a própria fiação.
São muitas revoluções em uma única década, completando ainda com a mudança na direção da firma, agora sob o comando de Walter Karsten, tendo ao seu lado no setor comercial o irmão, Ralf. Eram anos prósperos até a chegada da década de 90 e dos planos econômicos de Fernando Collor que colocaram muitas empresas em situação de risco no país, com prejuízos que trariam reflexos por vários anos. Mas não para a Karsten, exemplo único entre as coirmãs de cidade.
Projeção nacional e revoluções. Os anos 70 foram de constante mudança e inovações. Capital aberto, licença de uso da Disney abaixo), exposição em Frankfurt e, enfim, a fiação própria (Reprodução)
Enquanto algumas se debatiam com os reflexos da crise, a Karsten tinha no bojo a tradição de bons produtos para manter-se firme no mercado interno e externo diante dos reflexos da abertura de mercado, que pegou muita gente de surpresa. A solidez da empresa é algo que espanta nos dias atuais no cenário presente, fruto de uma administração pensada para frente e sem passos fora da curva que colocassem em risco a imagem já consolidada com os anos.
Ao passar os anos, sucederam-se os presidentes (Carlos Odebrecht e Alvin Rauh Neto) até a chegada do grupo atual, sob o comando de Armando Hess de Souza, um dos orgulhosos filhos da Dudalina, que tem levado a empreitava a voos mais altos, cada vez mais desafiada pela constante mudança do público consumidor e do mercado. Prova disto é uma das mais sofisticadas marcas de artigos de cama, mesa e banho da tradicional marca Trussardi, de raízes italianas, cobiçada por muitos e adquirida pela Karsten em 2010. 
Ao bater os 135 anos, a jovialidade da Karsten assusta e também inspira. De uma história moldada na esperança de novos tempos para uma simples família alemã para uma trajetória de sucesso foram vários os obstáculos, sempre acompanhando o caminhar do mundo por fora de seus portões. Cada colaborador tem em si a sensação de ter colocado um tijolo no imponente complexo industrial as margens da rua que leva o nome de seu fundador – Johann Karsten – e que ajudou como tantos outros a criar em volta uma comunidade, uma economia forte e uma história digna de grandes livros. 
Quantos anos e revoluções mais virão? Não se sabe ao certo. Certeza é que a Karsten provavelmente estará lá para vive-los. da mesma forma jovem que qualquer grande empresa centenária e de grande história que existe… no mundo.

terça-feira, 12 de junho de 2018

- Na época do Frei João Maria

RECORDAR É VIVER – PARTE 2
Por Sérgio Cunha


As minhas primeiras lembranças sobre acontecimentos religiosos me remetem ao Frei João Maria (Foto), o pároco da Igreja N.S. da Glória,1000 rua da Glória, bairro Glória em Blumenau, localizada no bairro Garcia. Sobre o Frei Raul, o antecessor, não tenho lembrança, provavelmente por ser eu ainda muito pequeno. Frei João marcou muito, principalmente porque ele nos lecionou aulas de doutrina.
Tinha um comportamento bem peculiar, pois quando nos encontrava no pátio da igreja, indo para a doutrina, de longe já citava o nome do aluno e ia logo perguntando se estava tudo bem, como estavam o papai, a mamãe, se tínhamos estudado a lição da doutrina, etc. Colocava a sua enorme mão no ombro do menino e começava a apertar fortemente o musculo, acho que é o “ombrex”, kkk, enquanto esboçava seu largo e exuberante sorriso.
Nós, garotos, sentíamos muita dor, pois ele apertava bem forte, mas aguentávamos, mesmo porque nos ensinavam que “homem não chora”. Os garotos comentavam entre si que doía bastante, mas nunca soube de alguém que tivesse reclamado por isso, ao frei. Comentavam também que quando era possível, se desviavam do caminho dele, dando a volta ao redor da igreja, indo direto para a catequese.

As aulas de catequese eram lecionadas atrás da igreja num salão que servia para atividades variadas. Foram alí as primeiras aulas da Dona Julia (Foto), catequese, reuniões, além de Sede da Congregação de Marianos e das Filhas de Maria. Nesse local, em domingos que tinham celebração especial, perfilavam-se os Congregados Marianos e as Filhas de Maria, rigorosamente paramentados e principalmente portando sua fita de congregado no pescoço. Em seguida, contornavam a igreja, margeando próximo a rua e entrando pela porta da frente, entoando belos hinos religiosos.
Ocupavam essas pessoas a terceira carreira de bancos da igreja para o final, porque a primeira e segunda carreira seriam ocupadas pelas crianças que estavam na catequese. O padre iniciava a missa e quando chegava na hora do “Sermão”, aproximava-se das crianças e as questionava aleatoriamente sobre o texto lido no Evangelho, com a finalidade de testar se estavam prestando atenção a missa e também para fixar a doutrina.
Por pouco, muito pouco mesmo, o povo não aprendeu a falar em latim, pois tudo o que o padre falava durante a celebração: “Dominus Vobiscum”, o povo respondia: “Et cum Spiritu tuo”. Não aprendemos porque o latim caiu em desuso. Era, sem sombra de dúvidas, uma linda celebração religiosa.
No pátio da igreja (Foto), bem encostadinho da rua, tinha uma pequena banca de madeira, tipo banca de revista, pintada de verde claro, onde os fiéis encontravam e compravam uma variedade imensa de artigos religiosos, como crucifixos, escapulários, terços, imagens, bíblias, catecismos, velas, medalhas, pingentes, “santinhos”, etc. A banca era aberta pouco antes de iniciar a missa e fechava logo depois do final da mesma.
Localizados atrás do salão e portanto também atrás da igreja, existiam os banheiros, erguidos em uma construção de alvenaria bastante rudimentar. Entre esses banheiros e o colégio iniciava o caminho que subia o morro em direção a gruta de Nossa Senhora
Gruta
O caminho foi escavado no morro em forma de ziguezague entremeado com as arvores. Nos dias que a comunidade se reunia para prestar homenagem a Santa, principalmente quando realizada à noite, com os devotos subindo o morro, empunhando suas lanternas iluminadas com velas, formava-se um espetáculo indescritível. Lembro de quando era encenada a Via Sacra, as 15 estações da crucificação de Cristo. Um espetáculo sem igual.
Em 1959/60 as irmãs do grupo escolar selecionaram uns oito meninos do primeiro e segundo ano e montaram conosco uma peça teatral. Depois de vários e vários dias de ensaio, fizemos nossa apresentação naquele salão atrás da igreja onde se reuniam os congregados. O nome da peça era: “O esquife do morto vivo”. Encenávamos um fato acontecido em um velório e em um determinado ato, o defunto se levantava, “vivinho da silva”. Aí era um corre-corre danado. Fizemos somente três apresentações e logo fomos censurados pois algumas crianças que assistiram, a noite não conseguiram dormir, kkk. Nunca soubemos se alguma das freiras era fã do Zé do Caixão, hehe.
Anos mais tarde (63/64), o Érico Morbis fundou um grupo de teatro de jovens com idade entre 15 a 20 anos, batizado de TASC, Teatro Amador Sta. Cecilia, que fizeram bastante sucesso durante alguns anos, encenando episódios como “Os Dois Sargentos” e “Sinal Misterioso”, entre outros. Inicialmente as apresentações eram feitas em um pequeno palco montado no pátio do Grupo Escolar São José que ficava lotado pelo povo. Não demorou muito, o grupo fez tanto sucesso que se apresentavam no palco da Cantina da Artex e apresentavam-se também em cidades próximas.
Alguns integrantes desse grupo eram os nossos amigos, Celézio Bernz e Maurina Pereira, Irineu Bernz, Ornélio Bernz, Jacó Antônio Tomasi, Luiz Ernesto Souza (Leco), Jaci Sestrem, Álvaro de Andrade, a Cristina, que trabalhava no Centro de Treinamento da Artex, Getúlio Cristofolini, Gerson Cardoso, entre outros.
Em conversa com nossa querida amiga Erica Morbis, que contribuiu com importantes informações sobre esse grupo de teatro, contou-me ela também que quando falava com o Érico sobre o grupo, sua mãe Dona Aninha lhe disse que era ela que costurava as vestimentas e figurinos do grupo.
Nessa época, os jovens na nossa faixa de idade, estávamos exalando hormônios por todos os poros e iniciava-se então aquela fase de flertes, namoricos e olhares apaixonados. Alguns casais saíam do colégio de mãos dadas com suas namoradas. Um ou outro casal arriscava-se a dar as primeiras bitoquinhas.
Acontece que morava no Garcia um senhorzinho, cujo nome não é necessário mencionar, o qual era extremamente religioso e conservador dos preceitos da família. Ele dirigia uma carroça puxada por dois cavalos. Quando via um casal de namoradinhos de mãos dadas ou trocando bitoquinhas na rua, ficava furioso e os ameaçava com seu chicote em punho. Uma outra vez o vi parar a carroça, descer e sair em perseguição de um casal. Sorte deles que eram mais jovens do que ele e corriam mais rápido, kkk. Foi muito divertida nossa infância e adolescência. Saudades!
(Em tempo: O nome do musculo que o frei Joao apertava é o Trapézio). Uuufa!
Sergio Cunha – 14/04/2018 


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