Em histórias do nosso cotidiano, o amigo Flávio Monteiro de Mattos , carioca de nascimento e BLUMENAUENSE POR OPÇÃO.
Hoje nos apresenta mais um texto sobre seu amor e carinho para com nossa Blumenau.
À MUSA, MUITO OBRIGADO!
Dias atrás tive um
casual encontro na rua com um antigo colega de ginásio que, de chofre,
perguntou se eu não era o que passava as férias em Blumenau e contava
maravilhas da cidade? Confirmei que sim e foi a minha vez de indagar como ele
se lembrava de um episódio tão antigo - afinal, essa época jazia nos meados da
década de 1960 -, ele respondeu que em toda sua vida somente ouvira uma única
pessoa falar das maravilhas de Blumenau e também pelo fato de ser fisionomista,
que eu não mudara quase nada.
Isso de ter mudado
a fisionomia, concordamos em deixar de lado concordamos com o fato de que no
material didático daquele tempo, nada ou quase nada se mencionava acerca das
nossas regiões geográficas, muito embora no sudeste e sul se registrasse o
forte crescimento da indústria, especificamente a automobilística, com a produção
efetiva de carros, caminhões, tratores, máquinas, etc.
Nossas estradas
eram percorridas pelos ônibus da Viação Cometa, Expresso Brasileiro, Nossa
Senhora da Penha e a produção trazida e levada sobre as rodas dos heróicos
caminhões “FENEMES”, produzidos a partir de 1949, em Duque de Caxias, no estado
do Rio de Janeiro, sob licença da marca italiana Isotta
Fraschini.
Que não se
mencionasse nada sobre Blumenau, para minha tristeza, ainda passa, mas ignorar
a explosão industrial que São Paulo capitaneou, foi como colocar a cabeça
dentro do buraco, como fazem os avestruzes!
Bastava ter ouvidos
atentos - e interesse! -, ao circular pelos pátios dos colégios no retorno das
aulas, em julho, e ouvir comentários dos próprios alunos dos locais onde
passaram suas férias, quase sempre em cidades onde tinham parentes em Minas
Gerais, São Paulo ou até mesmo o distante Rio Grande do Sul.
Eram poucos os que se
aventuravam embarcar em viagens para localidades um “pouco” mais distantes como
Blumenau, que nessa época distava por meio rodoviário três dias para ir e
outros três, para retornar.
Sem falsa modéstia,
fui um precursor do Globo Repórter e vi, ano após ano o desenvolvimento de
cidades como Apiaí, Capão Bonito, Ribeira, Registro, Jaguariaíva e outras
tantas, que na época se podia classificar como vilarejos.
Da mesma
testemunhei o surgimento ou ampliação de fabricas e indústrias instaladas em
São Paulo, no Paraná, e em Santa Catarina, que vieram a ser tornar potências.
Algumas ainda estão operando e outras, talvez a maioria, sucumbiu por conta da
globalização.
Vi também quando
iniciaram o asfaltamento da estrada São Paulo / Curitiba, a rodovia Régis
Bittencourt, que foi incorporada a BR 101 e muitos anos depois, duplicada.
É claro que não me
dava conta da importância do momento que testemunhava nestas nossas viagens,
porque na época meu maior interesse era chegar em Blumenau. Todos os percalços
eram esquecidos quando adentrávamos o estado catarinense, com seus campos
cultivados, suas casas em estilo enxaimel, com fumaça branca saindo pelas chaminés.
E Blumenau ficava
“logo depois” de descer a serra de Jaraguá! Parecia que esta fase final da
viagem era a mais longa de todas, por conta da ansiedade de logo chegar, até
que por fim ingressávamos no perímetro urbano da cidade e mais adiante, já
trafegando pela Rua São Paulo misturavam-se automóveis, caminhões, ônibus e o
ruído áspero das ferraduras das parelhas dos carros de mola sobre o piso de
paralelepípedos perfeitamente alinhados.
Dependendo do
horário, o transito ficava intenso pelo enxame de bicicletas dos funcionários
das malharias, indústrias de porcelanas, cristais e brinquedos indo para o
trabalho ou voltando para casa, tudo isso junto e misturado com o vozerio de
pessoas falando em alemão e português.
E todo um cenário
típico das mais tradicionais cidades europeias no Brasil, que pouca gente teve
oportunidade de ver ou conhecer. Por anos seguidos fiz esta mesma pergunta, mas
nunca encontrei resposta.
Lembrei também e o antigo
colega concordou que a maioria dos colegas que viajavam de férias comentar que não
viam a hora de voltar para o Rio de Janeiro ao passo que comigo acontecia
justamente o contrário. Retornar para o Rio era muito triste e quase era
trazido de volta devidamente imobilizado. Era muito difícil deixar para trás os
primos e amigos dos primos, das brincadeiras das intermináveis partidas de
futebol, dos passeios de bicicleta, de assistir no estádio da Alameda dos
clássicos entre Olímpico x Palmeiras, das matinês dos cines Busch ou Blumenau
onde podia ir com os primos e sem o acompanhamento de adultos, concessão
totalmente fora de questão em se tratando de Rio de Janeiro.
Perto de encerramos
a sessão-nostalgia, meu antigo colega fez uma revelação curiosa.
Disse que por
muitos anos daquela época, desconfiava dos meus comentários tão positivos sobre
Blumenau e que somente passou a dar-lhes crédito quando ele e o Brasil
conheceram, em 1969, a beleza da Vera Fischer ao se sagrar Miss Brasil.
Despedimo-nos e no
caminho de volta para casa, agradeci à musa por ter me salvo da pecha de
mentiroso.
Texto; Flavio
Monteiro de Mattos/fotos e Adalberto Day