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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

- Como surgiu o pinheirinho de Natal em Blumenau




Em histórias dos Natais uma contribuição importante e exclusiva de Carlos Braga Mueller/escritor e jornalista em Blumenau.

COMO A ARAUCÁRIA BRASILEIRA TRANFORMOU-SE NO PINHEIRINHO DE NATAL EM BLUMENAU
Vale a pena relembrar um fato narrado por um antigo morador de Blumenau, no qual, através de carta enviada a uma irmã na Alemanha, ele conta como a criatividade preenchia o vazio e a saudade da velha pátria europeia.
Acostumados a festejar o Natal na Europa em torno do presépio e do pinheiro do Tirol, os imigrantes usavam  aqui galhos da mata nativa para substituir o tradicional pinheirinho, até que o administrador e fundador da Colônia, Hermann Blumenau, teve uma ideia verdadeiramente luminosa, como revela o imigrante Otto na carta enviada a sua irmã, da qual extraímos trecho em que ele se refere ao Natal.
Pinheiro Tirol (europeu) foto reprodução
A tradução foi feita pelo historiador Frederico Kilian e publicada no Tomo XV da revista histórica Blumenau em Cadernos.
Otto (não foi revelado seu sobrenome), motivado pela saudade e pela emoção, escreveu:
Blumenau, em 1º de janeiro de 1867.

"Querida Irmã !
........ Já estamos aqui pouco mais de cinco anos e neste ano tivemos o nosso primeiro pinheirinho de natal.
Araucária Brasileira - Foto reprodução
Mas não é o pinheirinho alemão "Abies pectinata", mas sim uma árvore com folhas aciculares mais duras; nasce no planalto, a "Araucária brasiliensis", que foi introduzida aqui na colônia pelo próprio Dr. Blumenau, que arranjou as sementes da zona serrana. Cresce muito ligeiro e dentro de quatro a cinco anos já pode ser cortada para servir de árvore de natal.
Nos anos anteriores, nossa árvore de natal era um arbusto ou pequena árvore com galhinhos simétricos e que enfeitamos com pequenas fitas de cores, cortadas de restos de fazenda, com as quais prendíamos aos ramos as flores das múltiplas orquídeas que aqui abundam; e pendurávamos, em falta das costumeiras gulodices (doces, maçãs e peras) as frutas que nascem aqui, como bananas, cachos de uvas maduras e várias frutas silvestres.
Também não faltavam as velinhas de cera,  pois além das abelhas domésticas, já introduzidas na colônia, existem ainda aqui nas matas abelhas de várias espécies, que se alojam nos troncos ocos das árvores e que produzem uma cera escura, mas que serve para fazer velas.
Assim, em todos os anos não deixamos de ter a nossa árvore de natal, mesmo nos três primeiros anos, em que a vida era dura de fato.
 Como moravam os colonos (Blumenau 1870). Foto reprodução
Mas a festa do nascimento do Menino Jesus nos viu em torno da tradicional árvore de natal, reunidos em louvor ao nosso Deus e unidos no propósito de não desanimar, e de crer na bondade divina, que nos foi anunciada há dezoito séculos pelos anjos com o cântico "Gloria in Excelsis".
E neste dia, em que um novo ano despontou no firmamento, encimado pela bela constelação do Cruzeiro do Sul, símbolo da paz neste céu tropical, quero retribuir os votos de felicidades que nos enviastes com tua carta e dar-te a certeza de que aqui estamos, com a Graça de Deus,  vivendo felizes e contentes por sabermos que nossos sacrifícios serão para o bem de nossos filhos e para o progresso desta terra, que lhes escolhemos para sua pátria, que também já é nossa, pois abriga o nosso lar e nos dá a oportunidade de vivermos em paz e liberdade.
Receba e transmita a todos os teus os abraços afetuosos de teu irmão, que muito te estima.
Otto."
Arquivo Adalberto Day e Carlos Braga Mueller 

domingo, 22 de dezembro de 2013

- Os estímulos do Natal

Os estímulos do Natal
(Antonio de Andrade*)

    O que acontece com as pessoas na época do Natal e fim de ano? Parece que elas conseguem superar o egoísmo de suas vidas, a competição desenfreada que parece ser o dia-a-dia durante o ano, com um viver individualista e com medo dos outros, passando a agir como se fossem outro tipo de pessoa, revelando um lado emocional mais sensível, com interesse pelas pessoas e com vontade de agradá-las, o que provoca uma mudança marcante: elas começam a dar estímulos positivos às outras pessoas.
    Parece que todo mundo fica tocado pelo espírito do Natal de convivência cristã, fazendo desabrochar algumas  características humanas saudáveis que durante todo o ano ficaram guardadas lá no fundo do baú da personalidade da maioria das pessoas. Quando chega a época do Natal, as pessoas começam a abrir o coração para os outros, estendendo suas mãos com bondade, com gestos de apoio, solidariedade e amizade, com sentimentos de paz e união fraterna. As pessoas ficam mais alegres, com sentimentos de otimismo, com mais esperança e com expectativa de um ano novo melhor. Parece que descobrem mais beleza na vida e vivem sorrindo para os outros e para suas próprias vidas, como se estivessem na vida a passeio. Há uma nova energia, muito positiva, entre as pessoas e aquele horizonte de felicidade que era olhado de longe, durante todo o ano, parece que agora está juntinho de todo mundo e todos querem reparti-lo uns com os outros. É como se todos tivessem descoberto a Fonte da Felicidade e estivessem repartindo com os outros essa felicidade!
    A cada final de ano que chega, as pessoas expressam seus sentimentos de um Feliz Natal aos outros e um Ano Novo cheio de sucesso e felicidade, dando a eles novo ânimo e nova dose de coragem para viverem suas vidas. Estão expressando suas vontades de que tudo caminhe otimamente bem para todo mundo e que cada pessoa encontre a tão buscada felicidade. Assim, na época do Natal, criam um mundo de amor, de paz, de alegria e de felicidade com os estímulos que dão e que também recebem, pois as pessoas ficam mais felizes quando recebem estímulos adequados e em quantidade suficiente.
    Essa vivência do espírito de Natal é uma amostra saudável e feliz do que os seres humanos poderiam viver em cada dia do resto do ano, se também nesses outros dias, continuassem a dar esses estímulos importantes para a felicidade das pessoas. A felicidade, para os seres humanos é algo muito importante e cada pessoa a define de um modo, vivendo-a a seu modo. A felicidade é a essência de suas vidas e seriam muito mais felizes se a compartilhassem com as outras pessoas, cada dia, todo dia! Quanto mais felicidade derem às outras pessoas, mais felicidade receberão de volta! Isso se aprende praticando e cada uma é que tem que praticar, aprendendo a não guardar seus estímulos positivos para ocasiões especiais, como é o Natal e Ano Novo, vivendo com as pessoas como se todo dia do ano fosse, na realidade, uma ocasião especial.
    Contribua, com suas ações, para que a felicidade, o amor, a alegria e o entusiasmo sejam alguns dos propósitos dos habitantes humanos deste planeta Terra. Comece a praticar os ideais de convivência harmoniosa e de boa vontade para com os seres humanos, contagiando positivamente outras pessoas e estas também a mais outras. Quando todo mundo estiver praticando isso, nosso mundo, com certeza, será muito melhor!
    Há muito o que fazer para que isso aconteça! Por isso, que tal começar a praticar agora mesmo, espalhando alegria, o entusiasmo pela vida e felicidade para as pessoas? Um sorriso amigo, um elogio, um carinho, algumas palavras cordiais ou de amor não custam nada, você os tem dentro de si em fonte inesgotável! Esqueça que os outros não agem assim! Como diz aquele ditado, "ser feliz significa que, provavelmente, você terá que sair da fila e marchar ao som do seu próprio tambor". Vamos lá, faça a sua parte! Um amigo meu tem um curioso estilo de fazer a parte dele: ele tem uma aparência muito boa que chama a atenção das mulheres na rua e ele costuma dar uma piscada junto com um sorriso, somente para as mulheres que ele acha sem charme, feias ou que estão com uma expressão triste, tentando fazê-las sentir um pouco de valorização, melhorando a autoimagem delas, tentando colocar um sorriso no rosto delas. É o seu modo de fazer alguma coisa, espalhando um pouco de alegria pelas pessoas...
    E já que é época de Natal, receba prezado/a leitor, os meus estímulos positivos, o meu abraço fraterno e votos de que seja muito mais feliz e realizado/a, todos os dias do novo ano de 2014.  
     * Antonio de Andrade
 Escritor, Jornalista, com formação em Psicologia  
Arquivo de Adalberto Day

domingo, 15 de dezembro de 2013

- Papai Noel existe?

Em histórias dos Natais apresentamos uma crônica da escritora e historiadora Urda Alice Klueger sobre Papai Noel na sua infância. 

PAPAI NOEL EXISTE ?

 Em 1960, eu havia entrada para a escola, a maravilhosa escola que abrir-me-ia as portas para o grande mundo que havia nos livros e, onde, coleguinhas mais sabidos do que eu, ensinaram-me que Papai Noel não existia. Eu encarei com força aquele desvendar de uma nova verdade e, conforme o Natal se aproximava, ficava em casa repetindo impertinentemente:
- Papai Noel não existe! Papai Noel não existe!
Minha irmã Margaret, então, tinha quatro anos, e é claro que minha mãe queria que ela continuasse a acreditar em Papai Noel. Quando eu começava com aquela cantilena boba, minha mãe pedia para que eu parasse, e depois implorava, e depois me ameaçava, mas eu não dava um passo atrás na reafirmação da nova verdade que descobria: Papai Noel não existia, e eu queria que todos soubessem que eu sabia disso.
Meu pai e minha mãe, com certeza, estavam bem de saco cheio comigo e aprontaram a sua cena de Natal.

Na noite de Natal, noite em que nós costumávamos achar muitos chocolates e presentes sob a árvore, jantamos com toda aquela ansiedade que as crianças têm na Noite de Natal, ansiosas por chegar a hora das surpresas. Depois do jantar, minha mãe lavou a louça com toda a calma, como em qualquer dia comum.
Depois, abriu as latas de doces-de-Natal e encheu alguns pratos com eles. Com mais calma ainda, levou os doces para baixo da árvore-de-Natal e os colocou lá, enquanto meu pai acendia as velas do pinheirinho. Ai sentaram-se a conversar, como em qualquer dia comum, e nesse ponto eu já estava explodindo. Minha ansiedade era tão grande que não resisti:
- E o Natal?
- Ora, nós estamos festejando o Natal! A árvore já está acesa, já temos os doces que fizemos...
- E os chocolates? E os presentes?
- Ah! Isto são coisa que o Papai Noel traz! Como Papai Noel não existe, como é que ele vai trazer tais coisas?
Se alguma vez senti frustração na vida, foi naquele momento. Onde estava o meu Natal? Onde estava o encanto dos pralinés recheados de rum, e as bonecas e os lápis-de-cor novos, e as garrafas de frisantes que se tomavam naquela noite? Onde estava a magia dos Natais anteriores? Onde estava aquela ânsia na alma, que nos outros anos havia me preenchido de alegria? Intensamente frustrada, eu creio que já estava a ponto de chorar, quando aconteceu o milagre: nossa casa passou a ressoar com grandes pancadas nas sua paredes de madeira, enquanto todos pulavam de susto e diziam:
- É o Papai Noel! É o Papai Noel!
Meu pai apressou-se a abrir a porta e, curvado sob um grande saco, Papai Noel de verdade entrou lá em casa. Naqueles idos, Papai Noel não se vestia de vermelho, como hoje; usava uma bizarra roupa feita de sacos de estopa e, à guisa de barba, tinha a pele de algum animal pequeno, com certeza caçado pela vizinhança, preso sob o queixo. Nenhuma criança de hoje levaria à sério aquele Papai Noel, mas eu levei, meu Deus, como levei! Voltara a acreditar nele imediatamente, nem me passava mais pela cabeça a outra certeza, e quando ele nos fez as tradicionais perguntas, tipo se obedecêramos à mãe durante o ano, fui eu quem respondeu com mais convicção. Ele era um Papai Noel exigente, mandou que nos ajoelhássemos e rezássemos uma Ave Maria e um Pai Nosso, e rezei com o maior fervor da minha vida até então. Foi embora, então, deixando-nos um saco pejado de guloseimas e presentes, e lá estavam os pralinés, as bonecas, os cadernos com cheiro de novo, as caixas de lápis-de-cor com 24 lápis, os joguinhos, as loucinhas para brincar de boneca. Tudo tinha ficado lindo, toda a magia voltara e, com certeza, eu era a criança mais feliz do mundo quando meu pai me deixou beber um pouquinho de frisante. (Hoje, não existe mais frisante. Fico pensando o que era aquela bebida de gosto tão bom. Talvez, seja o que hoje chamamos de cidra.)
Até hoje eu não sei quem foi o vizinho que se vestiu de estopa naquela Natal de 1960, e trouxe para mim a alegria de volta. Só sei que, a partir daí, por muitos anos ainda eu acreditei em Papai Noel. 
Blumenau, 01 de Dezembro de 1996. 
Urda Alice Klueger
Texto Urda Alice Klueger/Arquivo de Adalberto Day

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

- Meu natal inesquecível

Em histórias de nossos natais inesquecíveis, apresento o texto de Dalva Day, relatando o Natal de 1964, e seu presente inesquecível.

Lembro-me com saudades, dos natais de minha infância. 
Não tínhamos preocupações maiores. Os preparativos para o natal eram organizados pela nossa mãe, já nos meses anteriores a dezembro. Ela fazia deliciosos docinhos de natal, decorados com mistura de claras e bolinhas coloridas. Misteriosamente sumiam nossas bonecas algumas bonecas de louça a minha já era de plástico, as conhecidas bonecas da Estrela, ganha pelo meu pai em uma festa de igreja , era linda de vestido azul de “tuli.”
Se perguntássemos sobre as nossas bonecas, nossa mãe respondia que elas tinham ido fazer uma viagem, ou estavam hospitalizadas. 
Em nossa ingenuidade acreditávamos, mesmo que todo ano era a mesma coisa. Era lindo ver o mês de dezembro chegar. 
Férias, podíamos brincar em frente da casa das 18:00 horas às 20:00 horas, meninas podiam ficar pulando corda (fúria) jogavam mata soldado, jogo da amarelinha, enquanto que os meninos jogavam bola (futebol), andavam de bicicletas, jogo de trave.
Bastava às mães chamarem os filhos no horário determinado, que todos obedeciam e voltavam felizes para casa, tomávamos banho, dar benção aos pais e ir dormir.
Em geral as famílias possuíam proles numerosas e na época de natal os pais davam a seus filhos um presente simbólico. 
Lembro-me quando meu irmão ganhou um relógio de pulso na era dos movidos a corda . Em outro natal, minha irmã mais velha recebeu uma pulseira de ouro.
Lembro-me como se fosse hoje, quando recebi o meu presente de natal que ficou na minha memória. Estávamos de mudança para a nova casa. Meus pais construíram a casa em três anos, onde seria o lar da família. Mesmo que todos nos estudávamos no colégio Sagrada Família, conseguiram realizar o sonho deles de construir a casa própria.
Nada estava planejado para a mudança oficial para a nova casa, mas em meados de outubro de 1964  todos os filhos combinaram em fazer nós mesmos a mudança. Cada um começou igual a “formiguinhas”, levamos as coisas menores e as que nosso tamanho permitia.
Quando nosso pai chegou do expediente do 23 BI, dia 23 de dezembro, já estávamos decorando a casa e a árvore de natal natural de uns 2,50 metros de altura. Não houve alternativa, decidiu-se que iríamos passar o natal na casa nova.
Só o fato da mudança já nós deixava eufórico. 
Original de 1964
Mas chegou a minha vez de receber o meu “presentão”.
Meus pais conversaram com o meu padrinho Osmar Simas que construía móveis e encomendaram uma replica do estofado (sofá) para minha casa de boneca. Acredito ser o meu melhor natal de infância, pois além da casa nova, do meu estofado também papai Noel veio em novembro com a cegonha e trouxe mais uma irmãzinha.
Enquanto aguardávamos o Papai Noel chegar, tínhamos que nos comportar, ajudar nas tarefas caseiras, “para que ele pudesse fazer sua avaliação sobre merecer ou não receber o presente de natal”. Recebíamos todos os anos nossas bonecas que voltavam das “viagens” ou do “hospital”, sempre renovadas com roupas bonitas e cabelos penteados, pois as costureiras as deixavam um “brinco” de belas.
Outra lembrança que guardo com carinho, foi aos 13 anos, quando ganhei uma coleção de dicionário de línguas estrangeiras, pois também estava cursando o ginásio e queira saber falar outros idiomas.
Hoje ainda conservo meu 1º presente surpresa que recordo com carinho.
Nossas filhas brincaram muito com ele e espero que um dia eu possa ver nossos futuros netos (as) brincarem com meu lindo “joguinho de estofados”.
Texto Dalva Day/ Arquivo de Dalva e Adalberto Day 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

- As Salas de Cinema

RELEMBRANDO A ERA DAS GRANDES SALAS DE CINEMA  - MOMENTOS INESQUECÍVEIS 

Por Carlos Braga Mueller/escritor e jornalista em Blumenau

Nunca é demais recordar o importante papel das duas principais salas de cinema, Cines Busch e Blumenau, para a diversão dos  blumenauenses durante oito décadas..
Depois de usar o Salão Holetz durante mais de 35 anos  para suas exibições cinematográficas, o Cine Busch resolveu construir um prédio próprio, o que aconteceu em 1940, quando foi inaugurado o então novo Cine Busch (bem ao lado do Salão Holetz). Suas linhas "art dèco" chamam a atenção até hoje, embora o cinema já tenha sido desativado e o prédio reformado, guardando a característica quase original da  fachada.
Onze anos depois - 1951 - era registrada a inauguração do Cine Blumenau, que veio para concorrer com o Busch, e assim durou até que alguns anos depois os dois foram incorporados por uma empresa da capital, os Estabelecimentos José Daux, que mantinham o monopólio de quase todos os cinemas de Florianópolis
Durante 4 décadas o Cine Busch reinou absoluto em Blumenau, como o único cinema do centro da cidade.
Existiram, a partir da década de 40, os cinemas de bairro: o Cine Garcia, na Rua Amazonas, e o Cine Mogk na Itoupava Norte.Mais tarde viriam o Atlas na Vila Nova.
Mas na área central o Busch era o único.
Até que em 1951, por iniciativa de Antônio Cândido de Figueiredo, foi inaugurado o Cine Blumenau.
Quase 1.300 lugares, distribuídos na platéia e balcão, davam ao novo cinema a dimensão que tinham que ter os cinemas da época: grandes e com telas gigantes !

A INAUGURAÇÃO 
Depois de pronto o prédio, especialmente construído para abrigar o cinema, foi marcada a data da inauguração:  28 de julho de 1951, uma sexta-feira.
Filme de estréia: uma super produção romântica de capa e espada:"As Aventuras de Don Juan" (The Adventures of Don Juan), com Errol Flynn no papel do herói, e mais Viveca Lindfors, Robert Douglas, Alan Hale, Ann Rutherford e outros, com direção de Vincent Shermann.

A comunidade blumenauense atendeu em massa o convite para prestigiar a primeira sessão do Cine Blumenau, conforme ficou registrado em foto histórica, cujo original faz parte do Arquivo de Blumenau.
Os ternos, gravatas,  vestidos da moda, deixaram os armários e todos se vestiram a rigor para assistir As Aventuras de Don Juan.
Antônio Cândido de Figueiredo, o proprietário, e seu filho Caetano, recepcionavam as autoridades, convidados especiais e amigos na ampla sala de espera.

Quando todos estavam em seus lugares, cinema lotado, o gongo soou e as luzes apagaram. Apenas permaneceram acesas as luzes-guia, amarelas e vermelhas.
Na grande tela, logo após a exibição de um jornal cinematográfico e trailers, foi projetada a logomarca da Warner Bros, anunciando o filme em cartaz.
Até então, o Cine Busch tinha a exclusividade de exibir os filmes de todas as companhias cinematográficas; com a chegada de um novo cinema cada empresa ficou com determinadas companhias. Coube ao Cine Blumenau exibir os filmes da Warner Brothers em nossa cidade.

AS EMOÇÕES VIVIDAS COM O PRIMEIRO FILME 
Após uma decepção amorosa na Inglaterra, Don Juan (Errol Flynn) é chamado de volta à Espanha para ser o instrutor de esgrima da academia real.
Ao chegar, Juan encontra a bela Rainha Margareth (Viveca Lindfors) e o rei Phillip III, este manipulado pelo perverso Duque Le Lorca.
Le Lorca planeja utilizar quase todas as reservas do país para aumentar as tropas militares, mas a rainha abre os olhos de Phillip e o convence de que o povo precisa mais dos recursos do que o exército.
Para continuar com seu plano, Le Lorca precisa dar um fim em Margareth e então planeja um atentado contra ela.
Fazendo o que sabe de melhor, conquistar as mulheres, Don Juan toma conhecimento dos planos de Le Lorca e junto com seus leais aprendizes de esgrima ergue sua espada e trava uma batalha contra os traidores a fim de salvar a amada rainha das garras da morte. 
O filme tinha 110 minutos de duração, quase duas horas, que passaram sem que os espectadores ficassem entediados, porque  todos divertiram-se muito com as peripécias de Errol Flynn, então um dos maiores astros de Hollywwod. 
Na saída, os cumprimentos que a família Figueiredo recebeu comprovaram a satisfação dos blumenauenses, que agora tinham mais um cinema na cidade, e este era maior e mais moderno que o Busch.

FATOS CURIOSOS 
A TELA DO CINEMASCOPE EXIGIU REFORMAS 
Quando em 1955 foi anunciada em Blumenau a novidade do Cinemascope, com "som estereofônico", todo mundo ficou curioso.
O Cinemascope deixava de lado as telas quadradas e abria o panorama para ambos os lados, constituindo-se em uma tela retangular ... e enorme.
A tela comum do Cine Blumenau, onde a novidade seria instalada, já era grande. E iria ficar maior ainda.
O palco do cinema era ornado com duas belas colunas gregas, uma em cada lado.
Para proporcionar a tela cinemascope as colunas foram retiradas.
E assim, Blumenau teve acesso às projeções de filmes através das "lentes anamórficas", que abriam a imagem para os lados e deixavam todos encantados com uma bela visão de atores e cenários mais amplos.
A estréia do Cinemascope  em nossa cidade deu-se com bastante propaganda pelo rádio e jornais.
No dia 5 de agosto de 1955 foi exibido o primeiro filme pela nova técnica: Caminhos Sem Volta, um emocionante drama sobre corridas de carros, o que seria hoje a Fórmula 1. 

OS BICICLETÁRIOS  
Naqueles tempos era grande o número de pessoas que andavam de bicicleta em Blumenau.
Além de usarem este veículo para ir ao trabalho, era na bicicleta, também, que iam ao cinema.
Por isso, o Cine Blumenau não se descuidou e montou, na lateral do prédio, um grande "bicicletário". Eram dezenas de encaixes para a roda dianteira da bicicleta. Ali o veículo ficava guardado em segurança até o final da sessão, sob os olhos vigilantes de um jovem, o Bubi, que se tornou figura muito conhecida na época.
Já o Cine Busch tinha no porão um local para se guardar as bicicletas.

CORRIDA PARA NÃO PERDER O ÔNIBUS 
Um problema sério enfrentado por aqueles que iam ao cinema antigamente era quando o filme ultrapassava o tempo normal, geralmente de uma hora e meia.
Se a sessão passasse das 10 da noite, e você não tivesse carro, moto ou bicicleta, perdia o último ônibus para os bairros.
Era muito comum ao final da sessão, mesmo antes da palavra FIM aparecer na tela, o público levantar-se e ir saindo do cinema,  para não perder o ônibus.
Alguns até sacrificavam o final do filme e saíam correndo ... pescoços voltados para trás ..os que moravam nas Itoupava e na Velha  atravessavam a Rua 15 de Novembro para acessar o ponto de ônibus que ficava um pouco antes da Casa Willy Sievert . Para quem ia ao Garcia, era mais fácil: o ponto ficava em frente ao cinema. A Rua 15 tinha duas mãos de direção, subia e descia...

A ENCHENTE ACABOU COM O CINE BLUMENAU 
Na enchente de 1983, contrariando todas as expectativas de nível do Rio Itajaí-Açu (mais de 15 metros acima do normal), o cinema foi invadido pelas águas. Poltronas encharcadas, piso solto, situação de desespero da comunidade foram motivos suficientes para os donos do prédio acharem outro destino para ele: seria ocupado durante alguns anos  pelas Lojas Americanas e atualmente abriga uma loja do Magazine Luiza (2013).
Arquivo de Adalberto Day/ e fotos reprodução.  

terça-feira, 26 de novembro de 2013

- O pé de limão da vizinha

Em histórias de nosso cotidiano apresentamos hoje a história de Nilton Sérgio Zuqui. (nascido em Blumenau  14/08/1964 na Maternidade Elsbeth Koehler),
de sua infância humilde, simples como todos os moradores das casas populares da Empresa Industrial Garcia, porém com muita dignidade.
Foto comemorativa aos 25 anos de matrimonio maio  de 2011. Nilton e Roseli Zuqui
Um cidadão do bem
Um menino que vendia picolés e também cestinhas de páscoa pelas ruas dos Bairros Progresso, Glória e Garcia para ajudar no orçamento familiar.
Seu maior desejo desde seus 9, 10 anos, ser um dia um grande vendedor.
Também jogou futebol no Amazonas, no 12, Associação Artex. Era “Goleiro”, banhava-se no “Tapume” uma rua transversal da Emilio Tallmann, e foi coroinha.
Torcedor apaixonada pelo Corinthians e Vasco da Gama
Tudo começou em certo dia quando acompanhava seu pai Argeu Zuqui que trabalhava na Empresa Industrial Garcia e jogador do Amazonas. Por volta de 1970, em um final de semana foram ao Açougue conhecido como “Capitãode Walter Haupt - na Rua da Glória, bem em frente à entrada da Rua Belo Horizonte na época conhecida como Rua do Pfiffer (Fifa).
Seu Pai solicitou carne temperada para final de semana (o que era raro), mas era isso que desejavam comprar, Churrasco temperado com limão e o Sr. Walter o “Capitão” do açougue não possuía. 
Então logo o menino Nilton percebeu uma oportunidade de vendas, pois era sabedor que a vizinha possuía três pés de limão em seu enorme “galinheiro” em sua propriedade.
Já com a mente imbuída de bons pensamentos, o menino via deslumbrar a sua frente a grande oportunidade que lhe faltava.
Na quarta-feira próxima, colheu duas sacolas (aquelas de náilon) com limão e foi com todo entusiasmo oferecer ao dono do Açougue “Capitão” que de imediato já o desmotivou, dizendo que "não precisava de limão".
O menino Nilton persistente insistiu “Precisa sim” pois ouvi quando meu pai  (foto de seus pais) solicitou churrasco temperado e o Sr. não possuía e que não tinha tempo para procurar limão.
Ilse Maria Zuqui e Argeu Zuqui seus pais e meus amigos.
Foi neste instante que o menino compreendeu como funcionavam vendas, atender as necessidades dos clientes, “sim clientes”.
Dali em diante o Sr. “Capitão” também deslumbrou uma nova etapa em sua venda com carne temperada.
Então todas as quartas-feiras levava duas sacolas com limão para vender, ao dono do Açougue.
Também no início dos anos 1980 vendia livros de porta em porta, (em toda a região do vale e litoral) em especial BÍBLIAS E DICIONÁRIOS, era uma época em que se preenchia um carnê com as parcelas normalmente 10 ou 12, e o cliente ia ao banco efetuar o pagamento.
Roseli,Nilton
Irene Martins, Mariane e Felipe.
Amizade muito sólida há mais de 25 anos 
Clésio Comandolli, Zuleica Hort Comandolli, Norton , Lara Dominiqui Comandoli.
Depois o jovem ingressou na Cooperativa da Artex, e em seguida na  própria Artex, só para não contrariar os costumes da família e do bairro. 
Porém vendas sempre foi sua grande paixão.
Hoje o então já experiente menino de outrora, realizou um sonho de estar fazendo gestão de vendas (gerenciando uma equipe de 22 representantes no país), e tendo a oportunidade de conhecer um pouco de nosso imenso Brasil varonil.
Sua experiência que começou com a venda de picolés, até chegar ao limão, passou também como vendedor de docinhos caseiros e principalmente dos gostosos doces de Natal. 
Trabalhos comunitários
Nilton também foi atuante na comunidade através da Associação de Moradores da “Metajuha”,  http://metajuha.blogspot.com.br/ onde pôde junto com diversos colegas, inclusive eu “Adalberto Day”, Nivaldo M. Vieira, Hilário Boos (In memorian), Armando Boos, Ademir M. Gonçalves, Vanderlei Mateus, Nicodemos Martins, Pedro Albino, Mário Colombi, Luiz Boos, Erica Boos, Dona Generosa da Costa Teixeira (In memorian) Terezinha  e outros.
Entre tantas conquistas, a abertura, pavimentação das Ruas Emilio Tallmann e Júlio Heiden, como também corredor de ônibus, nos idos anos de 1996.
Também atua como conselheiro matrimonial dando palestras aos jovens casais nas igrejas. 
Arquivo de Nilton Sérgio Zuqui/Adalberto Day 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

- Jorge Dória

Apresentamos mais um texto de Flavio Monteiro de Mattos
Carioca de nascimento e BLUMENAUENSE POR OPÇÃO". Nos relatando sobre Jorge Dória.

O Último Ato de Um Grande Ator
Com a morte de Jorge Dória (12/12/1920 - 06/11/2013), o plantel de comediantes e humoristas brasileiros torna-se cada vez mais árido e suscetível que se descubram “talentos” tão risíveis que, comparados ao quilate da turma a qual o Jorge fez parte, não encontrariam oportunidades sequer para uma réles figuração.
Foto 1959: Anthero Frota de Mattos e Nagel Mello
Meu pai foi amigo do Jorge desde a época em que usava Pires Ferreira, seu sobrenome de batismo. Conheceram-se no Colégio Militar do Rio e por conta respectivos dotes artísticos, precoces e incomuns, se tornaram amigos de várias estrepolias e a mais “espetacular” protagonizada pela dupla foi a fuga do serviço, em pleno carnaval, dentro do caminhão que fornecia carnes e outros víveres. Segundo meu pai, esgueiraram-se para dentro do veículo, que rodou por algumas horas e quando finamente parou, e as portas da “liberdade” se abriram... Estavam no pátio do quartel do Exército, em Deodoro, que culminou com o convite para que se retirassem da instituição.
Quis a vida que os dois novamente e já adultos se reencontrassem e novamente sob os auspícios de um órgão federal chamado, na época, de Caixa de Amortização, que veio a ser o precursor do Banco Central. Além do Jorge (ainda Pires Ferreira), a Caixa era o porto seguro onde ancoravam projetos de futuros astros como meu próprio pai (primeiro seresteiro do Oswaldo Sargentelli do programa “Viva Meu Samba”, na rádio Mundial AM), Miltinho, (cantor, que ainda está vivo), Pato Preto (comediante, trabalhou na antiga TV Tupi, no programa Clube do Guri - http://pt.wikipedia.org/wiki/Clube_do_Guri).
Foto divulgação.
Nessa época, o Jorge Dória já caminhava rumos aos palcos, tendo feito alguns papéis em peças teatrais. Relatava meu pai que quando o Jorge colocava o paletó no encosto da cadeira e dizia que ia comprar cigarro, era a senha que estava ensaiando e não tinha hora para voltar.
Lá por volta de 1961 ou 62, não tenho certeza, o Jorge já Dória apareceu lá em casa, por volta da hora do jantar, animadíssimo porque fora confirmado no filme O Assalto ao Trem Pagador
Foto divulgação.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Assalto_ao_Trem_Pagador), no qual faria o delegado encarregado de prender o bandido Tião Medonho. Além de querer partilhar a boa notícia, queria a ajuda do meu pai para compor a caracterização do personagem que fugisse ao estereótipo do delegado de polícia da época que, segundo ele, era obrigatoriamente magro, de cabelos pretos e bigodinhos finos. Meu pai, frequentador e fã de Blumenau, sugeriu-lhe que incorporasse um delegado da cidade, que conheceu através do cronista Nagel Mello e o Jorge Dória gostou tanto da sugestão que levou para as telas um delegado alto, louro e sem os bigodes que tanto execrava.
Ainda sobre o filme, durante a gravação foram inúmeras as vezes que o Jorge Dória surgiu lá em casa e nestas ocasiões trazia debaixo do braço os diálogos, distribuindo-os para meu pai, minha mãe e às vezes para mim, para que os ajudasse a decorar suas falas.
O sucesso do filme foi estrondoso e o Jorge Dória chegou a programar uma ida à Blumenau conosco, mas nunca aconteceu, já que se tornou merecidamente famoso.
Foto divulgação: Jorge Dória
Em 1974, estrelou a primeira versão tupiniquim da Gaiola das Loucas, talvez o seu maior sucesso no teatro. Perto do fim da temporada fui assisti-lo e meu pai sugeriu que o procurasse. Cheguei ao teatro mais cedo e pedi que o chamassem, mas temia que não se lembrasse de mim, como de fato aconteceu. Somente quando foi informado que o filho do Anthero o procurava é que apareceu e do hall do teatro, vestindo camiseta regata, cuecas samba canção, meias e sapatos sociais, perguntou, com seu jeito gaiato: - Por que não disse que é o Antherinho?
Engrenando na TV tornou-se o primeiro Lineu da Grande Família. Passamos a vê-lo nos programas de televisão, mas volta e meia meu pai comentava que tinham se encontrado.
Ainda nos encontramos por algumas vezes. Uma delas foi na fila do caixa de um supermercado, em Ipanema, e ao lhe apresentar minha filha Patrícia, achou-a muito parecida com minha mãe. A última foi no aeroporto Santos Dumont. Eu embarcava para São Paulo o dono da empresa para qual trabalhava e o Jorge Dória aguardava alguém vindo da mesma cidade. Quando me aproximei dele, foi logo dizendo que eu estava a cara do Antherinho (!) e meu deu dois beijos.
Tenho certeza que a partir de hoje, as noites celestiais serão muito mais animadas e divertidas.
Obrigado, Jorge Dória. Vamos sentir sua falta!
 Arquivo divulgação.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

- Histórias que o Rádio conta

HISTÓRIAS QUE O RÁDIO CONTA
Mais uma participação do renomado escritor e jornalista Carlos Braga Mueller que hoje nos relata sobre os “Shows” dos cantores de Rádio. 
Por Carlos Braga Mueller/escritor e jornalista.

OS “SHOWS” DOS CANTORES DO RÁDIO 
Nos anos 50 e 60 do século passado era comum  que os cantores que faziam sucesso nas grandes emissoras nacionais fizessem excursões, apresentando-se aos fãs espalhados pelo imenso Brasil.

Era o tempo em que existiam no Rio, SP e em outras cidades os fã-clubes de Emilinha Borba e de Marlene, arqui-inimigos, que se enfrentavam, e se engalfinhavam, na frente dos prédios das emissoras de rádio, cada qual querendo que seu ídolo fosse o melhor! Outros artistas também possuíam seus fã-clubes: Roberto Carlos (que até hoje tem o recorde de possuir ativo o fã-clube “Um Milhão de Amigos); Cauby Peixoto, Ângela Maria, nomes que não estão mais nas manchetes. 
As manifestações eram um desespero de corações emocionados, de adolescentes desmaiando, entre tapas e beijos do público aglomerado nas calçadas, quando um artista famoso desembarcava do carro e se dirigia ao auditório da rádio, geralmente a Nacional do Rio, campeã absoluta dos programas de auditório, como os comandados por César de Alencar e Paulo Gracindo.

Era um tempo em que os cantores do rádio também eram vistos nos filmes carnavalescos feitos a cada ano, as famosas chanchadas, principalmente da Atlântida do Rio de Janeiro, que criaram verdadeiros mitos, como Eliana, Anselmo Duarte, Cyll Farney, Adelaide Chiozzo, Oscarito, Grande Otelo, Ankito...
Eliana - Foto divulgação
Adelaide - Foto divulgação
Quando Eliana e Adelaide Chiozzo vieram a Blumenau nos anos 50, uma multidão de fãs aglomerou-se em frente ao Hotel Rex, para  ver de perto seus ídolos da tela e pedir-lhes um autógrafo.  
Foto divulgação
PERI RIBEIRO EM BLUMENAU
Naqueles anos de ouro do rádio eu era locutor da PRC-4 Rádio Clube de Blumenau, pioneira em Santa Catarina.
Quando um artista chegava a Blumenau, geralmente se apresentava no palco do Cine Busch, com transmissão pela PRC-4.
A proximidade do estúdio da rádio (Rua 15 de Novembro esquina com Nereu Ramos) com o Cine Busch (na Alameda Rio Branco), não era mais do que 100 metros em linha reta e existia uma “extensão” permanente (fio) entre os dois pontos para garantir as transmissões dos artistas “ao vivo”.
Rádio Clube PRC4 no antigo Lojas A Capital
Foi assim que no início dos anos 60, Peri Ribeiro, começando sua carreira, veio a Blumenau para apresentar-se em um espetáculo à noite.
Durante o dia, Peri visitou o estúdio da rádio, onde deu entrevista. Depois descemos (a rádio ficava no segundo andar) e fomos tomar cafezinho no Pingüim, que ficava na Rua 15, esquina com a Travessa 4 de Fevereiro, hoje Rua Ângelo Dias.

Estas lembranças me vieram a propósito de um filme de apenas 3 minutos, acessado no Youtube, onde se confirma que Peri Ribeiro foi o primeiro cantor a gravar “Garota de Ipanema”, considerada hoje uma das músicas mais gravadas ao redor do planeta. 
Peri chamava-se Peri Oliveira Martins, mas nos anos 50 adotou o nome artístico de Peri Ribeiro, por sugestão do radialista César de Alencar.
Nascido em 27 de outubro de 1937, era filho de famosos: seu pai, o cantor e compositor Herivelto Martins, e sua mãe, Dalva de Oliveira fazem parte da história da música popular brasileira. Os dois, juntamente com o “colored” Nilo Chagas, constituíram o conjunto vocal “Trio de Ouro”, que depois teve vários outros componentes.
Peri morreu no dia 24 de fevereiro de 2012, aos 74 anos, de infarto do miocárdio. 
Escreveu um livro contando a vida atribulada dos pais: “Minhas Duas Estrelas”. 
CURIOSIDADE: A GAROTA DE IPANEMA NA VIDA DE PERI RIBEIRO 
Por que Peri foi o primeiro a gravar a famosa canção “Garota de Ipanema”?
Pode ser lenda, mas lá pelo início dos anos sessenta, Peri  freqüentava a mesa de bar em Ipanema onde se reuniam os “papas” da bossa nova, entre eles Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Vinicius e Tom não se decidiam sobre a letra definitiva da canção.
A primeira versão fora batizada de “Menina que Passa”, era batucada no tampo da mesa, na caixa de fósforos, cantarolada pelos autores, e tinha a seguinte letra: 
“Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheia de balanço
Caminho do mar.”
A letra, porém, não agradava a Tom Jobim e nem mesmo a Vinicius, que a refez, mudando o nome para “Garota de Ipanema”. A inspiração foi uma jovem, Helô Pinheiro, que de vez em quando passava pela frente do bar, em direção a praia.
Os versos da nova versão, mais inspirada, começavam com a estrofe que imortalizou a canção no Brasil e pelo mundo afora:

“Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
Que vem e que passa
No doce balanço, a caminho do mar.”

De tanta discussão em torno da música, e prevendo que em alguma nova rodada de uísque, naquela mesa de bar, a letra pudesse mudar de novo, Peri Ribeiro, calado e sem avisar os autores, a gravou mais que depressa na sua privilegiada voz, não deixando de dar os créditos, no disco, a Tom e Vinicius.
Começava assim, pelo ímpeto do então jovem cantor, a gloriosa carreira da “Garota de Ipanema”.
Texto Carlos Braga Mueller/Arquivo de Adalberto Day  

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