terça-feira, 16 de outubro de 2012

- A “Batalha do Iraque” na 2ª Guerra Mundial



Mais uma participação exclusiva e especial do renomado escritor e jornalista Carlos Braga Mueller, que hoje nos relata as missões e participação de guerra  do Sr. Martin Drewes 
Martin Drewes (Nascido em 20 de Outubro de 1918) em sua residência com um dos muitos cães de rua que adotou. Blumenau, SC, 2011 - foto Carlos Tonet. Oberstleutnant Martin Drewes, faleceu no dia 13 de outubro/2013 em Blumenau, Santa Catarina, de causas naturais aos 94 anos de idade, o ganhador das Folhas de Carvalho da Cruz do Cavaleiro, 
- Comandante em missões de guerra 
A Segunda Guerra Mundial é um dos temas mais explorados pelos historiadores,  pelo cinema, seriados de TV, e especialmente  por milhares de obras de ficção.
Existe, porém, um pequeno espaço de tempo dessa guerra, nada mais que um mês, que até hoje permanece praticamente desconhecido.
E mostra que muitas vezes a realidade supera a ficção.
Foi à missão da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), que ficou conhecida como Comando Especial Junck, cumprida por alguns poucos pilotos alemães no Oriente Médio, mais especificamente nos territórios hoje ocupados pelo Iraque e pela Síria.

A LUTA DOS BEDUINOS PELA INDEPENDÊNCIA
Durante a Primeira Guerra Mundial, os britânicos haviam se apossado de grande parte do atual Iraque sob a justificativa de proteger os campos petrolíferos e as refinarias em solo iraniano,  marchando em direção ao norte e tomando Bagdá. Houve violenta reação dos turcos otomanos a esta "invasão", até que em 1918 britânicos e otomanos assinaram um armistício.

Mas os britânicos permaneceram na região. Logo em seguida tomaram posse de Mossul e passaram a exercer o controle de quase todo o Iraque, conhecido então como Mesopotâmia.
Britânicos e iraquianos se entenderam melhor ainda depois que as tropas inglesas, comandadas por  T.E. Lawrence, que ficou imortalizado como "Lawrence da Arábia",  ajudaram a expulsar a infantaria otomana dos territórios beduinos no movimento que ficou na história como a "Grande Revolta Árabe".

Esta integração continuou, inclusive quando em 1932, já reconhecido como Estado livre e independente, o Iraque foi admitido na Liga das Nações, atual ONU.

COMEÇA A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
1976. Bonn, Alemanha. Walter Scheel (ao centro), então Presidente da Alemanha, se reencontra com seu comandante em missões de guerra  Martin Drewes. Foto do arquivo pessoal de Drewes. (Livro  Sombras da Noite)

1939: é lançado por Hitler o estopim que resultaria na Segunda Guerra Mundial.
Ao sul do Iraque, Basra, principal porto do país, era um importante entreposto para o envio de armas e suprimentos dos britânicos e seus aliados para a União Soviética, e também para manter uma linha direta com a Índia, antiga possessão britânica.

Em virtude do Tratado de Aliança com a Grã Bretanha,  o Iraque havia rompido relações diplomáticas com a Alemanha em setembro de 1939, quando teve início o conflito. 
Por esse tratado,  nos primeiros meses da guerra, o Iraque apoiava os britânicos, posição garantida pelo seu primeiro ministro, General Nuri as-Said.
Tudo mudou quando uma revolta militar eclodiu internamente no Iraque no dia 30 de abril de 1941. Os insurgentes colocaram no poder Rashid Ali al-Gailani, um nacionalista radical, anti-britânico, simpático aos nazistas alemães. Os britânicos revidaram, e desembarcaram soldados em Basra, também conhecida como Bassora. Rashid Ali al-Gailani respondeu com suas tropas e teve início a curta e desgastante  guerra entre britânicos e iraquianos. Que durou pouco mais de um mês.

Com uma força aérea sucateada, o que restou ao iraquiano/germanófilo al-Gailani foi pedir socorro à Alemanha e Itália.
Hitler autorizou então que fosse  constituída a missão aérea que ficou conhecida como Comando Especial Junck (SonderKommando Junck), assim chamada porque tinha no comando o coronel alemão Werner Junck.   

AVIÕES DA ALEMANHA AJUDAM O IRAQUE
O que se seguiu é um  capítulo da segunda guerra mundial pouco conhecido, vivenciado por um piloto que integrou aquele comando e que hoje mora em Blumenau, Santa Catarina.
Aos 94 anos (estamos em outubro de 2012) , lúcido e  físicamente conservado, Martin Drewes publicou em 2002 sua autobiografia: "Sombras da Noite", na qual relata sua história de soldado do exército alemão, lotado na Divisão de Tanques,  depois piloto de caça noturno e finalmente de cidadão que adotou o Brasil como sua segunda pátria.
No seu livro, Drewes dedica um capítulo inteiro ao episódio que ele viveu no Iraque, uma quase desconhecida página da Segunda Guerra Mundial. 
Maio de 1941 foi o mês em que o piloto Martin Drewes vivenciou um verdadeiro inferno nos ares,  e nas areias do Iraque e da Síria.
Foi ali também que teve seu "batismo de fogo", derrubando  seu primeiro avião inimigo, um Gloster Gladiator, no combate em Al Faluja am Euphrat, Iraque.
Antes que a guerra terminasse, Martin Drewes ainda derrubaria, em várias ações, mais 51 aviões inimigos.
Motivo suficiente para que fosse um dos soldados mais condecorados por Hitler.

O COMANDO ESPECIAL JUNCK
Nos primeiros meses do ano de 1941 os britânicos lutavam praticamente sozinhos contra a Alemanha. 
Para movimentar tropas baseadas na Índia, era vital garantir  passagem livre pelo Iraque. Duas bases aéreas britânicas se situavam no Iraque e se constituíam em importantes elos de ligação entre a Índia e o norte da África, onde Rommel, a "Raposa do Deserto" conquistava importantes posições para os alemães. Eram as bases de Shaibah, perto de Basra, no Golfo Pérsico, e Habbaniya, 88 quilômetros a oeste de Bagdá.

Quando a revolta militar colocou no poder Rashid Ali al-Gailani, os britâncos sentiram de perto que estavam em desvantagem naquela região do Iraque, e para defender Shaibah e Habbaniya as forças da RAF possuiam poucos e obsoletos aviões. Resolveram então concentrar forças na base de Habbaniya, que em 1º de maio daquele ano foi cercada por milhares de iraquianos revoltosos, que apoiavam al-Gailani e queriam expulsar os britânicos do Iraque. Os aviões da RAF (a Real Força Aérea da Grã Bretanha) mantiveram uma defesa agressiva da base, impedindo que os iraquianos a tomassem, enquanto aguardavam reforços de tropas terrestres para levantar o cerco.
Walter Scheel tem novo encontro com Drewes. Viracopos, Brasil, 1982. Foto do arquivo pessoal de Drewes. (Livro Sombras da Noite)
Enquanto isso, o pedido de socorro dos insurgentes iraquianos havia encontrado eco no alto comando hitlerista e no dia 11 de maio de 1941 aviões alemães já estavam  voando em direção ao Iraque para socorrer os angustiados pedidos de ajuda dos iraquianos pró Alemanha.
A frota alemã do Comando Especial Junck era composta de 14 modelos Bf 110C e 7 bombardeiros
He 111H-6. Mais tarde outros 5 He 111 e 20 aviões de transporte Junkers JU 52 juntaram-se às operações no Iraque.
O esquadrão seguiu em direção a Grécia, onde em Atenas foram pintados com as insignias iraquianas. Sem nada saber sobre a missão secreta que deviam realizar, os soldados alemães, entre eles Martin Drewes, estranharam quando viram seus aviões pintados com o emblema real do Iraque. E mais ainda quando tiveram que envergar uniformes do exército iraquiano. Na missão, Martin Drewes pilotava um Bf 110C e as ordens eram expressas: ataques em voos rasantes para destruir o máximo de aviões britânicos baseados no aeroporto de Habbaniya.
Os alemães sediaram suas operações a partir dos aeroportos de Mosul e de Kirkuk, importante centro petrolífero do Iraque.
Sem um efetivo conhecimento aéreo da região os pilotos não sabiam quando,  de onde ou como o inimigo poderia aparecer com sua força aérea de combate para contra atacar.
A disponibilidade de combustível e de munição era sempre baixa, chegando a atingir níveis alarmantes, como conta Drewes nas suas memórias.
Mesmo assim, com um número reduzido de aviões, os pilotos alemães continuavam a atacar. O inimigo defendia-se bem, os motores se desgastavam pelo calor e pelas tempestades de areia. O  bombardeio dos britânicos que os alemães enfrentavam causaram sérias consequências. Os aviões colocados fora de combate esforçavam-se para fazer os pousos de emergência próximo às suas bases porque a sucata forneceria peças de reposição para os aviões que ainda estavam em condições de voo. 
A esperança era que reforços chegassem por terra, mas estes nunca chegaram.
Drewes, ao atacar um avião inimigo pousado no deserto, após destruí-lo,  foi atingido pela artilharia britânica.
Um dos motores pegou fogo; ele conseguiu apagar as chamas  desligando o fluxo do combustível,  mas teve que fazer uma aterrissagem de barriga nas areias do deserto. Drewes e seu companheiro de voo vagaram pela areia muito tempo até que fossem localizados e salvos pelo resgate !
Martin Drewes, Alemanha,  setembro 1939. Foto do arquivo de Drewes (Livro Sombras da Noite)
Quando os aviões começaram a ficar em número reduzido, a nova missão: de Kirkuk a Rodos, na Grécia, a fim de receber poucos mas novos aviões Me-110.
Estes foram recebidos também pintados com o emblema real do Iraque.
De novo no Iraque, retornaram às operações de guerra, mas a esta altura as forças britânicas, já melhor estruturadas, inflingiam constantes derrotas ao insurgentes iraquianos, forçando o líder iraquiano Rashid Ali al-Gailani a fugir do país no dia 30 de maio de 1941. A facção pró-britânicos reassumiu o poder.
No dia 6 de junho de 1941 veio a ordem do Fuehrer para os pilotos que estavam no Iraque: voltar para Rodos, Atenas, já envergando seus uniformes alemães, para assumir novas missões de guerra.
Terminava assim um episódio insólito da Segunda Guerra Mundial, a "Batalha do Iraque", que teve em Martin Drewes um participante destemido, o único que ainda vive para contar a história. E mora em Blumenau! 
Enviado por Werner Tonjes

Veja vídeo:
Arquivo Carlos Braga Mueller e Carlos Tonet. 

9 comentários:

  1. Bela postagem.Os acontecimentos que ocorreram na segunda guerra é instigante, apaixonante. Recomendo verem a série Redescobrindo a Segunda Guerra Mundial. Imagens reais dos acontecimentos e que relata a guerra desde o seu inicio, e porque ocorreu.

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  2. Sr Martin Drewes, meu amigo, completa no dia 20 agora 94 anos !
    Abraço
    Allan Jurk

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  3. Ich gratuliere Oberst Leutnant Martin Drewes. Eu também parabenizo o jornalista Braga Müller pela excelente reportagem.

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  4. Caro amigo e sofredor Beto. Com as bençãos de Deus e sinceros votos de melhoras, informo ao amigo que esse sr. Martin, quase centenário, é cliente do nosso filho Sérgio, e a ele já contou várias peripecias dele durante a 2ª guerra mundial, inclusive essa que o seu amigo Braga Muller repassou. Ele foi realmente um heroi da 2ª guerra. Tem cara mesmo de heroi nessa foto. Sempre é bom saber mais algumas coisas. Um grande abraço
    E.A. SAntos

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  5. Walter Carlos Weingaertner
    Adalberto Day escreveu no Blumenews o episódio insólito da Segunda Guerra Mundial, a "Batalha do Iraque", que teve em Martin Drewes um participante destemido, o único que ainda vive para contar a história. E mora em Blumenau!

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  6. Rafael Eduardo Werlich Fantástico!!! Linda história!

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  7. Prezados/as, o major Martins Drewes pertenceu a fina flor dos homens da Luftwaffe, ele foi um Zerstörer, caçador de bombardeios noturnos, pilotava os Messerschmitt Bf 110, e ainda está vivo e lúcido. O Carlos Braga tem em mãos farto material, e como iniciou pelo começo, já que as operações no Iraque foram onde ele conquistou sua primeira Cruz de Ferro, vamos ter muita coisa boa pela frente. Vida longa para o seu Martins Drewes. Abraços. Cao

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  8. Martin Drewes tem, até hoje, o respeito e o reconhecimento, também dos seus antigos adversários de guerra, e isso deve significar alguma coisa sobre a sua conduta como soldado e como homem. Congratulamo-nos com ele e agradecemos aos amigos Braga Mueller e Adalberto pelo belo post. Grande abraço!

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  9. Na entrevista para a mídia nacional RKT Martin Drewes disse que jamais atirou em aviadores aliados mas sempre contra as suas máquinas que traziam morte e destruição para a Alemanha.
    werner henrique tönjes

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