CARTA
ENIGMÁTICA, DIVERSÃO PARA ADULTOS E CRIANÇAS
(ANTIGAMENTE. É CLARO)
Mais uma contribuição
importante do nosso colaborador, e colunista Carlos Braga Mueller, Jornalista/escritor em Blumenau
Por Carlos Braga Mueller
Lendo o que André Luiz Bonomini escreveu
sobre o Almanaque Renascim no seu blog A Boina, e que também foi divulgado no
blog do Adalberto Day,
lembrei-me dos meus tempos de infância, quando eu pude acompanhar a atividade
do meu pai, farmacêutico, à frente da sua Farmácia Popular.
Meu pai, também Carlos
Müller (com trema no u) começou a trabalhar na Drogaria Hoepcke de
Florianópolis por volta de 1941. Era cidadão alemão e chegara ao Brasil em
companhia dos pais quando tinha apenas 7 anos de idade. Quando o Brasil
declarou guerra à Alemanha foi transferido para a filial da Drogaria de Lages.
Mas logo resolveu montar seu próprio negócio e foi em Capão Alto que ele
instalou sua primeira farmácia.
Capão Alto hoje é município,
mas por volta de 1944 era uma povoação bastante modesta.
Como meu pai estava sempre
em busca de novos horizontes, poucos anos depois ele mudou a farmácia para
Serril; depois para Braço do Trombudo, e finalmente para Rio Cerro II.
Enquanto isso, para não
prejudicar os estudos, eu criança, estudava em Blumenau, morando com meu avô Thomé
Braga e minhas tias. Mas nas férias vivia entre o balcão e os frascos de
remédios da farmácia.
Neste locais, longe de
cidades maiores, não existiam médicos; por isso o farmacêutico era considerado
um doutor.
Mas o que me remete agora ao
Almanaque Renascim SADOL,
relembrado pelo Bonomini, é a expectativa que todos tínhamos, no final
de cada ano, com a vinda do Almanaque anual, editado pelo Laboratório
Catarinense de Joinville, Os exemplares vinham acondicionados nas caixas dos
medicamentos, entre a palha que forrava as embalagens.
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No seu livro “Do Almanack
aos Almanaques”, Marlyse Meyer revela que a primeira edição foi publicada em
1946, e com apenas 1.000 exemplares..
Marlyse
cita algumas curiosidades. Por exemplo: o depois famoso artista plástico Juarez
Machado, joinvilense, teve seu primeiro emprego como desenhista na gráfica
e editora do Laboratório Catarinense, onde eram elaboradas as embalagens dos
remédios e os almanaques. Ficou três anos ali e só depois de um ano de prática
foi autorizado a desenhar para o Almanaque, a verdadeira “menina dos
olhos” do Sr. Bornschein, dono da empresa. Até “cartas enigmáticas”
passaram pelas mãos do então aprendiz Juarez
Machado.
Outro fato interessante: no
pós-guerra houve racionamento de papel no país. Considerado como publicação
didática, o Almanaque conseguiu ter acesso ao papel necessário à sua impressão.
E também me lembrei de um
almanaque que guardo até hoje, herdado de minhas tias: o ALMANACK CABEÇA DO
LEÃO (Antigo Manual de Saúde), do Dr. Ayer, edição de 1939, ano em que
nasci.
FOTO
DA CAPA DO ALMANAQUE
Naquele ano o Almanaque
estava completando 87 anos de existência e anunciava os medicamentos do
Laboratório do Dr. Ayer: Salsaparilha,
Peitoral de Cereja, Vigor do Cabelo, Pílulas Catharticas (contra prisão de
ventre), Digestivo Destex e Linimento de Sloan.
E mais: este tipo de
almanaque publicava a previsão do tempo
para os 12 meses do ano (como será que conseguia ?), calendário com hora do
nascer e do pôr sol, e do pôr da lua para o norte e sul do Brasil, horóscopo, o
que plantar, o que semear, informações diversas (lá está: “Santa Catharina
– Pouco maior do que Portugal.”), ou seja, um verdadeiro modelo para os
almanaques farmacêuticos que apareceram no Brasil durante o Século XX..
FOTO
DA PÁGINA DO MÊS DE MAIO DE 1939
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Os Almanaques optaram
por colocar também páginas dedicadas ao entretenimento, com charadas, cartas
enigmáticas, palavras cruzadas.
O que mais me intrigava, em
criança, eram as “Cartas Enigmáticas”, um emaranhado de desenhos e
letras que, decifrados traziam uma bela mensagem.
Encontrei mais recentemente
uma carta enigmática que traduzi conforme abaixo:
FOTO
DA CARTA ENIGMÁTICA
Uma lâmpada, significando
luz
Luz menos z, mais cio =
Lucio
Pano costurado, significando
costura
Costura menos ura, mais a =
Costa
Um pé, menos o p = é
Ovo, menos vo = o
Auto mais r = autor
Dado, menos da = do
Planta, menos ta, mais um o
= plano
Pilhas, menos has, mais oto
= piloto
Dedo, menos do = de
Brasil mais ia = Brasilia
Tradução da frase:
“Lucio Costa é o autor do
plano piloto de Brasília.
E assim, decifrando cartas
enigmáticas ou cruzando palavras o brasileiro do século XX passou boa parte do
seu tempo.
E ninguém se arrepende
disso.
Texto e fotos do Jornalista
e escritor Carlos Braga Mueller.
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirApesar de não ter vivido muito estes tempos,sempre é muito bom ler seus textos, sejam quais forem os temas.
Excelente....gostei demais......
ResponderExcluirJames Locatelli
Fiquei encantado com o Blogue divulgando antigos almanaques Renascim. Acredito que devo ter lido vários destes almanaques na Biblioteca do Seminário Sagrada Família de Santo Angelo. Cheguei a pensar em montar um Almanaque (anual) aqui em Lajeado, neste formato antigo, pois era o tipo de leitura que me despertavam interesse pela leitura de revistas e, depois, de livros, a ponto de pulicar 14 livros (de história e biografias) em Lajeado, de 1989 a 2010. Mas, não sei se 81 anos ainda é idade para esse novo projeto...
ResponderExcluirAb.
José Alfredo Schierholt
Meu carissimmo amigo, Todas essas coisas, esses fatos e acontecimentos aqui narrados já passaram por mim com grande saudade. Como é bom reviver isso tudo, por isso, se recordar é viver, viva Blumenau, que tem um filho abençoado como você, e, diga-se de passagem, saudações respeitosas ao caro e precaro jornalista Braga Müller, com sua preciosa coletânea de fatos e acontecimentos na vida dos Blumenauenses. Meu grande abraço ao amigo.
ResponderExcluirEutraclinio Antônio dos Santos
Bom dia prof! é encantador Todas essas coisas, esses fatos e acontecimentos,e penso q não devia ter ficado no passado,e sim ser aproveitado em nosso presente,e futuro.Textos assim só nos trás sonhos,educação,aprendizado, cultura.ABRAÇÃO QUERIDO PROF, E OBRIGADO SEMPRE!!!!
ResponderExcluirMuito legal, amigo Adalberto, e parabéns ao Braga Mueller pela bela postagem. Muitos daqueles que nos antecederam tiveram pouca oportunidade de estudar, pois eram lavradores e a sua vida se resumia praticamente ao trabalho. Acredito que os almanaques, que todos tinham, mesmo no interior, tenham sido uma pequena compensação a isso. Bem ou mal, muitos sabiam ler e aprendiam com os almanaques, não apenas sobre as coisas do campo, mas também sobre história, geografia, curiosidades, etc. São justas, a meu ver, estas homenagens que se faz à memória dos almanaques. Cumpriram um papel educativo que nem sempre a educação formal foi capaz de suprir. Grande abraço!
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