Histórias de nosso cotidiano.
Mais uma participação exclusiva e especial do renomado escritor, jornalista e colunista, Carlos Braga Mueller, que hoje nos relata a parte 2 sobre as ”Minas de Prata” em Blumenau.
Por Carlos Braga Mueller
AS LEGENDÁRIAS “MINAS DE PRATA” DE BLUMENAU
Em nosso comentário anterior traçamos um perfil do que significam, na história de Blumenau, as “Minas de Prata”, algo que durante décadas e décadas representou para Blumenau, desde seus tempos de Colônia, um “eldorado”, de onde espargiriam toneladas de prata para enriquecer os mineradores que se aventurassem a buscá-las na Serra do Itajaí.
Vimos como passaram a posteridade alguns relatos do Professor Rodolfo Hollenweger, sobre um explorador estrangeiro que teria palmilhado a região nos anos 30 do século 19, em busca de riquezas minerais, embora estas informações não possuam certificação.
Mas como tudo passa, as “minas de prata” também passaram, ficaram no esquecimento, transformaram-se praticamente em lenda. Isto porque, comprovou-se, as reservas de minério (ouro, prata, chumbo, cobre ) estavam em local de difícil acesso, afugentando investidores porventura interessados.
A revista “Blumenau em Cadernos”, fundada na década de 50 do século passado pelo historiador José Ferreira da Silva, publicou em seu tomo IX, de 1968, muitos fatos interessantes sobre este assunto, sob o título de “As minas de chumbo do Ribeirão da Prata”. Por aí se pode deduzir que a prata tinha sido artigo raro na mineração que havia se processado na região. As minas estavam mais para a extração de chumbo.
Vamos nos permitir reproduzir neste espaço, alguns tópicos daquilo que José Ferreira da Silva pesquisou e publicou há 41 anos. (1968).
Poderá haver, nestes dados, divergências que outros estudiosos e pesquisadores entendam que colidam com suas anotações e arquivos. Se contestações surgirem, estaremos buscando atualizar estas antigas informações, transformando-as em repositório mais seguro para os estudantes deste assunto.
Depois das primeiras incursões de mineradores, houve desistências e, como relata Ferreira, “as matas do Garcia continuaram, ainda por muitos anos, no seu primitivo abandono, morada de feras e de índios. Terras muito acidentadas, impróprias para a cultura, não despertavam a cobiça dos colonizadores, que as aproveitavam apenas como fonte fornecedora de madeira para os engenhos próximos, de palmitos para a cozinha dos moradores da cidade e para as pequenas fábricas de conservas.
Até que, por volta de 1896, uma sociedade de argentinos e espanhóis requereu e obteve uma concessão de 3.000 hectares na região, fé-la medir e demarcar, propondo-se a explorar o minério, já então mandado analisar. Essa firma, sob a razão de Cortada & Cia., deu os primeiros passos para a instalação da maquinaria necessária.
Entretanto, os trabalhos de prospecção das minas resultaram na conclusão de que a exploração do minério seria muito problemática em seus resultados econômicos, dada a reduzida capacidade das jazidas. Os empresários, desanimados, ante essa evidência, e ainda mais, diante da retratação dos financiadores, acabaram abandonando a idéia.
Mas o propósito de fazer com que a riqueza mineral da região viesse, também, contribuir para o progresso do município, numa época em que, por toda parte, reinava uma ânsia de desenvolvimento em todos os ramos de atividades, continuava a preocupar a mente de alguns blumenauenses, entre os quais a do Cônsul Otto Rohkohl, tanto mais quando haviam sido descobertos novos depósitos de minério, ribeirão mais acima.
Otto Rohkohl que, como primeiro diretor da Estrada de Ferro Santa Catarina e à frente de outros empreendimentos regionais, vinha prestando grandes serviços ao município, adquiriu as terras do Ribeirão da Prata e providenciou nova prospecção das jazidas e novos exames do minério. Destes últimos, participou o engenheiro de minas, Pedro Hermann, único filho homem do Dr. Hermann Blumenau .
Conservava o Arquivo Histórico, destruído por um incêndio em 1958, duas cartas desse engenheiro, dirigidas ao senhor Victor Gaertner, datadas de junho e outubro de 1913. Na primeira delas, o filho do fundador acusava o recebimento de amostras do minério, mas lamentava ter que contrariar as esperanças do remetente, pois as amostras comprovavam tratar-se de quartzito com aspersões de cascalho sulfuroso.
Na segunda carta, o Dr. Pedro Hermann comunicava que o Sr. Otto Rohkohl o havia visitado e conversado com ele sobre as ocorrências mineralógicas no Garcia, havendo-lhe dito que havia entrado em contato com muitos interessados e fazendo votos que os seus esforços na Alemanha fossem coroados de êxito. Adiantava mais que faria o que pudesse para auxiliar o Sr. Rohkohl, aconselhando-o na medida do possível e que, depois de examinar os minérios e planos para o seu aproveitamento, poderia concluir se os citados dados seriam bastantes para se chegar a um critério seguro, ou se seria necessária a sua vinda a Blumenau para examinar, in loco, a situação e o aproveitamento do material.
Realmente, na viagem que em 1911 empreendera a Alemanha, o Sr. Otto Rohkohl empenhou-se não apenas em mandar analisar as amostras que levara, como a interessar capitais que pudessem ser investidos no empreendimento. Nessa oportunidade, acertou a ida a Blumenau do Dr. Pedro Hermann, que efetivamente aqui esteve e realizou os estudos técnicos dos quais resultou a possibilidade de aproveitamento industrial do minério, em vista da riqueza das jazidas.
Verificou-se que o material examinado continha boa percentagem de chumbo, além de prata, cobre, zinco e enxofre.
Em vista disso, deu-se começo aos trabalhos de exploração e aproveitamento do minério. “Foram cavados três túneis na rocha, perseguindo os veios mais ricos, construíram-se depósitos para o material bruto, moinho e pequeno forno para a fundição.”
Na seqüência deste trabalho, vamos conhecer um pouco mais da aventura que marcou a atuação dos mineradores das nossas “minas de prata”, conforme relato publicado pela revista “Blumenau em Cadernos”.
Texto: Carlos Braga Mueller/Revista Blumenau em Cadernos; 1968; José Ferreira da Silva. Arquivo:Adalberto Day