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quarta-feira, 15 de março de 2017
- Russland I
Belíssima
crônica da escritora Urda Alice Klueger,nos relatando sobre ’A conhecida Nova
Rússia ou Russulana”.
(Para Elizabete Tamanini, Cesar Zillig e Juarez
Aumond)
Um dia, lá na aurora dos tempos,
este planeta Terra se formou todo quente e explodindo em vulcões e
derrames de magma; um dia, também, ele esfriou e veio uma primeira glaciação, e
depois, uma série delas, e aí nesse entremeio foi surgindo a Vida nas suas mais
diversas formas, e ontem à tarde eu caminhei por um pedacinho privilegiado
deste planeta, e era tão visível, ali, tantas destas coisas que vêm desde lá
dos tempos mais remotos!
Era uma
estradinha no lugar que quando eu era criança a gente chamava de Russland – hoje, aquele lugar
tão lindo é conhecido como Nova Rússia.
Fica em Blumenau/Brasil, e é uma reserva ecológica, que abriga nascentes de
bicas, arroios, riachos – e todas essas águas juntas acabam formando um rio, à
beira do qual costumo acampar.
E era no
finalzinho da tarde, assim já depois que o sol se pusera por detrás dos morros
altos, e uma fina camada de névoa azulada pairava sobre tudo e dentre tudo,
principalmente dentre as árvores daquele resquício de Floresta Atlântica ali
preservada, embora aqui e ali, dentro da floresta nativa, surja um Tannenbaum,
ou um eucalipto, ou florescidos antúrios plantados sob a mata, à beira da
estradinha – e embora exista por ali algumas casas de campo (eu diria:
casas-de-mato), escondidas nos lugares mais inesperados, e umas três ou quatro
propriedades rurais onde, em pastos de grama rasteira, vacas holandesas nos
olham bondosamente com seus grandes olhos líquidos e mansos, e também alguns
campings, e algumas outras curiosidades, como uma roça de cana, alguns jardins
e cachorros, pode-se dizer que a preservação ambiental, ali, é boa, e pode-se
embarcar nela e viajar para a história do passado deste planeta.
O que sempre
me chama a atenção primeiro é a estradinha, quase pendurada na encosta dos
morros altos e quase caindo sobre o rio, lá embaixo – como venho muito a este lugar,
tenho podido observá-lo nas mais diversas situações e estações do ano, e sei
que o único lugar onde ela poderia existir é onde está, que na outra margem do
rio é tudo perau tão escarpado, rochas abruptas disfarçadas sob a camada da
floresta, que não haveria como se ter criado tal estradinha do lado de lá –
assim como vejo hoje, depois de prestar muita atenção, muito gente, nos últimos
milênios, também viu onde era a passagem possível, e aquela estradinha, um dia,
começou a ser aberta e se tornou um caminho feito a pé de índio. Generalizo a
palavra índio por não saber o nome das tantas possíveis nações que um dia por
aqui passaram – afinal, desde a última glaciação, quando o mar recuou destes
lugares onde estou, quanta gente deve ter passado por aqui?
Faz século e
meio, lá por volta de 1860, que um
jovem imigrante chamado Julius
Bernhard Klüger, que foi o meu bisavô, também passou por aqui uma
primeira vez, e foi cultivar a terra da sua primeira colônia lá mais para os
confins da Russland, e o caminho já estava aberto. Mais adiante deste camping
onde costumo ficar, bem mais adiante, há um pequeno cemitério com muitos
parentes meus enterrados, comprovação inequívoca dos tantos meus antepassados
que um dia aqui vieram trilhar a estradinha aberta a pé de índio – e que pouca
modificação sofreu depois que os engenheiros e os imigrantes deram uma
melhorada nela, com tratores e enxadas.
Então, ao pôr
do sol de ontem, também eu estava a trilhar a estradinha, o rio espumante e
encachoeirado de um lado, lá embaixo, e as rochas partidas pelo resfriamento do
planeta, em outros tempos, a formar a base dos morros, do outro – e era-me
espantoso observar a quantidade de vida que se agarrava àquelas rochas, musgos,
líquenes, samambaias e outras plantas, cada uma tentando fazer o seu trabalho
de desmanche daquelas rochas que talvez estejam ali desde um antiquíssimo
primeiro derrame de lava aqui nesta região. Talvez aquelas rochas já tenham
passado por todo o calor e por tantas glaciações, e sejam testemunhas de todo o
tanto de vida que já aconteceu por aqui, desde a das plantas, quanto a dos
animais de diversos tipos, sabe-se lá quantos já extintos, e das diversas
nações de gente que por aqui desfilaram, inclusive a dos imigrantes, e sabe-se
lá em quantas delas havia pessoas do meu passado – e ali estão, portando seus
musgos e seus líquenes, e esperando que a próxima glaciação chegue, embora, por
enquanto, o mundo ainda esteja a esquentar, desde o último grande Frio... como
queria eu poder perguntar tantas coisas àquelas rochas! O quanto poderiam elas
me contar, que me escapa a este olhar limitado com que as olho!
Para saber mais acesse:
Blumenau,
14 de setembro de 2007.
Urda
Alice Klueger
Historiadora,
escritora e doutora em Geografia
3 comentários:
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Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirSem dúvidas tudo relatado no texto é de fato com muita riqueza de detalhes. Todavia, as citadas estradinhas de Índios, nos tempos de hoje estão bem piores do que desta época citada. Tem pouco tempo que estive no local, que continua lindo, mas se algo não for feito rápido pelo poder público, ou usuários desta localidade, certamente não teremos mais acesso a este lindo lugar. Veja vc que "as estradas estão se acabando por conta de erosões". E pasme vc , não tem nem associação de moradores naquela localidade, é lamentável. Com tudo ainda mantém o título de um belíssimo local...NOVA RÚSSIA
Nilton Sérgio Zuqui
Bom dia Professor Adalberto. Nova Rússia e região um dos pulmões da humanidade,como muitas outras florestas, umas respirando por aparelhos,e outras sobrevivendo como a Nova Rússia.São pessoas como você, Urda Alice,Lauro Eduardo Bacca,e outros que passam pelos escritos,e na tentativa de fazer ver e manter lugares como esse,e tantos outros vivos ,para que o ser humano tbm se mantenha por muito tempo na face da terra.Eu pessoalmente andei muito em minha juventude por toda essa região da Nova Rússia,todos esses lugares,Spitz Kopf ,Meu Pai nasceu e se criou por esse lado maravilhoso de Blumenau. Quando menino ia com meu pai,e já jovem íamos de bicicleta,carro etc... Lugares esses que deviriam ser mais divulgado e incentivado pra visitação pra dar a consciência que devemos manter e preservar, pois sem lugares assim onde vai parar a humanidade? Abraço e Obrigado sempre!!!
ResponderExcluirAdalberto realmente é verdade não se sabe hoje nem os nomes das raças dos Indios que ali viveram,quanto mais ver os Animas e as Aves, que ali ião para matar sua sede naquelas aguas cristalinas, que eté nos bebiamos e nos refrescava-mos, os Imigrantes e nossos antepassados destruiram tudo inclusive as familias Indiginas........mas pelo menos a natureza linda ainda ali esta. Abraços a Todos Valdir Salvador.
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