Histórias de nosso cotidiano.
Mais uma participação exclusiva e especial do renomado escritor, jornalista e colunista, Carlos Braga Mueller, que hoje nos relata sobre as ”Minas de Prata” em Blumenau.
Por Carlos Braga Mueller
AS LEGENDÁRIAS “MINAS DE PRATA” DE BLUMENAU
Em plena “Mata Atlântica”, na região sul do município de Blumenau, onde desponta a Serra do Itajaí, ficam situadas as cabeceiras do Ribeirão Garcia.
Sinuoso, o córrego transforma-se em ribeirão e percorre alguns quilômetros até depositar suas águas, já volumosas, no Itajaí Açu, na curva do rio em frente da PRAÇA HERCÍLIO LUZ , bem no centro de Blumenau.
Por entre essa densa floresta muitos outros córregos deslizam em direção ao Garcia, formando dezenas de afluentes, que garantem um manancial de água importantíssimo para o nosso município.
Esta região é conhecida como Nova Rússia.
No início do século 20, o então superintendente de Blumenau, José Bonifácio da Cunha, já se preocupava com a preservação do manancial e não foram poucas às vezes em que enfrentou vozes que o chamavam de visionário, quando na verdade teria sido esta uma das primeiras manifestações de um blumenauense a favor da conscientização ambiental.
"Em meados do século 20 ainda era possível encontrar-se no meio da mata as antigas construções que abrigaram as empresas de mineração que exploravam as Minas de Prata (Nova Rússia, Blumenau)"
Pois bem, um destes córregos tem o nome de Ribeirão Minas de Prata.
Conta-se que o nome foi dado por um engenheiro de minas alemão, chamado
Vogel, que por volta de 1914 veio para Blumenau a serviço da empresa alemã de mineração Hugo Stines, para fazer prospecções sobre as tão faladas “minas de prata” que existiriam nas fraldas da Serra do Itajaí. Vogel, quando sua empresa faliu, resolveu ficar em Blumenau. Comprou terras na área onde se imaginava existir muito minério de prata e construiu uma casa no Garcia, mais perto do centro da cidade, nas imediações da atual Rua Engenheiro Odebrecht.
Lá no meio da densa mata atlântica, um córrego cortava a sua propriedade e desaguava na margem direita do Ribeirão Garcia, e ele o batizou de Ribeirão Minas de Prata, nome que conserva até hoje. Vogel não resistiu muito tempo a esta aventura no meio do mato e acabou morrendo de desgosto e depressão.
Caminhos que nos levam para as Minas de Prata – Belas construções ainda permanecem.
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POR QUE EXISTIRIA PRATA NO SUL DA REGIÃO?
O historiador José Ferreira da Silva pesquisou alguns escritos deixados pelo professor Rodolfo Hollenweger, nos quais ele revela dados que, embora sem provas, lançam alguma luz sobre como surgiu a lenda das “minas de prata”.
Aliás, de prata elas tinham muito pouco, e sim chumbo, cobre e outros metais, entre os quais até ouro, em quantidades mínimas para justificar um grande empreendimento de mineração.
O professor Hollenweger deixou registrado que em 1830, bem antes do Dr. Hermann Blumenau iniciar sua colônia, um inglês andou a procura de ouro nas cabeceiras do Garcia, e de fato ali encontrou o precioso metal.
O inglês trouxe consigo alguns batedores e um escravo de uns 15 anos de idade, comprado no Rio de Janeiro.
Estes mineradores foram seriamente hostilizados pelos indígenas, que não lhes davam paz. Os mineradores recuaram até a localidade de Garuba, onde encontraram pedras que continham prata. Mas o constante enfrentamento com os índios acabou por afugentar o inglês e seu pessoal, que abandonaram a idéia de enriquecer as custas do minério. Como haviam encontrado prata, surgiu a lenda.
Quarenta anos depois, por volta de 1870, quando Blumenau já era uma colônia que começava a desenvolver-se, o escravo, que acompanhara o patrão até sua morte e alcançara alforria, voltou para a região e chegando à floresta, onde estariam às minas de prata, ali construiu um rancho rústico, no qual passou a habitar.
Ao redor plantou algumas árvores frutíferas e dizem que de vez em quando voltava do trabalho com um dedal cheio de pepitas de ouro.
Conta-se também que tempos depois o ex-escravo vendeu suas terras. Mas os novos proprietários também não duraram muito tempo por ali.
As “minas” ficaram então abandonadas por muito tempo.
Em nosso próximo encontro vamos contar mais um pouco desta excitante história das ”minas de prata” blumenauenses.
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Adendo do Memorialista Niels Deeke
O 1° Mapa da Silbermine, chancelado, sob estampilhas, pelas autoridades do Império, foi levantado por Frederico Deeke e seu cunhado o eng° Heinrich Krohberger em 1881, detalhando minuciosamente as características do terreno e situando um ribeirão então denominado Ribeirão Frederico ( atual ribeirão das Minas, à margem esquerda do Ribeirão Garcia, provindo, este último, da antiga 3ª Vargem, atual Parque das Nascentes), visando estabelecer empreendimento de mineração, obtendo, para tanto, concessão do Império em área restrita, à exploração, limitada a um milhão de metros quadrados.
Resultante da insuficiência de capital, Frederico Deeke transacionou sua concessão com investidores argentinos -da ¨Companhia Cortada¨ - que, após, tornaram-se proprietários de todo o imenso território de 30 milhões de metros quadrados, até os confins do atual município de Botuverá - antes Guabiruba - superfície que contém o ponto culminante de Blumenau, ou seja o antigo Morro dos Argentinos, também conhecido que foi por Morro Buenos Aires e atualmente, é denominado Morro Santo Antônio com 958 metros de altitude. Cumpre esclarecer que o topônimo Botuvera - onde o correto seria Botuberá, foi escolhido justamente por minha indicação pessoal, junto ao então deputado estadual Mário Olinger, quando das tratativas de emancipação do município. Indiquei o termo visando resguardar o anterior indicativo, por sua similitude de acepção com Buenos Aires, vez que Botuverá, em tupi - abanheenga- significa ¨Bons Ares¨, ou Ventos Límpidos e ainda Montanha Brilhante.. Certo que houve subcontratos da empresa ¨Calzada e Cortada¨ com o Sr. Otto Rokholl - associado à mineradora alemã Stinnes- empresário que trouxe, da Alemanha, o eng° Vogel, quando instalaram, precariamente, tanques e equipamentos de lavagem do minério e procederam maiores escavações nas rochas, pequenas cavernas donde fizeram a extração na margem esquerda do ribeirão Garcia. Conforme muito claramente está evidenciado no Mapa, as terras requeridas localizavam-se na margem direita (montante p/ jusante) do ribeirão Garcia.
Houve, também, a exploração procedida pela portentosa empresa ¨Sul Americana de Mineração S/A¨, do Sr. Adriano Seabra ( capitalista português, proprietário da Tecidos Bangu em 1954 e da grande mineradora de tungstênio em Apiaí -Ribeira SP, empreendimento de mineração cuja iniciação, em 1955, se deveu ao empenho de Hercílio Deeke, junto seu grande amigo o Sr. Seabra,.do Rio de Janeiro.
Na oportunidade foram contatados engenheiros, realizadas prospecções e demoradas análises, além execução pela PMB (Prefeitura Municipal de Blumenau) das necessárias obras de melhoria na estrada da Nova Rússia, feitura de pontilhões e alargamento da problemática via pendente nas íngremes ribanceiras do pseudo cânion. Entretanto a atividade da Sul Americana, no alto Garcia, limitou-se a extração experimental do minério, não prosperando devido ao retorno de Seabra e de sua esposa Dona Aurora, já então muito idosos, à Portugal para onde deslocou seus investimentos..
O nome do Inglês era Jünger Albion. Como na Norte América era usual grafar-se primeiramente o patronímico ( sobrenome) e só após e primeiro nome, tanto lá como cá, seus portadores assim eram conhecidos. Portanto o dito Jünger Albion tinha como prenome Albion e sobrenome Jünger, logo ALBION JÜNGER, conhecido do mineralogista prático Frederico Deeke, quando este prospectou, em parceria com americanos, terrenos auríferos na Limeira - Brusque. Aliás, o dito, não era inglês e sim americano ( EEUU), garimpeiro,. que junto ao Sr Read - este de quem Frederico Deeke adquiriu sua vasta gleba de terras na Limeira - tal como norte americanos foram outros que arribaram, muito antes da Guerra da Secessão, no vale do Itajaí Mirim objetivando extrair ouro.
Texto: Carlos Braga Mueller/Revista Blumenau em Cadernos;1968;José Ferreira da Silva. Adendo do Memorialista Niels Deeke
Arquivo de Pedro Prim/ Adalberto Day