ORQUESTRA DE CÂMARA DE BLUMENAU
Em histórias de nosso cotidiano, apresentamos mais um texto e crônica deFlavio Monteiro de Mattos, contando um pouco de suas lembranças quando vinha do Rio de Janeiro visitar Blumenau, com sua família.
Carioca de nascimento e BLUMENAUENSE POR OPÇÃO".
Diz o antigo ditado que “TODOS OS CAMINHOS LEVAM À ROMA”. No
meu caso, a grafia correta seria “TODOS OS CAMINHOS LEVAM À ROMA E OS MELHORES,
À BLUMENAU”.
Não bastassem as inúmeras vezes que visitei a cidade e sua
gente hospitaleira, quis o destino que essa ligação também se fizesse presente
através da minha relação profissional.
E o Movimento Cultural Internacional de Seguros é uma boa
prova.
Por mais de sete anos, trabalhei na Cia. Internacional de
Seguros, cujo principal acionista, na época, foi o Dr. Celso da Rocha Miranda.
A CIS, como era conhecida na época, operava com grande destaque
nos ramos Incêndio, Riscos de Engenharia e Lucros Cessantes, entre outros. Seu
foco eram as petroquímicas, indústrias e fábricas. Para tanto, possuía filiais
em quase todas as capitais brasileiras e, claro, Blumenau, cujo gerente era o
Gílson Luiz Zanini, um grande amigo.
Minha área era o Marketing e acompanhei de perto o
nascimento do Movimento Cultural Internacional de Seguros, e a CIS foi a
primeira empresa nacional a acreditar no marketing cultural para divulgação de
sua imagem institucional, nos anos iniciais da década de 80.
Seu “début” aconteceu com o lançamento da “A Era da
Incerteza”, do economista inglês John Kenneth Galbraith, cujas teorias foram
expressas em livro e em uma série televisiva levada ao ar pela extinta TV
Manchete.
A seguir, o Movimento Cultural Internacional de Seguros
patrocinou a série “Os Brasileiros, Retrato Falado de um Povo”, um estudo
sócio-antropológico do nosso povo, também pioneiro, de autoria do Professor
Roberto da Matta, levado ao ar pela TV Manchete, em 10 capítulos.
O último ato do Movimento Cultural Internacional de Seguros
foi o apoio à Orquestra de Câmara de Blumenau que culminou com a produção de um
disco, no qual a Orquestra se apresenta sob a condução do maestro Norton
Morozowicz, interpretando grandes mestres da música clássica e expoentes
nacionais.
Flavio Monteiro de Mattos
Capa:
Movimento Cultural Internacional de Seguros apresenta
ORQUESTRA DE CAMARA DE BLUMENAU
Regência do Maestro NORTON MOROZOWICZ
Contra Capa:
LADO A
TELEMANN SUITE D.
QUIXOTE (14´15´´)
. Abertura . O
despertar de Quixote . Ataque às montanhas de vento
. Suspiros
amorosos pela princesa Dulcinéia . Sancho Pança ludibriado
. O galope de Rocinante . O
galope do asno de Sancho Pança . O repouso do Quixote
VIVALDI CONCERTO PARA 2 VIOLONCELOS
. Allegro (3´57´´) . Largo
(3´50´´) . Allegro (3´21´´) . Solistas: Zygmunt Kubala . Maria Alice Brandão
LADO B
ALBERTO NEPOMUCENO SERENATA
94´08´´)
ADÁGIO
(2´40´´)
HENRIQUE OSWALD SERENATA
(1´35´´)
BENTO MOSSURUNGA MINUETO
(4´15´´)
HENRIQUE DE
CURITIBA POEMA SONORO
(Evocação das Montanhas) (5´40´´)
COMPONENTES
DA ORQUESTRA DE CAMARA DE BLUMENAU
VIOLINOS:
Paulo
Bosisio (Spala) Leopoldo
Kohlbach
Walter
Hoemer Simone
Ritzmann Sawtzky
Lolita
Ritzmann de Mello Ruth
Klassen Jucksch
Roberto
Hubner Roseli
Weingertner
Rogerio
Krieger Ingo
Padaratz
Marcos
Vinicius Damm Gilson
Padaratz
VIOLAS: VIOLONCELOS:
George Kiszeli Adriane
Ritzmann Sawtzky
Hubert Geier Péricles Gomes
Edna
Ritzmann Sawtzky Maurício
Kowalsky
Marcelo
Brandão Mello
CRAVO: CONTRABAIXO:
Helena Jank
Helio
Moreira Brandão
FICHA
TÉCNICA
PRODUÇÃO:
Companhia
Internacional de Seguros
DIREÇÃO
ARTÍSTICA E SUPERVISÃO:
Norton
Morozowick
DIRETOR DE
GRAVAÇÃO:
Frank Justo
Acker
CORTE:
Ivan Lisnik
LOCAL DA
GRAVAÇÃO:
Teatro Carlos
Gomes de Blumenau
CAPA:
J. Ferrari
Jr.
LAYOUT:
Armando
Tavares da Silva
FOTO:
Milton
Montenegro
Fabricado
pela Polygram do Brasil Ltda.
Ano 1983
Encarte / Frente
Não existe desenvolvimento sem cultura.
O apoio, o estímulo e a promoção da cultura em todas as suas
formas de expressão são fundamentais para que um país possa crescer e se
desenvolver.
Porque é através dela que um país amadurece e encontra a sua
identidade.
A Companhia Internacional de Seguros não poderia cruzar os
braços a isso. Com esse objetivo, criou o Movimento Cultural Internacional de
Seguros. Para participar e contribuir para que todas as manifestações culturais tenham
espaço que necessitam para enriquecer um país que tem pressa em crescer em
todos os sentidos.
E a Orquestra de Câmara de Blumenau é um bom exemplo do que
a cultura deste país pode nos dar. Isto poderá ser comprovado através deste
disco. Ouça. Voçê vai concordar conosco.
MOVIMENTO CULTURAL INTERNACIONAL DE SEGUROS
Ilustração da antiga residência do Barão de Mesquita,
restaurada pela Cia. Internacional de Seguros para tornar-se sua sede
administrativa.
Encarte / Verso
A orquestra de Câmara de Blumenau, criada em março de 1981,
é integrada exclusivamente por músicos profissionais. Estes, na maioria, residem
em Blumenau, constituindo-se de alunos e professores da Escola Superior de
Música de Blumenau do Teatro Carlos Gomes, além de convidados de cidades
próximas. Mantendo ensaios constantes, a Orquestra de Câmara de Blumenau,
nascida numa cidade de médio porte, vem produzindo espetáculos de alto nível
artístico, comumente, só encontráveis em grandes centros. Para a viabilização
deste projeto, toda a comunidade uniu-se. Indústrias, comércio, órgãos públicos
e governamentais, além de pessoas físicas, deram o apoio material necessário
para atingir-se os objetivos desejados.
Proporcionando aos alunos da Escola Superior de Música um
campo de trabalho até então escasso em cidades como Blumenau, vem por outro
lado, atuando como vigoroso elemento galvanizador, animando a vida cultural da
cidade e proporcionando aperfeiçoamento integral do corpo da Escola com os
artistas convidados.
Tendo se apresentado pela primeira vez em 13 de dezembro de
1981, quando das atividades do 10º Ano das atividades da Escola, vem desde
aquela data, recebendo elogiosas críticas da imprensa especializada pela
seriedade do trabalho desenvolvido.
As apresentações sucessivas levadas a efeito em Curitiba e
mais recentemente em São Paulo, ao lado do flautista Jean Pierre Rampal, assim
como a performance demonstrada durante o 1º Festival de Música de Câmara de
Blumenau – fevereiro de 1983 – colocaram este conjunto camerístico no dizer do
crítico Enio Squeff, in Folha de São Paulo, “como uma das melhores orquestras
de câmara do país.” (junho de 1983).
Aplaudida em Curitiba no Teatro Guaíra, exaltada pela
crítica paulistana, admirada pela comunidade catarinense, é a única Orquestra
Profissional do país que vive em função de uma comunidade. Uma cidade do
interior do Brasil, repleta de fábricas, de indústrias, mas que não esqueceu
nem esquece jamais, de que, ao lado do progresso material, o bem estar
espiritual é vital para a vida de todos.
Em síntese, esta é a Orquestra de Câmara de Blumenau.
AUTORES E
OBRAS
GEORG PHILIP TELEMANN (1681 – 1767). Alemão de nascimento.
Telemann foi ao seu tempo, tão ou mais conceituado até, que seus contemporâneos
Bach e Haendel. Autodidata, tornou-se em 1721, diretor geral de música em
Hamburgo. Sua obra é imensa: 44 paixões, 10 cantatas, óperas e cerca de 600 suítes!
DON QUIXOTE foi composto em 1761, quando Telemann contava já 80 anos de idade,
e revela em seu singelo descritivismo, um inusitado vigor, aliado a uma
contagiante alegria que percorre toda a partitura.
ANTONIO VIVALDI (1678 – 1741). Quase nada se conhece dos
primeiros anos do famoso “Padre Ruivo”, o maior mestre barroco italiano. DE
1704 até pouco antes da sua morte, trabalhou no Conservatório “Del Ospedale
della Pietá” em Veneza, na qualidade de “maestro di concerti”. Sua produção é
de aproximadamente 800 ópus para as mais diversas formações instrumentais. O
CONCERTO para dois violoncelos, segue o estilo fugato da “bicinia”, forma
musical em moda no século XVI. Vivaldi renova o concerto grosso, ao fazer tocar
os dois instrumentos graves, a parte do concertino em estilo igualmente
concertante, sem a supremacia nem de um nem de outro instrumento.
ALBERTO NEPOMUCENO (!864 – 1920). Compositor, regente,
pianista, organista e pedagogo, este patriarca mor do nosso movimento
nacionalista tem, na música brasileira, importância tão relevante quanto Grieg,
Pedrell ou Smetana em suas respectivas pátrias. Estudou longos anos na Itália,
França e Alemanha sobretudo. A SERENATA para cordas, data de 1902 e foi escrita
para o aniversário de seu amigo e poeta, Olavo Bilac. Pertence à fase
universalista de Nepomuceno, embora haja nela um certo caráter modinheiro. A
expontaneidade da linha melódica é digna de nota: um “achado” a repetição na
coda, do tema inicial, exposto em “pp”, com surdina. Já o ADÁGIO, que leva o subtítulo
“Erinnerung” (Lembrança), foi escrito em Berlim em 1893, possuindo um cunho
acentuadamente romântico filiado à estética brahmsiana.
HENRIQUE OSWALD (1852 – 1931). De origem suíça, Oswald
pertence àquele grupo de compositores, Miguez, Braga, Levy e Nepomuceno, que no
fim do século passado deram um cunho de maior seriedade à música de nosso país,
que só houvera tido dois mestres de escol em sua evolução histórica: Pe. José
Maurício e Carlos Gomes. Nascido no Rio de Janeiro, viveu muito na Itália. Artista
aristocrático, foi exímio autor camarista e de obras de piano. A SERENATA,
retrata bem a tendência estética do compositor. Finura, elegância, métier,
envoltos numa harmonização sutil e de extremo bom gosto.
BENTO MOSSORUNGA (1879 – 1970). Paranaense, estudou em seu
estado natal e mais tarde no Instituto Nacional de Música do RJ, onde foi aluno
de Francisco Braga entre outros. Violonista, pianista, regente e arranjador,
era autor de peças ligeiras como a opereta “Florzinha”. Faleceu aos 91 anos em Curitiba.
Seu MINUETO em estilo propositadamente arcaico, muito bem escrito para cordas,
patenteia um músico de boa formação, dotado de deliciosa inspiração.
HENRIQUE DE CURITIBA (n. 1934). Formou-se na Escola de
Música e Belas Artes. De 1954 a 56 aperfeiçoou-se com H. J. Koellreuther na
Escola Livre de Música de São Paulo. Em 1960, estudou com Marguerita Kazuro na
Escola Superior de Música de Varsóvia, tendo realizado recentemente curso de
mestrado em composição na Cornell University e no Ithaca College nos EEUU. É um
dos mais promissores talentos da nova geração de músicos brasileiros. O POEMA
SONORO (1978) foi inspirado na audição de “Yravi” do equatoriano Gerardo
Guevara, aquém é dedicado. Descreve em grandes e harmoniosos blocos de acordes,
a beleza das montanhas, daí o seu subtítulo EVOCAÇÃO DAS MONTANHAS. Usando uma
linguagem hindemitheana, dentro de uma concepção própria, o compositor consegue
efeitos de bela consistência nas várias seções, em divis, nos arcos.
LINKS PARA OUVIR AS MÚSICAS DA ORQUESTRA DE CÂMARA DE
BLUMENAU
. CONCERTO PARA DOIS VIOLONCELOS
. ALBERTO NEPOMUCENO
. HENRIQUE OSWALD
. BENTO MOSSURUNGA
. HENRIQUE DE CURITIBA
Sérgio Alvim Corrêa