Mais uma
participação exclusiva e especial do renomado escritor e jornalista Carlos
Braga Mueller, que hoje nos relata as missões e participação de guerra do Sr. Martin Drewes
Martin Drewes (Nascido em 20 de Outubro de 1918) em sua residência com um dos muitos cães de rua que adotou. Blumenau, SC, 2011 - foto Carlos Tonet. Oberstleutnant Martin Drewes, faleceu no dia 13 de outubro/2013 em Blumenau, Santa Catarina, de causas naturais aos 94 anos de idade, o ganhador das Folhas de Carvalho da Cruz do Cavaleiro,
- Comandante em missões de guerra
A Segunda Guerra Mundial é um dos temas mais explorados pelos
historiadores, pelo cinema, seriados de TV, e
especialmente por milhares de obras de ficção.
Existe, porém, um pequeno espaço de tempo dessa guerra, nada
mais que um mês, que até hoje permanece praticamente desconhecido.
E mostra que muitas vezes a realidade supera a ficção.
Foi à missão da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), que ficou conhecida
como Comando Especial Junck, cumprida por alguns poucos pilotos alemães no
Oriente Médio, mais especificamente nos territórios hoje ocupados pelo Iraque
e pela Síria.
A LUTA DOS BEDUINOS PELA INDEPENDÊNCIA
Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos haviam se
apossado de grande parte do atual Iraque sob a justificativa de proteger os
campos petrolíferos e as refinarias em solo iraniano, marchando em
direção ao norte e tomando Bagdá. Houve violenta reação dos turcos otomanos a
esta "invasão", até que em 1918 britânicos e otomanos assinaram um
armistício.
Mas os britânicos permaneceram na região. Logo em seguida tomaram
posse de Mossul e passaram a exercer o controle de quase todo o Iraque,
conhecido então como Mesopotâmia.
Britânicos e iraquianos se entenderam melhor ainda depois que as
tropas inglesas, comandadas por T.E. Lawrence, que ficou imortalizado
como "Lawrence da Arábia", ajudaram a expulsar a infantaria
otomana dos territórios beduinos no movimento que ficou na história como a
"Grande Revolta Árabe".
Esta integração continuou, inclusive quando em 1932, já
reconhecido como Estado livre e independente, o Iraque foi admitido na Liga das
Nações, atual ONU.
COMEÇA A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
1976. Bonn, Alemanha. Walter Scheel (ao centro), então Presidente da Alemanha, se reencontra com seu
comandante em missões de guerra Martin Drewes. Foto do arquivo pessoal
de Drewes. (Livro Sombras da Noite)
1939: é lançado por Hitler o estopim que resultaria na
Segunda Guerra Mundial.
Ao sul do Iraque, Basra, principal porto do país, era um
importante entreposto para o envio de armas e suprimentos dos britânicos e
seus aliados para a União Soviética, e também para manter uma linha direta
com a Índia, antiga possessão britânica.
Em virtude do Tratado de Aliança com a Grã Bretanha, o
Iraque havia rompido relações diplomáticas com a Alemanha em setembro de 1939,
quando teve início o conflito.
Por esse tratado, nos primeiros meses da guerra, o Iraque
apoiava os britânicos, posição garantida pelo seu primeiro ministro,
General Nuri as-Said.
Tudo mudou quando uma revolta militar eclodiu internamente no
Iraque no dia 30 de abril de 1941. Os insurgentes colocaram no poder Rashid Ali
al-Gailani, um nacionalista radical, anti-britânico, simpático aos nazistas
alemães. Os britânicos revidaram, e desembarcaram soldados em Basra, também conhecida
como Bassora. Rashid Ali al-Gailani respondeu com suas tropas e teve
início a curta e desgastante guerra entre britânicos e iraquianos. Que
durou pouco mais de um mês.
Com uma força aérea sucateada, o que restou ao
iraquiano/germanófilo al-Gailani foi pedir socorro à Alemanha e Itália.
Hitler autorizou então que fosse constituída a missão aérea
que ficou conhecida como Comando Especial Junck (SonderKommando Junck), assim
chamada porque tinha no comando o coronel alemão Werner
Junck.
AVIÕES DA ALEMANHA AJUDAM O IRAQUE
O que se seguiu é um capítulo da segunda guerra mundial
pouco conhecido, vivenciado por um piloto que integrou aquele comando e
que hoje mora em Blumenau, Santa Catarina.
Aos 94 anos (estamos em outubro de 2012) , lúcido e
físicamente conservado, Martin Drewes publicou em 2002 sua autobiografia:
"Sombras da Noite", na qual relata sua história de soldado do
exército alemão, lotado na Divisão de Tanques, depois piloto de caça
noturno e finalmente de cidadão que adotou o Brasil como sua segunda pátria.
No seu livro, Drewes dedica um capítulo inteiro ao episódio que
ele viveu no Iraque, uma quase desconhecida página da Segunda Guerra
Mundial.
Maio de 1941 foi o mês em que o piloto Martin
Drewes vivenciou um verdadeiro inferno nos ares, e nas
areias do Iraque e da Síria.
Foi ali também que teve seu "batismo de fogo",
derrubando seu primeiro avião inimigo, um Gloster Gladiator, no combate
em Al Faluja am Euphrat, Iraque.
Antes que a guerra terminasse, Martin Drewes ainda derrubaria, em
várias ações, mais 51 aviões inimigos.
Motivo suficiente para que fosse um dos soldados mais
condecorados por Hitler.
O COMANDO ESPECIAL JUNCK
Nos primeiros meses do ano de 1941 os britânicos lutavam
praticamente sozinhos contra a Alemanha.
Para movimentar tropas baseadas na Índia, era vital
garantir passagem livre pelo Iraque. Duas bases aéreas britânicas se
situavam no Iraque e se constituíam em importantes elos de ligação entre a
Índia e o norte da África, onde Rommel, a "Raposa do Deserto"
conquistava importantes posições para os alemães. Eram as bases de Shaibah,
perto de Basra, no Golfo Pérsico, e Habbaniya, 88 quilômetros a oeste de Bagdá.
Quando a revolta militar colocou no poder Rashid Ali al-Gailani,
os britâncos sentiram de perto que estavam em desvantagem naquela região do
Iraque, e para defender Shaibah e Habbaniya as forças da RAF possuiam poucos e
obsoletos aviões. Resolveram então concentrar forças na base de Habbaniya, que
em 1º de maio daquele ano foi cercada por milhares de iraquianos revoltosos,
que apoiavam al-Gailani e queriam expulsar os britânicos do Iraque. Os
aviões da RAF (a Real Força Aérea da Grã Bretanha) mantiveram uma defesa
agressiva da base, impedindo que os iraquianos a tomassem, enquanto aguardavam
reforços de tropas terrestres para levantar o cerco.
Walter Scheel tem
novo encontro com Drewes. Viracopos, Brasil, 1982. Foto do arquivo pessoal de
Drewes. (Livro Sombras da Noite)
Enquanto isso, o pedido de socorro dos insurgentes iraquianos
havia encontrado eco no alto comando hitlerista e no dia 11 de maio de
1941 aviões alemães já estavam voando em direção ao Iraque para socorrer
os angustiados pedidos de ajuda dos iraquianos pró Alemanha.
A frota alemã do Comando Especial Junck era composta de 14 modelos
Bf 110C e 7 bombardeiros
He 111H-6. Mais tarde outros 5 He 111 e 20 aviões de
transporte Junkers JU 52 juntaram-se às operações no Iraque.
O esquadrão seguiu em direção a Grécia, onde em Atenas foram
pintados com as insignias iraquianas. Sem nada saber sobre a missão secreta que
deviam realizar, os soldados alemães, entre eles Martin Drewes, estranharam
quando viram seus aviões pintados com o emblema real do Iraque. E mais ainda
quando tiveram que envergar uniformes do exército iraquiano. Na missão, Martin
Drewes pilotava um Bf 110C e as ordens eram expressas: ataques em voos rasantes
para destruir o máximo de aviões britânicos baseados no aeroporto de Habbaniya.
Os alemães sediaram suas operações a partir dos aeroportos de
Mosul e de Kirkuk, importante centro petrolífero do Iraque.
Sem um efetivo conhecimento aéreo da região os pilotos não sabiam
quando, de onde ou como o inimigo poderia aparecer com sua força aérea de
combate para contra atacar.
A disponibilidade de combustível e de munição era sempre baixa,
chegando a atingir níveis alarmantes, como conta Drewes nas suas memórias.
Mesmo assim, com um número reduzido de aviões, os pilotos alemães
continuavam a atacar. O inimigo defendia-se bem, os motores se desgastavam pelo
calor e pelas tempestades de areia. O bombardeio
dos britânicos que os alemães enfrentavam causaram sérias
consequências. Os aviões colocados fora de combate esforçavam-se para fazer os
pousos de emergência próximo às suas bases porque a sucata forneceria
peças de reposição para os aviões que ainda estavam em condições de voo.
A esperança era que reforços chegassem por terra, mas estes nunca
chegaram.
Drewes, ao atacar um avião inimigo pousado no deserto, após
destruí-lo, foi atingido pela artilharia britânica.
Um dos motores pegou fogo; ele conseguiu apagar as chamas
desligando o fluxo do combustível, mas teve que fazer uma
aterrissagem de barriga nas areias do deserto. Drewes e seu companheiro de
voo vagaram pela areia muito tempo até que fossem localizados e salvos
pelo resgate !
Martin Drewes,
Alemanha, setembro 1939. Foto do arquivo de Drewes (Livro Sombras da
Noite)
Quando os aviões começaram a ficar em número reduzido, a nova
missão: de Kirkuk a Rodos, na Grécia, a fim de receber poucos mas novos aviões
Me-110.
Estes foram recebidos também pintados com o emblema real do
Iraque.
De novo no Iraque, retornaram às operações de guerra, mas a
esta altura as forças britânicas, já melhor estruturadas, inflingiam constantes
derrotas ao insurgentes iraquianos, forçando o líder iraquiano Rashid Ali
al-Gailani a fugir do país no dia 30 de maio de 1941. A facção pró-britânicos
reassumiu o poder.
No dia 6 de junho de 1941 veio a ordem do Fuehrer para os pilotos
que estavam no Iraque: voltar para Rodos, Atenas, já envergando seus uniformes
alemães, para assumir novas missões de guerra.
Terminava assim um episódio insólito da Segunda Guerra
Mundial, a "Batalha do Iraque", que teve em Martin Drewes um
participante destemido, o único que ainda vive para contar a história. E mora
em Blumenau!
Enviado por Werner Tonjes
Veja vídeo:
Arquivo Carlos Braga Mueller e Carlos Tonet.
Bela postagem.Os acontecimentos que ocorreram na segunda guerra é instigante, apaixonante. Recomendo verem a série Redescobrindo a Segunda Guerra Mundial. Imagens reais dos acontecimentos e que relata a guerra desde o seu inicio, e porque ocorreu.
ResponderExcluirSr Martin Drewes, meu amigo, completa no dia 20 agora 94 anos !
ResponderExcluirAbraço
Allan Jurk
Ich gratuliere Oberst Leutnant Martin Drewes. Eu também parabenizo o jornalista Braga Müller pela excelente reportagem.
ResponderExcluirCaro amigo e sofredor Beto. Com as bençãos de Deus e sinceros votos de melhoras, informo ao amigo que esse sr. Martin, quase centenário, é cliente do nosso filho Sérgio, e a ele já contou várias peripecias dele durante a 2ª guerra mundial, inclusive essa que o seu amigo Braga Muller repassou. Ele foi realmente um heroi da 2ª guerra. Tem cara mesmo de heroi nessa foto. Sempre é bom saber mais algumas coisas. Um grande abraço
ResponderExcluirE.A. SAntos
Walter Carlos Weingaertner
ResponderExcluirAdalberto Day escreveu no Blumenews o episódio insólito da Segunda Guerra Mundial, a "Batalha do Iraque", que teve em Martin Drewes um participante destemido, o único que ainda vive para contar a história. E mora em Blumenau!
Rafael Eduardo Werlich Fantástico!!! Linda história!
ResponderExcluirPrezados/as, o major Martins Drewes pertenceu a fina flor dos homens da Luftwaffe, ele foi um Zerstörer, caçador de bombardeios noturnos, pilotava os Messerschmitt Bf 110, e ainda está vivo e lúcido. O Carlos Braga tem em mãos farto material, e como iniciou pelo começo, já que as operações no Iraque foram onde ele conquistou sua primeira Cruz de Ferro, vamos ter muita coisa boa pela frente. Vida longa para o seu Martins Drewes. Abraços. Cao
ResponderExcluirMartin Drewes tem, até hoje, o respeito e o reconhecimento, também dos seus antigos adversários de guerra, e isso deve significar alguma coisa sobre a sua conduta como soldado e como homem. Congratulamo-nos com ele e agradecemos aos amigos Braga Mueller e Adalberto pelo belo post. Grande abraço!
ResponderExcluirNa entrevista para a mídia nacional RKT Martin Drewes disse que jamais atirou em aviadores aliados mas sempre contra as suas máquinas que traziam morte e destruição para a Alemanha.
ResponderExcluirwerner henrique tönjes