Discurso do Presidente
A Palavra do Presidente
Getúlio Vargas em Blumenau. No
dia 10 de março de 1940, a cidade de Blumenau recebeu a visita do Presidente da
República, Getúlio Vargas. Grandes
homenagens foram programadas neste dia.
Em frente ao Teatro "Carlos Gomes ". em um
palanque armado, o presidente Vargas, o interventor Dr. Nereu Ramos, o interventor municipal José Ferreira da Silva e demais
autoridades. assistiram ao desfile do 32" Batalhão de Caçadores, das
Escolas. Sociedades Desportivas. Culturais e várias entidades da cidade.
O Presidente da República. impressionado com a multidão que
se formou pronunciou 11m discurso eloquente que teve grande repercussão no país.
"Não posso deixar de manifestar a minha surpresa e a minha admiração ao
penetrar num município como Blumenau. situado no âmago da região colonial e um
daqueles a respeito dos quais se dizia que a língua portuguesa era desconhecida
e os sentimentos de brasilidade jaziam amortecidos.
Tive exatamente a sensação do contrário. Notei. por toda
parte, o entusiasmo espontâneo e luminoso. o sentimento de fraternidade
brasileira e de amor à nossa terra, o desejo imenso de viver a nossa vida, como
brasileiros.
Tal transformação, que a ninguém seria lícito obscurecer. a
testemunhei por toda parte. demonstrada quer nos homens adultos e válidos, como
nos moços e nas crianças sobretudo nas crianças que me rodeavam em bandos álacres
e que tinham, na profundeza dos olhos azuis e nos acenos cheios de carinho. a
efusão inequívoca do sentimento que lhes iam n'alma. enquanto suas cabecinhas
douradas ao sol pareciam um trigal maduro. Tive a impressão. ao vê-las. de uma
geração nova do Brasil, que se erguia. Este município. um dos menores do
Estado. com mil e tantos quilômetros quadrados de superfície. tem mais de
50.000 habitantes. mais de 300 fábricas e uma população operária superior a
12.000 pessoas. Esta capacidade de produção e este desenvolvimento progressista
demonstram evidentemente que as correntes emigratórias selecionadas fortalecem a organização nacional. contribuindo com a sua colaboração sadia para o engrandecimento
do país. (Palmas).
Presidente Getúlio Vargas
com o Interventor Nereu Ramos
Há anos passados chegava ao Vale do Itajaí a primeira
colônia de povoadores alemães. No vale deserto, no meio de imensas florestas.
foram deixados ao abandono. Derrubaram em seguida a floresta. lavraram a terra.
Lançaram a semente, construíram suas casas, formaram as lavouras e ergueram o
edifício de sua prosperidade. Dir-se-á que custaram muito a assimilar-se à
sociedade nacional. a falar a nossa língua. Mas a culpa não foi deles. a culpa
foi dos governos que os deixaram isolados na mata, em grandes núcleos. sem
comunicações. Aquilo que os colonos de então pediam era o binômio de cuja
resultante deveria sair a sua prosperidade. Só pediam duas coisas: escolas e estradas,
estradas e escolas. (Palmas.) (muito bem!).
Estradas para que o produto do seu trabalho pudesse ser
transportado para os mercados de consumo: para lerem a certeza e a confiança
de que aquilo que produziam não ficaria em abandono. Pediam
estradas afim de que. através delas, se carreasse a sua riqueza, produto de seu
labor. Pediam escolas, afim de que seus filhos. nascidos no Brasil, que aqui.
pela primeira vez, abriram maravilhados os olhos à luz, que é o primeiro amor
da vida. procurassem, ao mesmo tempo, harmonizar o seu desdobramento com a
natureza que os rodeava mediante a articulação que devia identificá-los no meio
em que surgiam. No entanto. a população que prosperava isolada. devido somente
ao seu próprio esforço. só tinha uma impressão da existência do governo: era
quando este se aproximava dela como algoz para cobrar-lhes impostos ou como
mendigo para solicitar-lhe o voto. (Muito
bem!). (Aplausos prolongados) O
Governo que se aproximava para solicitar votos perdia a respeitabilidade,
porque vivia de transigências. E, a troco desses VOTOS não vacilava em
desprezar os próprios interesses da nacionalidade. (Palmas) hoje, as coisas mudaram. Os próprios partidos políticos,
então simples agremiações regionais, sem finalidades nacionais. foram
dissolvidos. O Governo já não se aproxima dos colonos para pedir-lhes votos: O Governo
tem por eles sentimentos paternais. e que deles só se aproxima para ampará-los.
para dar-lhes justiça, para garantir-lhes o trabalho e a tranquilidade. para a
sua economia para aumentar a sua riqueza. (Palmas). Se o Governo dissolveu os
partidos políticos porque eram força que encerrava sua atividade nos limites
dos Estados, não poderia permitir, também, que elementos estranhos, vindos de
fora. procurassem perturbar a tranquilidade das populações coloniais, tentando arrastá-las
e organizá-las para o exercício de atividades contrárias aos interesses da
Pátria.
Assim como as conveniências da política regionalista não
podiam prevalecer. por isso que eram impostas contra a vontade do povo. do
mesmo modo os agentes forasteiros não poderiam constranger a população
colonial, a qual, por seus interesses. por suas inclinações e pelas tradições
de sua vida. é genuinamente brasileira!
Hoje. compreendeis, perfeitamente, o alcance destas medidas.
Os países da Europa estão em guerra, e as mais cultas civilizações procuram, mutuamente
.se entre destruir. Nós apenas lamentamos esses acontecimentos, mas. de
qualquer forma, não tomamos parte nas suas lutas.
o Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano que faz
respeitar as suas leis c defende os seus interesses. O Brasil é brasileiro. (Aplausos gerais). Agora, e a população,
de origem colonial, que há tantos anos exerce sua atividade no seio da nossa
terra. constituída de filhos e netos dos primitivos povoadores, é brasileira.
Aqui todos são brasileiros, porque nasceram no Brasil, porque aqui receberam a
educação.
O Exército nacional também não pode ser indiferente à educação
do elemento de procedência estranha. Nos países novos, as forças militares têm
uma alta função educadora c nacionalizante. Pelos quartéis!) passam, todos os
anos milhares de jovens que aprendem a servir o Brasil. Por isso as forças
militares estão, com justo título, colaborando eficientemente na grande obra da
educação nacional. Mas ser brasileiro. não é somente respeitar as leis do
Brasil e acatar as suas autoridades. Ser brasileiro é amar o Brasil. É ler o
sentimento que lhes permite dizer: "O Brasil nos deu o pão, mas nós lhe
daremos o sangue." (Aplausos) É
ter o sentimento de brasilidade, pela dedicação, pelo afeto. pelo desejo de concorrer
para a realização dessa grande obra, na qual lodos somos chamados a
colaborar. porque só assim poderemos contribuir para a marcha ascensional da
propriedade e da grandeza da Pátria. (Muito
bem!). (Aplausos),"
Para saber mais
sobre a visita do Presidente Vargas em Blumenau, acessem:
Revista Blumenau em Cadernos – julho de 1997 Páginas 31/34