O PAPAI NOEL:
quinta-feira, 22 de março de 2018
- Historietas do Garcia
Em
historietas do nosso cotidiano apresento textos enviados pelo amigo Sérgio Cunha, sobre sua infância
em geral, vale a pena a leitura e sentir-se inserido nos belos relatos.
O PEQUENO PRÍNCIPE:
Pequeno
Príncipe em alemão se fala Kleiner Prinz. Nos idos de 1957, a comunidade da Vila e Rua da Gloria, no Bem Aventurado
Reino do Garcia, com a finalidade de
angariar fundos para as obras da Igreja
Nossa Senhora da Glória e do Grupo Escolar São José, tiveram a ideia de
promover um concurso infantil de Rei e Príncipe (König uns Prinz). Não sei
porque não fizeram um concurso de Rainha e Princesa ou de Miss. Talvez porque a
safra de meninas daquele ano não estava a altura de representar tal título.
A
regra para a classificação dos eleitos consistia na venda de votos. A família
que vendesse a maior quantidade de votos para a
comunidade elegeria o reizinho e o príncipe. O Jorge Salvador Rodrigues foi indicado para representar a Família
Rodrigues. Eu fui indicado para representar a Família dos Santos. Participaram também outros meninos indicados
para representar suas respectivas famílias. A campanha foi acirrada.
Minha família, meus tios, minhas tias, a
Martha, a Helena e a Evanilde, batalharam arduamente na venda dos votos.
Vendiam na rua, nas casas, na empresa onde trabalhavam. O resultado foi
apresentado no dia da Festa Anual da Igreja N. Senhora da Gloria. E o reizinho
eleito foi...? Vocês estão pensando que escrevi esse texto para dizer que fui o
reizinho eleito não é mesmo? Mas não fui eu não. O Reizinho eleito foi o Jorge
Salvador Rodrigues e eu fiquei em segundo lugar como 1• Príncipe.
Foto:
Acervo Sergio Cunha
O PAPAI NOEL:
O PAPAI NOEL:
Aprendendo Alemão: SÃO NICOLAU,
KNECHT RUPRECHT e SCHMUTZLI. São Nicolau é o Papai Noel. Na Alemanha o ajudante do São Nicolau é o
Knecht Ruprecht. Na Suíça o ajudante do São
Nicolau é o Schmutzli. Até a década de 60, aqui em Blumenau, conhecíamos
somente o NICOLAU, que tinha roupas e "maquiagem" bem feias. E nem se
falava São Nicolau. Era só Nicolau mesmo. Depois de 1960, com a inauguração da Loja HM é que conhecemos o PAPAI NOEL.
Nessa época eu tinha uns 10/11 anos. Estávamos a uma semana do Natal. Como o Nicolau era bem feio,
falei pra minha mãe: Mãe, hoje assim que escurecer vou me vestir de Nicolau e
dar um susto nos meninos do Sr. Joao
Barulho. Ele era um vizinho que todos chamavam por esse apelido, até hoje
não sei porque, e tinha 3 meninos com 5 a 9 anos mais ou menos. E eu era muito
corajoso. Nooossa, como eu era corajoso!
Peguei um pacote desses de papel pardo, desses de padaria, fiz pequenos
buracos para olhos, nariz e boca, colei algodão para imitar bigode,
sobrancelhas e barba, vesti um casaco e calça velha. Peguei também um saco de
aniagem para carregar nas costas e uma vara como bengala. A boquinha da noite,
logo que escureceu, vesti os trajes e disse pra mãe: eu já vou. Ela olhou pra
mim, achou engraçado, riu e disse: Tá bom, Mãããe,pode
ir. Cuidado! Saí pela porta de traz da nossa casa, caminhei uns 20 metros pela
lateral da casa para chegar na rua em frente.
Ao chegar na rua, iria para a esquerda, mais uns 100 metros até chegar
onde estavam as crianças, que nessa época, início de verão, calor, brincavam
até mais tarde em frente de casa. Abri o portãozinho, estiquei o pescoço para
ver como estava o caminho. Raapaaiz, a 5 metros de mim, vindo na minha direção,
vi o maior Nicolau que meus olhos já enxergaram. Ele tinha uns 2 metros de
altura. O bicho era graaande. Engatei a primeira e saí cantando pneus numa
disparada para a porta dos fundos, mais rápido do que o Papa-léguas.
Quando cheguei à porta, estava fechada por dentro. Aumentou o desespero.
É agora que o bicho me pega! Dei socos com as duas mãos na porta, gritando pela
mãe. Depois de eternos 15 segundos ela abriu. Joguei- me para dentro. Branco
como vela. O coração querendo sair pela boca. Ela perguntou: O que foi guri? Na
medida do possível fui explicando. Ela disse: Aaah, querias assustar os meninos
é! Veja no que deu! Bem feito! Cara, não morri porque não era hora.
Sergio Cunha -
28/12/2017
A GEADA:
Geada em alemão se diz Frost.
O clima da terra está mesmo esquentando. Lembro-me de que o inverno nas décadas
de 50/60 era bem mais frio do que atualmente. Tinha na época 5 para 6 anos e
minha primeira irmã aproximadamente 1 ano. Morávamos todos juntos na casa de
minha avó, na Vila Operária, próximo da Igreja N. S. da Glória. O vovô havia
falecido quando eu tinha 6 meses. Moravam conosco também minhas tias e tios que
ainda eram solteiros (Singles). Ao todo éramos umas 10 pessoas. A casa era
grande, tinha cerca de 160 metros quadrados, com dois pavimentos e somente no
pavimento superior tinha quatro quartos.
O pai e a mãe haviam comprado
um terreno no Bêco Tallmann e estavam terminando de construir uma pequena casa
para morarmos. O Bêco Tallmann era bêco (Gasse) porque não havia ainda ligação
com a rua Progresso ( em sua parte total). Tanto meu pai como minha mãe
trabalhavam nas indústrias têxteis da região, industrias que estavam formando o
pólo têxtil de Santa Catarina. As fábricas, como todos falavam, estavam
pertinho de casa, distando cerca de 1,5 quilômetros.
Como os dois trabalhavam, na
nova casa não teria quem ficasse tomando conta de mim e minha irmã durante o
dia. Então meu pai falou com seu irmão João Paulo que cedeu uma de suas filhas,
portanto nossa prima (Cousin , pronuncia-se “cusan”), para tomar conta de nós
provisoriamente até que contratassem uma “babá”. A prima era a Azenir que tinha
na época uns 12/13 anos de idade. Ela veio então para a casa da vó, para fazer
um “estágio” e ter as primeiras noções de como manter os nossos limites de
criança. Ela cuidava de nós com muita responsabilidade, mas também brincávamos
muito, pois era muito divertida.
Era época de inverno aqui no
sul e esse, deu sinal que seria bastante rigoroso. Tinha chovido naquela semana
e começava a soprar o vento “minuano”. Quando soprava o minuano, eram vários
dias de ventania forte. As folhas das bananeiras de tanto tremular com o vento
forte (Starker Wind), rachavam. Ficavam todas em tirinhas, esfiapadas. Hoje em
dia não se vê mais isso.
Um desses dias, a tardinha,
estava bem frio e ventava, anunciando que a próxima madrugada seria congelante.
Os adultos comentavam entre si que ao amanhecer o dia, com certeza teríamos
geada. Então a prima falou: Já que amanhã vai ter geada, vamos fazer uma
experiência. Vamos colocar no pátio (Hinterhof) uma pequena bacia de alumínio
com água e quando a gente acordar, vamos ver que na bacia terá uma camada de
gelo.
Nós, as crianças da casa,
ficamos muito entusiasmadas (begeistert) e interessadas. Mas como assim, gelo!
O que é gelo? Ela que já frequentava a escola disse: Gelo é quando a água fica
dura. Como que a água irá ficar dura? Nunca tínhamos visto gelo. Geladeira
(Kühlschrank) então, nem pensar. Não existia ainda. Refrigerante também não
existia, só “Capilé”, que era groselha e se misturava com água.
O que surgiu logo a seguir foi
o “Gasosão”, que era tipo groselha gaseificada. Cerveja já existia, mas para se
degustar essas bebidas mais frescas, colocava-se as garrafas dentro de um balde
(Eimer) ou tanque e cobria-se com água fresquinha tirada de algum poço
profundo. Todas as casas tinham poço. Quem morava perto de algum córrego (Bach)
raso de água cristalina, colocava as garrafas no fundo do córrego para que
refrescassem.
Bem, vamos ver se essa geada
vem ou não. Depois de muita conversa e explicações (Erklärungen) fomos tentar
dormir, o que foi muito demorado devido à grande ansiedade. Ao amanhecer, bem
cedinho, aos primeiros claros do sol, a prima nos acordou e fomos lá no pátio
ver o que tinha acontecido. Ficamos com os olhos (Augen) arregalados quando ela
pegou da bacia uma rodela de “água dura” que tinha aí uns três milímetros de
espessura. Ávidos para tocar aquela novidade, começamos a cutucar com os dedos
e logo a rodela de água se foi quebrando e cada um pegou um pedaço e correu
levar para um adulto ver a novidade que aos poucos foi derretendo e
desaparecendo. Assim iniciamos mais um dia de curiosidades (Kuriositäten) e brincadeiras
no nosso pequeno e agradável mundo infantil.
Foto: Fachada Casa da Vovó
Maria.
TANTE
E ONKEL:
Em
alemão, Tio se fala "Onkel" e Tia se fala "Tante". Quando
eu era criança, lá no "Reino do Garcia", pelos idos de 59/60, numa
certa tarde vieram nos visitar minha avó Maria e duas irmãs dela, a tia Olívia
e a tia Luíza, portanto, as tias de minha mãe. Vieram fazer uma visita de
cortesia e também para ver nossa nova casa, já que tínhamos nos mudado
recentemente da Rua da Gloria para o Beco Tallmann que naquela época nem tinha
sido promovido a categoria de rua ainda.
A tia Luíza estava fazendo uma tournée e veio
lá do Arraial do Ouro em Gaspar, para visitar suas irmãs no Garcia, em
Blumenau. A tia Olívia veio da rua Antônio Zendron no bairro (Valparaíso).
Encontraram-se na casa da vovó na rua da Glória. Dali saíram as três senhoras
em direção a nossa casa no Beco Tallmann, num dia de verão, que mais quente era
bobagem, caminhando, com sombrinhas para se abrigar do sol implacável e com aqueles
seus tradicionais vestidos longos. Verdadeira cena dantesca.
Elas chegaram, a gente foi cumprimentando, como
de praxe, boa educação, benção vó, benção tias, sentaram-se e dá-lhe conversar.
Mas notei que a minha mãe se dirigia as tias chamando-as de "Tanta".
Tanta Olivia pra cá, Tanta Luíza pra lá e a interrogação terrível na minha
cabeça de criança. Porque a mãe chamava elas de Tanta?
Ela sempre nos ensinou que Tanta, era para se
referir a alguma coisa com grande quantidade: Tanta agua, Tanta chuva, Tanta
laranja, etc. Mas, e agora? Será que as tias eram Tanta coisa assim? Então,
logo que elas foram embora, a noitinha quando estávamos a mesa, em família,
perguntei: Mãe, porque a senhora chamava elas de Tanta? Ora filho, porque Tia
em alemão se fala Tante e a vó e as tias falavam alemão com a mãe delas e assim
ficou de costume. Os Tios elas chamam de Onkel.
Sergio Cunha - 16/01/2018.
O CÓRREGO:
Córrego
em alemão se diz, Bach. Certa vez (+/- 1963), a Ceia de Natal (Weihnachtsessen)
foi na casa da tia Níde, no Reino do Garcia. Todos da família foram jantar lá.
Tios, tias, primos, primas e convidados. Antes, porém, a tia pediu para nós, os
meninos, já mais crescidos, irmos buscar as tortas, pastelão e outras
guloseimas, na casa da confeiteira que morava logo ali embaixo na rua da
Gloria, próximo da casa da dona Cassiana. Fomos então, o Nino, o Reginaldo, eu
e o "gordinho", que assim era apelidado, o Osnildo, filho da dona
Alói. Como diz o alemão, "A xente andava
sempre xunto", éramos muito unidos.
E lá fomos nós, era pertinho, uns 800 metros.
Traríamos nas mãos, cada um o seu. Veículo não tinha, só bicicleta (Fahrrad).
Uber, acho que somente em Floripa. Então, era a pé
mesmo. Chegamos na casa da senhora, pegamos as encomendas e voltamos. Ali,
naquele lugar onde era a casa da dona Cassiana, tem um canal, um córrego que
atravessa a rua da Glória, vindo da rua Belo Horizonte. Atravessa ali e une-se
com o córrego que vem lá de cima da Vila. Passa por baixo do Terminal de
ônibus, por baixo da Coteminas e desemboca no ribeirão Garcia.
A prefeitura (Rathaus) fez aquele canal de
concreto, mas não fez um corrimão, uma mureta para segurança, nada. Nas
cabeceiras do canal só tinha um meio-fio com uns 30 cm de largura e 10 cm de
altura, que as crianças adoravam atravessá-lo, para desafiar o equilíbrio,
pois, além do pequeno meio-fio, já despencava para o córrego, uns 2 metros
abaixo, talvez 2,50 m. O córrego era rasinho com 10 ou 15 cm de profundidade de
água.
Viemos os quatro de volta, cada um com a sua
encomenda, rindo muito, gargalhando, falando brincadeiras, gurizotes juntos,
sabe como é. Ao passar ali no canal o Reginaldo quis passar na beiradinha, no
meio-fio. Quando estava no meio do canal, ao mudar o passo esquerdo, errou o
meio-fio e o pé passou direto em direção ao córrego. Baaahh, caaara... ele foi
com tudo. Ele desceu, a torta subiu um pouquinho e já desceu atrás dele. Tudo
pra dentro do córrego.
Meeeeeu pai...! Uns gritos, uns choros, uns
risos e levantou-se o Reginaldo, que deu umas sacudidelas, algumas lamúrias e
uma torta a menos. Continuamos para casa, para festa, explicar o ocorrido e dar
um tempinho para o povo adaptar o estomago com a comida restante. Felizmente o
Anjo da Guarda o protegeu e saiu somente com pequenas escoriações. Coisas que
acontecem com quem é vivo.
Sergio Cunha – 11/12/2017
O GRANDE SAPO:
Sapo. Em alemão se diz FROSCH. Em português distinguimos,
sapo da rã.
Muitos anos atrás minha avó (Großmutter) e minha mãe mandaram
eu e o Nino buscar alguma coisa que precisavam, na casa do tio Júca. Eu tinha 4
ou 5 anos de idade e o Nino tinha 7 anos. O Nino foi um menino (Junge), ainda
bebê, que minha avó adotou como filho, portanto, irmão de adotivo de minha mãe
e tios(as).
Ele era muito alegre (fröhlich), divertido, saltitante,
moleque mesmo. Fomos criados juntos desde que nasci
até uns 6 anos e dessa forma, nunca o vi como tio e muito mais como irmão. Mora
até hoje na casa da tia Helena. Elas nos mandaram ir e lá fomos. Era um dia de
verão (Sommer) e estava já escurecendo. Saímos correndo. Tínhamos de caminhar
uns 150 metros até chegar à casa do tio Júca.
Há uns 20 metros da casa (Haus), o Nino que ia
disparado na frente, deu um pulo, na rua, e gritou: "Olha o sapo".
Meeeu amigo! Aquilo ali foi a gota. Parei instantaneamente, travei e comecei a
gritar e chorar. Ele, do outro lado do sapo, me instigava: "Pula! passa
correndo pelo lado, vamos seu molenga!" Mas não dava. Eu estava apavorado
(erschrocken). Completamente travado.
Na minha insegurança e aos meus olhos (Augen),
aquele sapo era do tamanho de um Fusca, um verdadeiro dinossauro. Diante da
minha gritaria e choradeira, para me acalmar, só mesmo a presença dos meus tios
(Onkel), que atônitos correram para me "salvar".
Lembranças de infância que marcam nossas vidas.
Saudades!
QUEPE OU BOINA:
Quepe ou Boina em alemão se fala
Barett. Quando eu era criança, lá naquele reino que lhes falei, logo que foi
possível pentear meus cabelos (Haare), pronuncia-se quase "Rrarre",
minha mãe começou a cultivá-los. Meeeu, ela adorava penteá-los e fazer
cachinhos. Fazia dois rolinhos em cima e mais outros tantos rolinhos ao redor
da cabeça (Kopf). Acho que ela queria fazer meus cabelos "parecidos"
aos cabelos do Wolfgang. O Wolfgang Amadeus, aquele que compôs aquelas
sinfonias, vocês sabem não é?
. Eu odiava aquilo.
Uma vóz zinha me soprava que aquilo
não caía bem pra mim. Mas...mãe é mãe (Mutter) né! Aos meus olhos de hoje, sabe
que ficava bonitinho!!! Modéstias a parte, eu era bem lindinho. Ela me dizia que eu não ficava no chão. Sempre
no colo das tias e tios , que moravam na mesma casa ou bem próximos da
casa da vovó. Era o neto (Enkel) favorito da família. Bem... era o primogênito.
O primeiro neto da minha avó (Grossmutter). O segundo, o Reginaldo, nasceu
somente quase um ano e sete meses após. Então...sabe como é!
Mas eu odiava aquele penteado e um
dia, tinha uns cinco anos de idade, decidi por fim aquilo que tanto me
martirizava. Todos estavam fora, no quintal da casa. Peguei uma tesoura
(Schere), fui ao banheiro, coloquei uma cadeira em frente do espelho (Spiegel)
e... foi dois créus. Cortei fora os rolinhos.
Depois fui ao guarda roupa e peguei
um quepe de soldado que era do meu tio Nande e coloquei na cabeça. Pensei
comigo: "Assim, quando a mãe voltar ela nem irá perceber". Mais tarde
quando ela voltou do trabalho me perguntou: Porque colocasse esse quepe de
soldado? Aah mãe, achei tão bonito esse quepe do tio Nande! Ela falou: Aah,
então tá. Vem cá, vamos pro banheiro (Badezimmer) que vou te dar banho!
Hein??? Uuaauu, começou a me subir um calorzão! Quando
ela tirou o quepe, vocês imaginam né? Ela chorou!
Aí...fazer o que? Levar ao barbeiro
(Friseur) que naquela época era só o que tinha, não existia ainda
"cabeleireiro", e acertar o corte. Porém, já nesse ano (1956) estava
nascendo minha primeira irmã (Schwester), a Cida, e então era só questão de um
tempinho para os cabelos da nova bebê crescerem e a mãe logicamente, colocou em
ação todo o seu próprio conhecimento de "cabeleireira". Hoje não sou
aquele "arroubo" de beleza, mesmo porque, meu corte de cabelo é bem
rasinho. Só que a gente vai conversando...e as ideias vão pipocando. Então
penso: "Será que não seria o caso de deixar as "madeixas"
crescerem até ficarem iguais ás do Wolfgang? . Pobre mãe! Onde você
estiver, beijos. Te amo! (Ich liebe dich!). Saudades!
O TAPUME:
A antiga Artex é separada da
rua Emilio Tallmann pelo ribeirão Garcia. Em 1956/57, ali onde as águas lambem
as terras da empresa, tinha uma barragem no ribeirão, que todos falavam “o
tapume da Artex”. Era inclinada uns 30 graus e com uns 3 metros de altura, com
a finalidade de represar, facilitando a coleta de agua para a indústria.
Quando fomos morar no Bêco
Tallmann, nos meses de verão meu pai ia na barragem a noitinha e andando sobre
ela, pegava simplesmente com as mãos, cascudos que se fixavam sobre a
superfície de concreto e se alimentavam do limo que nela crescia e também
subiam para a parte superior, alcançando o leito mais profundo do ribeirão. E
olha que eram cascudões, com 30, 40 centímetros de comprimento. Delícia! Mas
como tudo que é bom dura pouco, os cascudos foram diminuindo na mesma proporção
que os pescadores foram aumentando.
Na barragem, bem pertinho da
fábrica, via-se cardumes de piabinhas saltando para fora da agua, tentando
subir a inclinação e chegar a parte superior. Essa era a hora que pescadores
lançavam suas tarrafas para pesca-las.
Nos dias mais quentes de
verão, principalmente aos sábados, íamos para o tapume tomar banho e brincar
nas aguas, que naquela época eram limpas e cristalinas. Juntava-se a vizinhança
toda, crianças e adultos, além de pessoas que moravam bem mais afastadas, do
bairro da Glória, do bairro Zendron . A altura da água media uns 80
centímetros, talvez 1 metro nos lugares mais profundos. Da beirada do barranco
vínhamos correndo e pulávamos na “piscina”.
O Sr. Rolf Zeiler (diga-se:
Záila), nosso vizinho, trabalhava como eletricista na Empresa Industrial Garcia
e na sua casa, consertava eletrodomésticos, ferros de passar, motores,
chuveiros. Aliás, chuveiros daquela época, para abri-los e consertar, tinha que
remover uns oitenta parafusos. Ele era um homem bem alto com 1,80 m. a 1,90 m.
De pé, dentro do ribeirão, ele ficava com água pela cintura. Nós as crianças
ficávamos com agua pelos ombros.
Um de seus filhos era o Mirelo
que deveria ter 3 a 4 anos de idade. O Sr. Rolf pegava o menino e arremessava
para cima como se arremessa uma perereca. O menino subia e descia no ar,
oscilando braços e pernas, submergia na agua e em seguida emergia, soltando
agua por todos os orifícios possíveis. Mal dava tempo do guri respirar e já se
iniciava outro “arremesso de criança”, repetindo-se isso por 10 a 15 vezes, até
o homem cansar-se.
A entrada principal para o
Beco Tallmann era feito pela ponte (veja lado direito na foto), que ficava ao
lado da Cooperativa da E.I.Garcia. Debaixo da ponte tinha uma grande laje de
pedra e várias vezes vimos o Sr. Rolf mergulhar com uma fisga na mão, para
fisgar cascudos que se fixavam na laje.
Naqueles dias mais quentes de
verão, era comum ver-se jovens pulando do alto do corrimão da ponte nas aguas
do ribeirão para banhar-se. Conforme as empresas E.I.Garcia e Artex
prosperavam, aumentava também a poluição, chegando ao ponto de, diariamente se
ver águas completamente coloridas oriundas das tinturarias das empresas. Com
efeito, as pessoas também deixaram de banhar-se nelas.
Essa ponte que ligava a rua
Emilio Tallmann com a E.I.Garcia, foi construída em 1961 e demolida em 1982,
conforme relatado no Blog do Adalberto Day. Nunca aconteceu acidente grave,
pois tanto uns como outros estavam bem treinados. Graças a Deus, estavam todos
protegidos pelo Anjo da Guarda.
O Mirelo cresceu e ficou
bastante conhecido no bairro. Pegava sua caixa de isopor e saía caminhando
pelas ruas vendendo picolés. Conta-se que quando uma criança ou mesmo um adulto
lhe falava que não tinha dinheiro naquele momento, ele vendia mesmo em
confiança, que podia receber o valor num próximo encontro casual. Todos
gostavam muito dele, pois era pessoa de bom caráter, dócil, amigo, comportado,
honesto, trabalhador. Recebeu muitas homenagens quando faleceu tragicamente,
vítima de atropelamento, na rua Amazonas em 28/10/2017.
Foto: Acervo Adalberto Day
(Rua Emílio Tallmann e Tapume da Artex)
Sergio Cunha - 21/02/2018
OS DOCES
NATALINOS:
Minha
mãe não falava em alemão conosco, filho, filhas e nosso pai. Nem com suas irmãs
e irmãos. Mas ela falou com sua mãe e sua avó que era da Alemanha. Lembro que
perguntava para ela sobre algumas palavras, tipo, dedo (Finger), nariz (Nase),
olhos (Augen), boca (Mund), ouvido (Ohr), e ela respondia tudo, em alemão. Mas
como na cidade predominava o idioma português, então, não aprendemos o alemão.
Na época de Natal, tradicionalmente ela fazia os saborosos doces natalinos
(Weihnachtssüßigkeiten) e a gente gostava de ¨ajudar¨. Na verdade gostávamos
mais de beliscar e comer pedacinhos de massa cru. E ela para não perder tanta
massa falava: “Não comam massa cru pois isso dá dor de barriga”.
Quando
ela cortava a primeira fatia de um pão caseiro, perguntava: Quem vai querer a
“crustinha”? . Crustinha? E agora? De onde a mãe tirou essa palavra? Mãe, oh
mãe! Porque a senhora falou “crustinha”? Aah, porque ela é a primeira e a
ultima fatia do pão. É a casquinha, mais torradinha.
A
maioria das crianças evitavam comer porque era mais durinha. Então ela dizia
que “quem come a crustinha, fica com as pernas bem mais grossas e fortes”.
Recentemente é que descobri que a palavra tem origem no idioma alemão “krusten”
e significa crosta, casca.
Um
dia a gente estava tomando um cafezinho da tarde com docinhos pintados e também
daqueles docinhos de araruta. Eu tinha uns 13/14 anos, minhas irmãs mais novas
e dois amiguinhos, vizinhos. Então começamos a perguntar pra mãe, significados
de palavras em alemão: Mãe, como se fala passarinho? Ela respondia: Vogel. Como
se fala cachorro? Hund. Como se fala gato? Katze. Como se fala porco? Schwein.
Como se fala galinha? Huhn. Como se fala boi? Ochse. E outra criança perguntou:
Como se fala vaca? Kuh. Raaapaaaiz, foi um estardalhaço de gargalhadas
só
. Todos caíram em risadas.
Ela disse: Ééé, mas é isso mesmo, só que se escreve com K-U-H e não é o que
vocês estão pensando.
Feliz Natal e Prospero Ano Novo a todos. (Frohe Weinachten und
Gutes Neue Jahr).
5 comentários:
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Mei caro Adalberto,
ResponderExcluirAo ler este texto acabei viajando no tempo, tempo este que me lembro bem. Beco Tallmann, o tapume e como esquecer a ponte ao lado da cooperativa)meu primeiro trabalho com registro em carteira). Vivíamos nos banhando no tapume, e em toda a extensão do rio as margens da Emílio Tallmann, que aliás na época a rua tinha um espetor, o Sr. Tallmann.Que saudade. Parabéns pelo texto.
Muito bom. Conheci muito bem o Sérgio
ResponderExcluirOsni Wilson Melin
Sonia Ruth Anton Bauler Simplesmente viagem no túnel do tempo, dando até risadas. E as palavras, tão utilizadas como beco, tapume etc. Como é gostoso as vezes sair da realidade e embarcar no passado. Parabéns. Adorei. Muito obrigado
ResponderExcluirYara Marquetti Realmente são textos que trazem várias lembranças da minha infância
ResponderExcluirInfância cheia de aventuras, hein! Muito legal os textos!
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