quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

- Noite Feliz

Recebi do meu amigo José Geraldo Reis Pfau que recebeu de seu irmão Luiz Henrique Reis Pfau. Uma  história que envolve Blumenau.
Presépio que passou de gerações em gerações e desde 1976 está conosco (Dalva e Adalberto Day)

Olha que interessante este episódio da tradução da música Noite Feliz.

Se for verdade pode dar uma bela história.
Leia até o final da história da criação da música o comentário sobre a tradução para o português.

OBERNDORF, pequena aldeia austríaca à beira do rio Salzbach, região de Salzburg, véspera do Natal de 1818.
O padre Joseph Mohr estava desesperado porque o órgão da capela havia quebrado. A cantata de Natal seria um fiasco. Logo no primeiro Natal naquela paróquia. Pediu orientação a Deus e se lembrou que dois anos antes havia escrito um poema simples, também na véspera de Natal, após uma caminhada pelos bosques das montanhas da região. 
Encontrou o manuscrito do poema em uma gaveta da sacristia. Correu para a casa de um professor e músico humilde, chamado Franz Gruber e lhe perguntou se poderia musicar sua letra para que todos a pudessem cantar logo mais à noite, na missa do Galo.
Franz olhou e disse que sim, porque a letra era simples e permitiria uma melodia fácil. Mas teria de ser tocada no violão porque não haveria tempo para algo mais elaborado. Não era um problema porque não havia órgão disponível.
O padre Mohr agradeceu e correu de volta para terminar de organizar os detalhes da missa.
À noite, Franz Gruber chegou na capela com o violão e reuniu o coral para ensinar o hino improvisado. Que música era, afinal?
Stille Nacht (noite silenciosa, no original alemão) traduzida para o português como Noite Feliz.
Naquela noite de Natal de 1818, os participantes da missa da capela de Oberndorf cantaram maravilhados aquele hino tão singelo e profundo que viria a se tornar a canção natalina mais conhecida do mundo, sendo hoje cantada em mais de 50 idiomas.

Blumenau - Coral Mil Vozes

Como ela se espalhou?

Semanas depois, o técnico que veio consertar o órgão ouviu a história e pediu para tocar a música.
Ficou impressionado com a riqueza melódica da composição que decidiu difundi-la por todas as igrejas por onde passava, até que chegou aos ouvidos do rei Friedrich Wilhelm IV da Prússia, a Nova Iorque em 1838 e difundida de forma ativa também pela emigração alemã que era corrente naquela época.
Esta é a história do hino natalino Noite Feliz. O que começou como um momento de pânico e perspectiva de um fiasco, terminou como um eterno presente de Natal para toda a Humanidade em forma de música. 
Feliz Natal a todos.

Lojas HM - Natal Hermes Macedo em Blumenau década de 1970.
A versão brasileira foi escrita por um padre franciscano alemão frei Pedro Sinzig por volta de 1912.
O curioso e que nesta mesma época este mesmo frade trabalhou em Blumenau e foi professor do Colégio Santo Antônio hoje Bom Jesus.
Então há grandes chances desta letra em português ter sido pelo menos pensada, aqui em Blumenau.

Clique e ouça a musica: Música Noite Feliz

Luiz Henrique Reis Pfau/José Geraldo Reis Pfau
Fotos Adalberto Day/José Geraldo Pfau (Zé Pfau)

- Natal do imigrante em Blumenau

Texto enviado pela historiadora Sueli M,V. Petry
Diretora Patrimônio histórico de Blumenau
Entre o sonho do imigrar e a realidade do chegar:
Natal do imigrante
 Com o processo civilizador dos europeus no Vale do Itajaí ocorreu a introdução de uma diversificação de usos e costumes que se são marcantes nas áreas colonizadoras do sul do Brasil.
  Muitas das tradições que ainda hoje se preservam fazem parte do cotidiano das pessoas, as quais herdaram dos imigrantes  que a trouxeram na sua  bagagem cultural. Nesta interface do “sonho do imigrar e a realidade do chegar”, uma série de transformações ocorreram nas vivências dos imigrantes.
Uma destas vivências é narrada pelo imigrante Karl Kleine, ao chegar no ano de 1856.
 A chegada ocorreu justamente no dia de Natal  eis o que narra o imigrante: “Naturalmente faltava muito para que pudéssemos nos instalar confortavelmente, contudo, precisaríamos nos conformar....
À noite, depois do jantar todos estavam sentados ao ar livre e um sentimento estranho invadiu cada um – era a primeira noite na nova pátria, era Noite de Natal! – Todos recordavam os natais na antiga pátria e, de repente, fez-se um silêncio estranho (....)
A princípio baixinho e timidamente, a seguir, cada vez mais alto e forte, ouvia-se a canção “Noite feliz”, que se misturava com o canto estridente das cigarras. Ninguém sabia quem havia iniciado, mas todos acompanhavam a pequena canção, mas de conteúdo rico, cujos acordes ecoavam pelo céu estrelado.
Era como se um anjo tivesse descido para acalentar todos os corações. Nessa noite, mais do que durante a viagem inteira, todos se sentiram muito próximos uns dos outros. – Ninguém percebeu que já era meia noite!”.[1]
Arquivo família Oliveira
As lembranças dos imigrantes não param por aqui, um outro imigrante revela que chegou (1875), alguns meses antes da festa natalina. E, conta... “Na véspera do natal nossa comida estava chegando ao fim, comemos pão seco e já mofo, acompanhado de água do ribeirão”. Como se constata, muitos sentimentos tomavam conta dos corações dos imigrantes, com eles agregaram-se novos elementos para a celebração da festa Natalina nos trópicos. O antigo costume europeu de decorar a árvore com maçãs e nozes para se fazerem mais visíveis eram dourados ou prateados e recobertos de açúcar.
Foto reprodução
Nas áreas de colonização alemã este costume foi substituído por novos componentes. Vejamos o que nos diz Frederico Kilian num conto inspirado nas memórias de imigrantes:
“O nosso primeiro pinheirinho de natal. Mas não é o pinheiro alemão, “Abies pectinata”, mas sim, uma árvore com folhas aciculares mais duras, que nasce no planalto, a “auracária brasiliensis”, e que foi introduzida aqui na colônia pelo próprio Dr. Blumenau que arranjou as sementes da zona serrana. Cresce muito ligeiro e dentro de quatro a cinco anos já pode ser cortada para servir de árvore de natal.
Nos anos anteriores nossa árvore de natal era um arbusto ou pequena árvore com galhos simétricos e que enfeitávamos com pequenas fitas de cores, cortadas de restos de fazenda, com as quais prendíamos aos ramos as flores das múltiplas orquídeas que aqui abundam, e pendurávamos em falta das costumeiras gulodices (doces, maçãs e peras), as frutas que nascem aqui, como bananas, cachos de uvas maduras e várias frutas silvestres.
Também não faltavam as velinhas de cera de cera, pois existem aqui nas matas abelhas, de várias espécies, que se alojam nos troncos ocos das árvores que produzem uma cera escura, mas que serve para fazer velas.
Assim, em todos os anos não deixamos de ter a nossa árvore de natal, mesmo nos três primeiros anos em que a vida era dura de fato.(...) Aqui estamos, com a graça de Deus, vivendo felizes e contentes,...”.[2]
 Hoje há árvores de Natal que são artisticamente decoradas. Os adornos empregados para decorar a árvore de Natal experimentaram grande mudança.  Também se generalizou o uso de filetes dourados e prateados, conhecidos como lameta, feito a base fino estanho, de 30 a 40 centímetros de comprimento e apenas um a dois milímetros de largura, para estender sobre as ramas do pinheiro, realçando suas linhas.
Agregou-se a isto “Cabelos de anjo” de lã de vidro, algodão brilhante e estrelas prateadas ou outro material que cause efeito, e eis que está pronto o Pinheirinho ou o Tannenbaun. 

(....) O iniciador desse costume  do “Natal de rua” foi um paulista chamado Carlos Mazzei, filho de italianos. Recebera de seus pais, católicos praticantes, o ensinamento cristão de festejar o nascimento de Cristo com grandes solenidades e efusivas alegrias. Desde sua adolescência, seu espírito de observação foi acumulando uma profunda piedade por inúmeros semelhantes seus, menos afortunados, que não possuíam recursos para que o seu Natal se tornasse uma data mais festiva e algo diferente da triste rotina de privações de todos os outros dias.  Idealizou, então, um meio de transformar as praças públicas, as ruas da cidade e os logradouros comuns em grandes presépios coletivos.”
Tradição alemã trazida para Blumenau - Papai Noel do Mato
Ornamentação natalina nas ruas de Blumenau
                   A tradição da ornamentação natalina em nossa cidade teve início na década dos anos setenta. Neste tempo, a Comissão de Turismo da cidade, juntamente com o apoio do comércio, ornamentou a cidade e os bairros da Velha, Garcia e Vila Itoupava. Esta Ornamentação deu um toque todo especial, principalmente à noite.
Mereceu por parte de toda a imprensa e visitantes os maiores elogios, tanto pela beleza e bom gosto, como pelas inovações. É  o caso da Avenida Beira Rio - que foi decorada de ponta a ponta.
 O projeto decorativo do ano de 1971 contou com o apoio do artista carioca Almir Silva. As peças decorativas foram todas confeccionadas pela própria prefeitura, que contou com a supervisão da Comissão.
Esta novidade, copiada anos mais tarde por outras cidades, trouxe muitos turistas que vinham apreciar e realizar compras nas casas de comércio. Esta tradição, com o passar dos anos, teve os seus altos e baixos.
 Arquivo de Adalberto Day
Ao ser retomado, através do Projeto “Magia do Natal”, este evento se expandiu também para a Vila Germânica e ruas da cidade. A visitação de blumenauenses e turistas que acorrem para apreciar este local de encantamento das ornamentações natalinas, encontram locais de venda de produtos relacionados ao período festivo, exposições, desfiles, oficinas de pintura em doces, visita à casa do Papai Noel e outras atrações culturais que marcam esta programação natalina que se encerra em 6 de janeiro. 
Sueli M.V.Petry
Diretora Patrimônio Histórico

[1] Suas memórias foram publicadas em alemão sob o título  “Blumenau de Ontem: experiências e recordações de um imigrante” - (Blumenau einst Erlebnisse und Erinnerungen eines Eingewanderten). Os originais manuscritos em 35 cadernos foram doados pela família. Os mesmos estão sob a guarda do Arquivo Histórico Prof. José Ferreira da Silva, órgão vinculado à Fundação Cultural de Blumenau.  Fundo Memória da Cidade – Coleção “Família Kleine”.  

[2]Arquivo Histórico José Ferreira da Silva: Fundo Memória da Cidade. Família Kilian – série Produção Intelectual.
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OS “PELZNICKEL” MORAM AQUI PERTINHO...EM GUABIRUBA PARA SER MAIS EXATO!
Texto enviado por
Carlos Braga Mueller (Jornalista e Escritor)
 
pelznickel.blogspot.com

Em Blumenau, antes da chegada do Natal, mais precisamente na noite de 6 de dezembro, as crianças deixavam suas meias ou sapatinhos na janela para que o Papai Noel, ou seus ajudantes, colocassem ali guloseimas: bombons e pequenas lembranças. Mas existia uma recomendação: só as crianças obedientes e estudiosas receberiam presentes.
As malcriadas e as que não haviam estudado durante o ano teriam que rezar muito e pedir perdão pelas suas faltas.

Esta situação era comum na Blumenau da metade do século passado. É possível que esta tradição ainda permaneça no seio de algumas famílias.
 
pelznickel.blogspot.com

Em algumas regiões da Alemanha, Croácia, Eslovênia, Hungria e Suíça , existe um personagem nas comemorações natalinas que, longe de ser simpático como o Papai Noel, é um ser que mete medo: coberto de folhas, máscara diabólica e chifres, ele é conhecido na Alemanha como o Pelznickel, que ao invés de brinquedos e doces, sai da floresta trazendo nas mãos um chicote para assustar as crianças que não gostam de estudar. E tem uma missão importante: é o ajudante do Papai Noel !

Nos relatos dos imigrantes que colonizaram Blumenau, não encontramos referências a essa figura, que certamente não era tradição nas regiões de onde os migrantes vieram, por isso não a trouxeram consigo.

Acontece que foi em Guabiruba, aqui em Santa Catarina, que aflorou a ideia, recente, de se introduzir o Pelznickel nas comemorações do Natal. Com chicote na mão e um saco para levar as crianças mal educadas e desobedientes !

Há cerca de 10 anos foi fundada em Guabiruba a Sociedade Pelznickel, que tem sede própria no bairro Imigrantes, naquela cidade.
  
Segundo um estudo feito pela blumenauense Marion Bubeck no opúsculo “Desfile Natal Alles Blau”, editado em 2009 pela Fundação Cultural de Blumenau, “outra tradição, fortemente difundida entre os povos germânicos e em algumas regiões da América colonizadas por grupos étnicos europeus, nos conta que São Nicolau (o Papai Noel alemão) possui ajudantes, que são os Pelznickel.
No dia 06 de dezembro, dia de São Nicolau, os Pelznickel saem da floresta para buscar as cartas de Papai Noel e verificar como as crianças estão se comportando. Sua indumentária são roupas velhas escuras, com máscaras muito feias e chifres. Nas mãos levam acessórios como correntes, chicotes e um saco. Neste dia eles vêm para verificar quem são as crianças desobedientes. Se o comportamento da criança não melhorar até o dia 24 de dezembro, eles virão buscá-la e levá-la para a floresta.”

Como se depreende, causavam terror nas crianças, sob o pretexto de que iriam corrigi-las.

Lembro que quando criança, na noite de São Nicolau, eu deixava um sapato na janela e esperava que o Papai Noel e seus ajudantes colocassem as guloseimas. De manhã lá estava um chocolate. Mas minhas tias, que cuidavam disso, sempre diziam que só viria o presente se eu fosse obediente.
 
pelznickel.blogspot.com

Pelo que consta, os ajudantes conhecidos como Pelznickel só têm atuação no município de Guabiruba.
Nas semanas que antecedem o Natal, começando em 6 de janeiro, eles andam pelas ruas daquela  cidade, participam de desfiles e recebem turistas na sede da Sociedade Pelznickel, onde – em um bosque – fazem representações.   


É possível que alguns imigrantes que aportaram na região de Guabiruba tenham transmitido a seus descendentes por tradição oral, a existência desses duendes da floresta, adotados pelos guabirubenses como mais uma tradição natalina do Vale Europeu.
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Arquivo da família de Nahir de Oliveira envida por Ângela Maria de Oliveira
Adendo de José Geraldo Reis Pfau – Publicitário em Blumenau
Bolas ou bagas de Natal
Material (bolas de natal em vidro) são muito lindas. 
Lembro que na casa de meus pais a árvore (tannenbaun) era feita na sala que ficava trancada até na noite do dia 24. Nós ficávamos olhando pelas frestas da porta e janela e tentando ver lá dentro quando eles abriam a porta. Os conjuntos de portas da sala na nossa casa eram com vidros martelados, portanto se viam vultos. Claro que, tinha momentos, em que víamos o Papai Noel de vermelho lá dentro da sala. Imaginação infantil. Junto à arvore ficavam os presentes. Cinco filhos era uma maravilha de Natal. Na árvore colocavam algodão para imitar a neve, as bolas de vidro eram grandes, reluzentes, coloridas e castiçais pequenos com velas eram distribuídos pelos galhos. A árvore chegava até perto do teto - aonde tinha uma ponteira na forma de estrela e de vidro também. Minha mãe tinha o talento de cantar (principalmente nas missas) e se fazia uma fila para entrar na sala na hora “H”. O pinheiro já estava aceso com dezenas de velinhas. Era maravilhoso. Luz só do lustre no canto da sala. E entravamos na sala cantando o NOITE FELIZ, a mãe e o pai atrás, com a voz de minha mãe em evidencia. Emocionante. Daí em diante era o sonho se realizando. 

Tradição Alemã do Pelznickel em Guabiruba (SC)
Papai Noel Existe?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

- À Musa, muito obrigado!

 

Em histórias do nosso cotidiano, o amigo Flávio Monteiro de Mattos , carioca de nascimento e BLUMENAUENSE POR OPÇÃO.

Hoje nos apresenta mais um texto sobre seu amor e carinho para com nossa Blumenau.

À MUSA, MUITO OBRIGADO!

Dias atrás tive um casual encontro na rua com um antigo colega de ginásio que, de chofre, perguntou se eu não era o que passava as férias em Blumenau e contava maravilhas da cidade? Confirmei que sim e foi a minha vez de indagar como ele se lembrava de um episódio tão antigo - afinal, essa época jazia nos meados da década de 1960 -, ele respondeu que em toda sua vida somente ouvira uma única pessoa falar das maravilhas de Blumenau e também pelo fato de ser fisionomista, que eu não mudara quase nada.
Isso de ter mudado a fisionomia, concordamos em deixar de lado concordamos com o fato de que no material didático daquele tempo, nada ou quase nada se mencionava acerca das nossas regiões geográficas, muito embora no sudeste e sul se registrasse o forte crescimento da indústria, especificamente a automobilística, com a produção efetiva de carros, caminhões, tratores, máquinas, etc. 

Nossas estradas eram percorridas pelos ônibus da Viação Cometa, Expresso Brasileiro, Nossa Senhora da Penha e a produção trazida e levada sobre as rodas dos heróicos caminhões “FENEMES”, produzidos a partir de 1949, em Duque de Caxias, no estado do Rio de Janeiro, sob licença da marca italiana Isotta Fraschini. 

Que não se mencionasse nada sobre Blumenau, para minha tristeza, ainda passa, mas ignorar a explosão industrial que São Paulo capitaneou, foi como colocar a cabeça dentro do buraco, como fazem os avestruzes!

Bastava ter ouvidos atentos - e interesse! -, ao circular pelos pátios dos colégios no retorno das aulas, em julho, e ouvir comentários dos próprios alunos dos locais onde passaram suas férias, quase sempre em cidades onde tinham parentes em Minas Gerais, São Paulo ou até mesmo o distante Rio Grande do Sul. 

Eram poucos os que se aventuravam embarcar em viagens para localidades um “pouco” mais distantes como Blumenau, que nessa época distava por meio rodoviário três dias para ir e outros três, para retornar.

Sem falsa modéstia, fui um precursor do Globo Repórter e vi, ano após ano o desenvolvimento de cidades como Apiaí, Capão Bonito, Ribeira, Registro, Jaguariaíva e outras tantas, que na época se podia classificar como vilarejos.

Da mesma testemunhei o surgimento ou ampliação de fabricas e indústrias instaladas em São Paulo, no Paraná, e em Santa Catarina, que vieram a ser tornar potências. Algumas ainda estão operando e outras, talvez a maioria, sucumbiu por conta da globalização.

Vi também quando iniciaram o asfaltamento da estrada São Paulo / Curitiba, a rodovia Régis Bittencourt, que foi incorporada a BR 101 e muitos anos depois, duplicada.

É claro que não me dava conta da importância do momento que testemunhava nestas nossas viagens, porque na época meu maior interesse era chegar em Blumenau. Todos os percalços eram esquecidos quando adentrávamos o estado catarinense, com seus campos cultivados, suas casas em estilo  enxaimel, com fumaça branca saindo pelas chaminés.

E Blumenau ficava “logo depois” de descer a serra de Jaraguá! Parecia que esta fase final da viagem era a mais longa de todas, por conta da ansiedade de logo chegar, até que por fim ingressávamos no perímetro urbano da cidade e mais adiante, já trafegando pela Rua São Paulo misturavam-se automóveis, caminhões, ônibus e o ruído áspero das ferraduras das parelhas dos carros de mola sobre o piso de paralelepípedos perfeitamente alinhados.

Dependendo do horário, o transito ficava intenso pelo enxame de bicicletas dos funcionários das malharias, indústrias de porcelanas, cristais e brinquedos indo para o trabalho ou voltando para casa, tudo isso junto e misturado com o vozerio de pessoas falando em alemão e português. 

E todo um cenário típico das mais tradicionais cidades europeias no Brasil, que pouca gente teve oportunidade de ver ou conhecer. Por anos seguidos fiz esta mesma pergunta, mas nunca encontrei resposta.

Lembrei também e o antigo colega concordou que a maioria dos colegas que viajavam de férias comentar que não viam a hora de voltar para o Rio de Janeiro ao passo que comigo acontecia justamente o contrário. Retornar para o Rio era muito triste e quase era trazido de volta devidamente imobilizado. Era muito difícil deixar para trás os primos e amigos dos primos, das brincadeiras das intermináveis partidas de futebol, dos passeios de bicicleta, de assistir no estádio da Alameda dos clássicos entre Olímpico x Palmeiras, das matinês dos cines Busch ou Blumenau onde podia ir com os primos e sem o acompanhamento de adultos, concessão totalmente fora de questão em se tratando de Rio de Janeiro. 

Perto de encerramos a sessão-nostalgia, meu antigo colega fez uma revelação curiosa. 

Disse que por muitos anos daquela época, desconfiava dos meus comentários tão positivos sobre Blumenau e que somente passou a dar-lhes crédito quando ele e o Brasil conheceram, em 1969, a beleza da Vera Fischer ao se sagrar Miss Brasil.

Despedimo-nos e no caminho de volta para casa, agradeci à musa por ter me salvo da pecha de mentiroso. 

Texto; Flavio Monteiro de Mattos/fotos e Adalberto Day

 

- O pastor dos colonizadores


A presença do pastor Rudolf Oswald Hesse foi fundamental para a formação social e espiritual da colônia de Blumenau. Nas primeiras décadas da imigração, quando as grandes dificuldades geradas pela falta de dinheiro, de estrutura e pela força inclemente da natureza castigavam a alma do colono alemão, Hesse trouxe o conforto e a esperança para o núcleo de imigrantes. Afinal, seis anos após a chegada, ainda tinham um grande e árduo caminho a percorrer em sua vida pessoal e comunitária.
O pastor nasceu dia 11 de outubro de 1820, em Reinswalde, perto de Sorau, no reino da Prússia. Seu pai, Friedrich August Hesse, era professor no local. Dos anos de 1835 a 1840, Oswald frequentou o ginásio de Sorau. Depois cursou a universidade de Breslau, onde se formou em Filosofia e Teologia.
Desde a fundação da colônia em 1850 até julho de 1857 não houve pastor na colônia. Com perseverança, muito trabalho e dedicação, orientou por 22 anos as almas luteranas da cidade. Quando chegou, ainda não existiam igrejas. As humildes casas dos colonos e o barracão de recepção aos novos imigrantes serviam para a celebração dos cultos.
Através de insistentes solicitações, Doutor Blumenau finalmente conseguiu o auxilio do governo imperial na construção de um templo para os cultos. Em 23 de setembro de 1868, na cerimonia de lançamento da pedra fundamental da primeira igreja evangélica, o pastor Oswald Hesse proferiu um sermão radiante, que acabou se eternizando dentro da comunidade luterana da Colônia. Foi encerrado na pedra fundamental, como documento da história de Blumenau. A primeira Igreja evangélica da colônia e do Vale do Itajaí foi construída no Badenfurt e inaugurada no dia 07/07/1872.
A prédica do pastor elaborada para aquela ocasião tinha como base o texto bíblico de Romanos 12, 1-6.
                  
A Igreja do Espirito Santo demorou quase 10 anos para ser erigida, face á escassez de verbas provenientes do Império. Mas, ao menos, a longa espera inspirou um dos grandes momentos do orador Oswald Hesse. No dia 23 de setembro de 1877, um sermão de satisfação e júbilo inaugurou o espaço tão esperado pelos luteranos. Infelizmente, os sermões de Hesse só ecoariam no templo por pouco mais de dois anos a Igreja recebeu o Nome de  Espirito Santo. No entanto, a comunidade evangélica de Blumenau tem como data oficial de fundação o dia 09/08/1857, pelo fato  de neste dia o pastor Hesse ter realizado o primeiro culto em Blumenau em um barracão e provavelmente a comunidade reunida ouviu a prédica do Evangelho segundo Lucas 16,1-12.    
               Em 25 de novembro de 1879, o pastor acabou falecendo.
“Hesse oferecia em suas intensas pregações a esperança e o  conforto que os colonos necessitavam”.
Oswaldo podia ser lembrado pelos 910 matrimônios, 3. 794 batizados e 1.995 confirmações que celebrou em 22 anos. Mas o que ficou na memória da comunidade foi o personagem de espirito alegre e liberal , que exalava o humor e a esperança nas rodas de conversas. Também ficaram as atividades humanitárias. Era o primeiro a auxiliar os espíritos castigados e desamparados da colônia. Sua influencia foi fundamental na construção de novas igrejas e das novas comunidades evangélicas que surgiram.
Junto com a evolução espiritual, veio também o desenvolvimento da vida cultural e social do município. Hesse, por exemplo, teve papel fundamental na criação da Sociedade de Canto Germânia, uma precursora da Sociedade Dramático - Musical Carlos Gomes.
O pastor também foi personagem capital da educação, criando em 1862, a casa d’escola, habitações que eram utilizadas no ensino das crianças,  Ela se situava na colina onde atualmente está a Igreja Evangélica-Luterana do município, na Rua Amazonas. 
Reprodução Jornal de Santa Catarina, sábado 2 de setembro de 2000; 150 Anos Blumenau; Volume 3 – Personagens, lugares e construções;AHJFS