João Karsten assumiu o comando da firma junto do irmão, Christiano, dando continuidade a consolidação e adaptando a marca ao mercado feminino (Reprodução / Karsten)
Isto até chegar 1914, quando a Primeira Guerra explode na Europa. A exportação de fios, que já era penosa, torna-se inviável por conta do conflito, o que força muitos dos funcionários a voltarem a agricultura de subsistência para garantir o sustento. Nestas mudanças todas, a firma também passa por um processo de renovação. Johann abre caminho, em 1916, para os filhos Christiano e João no comando da empresa, mudando seu nome para Karsten Irmãos.
A marca Karsten Irmãos, criada na administração dos irmãos João e Christiano Karsten. Anos depois, Christiano deixa a sociedade e João fica sozinho a frente da empresa (Reprodução)
Termina a guerra e o mundo reencontra-se com o crescimento econômico. Na década de 1920, as mudanças na sociedade também forçam a empresa, de volta nos trilhos, a acrescentar novos itens na sua linha de produção. Entram as toalhas, panos com estampas variadas e que atraiam os olhos das mulheres, cada vez mais em busca de seu espaço na sociedade e auto-determinando-se o poder de compra. Neste meio-tempo, Christiano deixa a sociedade e a Karsten passa a ser uma sociedade anônima sob o comando de João Karsten.
Os anos passam e a empresa ganha estabilidade e reconhecimento cada vez maior no mercado, com números interessantes. Era mais um dos tantos negócios familiares do Vale do Itajaí que ganhava notoriedade nas páginas de economia de grandes jornais brasileiros como bons exemplos. Nos anos 40, já sob o nome de Cia. Textil Karsten, a empresa aperfeiçoa sua linha de produtos graças as inovações trazidas por Walter Karsten, filho de João, da Alemanha, e outras mudanças estavam a caminho.
Eis a década de 1970 no horizonte. Dentro de um país que se enquadrava como a oitava economia no mundo, a Karsten estava muito bem, obrigado no contexto econômico de Blumenau. A outrora pequena cidade agora era uma economia de respeito, destaque em vários setores industriais, especialmente o têxtil, onde a empresa estava muito bem colocada entre as grandes da cidade, como Teka, Garcia, Artex e outras.
Revoluções setentistas, força nas crises e o futuro
Mas para a Karsten, os anos 1970 vieram com embalo geral na sua estrutura, tirando-a do simpático Testo Salto e a levando para o mundo. Já em 1971, a empresa abre o capital e passa a exportar produtos, chegando a exportar no fim da década cerca de 60% do que produzia. Um ano depois (1972), conquista a cobiçada licença da marca Disney, uma das mais fortes no mercado mundial. Em 1974, expõe seus produtos na Feira Têxtil de Frankfurt, a Heimtextil, uma das maiores do mundo. Mais dois anos a frente, em 1976, começa a produzir felpudos e, no mesmo ano, resolve o antigo problema dos fios ao implantar a própria fiação.
São muitas revoluções em uma única década, completando ainda com a mudança na direção da firma, agora sob o comando de Walter Karsten, tendo ao seu lado no setor comercial o irmão, Ralf. Eram anos prósperos até a chegada da década de 90 e dos planos econômicos de Fernando Collor que colocaram muitas empresas em situação de risco no país, com prejuízos que trariam reflexos por vários anos. Mas não para a Karsten, exemplo único entre as coirmãs de cidade.
Projeção nacional e revoluções. Os anos 70 foram de constante mudança e inovações. Capital aberto, licença de uso da Disney abaixo), exposição em Frankfurt e, enfim, a fiação própria (Reprodução)
Enquanto algumas se debatiam com os reflexos da crise, a Karsten tinha no bojo a tradição de bons produtos para manter-se firme no mercado interno e externo diante dos reflexos da abertura de mercado, que pegou muita gente de surpresa. A solidez da empresa é algo que espanta nos dias atuais no cenário presente, fruto de uma administração pensada para frente e sem passos fora da curva que colocassem em risco a imagem já consolidada com os anos.
Ao passar os anos, sucederam-se os presidentes (Carlos Odebrecht e Alvin Rauh Neto) até a chegada do grupo atual, sob o comando de Armando Hess de Souza, um dos orgulhosos filhos da Dudalina, que tem levado a empreitava a voos mais altos, cada vez mais desafiada pela constante mudança do público consumidor e do mercado. Prova disto é uma das mais sofisticadas marcas de artigos de cama, mesa e banho da tradicional marca Trussardi, de raízes italianas, cobiçada por muitos e adquirida pela Karsten em 2010.
Ao bater os 135 anos, a jovialidade da Karsten assusta e também inspira. De uma história moldada na esperança de novos tempos para uma simples família alemã para uma trajetória de sucesso foram vários os obstáculos, sempre acompanhando o caminhar do mundo por fora de seus portões. Cada colaborador tem em si a sensação de ter colocado um tijolo no imponente complexo industrial as margens da rua que leva o nome de seu fundador – Johann Karsten – e que ajudou como tantos outros a criar em volta uma comunidade, uma economia forte e uma história digna de grandes livros.
Quantos anos e revoluções mais virão? Não se sabe ao certo. Certeza é que a Karsten provavelmente estará lá para vive-los. da mesma forma jovem que qualquer grande empresa centenária e de grande história que existe… no mundo.
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirGuardadas as devidas proporções, está história não é muito diferente das demais industriais textetê da nossa região. Pois cada um com sua particularidade, porém o mesmo propósito (crescimento e sobrevivência). Com tudo uma história linda e rica em detalhes, parabéns.
Olá, Adalberto.
ResponderExcluirSou sobrinho do Rudolf Rosumek, Goleiro do Amazonas e pai do Adalbert e Marlene Rosumek. Meu tio Rudolf foi funcionário da Cia Karsten nos meados do século 20. Não posso precisar mas talvez entre a década de 1930 e 1940. Posteriormente, foi trabalhar na Empresa Industrial Garcia. Foi um dos primeiros com carteira de trabalho na Cia Karsten. Esta carteira deve estar atualmente em posse do Ivan Hort, filho da Marlene Rosumek com Haroldo Hort. Tenho uma foto daquela época, que me parece ser a Cia Karsten. Querendo, passo uma cópia.
ResponderExcluirIvonete Muller Lembro muito meu irmão Norival Muller trabalhou muitos anos la
Edmundo Edi Muito bem Adalberto em trazer esta empresa para ser lembrada.
ResponderExcluirConsidero o melhor blog sobre história aqui de Santa Catarina. Sempre aprendo um pouco mais sobre Blumenau, Joinville e toda cultura de nossas cidades. Obrigado Adalberto.
ResponderExcluirMaravilhosa história da História da Blumenau que tanto amo e deu de si a minha formação acadêmica, cívica e pessoal. Servi o Exército com Mário John, que àquela época (1960), sua família tinha participação na Karsten que veio a ser a Teca, depois. Ou estou enganado? Mais tarde cursei engenharia com Afonso Karsten, membro da citada família. A empresa me é familiar tanto quanto a Fábrica de Laticínios Jensen, próxima. Parabéns pela bela postagem! E grato pela partilha! Grande abraço. Laerte.
ResponderExcluirIsolde Seiler Orgulho do meu bairro, me aposentei trabalhando nessa empresa.
ResponderExcluirRomeu Passold Fui o pioneiro em meados de 1970 ao concluir o curso de Química na FURB como um dos 1° estagiarios nessa conceituada Ind.Textil do vale na tinturaria.
ResponderExcluirNessa data a Empresa abriu as portas para que estudantes a se formarem ou recém formados e aperfeiçoar suas tecnicas com corantes na tinturaria.
Época do saudoso Amos Sprenger como chefe da Tinturaria e o sr Carlos Odebrecht como Diretor Industrial.