Por Adalberto Day¹
Ao assistir o filme brasileiro Redemoinho dia 30 de setembro 2020 Canal Brasil, me veio a mente (ideia) de escrever sobre acontecimentos que me lembro (algumas preferi não citar) dos meus 3 anos (1956) até os 12 anos (1965), de idade, já no início da adolescência
Os dados procurei descrever de forma a serem os mais precisos. Alguns dados posso ter esquecido ano (2020) aos 67 anos de idade.
Matogrosso & Matias
Gratidão a DEUS por essa memória espetacular que nunca me abandonou ...
Minhas primeiras lembranças de 1956/1965
Nasci em Blumenau - 1953, na Rua Almirante Saldanha da Gama, primeira transversal a direita da Rua da Glória . A casa não aparece na foto acima, se localizava depois daquelas árvores. Observação: a primeira casa a direita pertencia a Rua da Glória, n.100.
1956: Apareceu um porquinho “fujão” em nossa propriedade, em um dia de muita chuva. Meus pais custaram a pegá-lo, depois devolveram ao dono. Minha primeira vacina aplicada em casa (o primeiro Pics). O sótão que nunca fui com medo da tal da “Fratz” que minha avó (materna) propagava. O Asfalto chegando na antiga Praça Getúlio Vargas (começou do final da rua Amazonas para o centro) minha avó Isabel (paterna a única vez que a vi) sentada na cadeira de balanço na varanda, logo depois veio a falecer em Brusque.
Começo a lembrar-me dos Natais e do Presépio de minha avó materna Ana que ainda enfeita nossas noites de Natais.
1958 Por solicitação da EIG, tivemos de nos retirar da nossa casa antiga construída por volta de 1913, para que fosse erguida duas novas residências. Fomos morar em outra casa ao lado esquerdo da mesma rua. A promessa para com meu pai era que uma delas seria nossa a serem construídas em início de 1958. A promessa não foi cumprida pela diretoria da EIG, e fizeram com que fossemos morar em 1959 na casa do também motorista da diretoria Odeval Husadel que ficou com a casa a nós prometida e viemos morar na casa dele. Neste ano de 1958 ganhei meu primeiro carrinho movido a pilha (uma maravilha que guardei até 1986) e uma bola de futebol. Também neste ano conheci meus dois primeiros amiguinhos, o Amazonas e o Clube de Regatas Vasco da Gama, e presenteado com a primeira camisa vascaína. Ao girar uma das rodas da bicicleta do meu pai, quase perco o dedo médio da mão direita.
1959 Em janeiro viemos morar na casa que era do senhor Odeval Husadel e ele foi morar como já citei na casa que foi prometida a nós. Tudo na mesma rua. Meu pai Nicolao Day e minha mãe Augusta Day, não mereciam isso ... sacanagem!
1960 Começo meus contatos mais intensos com a bola de futebol, treinando com meu pai que me levava para jogar no time Dente de Leite do Amazonas e também no Clube 12 ou Morro. E a história do "Menino Santo" na Rua Emilio Tallmann, que charlatanismo.
O “Kroba” na verdade era “Krohberger” ou Krohbergerbach “bach ribeirão”, ou ainda somente “Kroba”, originando-se do Sr. Heinrich Krohberger, que chegou por aqui por volta de 1858. Era engenheiro, agrimensor e prestou serviços inclusive para Dr. Blumenau, com quem projetou as primeiras e maiores obras de vulto do município.
Ganhei de presente em meu aniversário um lindo Ford (mais ou menos 1,10 x 0,50 m) com carroceria, cores verdes e azuis,. Uma beleza construída pelo meu tio Hartiwig, todo em madeira como também meu primeiro Curió.
Tremenda enxurrada no Garcia, dia 31 de outubro, onde faleceu afogado nosso vizinho e amigo Soldado Moacir Pinheiro que ao atravessar da então rua estreita (mal passava uma carroça) da Hermann Huscher em direção a Rua Amazonas, o rio encheu e transbordou rápido, antes que ultrapassasse, a ponte foi levada pelas fortes correntezas. O Estádio do Amazonas é totalmente destruído, uma catástrofe para Blumenau e em especial Garcia com 4 crianças (família Teixeira) encontradas mortas no salão e alambrados. Meu pai me presenteou após voltarmos de uma missa (culto) com um quadro de 1961 do Vasco da Gama Super-super campeão de 1958.
Que delicia a cuca da Oma Ana, do tear ao ruído das lançadeiras...Tec...tec...tec...tec...e levar as 08:30 horas o café para o meu pai na tecelagem sala 16 no meio dos teares. Ele me dava as vezes Cr$ 1,00 ou Cr$ 2,00 para minha alegria comprar pipoca ou picolé.Ouvir , soar a sirene que se localizava em uma torre com relógio. Seu som alto e grave dava para ouvir em um raio de 3 Km para anunciar entrada ou saída de empregados. Também, em casos de sinistros, tocava por várias vezes para chamar os Bombeiros. Na decisão do campeonato da LBF Amazonas e Olímpico se enfrentam no estádio da Baixada. Meu pai me levou para assistir ao jogo com predominância da torcida do Amazonas, o time anilado após 2x2 no tempo regulamentar, perde na prorrogação com gol de Orion. Ao nosso lado na Arquibancada , morre de ataque cardíaco fulminante um torcedor Grená. Isso foi dia 1º de setembro de 1961. Os mais antigos que jogaram no Amazonas, me diziam que o Clube Anilado, foi campeão da cidade vários anos nas décadas de 1920 até a década de 1940. Porém não havia a LBF era tudo no improviso e amadorismo, apesar dos clubes serem profissionais.
1962 Reconstrução do estádio do Amazonas que se torna o maior e mais belo estádio de SC, até 26 de maio de 1974 quando é aterrado impiedosamente pela empresa Artex.
1963 Meu pai e eu continuamos as pescaras e já vou com ele caçar pela região da Garuva e Gaspar Alto. Um dia ele me disse, veja aquele cavalo ali a esquerda no Pasto, quando nós voltarmos vou te explicar. Ao retornar o cavalo estava ao chão morto e meu pai disse, “Cavalo é só útil enquanto produz, depois de velho é abandonado para morrer no pasto e assim é mais ou menos com o ser humano”, completou dizendo: vamos passar e avisar ao dono da propriedade. Ainda sem entender de política, muito menos de politico, uma noticia surpreende o mundo com o assassinato do presidente dos E.U.A. John Fitzgerald Kenedy dia 22 de novembro de 1963 na cidade de Dallas no Texas. Meus pais trabalhavam na EIG e minha irmã com minha ajuda fazíamos os trabalhos caseiros com muito orgulho. Ela mais dentro da casa e eu fora cuidava do galinheiro, serrando lenha, cuidando do riquíssimo pomar, capinando ao redor de casa e na extensão do terreno pelo lado de fora. Também varria e passava cera no assoalho da casa e depois passava o “Escovão” para deixar tudo brilhando ... que maravilha, orgulho como cidadão. Cuidava do meu irmão recém nascido sempre com muito cuidado e ensinando a ele os bons costumes da vida cotidiana.
Comecei a ter gosto por música e ouvia a Hora do Rei na Rádio Nereu Ramos acompanhando Roberto Carlos, Erasmo Carlos Onda do Iê-iê-iê, e toda Jovem Guarda (antes ouvia Tonico e Tinoco e Teixeirinha). Na Rádio Clube PRC4 o programa A Marcha do Esportes, comandado pelo Grande Tesoura Jr. e Jeser Joci Reinert. Começo a ser treinado pelo meu primeiro Professor maravilhoso de Educação e Física Oswaldo Husadel. Praticávamos ginastica, futebol, basquete, vôlei. Ir até o morro do 12, acompanhar meu estimado tio Alberto Day soltar suas belas pipas, algo maravilhoso. Comecei a frequentar o "Cine Garcia" e não via a hora para chegar aos 13 anos idade para ler Gibis e fazer as trocas.
1964 – Ano de muita confusão política e ideológica no Brasil, com a tomada do poder pelos Militares, permanecendo por 21 anos de ditadura amarga para nossos cidadãos. Mesmo assim com progressos sociais e tecnológicos, mas nada justificava a atitude. Cabe aqui cada um com sua reflexão. Não discuto Políticos, ideologias e partidos, que carrega um triste fardo de intrigas, brigas e desamor entre famílias e amigos, mas sim tão somente política.
Guerra no Vietnã com E.UA (1964/1975). assusta até crianças, os mais idosos diziam que o mundo iria acabar, alias o comentário maior que o mundo acabaria no ano 2000.
Fiz minha primeira comunhão.
1965 Vou estudar o 5º ano primário na EEB Santos Dumont. Lá conquistei meu primeiro campeonato de futebol por Sala. Uma alegria vencemos a final por 2x1, fiz um dos gols e a professora que não gostava muito de mim (com razão, só queria jogar futebol) veio me abraçar chorando de alegria. Nosso time tinha o Jorge dos Santos (Tangerina), Dimas Gonçalves, Valdomiro Oliveira, Adir Luebke, Marcos Souza entre outros craques. Ano em que o Marcos me leva para jogar no time do Brasileirinho, muito famoso, treinávamos em frente onde era o antigo Fraga o atual AP? . Os jogos eram realizados no 23BI e outros estádios. Acompanho a construção da Avenida Castello Branco (Beira Rio).
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Meu pai (minha mãe e avó) um dia me falaram, para que eu nunca mentisse; mas eles também se esqueceram de me dizer a verdade, a realidade do mundo; que eu ia saber, dos traumas que a gente só sente depois de crescer. Falaram dos anjos que eu conheci. Meu pai, minha mãe e avó, encheram de fantasias e enfeitar as coisas que eu via e ouvia, mas aqueles anjos agora já se foram depois que eu cresci.
Da minha infância agora tão distante, aqueles anjos no tempo eu perdi. “Meu pai sentia o que eu sinto agora depois que cresci. Agora eu sei o que meu pai queria me dizer”, as vezes os contos, mitologias nos ajudam a crescer ... Minha casa era modesta, mas eu não temia nada, só respeitava. Mas meu passado vive em tudo que eu faço e agora ele está em meu presente ...Meu querido, meu velho, meu amigo...
Roberto Carlos e algumas inserções de Adalberto Day
Muito legal tio!!! Adorei !! A mãe também tem adorado as fotos que o tio e a tia tem postado no Facebook também relembrando bons tempos. Ela inclusive manda agradecer. Beijos espero que estejam bem.
ResponderExcluirMuito bom, Beto. É maravilhoso revirar estes baús da nossa história. E como são significativas estas lembranças. É verdade que a geração depois dos anos 50 viveu um período de muitas inventos, uma época de desenvolvimento. São inúmeros os descobrimentos e as mudanças de hábitos nestes períodos. Especialmente nós blumenauenses pela riqueza que aconteceu com o surgimento da cidade como polo de Santa Catarina, com a implantação de grandes industrias e por consequência uma comunidade ligada a produção da economia. Nós fomos muito felizes, cada um dentro de seu cenário e construindo a sua vida. Um grande abraço. Parabéns. Zé Pfau
ResponderExcluirSalve, amigo Adalberto, e muito obrigado por nos brindar com tantas memórias de sua infância, um tempo especial que Deus nos concede, no qual vai sendo moldado o nosso caráter. Deus abençoe o amigo com saúde e força! Grande abraço a você e à Dalva!
ResponderExcluirBom dia professor Adalberto e querido amigo. Sensacional suas lembranças ao longo da vida. Também nos leva a lembrar a minha é a todos nós q tivemos a verdadeira infância. Passear de bicicleta ir a missa,andar naqueles carros antigos rs , Brincar, se machucar,jogar na lama, o cineminha do Amazonas os brinquedos da época que são inúmeros que tentei dentro do possível apresentei a meus filhos. Nós que vivemos a verdadeira infância e juventude. As crianças de hoje o brinquedo é a tecnologia. E pensar que tem criança q nunca viu uma galinha,vaca,porco vivo, até cavalo não viram pessoalmente. Abraço com carinho de seu sempre leitor Sérgio L Buchmann.
ResponderExcluirParabés, Adalberto. O texto das tuas memórias torna-se interessante na medida em que vem entremeado de informações sobre fatos locais e até da história mundial. Um abraço.
ResponderExcluirMeu caro Adalberto!! Que linda história, e rica em detalhes, detalhes que me recordam muito também da minha infância. Claro, guardada as devidas proporções, pois as lançadeiras dos 16 teares em que cuidava na sala do meio (tecelagem felpudo), as bolas de gude, pião, futebol....em um momento fala no texto sobre churrasco. Não tem como esquecer as festas no dia do trabalhador 1°de Maio, onde eram oferecidos os churrascos, as festas dos bombeiros voluntários.....em fim que saudades, parabéns, linda história.
ResponderExcluirQue bacana Adalberto ! Que bela infância e bonitas as memórias que valorizam cada nova experiência ! A narração é tão rica que automaticamente nos transporta para a Blumenau da época num espírito muito saudosista. Legal também as fotos que mostram a cidade e evidenciam as grandes mudanças dos últimos anos. Valeu, muito interessante. Tudo de bom para vocês e que possam ter belos momentos a frente dando continuidade as estas boas lembranças. Um grande abraço !
ResponderExcluirSonia Ruth Anton Bauler
ResponderExcluirQuanta riqueza nos detalhes. Texto perfeito que só nos faz recordaram mesmo. Sua irmã Doris foi minha amiga . Até um tempo atrás ainda a via. Nunca mais a vi. No doze também era o lugar dos meus irmãos . a sirene da fábrica nem nos acordava mais. Quando faltava energia elétrica, o silêncio que acontecia era tão grande que dava um vácuo na cabeça. No pátio da nossa casa, muitos dos moradores do Progresso deixavam as bicicletas. Tinha até um lugar especial para o Rodolfo Sestrem, que deixava a sua às 4. 20 da manhã valeu. Parabéns pelo trabalho de nos fazer voltar ao passado
Helmar De Oliveira
ResponderExcluirBela lembrança .vivi estes momentos tambem .moravamos ao lado do campo do amazonas .a casa era do meu tio FRANCISCO DE ANDRADE .E FELICIA DE ANDRADE . Presenciei a enchurrada que destruiu o campo do Amazonas .estudei no SAO JOSE . enfim quase tudo que foi relatado Eu vi ou fiquei sabendo . Parabéns foi muito emocionante rever este relato
Helmar De Oliveira
ResponderExcluirBlog Adalberto Day com certeza aquele momento de terror .ou diluvio assisti tudo da casa do meu tio .foi muito triste . A noite aquele pessoal pedindo socorro e a gente sem poder fazer nada muita agua .e Eu tinha 7 anos ..mas fico muito contente em saber que tenho pessoas como Voce e outros para rever esses acontecimentos agradecido grande abraço
Arlete Bugmann Hasse
ResponderExcluirEmocionante...voltei no tempo...belas lembranças...tbm vivi essa época...Escola São José...cine Garcia...nós meninas não podíamos sair muito de casa. Só acompanhada de um adulto. Meu tio Deneri de Castro e minha tia é que levava a gente nos passeios...muito bom recordar.
Que lindo, Adalberto! Continue esses registros! Fazia uma vida inteira que eu não ouvia falar do Frank – pensei que ninguém mais lembrava dele. Sei algumas coisas a respito dele!
ResponderExcluirUrda A. Klueger
Grande criatura humana e guardião da história de Blumenau e, principalmente do nosso bairro do Garcia. Você jamais será esquecido. Vai ficar na história de Blumenau para a posteridade. Meus respeitos e parabéns por ser tudo aquilo que você é. Um grande abraço.
ResponderExcluirGilberto Peters
ResponderExcluirBlog Adalberto Day como já disse: Você é um ícone, tem o meu respeito e admiração pelo conhecimento...me sinto honrado de fazer parte de seu ciclo de amizade e ser marcado em suas publicações...muito obrigado!
Catarina Tecla Mistura
ResponderExcluirMuitas saudades de quase tudo, menos da enchente , mas faz parte também. Nasci em 1947 então tivemos um passado maravilhoso! Obrigada Beto...
Sonia Ruth Anton Bauler
ResponderExcluirMuito linda sua história. Fiquei emocionada. Afinal éramos vizinhos e muitas coisas me vieram a mente. Que infância bonita tivemos. Sua irmã era muito minha amiga. Também lembro dos meninos que adoravam o campinho do 12. Meus irmãos eram fanáticos. Adorei tudo Beto. Isso foi para realmente remeter ao passado . muito obrigada
Mario Ademir Roberto Gonzaga
ResponderExcluirParabéns ..recordar e viver ..senhor Adalberto DAY.. SOU UM GONZAGA....E TENHO BOAS LEMBRANÇAS..O TEMPO DE ARTEX. QUANDO VC TRABALHOU NO EPARTAMENTO, PESSOAL.. BONS TEMPOS...DEUS ABENÇOE VCS ..
Jacira Forbici
ResponderExcluirNossa! Que viagem! Vc descreveu tão bem a rua onde morávamos que cheguei quase a ver a minha casa. Nossas mães foram muito amigas. Vc falou das missas, só esqueceu da organista ! Ahahah, brincadeirinha.
Amei ler e viver novamente varios momentos que vc tão bem descreveu. Parabens! Um grande abraço.
James Zimath
ResponderExcluirMuito emocionante, e muito linda sua história.
Mas nos conhecemos quando adultos, na Artex.
Abração e muitas felicidades.