Filhos = - Walter Heiden - Maria Juila Boos - Valmor Heiden - Isabel Heiden - Anelore Heiden Bonomini
terça-feira, 25 de outubro de 2016
- Godofredo Heiden
Memorial à
Godofredo Heiden
Por André Luiz Bonomini
Senhoras e senhores,
amigos e amigas de A BOINA: Godofredo Heiden (Arquivo Pessoal / André Bonomini)
(Escrito em 13 de outubro de 2016)
É dia 13 de outubro, pós-feriado, chuva no
ar, e pela mente corre os acordes de Mário Zan, inigualável acordeonista cujas notas de sua Todeschini me fazem correr brevemente para um momento da
infância/adolescência. Hoje, dei um breve breque nas minhas notícias diárias
para prestar uma reverencia única ao meu avô, homem histórico para o Garcia e
inspiração até para o nome de nosso espaço:Godofredo Heiden.
Foi no 13 de outubro de 2014 que ele
despediu-se de nosso convívio, partindo com 101 anos de vida bem vivida e
registrada em histórias e mais histórias de um passado distante e um tanto
inocente. Quis o destino que sua partida para junto de minha avó – Maria Heiden – fosse num dia 13, seu número
preferido, e numa segunda-feira, onde há algum tempo e quase que
religiosamente, exercitava os dons de bailador no salão do CSRCT Garcia-Jordão, onde também tinha recordações mil dos tempos de grande atirador…
Quantos caprichos da vida.
Os pais: Ida Baumgart e
Henrique Heiden (Arquivo Pessoal / André Bonomini)
Godofredo, último dos irmãos da numerosa
família de Henrique Heiden e Ida Baumgart, nasceu num dia 19
de junho de 1913 na ainda diminuta cidade de Brusque, que ainda
descobria-se como o berço da fiação catarinense. Um ano em que ainda se ouvia
falar de Áustria-Hungria, de política do café-com-leite, imigração e que a guerra estava perto nas monarquias da Europa. Em
busca de uma vida melhor, a família atravessou a primitiva estrada de Guabiruba (hoje chamada
coloquialmente de SC-420) a pé, levando muitos dos
pertences em um baú surrado rumo a Blumenau, onde estabeleceu primeira
residência na Rua Belo Horizonte, bairro Glória.
O jovem Godofredo
(Arquivo Pessoal / André Bonomini)
Jovem, espoleta mas trabalhador, Godofredo
começou a garimpar a vida mesmo nas fileiras da Empresa Industrial Garcia (EIG), decifrando os segredos dos clássicos teares que costuravam o progresso
do bairro que emergia a sua volta. Longe do parque fabril, Godofredo aprendera
a domar uma de suas grandes paixões na vida: A gaita. Uma aparentemente tímida
gaita Hohner de botão, importada da
Alemanha, com 12 baixos, muitas belas canções tocadas e muitos causos contados.
Era um tempo mais raçudo
dos músicos que tocavam tudo de ouvido e aprontavam as maiores nos bailinhos da
região. Alias, entre bailes e contos de antigamente Godofredo tinha uma caixa
cheia de histórias, ávidamente ouvidas por mim independente de quantas vezes
ele as contasse para mim. Até posso ver a imagem daqueles dias: Sentado na mesa
da cozinha, implorando para que me repetisse algum daqueles causos e ouvindo
com a curiosidade saudável de uma criança.
A famosa Hohner da
década de 30 ou 40. Originalmente de oito baixos, com mais 10 colocados e uma
escala de quatro notas a mais (Arquivo Pessoal / André Bonomini)
Se eu fosse contar todos os causos de
Godofredo aqui iriamos ter um quase-livro neste post. O dia de furou o fole da
gaita depois de uma bebedeira inocente; os causos do sr. Vicente, que dizia
ter visto o diabo na Rua Julio Heiden e
quase matou um homem com tantos tiros na cabeça; as viagens para Iguape e São Paulo, começando com Malária e terminado cercados
de jagunços; a
perda do pai justo no dia que fora desligado do quartel; os causos do temo do
táxi, do armazém de secos e molhados e por ai afora… Não duvide, leitor amigo e
amiga, eu ainda vou contar mais sobre eles aqui no blog. Questão de tempo.Mas ah, Dindo…as
histórias que nunca esqueço. Elas moveram sua existência de tal maneira que
tornaram-se retratos da história e da batalha de um pai de família que apenas
queria construir uma vida tranquila para a Dinda e
para os seus na esquina do Progresso com a Guarapari, onde moramos até hoje. A vida permitiu que
ele encontrasse o amor junto de minha avó e, dele viessem cinco rebentos
que, direta ou indiretamente, carregam um pedaço de você, assim como hoje
carregam em suas lembranças.
O amor da vida: A jovem
Maria Heiden (Arquivo Pessoal / André Bonomini)
Entre as tantas
ocupações de vida – nos teares, como taxista, dono de armazém, músico e
entregador – talvez uma das mais nobres tenha sido a ocupação de avô. Das
histórias contadas no berço e lições que tomava nas broncas que dava, Godofredo
sabia como arrancar um sorriso de quem o visse. Tinha aquele jeito bonachão de
um bom senhor alegre com a sabedoria de quem havia vivido tantas coisas em um
tempo tão longo. A vida foi-lhe generosa em lhe dar uma resistência tão grande
quanto o carvalho, muito embora, assim como nós mesmos, as árvores também partem.
Não há mais as reuniões animadas dos netos e
sobrinhos na cozinha apertada dos fundos do 2405, como haviam no passado, não
há mais a gaita rasgando a noite para abafar os sons dos programas políticos, o
cheiro de galinha ensopada no velho Dako vermelho,
os pães amassados junto de minha avó, o terço da Rede Vida rezado e intercalado com cochiladas da
idade e nem a presença constante do vigilante moço de boina branca cuidando dos
gatos e jogando papo fora no velho banco.
Mas hoje não é um dia para entristecermos,
talvez até o velho senhor cujo nome em alemão significa a paz de Deus não quisesse assim. Nada destas
memórias é motivo para nos encolhermos no nosso canto lamentando, pois figuras
históricas e marcantes de nossa vida não morrem por completo, deixam pegadas na
trilha de nossas lembranças e que fazemos de tudo para que não se apaguem. E,
como neto, como esquecer Godofredo e suas histórias?
Amigo leitor, amiga leitora,
sei que devo ter me alongado muito neste memorial, mas quando se trata de uma
figura história – além de um amado avô – não posso me omitir a poetizar. Se
você, Dindo, estiver lendo em algum lugar lá em cima, ao lado da Dinda e de
outros tantos entes queridos e personas históricas do Garcia, saiba que tudo
está bem na terra, pelo menos no nosso lado. Sentimos sua falta, é verdade, mas
eu e tantos outros parentes e amigos não deixamos de toma-lo como inspiração na
vida, a começar por mim e pela boina que, independente do que os outros falam e
difamam, está na minha cabeça como herança constante de seus ensinamentos.
Obrigado sempre, Dindo! Um dia nos vemos por ai!
Arquivo de André Bonomini
Leiam: A Boina
________________________________________
Adendo de Lauro Eduardo Bacca que entrevistou o senhor Godofredo.
ENTREVISTA COM O SR GODOFREDO HEIDEN, em 13/06/2006.
Data de Nascimento = 19/06/1913
Local = Guabiruba, então Brusque
– SC
Cônjuge = Maria Constant
Filhos = - Walter Heiden - Maria Juila Boos - Valmor Heiden - Isabel Heiden - Anelore Heiden Bonomini
Filhos = - Walter Heiden - Maria Juila Boos - Valmor Heiden - Isabel Heiden - Anelore Heiden Bonomini
Endereço = Rua Progresso, 2.405 –
Blumenau – SC
Entrevistador = Lauro Eduardo
Bacca
Data da entrevista = 13 de junho
de 2006, aos 93 anos menos
três dias do entrevistado.
Local da entrevista = residência
do entrevistado.
Observações do entrevistador
entre [ ... ].
Dados da Entrevista:
O Sr. Godofredo informou:
- que tinha 19 anos e sua esposa
tinha 16 anos quando casaram-se;
- que foi casado durente 69 anos,
até sua esposa falecer e que tiveram cinco filhos e mais um adotado.
- que é sobrinho de Júlio Heiden,
nome de rua no bairro Progresso em Blumenau;
- que se criou na localidade de “Russolana”,
em Guabiruba, [que no mapa IBGE 1:50.000, folha de Botuverá, aparece atualmente
com o nome de Sibéria];
- que já mora há mais de 60 anos
em Blumenau;
- que foi o primeiro a ter carro da Artex
para cima, em Blumenau, uma camionete Chevrolet 1934;
- que morou na casa com fundos de
madeira e bela frente tipo enxaimel, que existiu até 02/05/2006 na esquina par
da rua Guarapari com a rua Progresso, onde também teve casa de comércio, ou
seja uma venda de secos e molhados quando a filha Julia tinha três anos e que
ali permaneceu pagando aluguel por 18 anos e dois meses, onde tinha duas
canchas de bocha, onde ele tocava gaita e era a única venda que tinha na
região, mudando-se depois para a outra esquina da mesma rua, onde está desde
cerca de 1960;
- que pegou dois ou três anos de
Guerra quando tinha a venda e que nesse período tudo era mais difícil, racionado, como o
açúcar, por exemplo;
- que mudou-se de Guabiruba para
Blumenau quando tinha seus sete anos, [portanto em cerca de 1920], para morar
na rua Belo Horizonte, atual bairro da Glória, e que por isso, pouco se lembra
dos primeiros anos passados na Russolana da Guabiruba, mas informou que na
Russolana o pai tinha Engenho de Farinha. Não se lembra de ter tido serraria
lá, mas antes de nascer o Stefano (Lauritz ??) tinha uma, naquela localidade;
- que do Garcia, quando veio de
muda, lembra-se da Empresa Industrial Garcia;
- que morou 30 anos sem luz
elétrica e que por muito tempo usou luz de bateria;
- que seu pai caçava, adentrando
no mato e chegando até onde nasce o Ribeirão Garcia;
- que caçava também, junto com o
irmão João, que na primeira vez pegou porco (o de queixo branco, [portanto o
queixada] na corrida, pois não caçava com cachorros. Já os parentes da rua da
Glória caçavam com cachorros;
- que gostava de caçar mais
“passarinho”, [denominação usada para aves em geral] e que caçava de tudo:
jacutinga, jacupema, etc. Jacutingas chegou a ver seis numa árvore, quando já
morava em Blumenau;
- que conheceu quase todas as
cabeceiras do Garcia (caçando) e que conheceu o Bepe quando já tinha duas
filhas e quatro filhos;
- que para ir ao Bepe o pior
trecho de passagem era o morro após a Serraria do Moretto, que antes passava
por cima, agora é por baixo, evitando o tope feio;
- Informou que conheceu a Nova
Rússia já pelo caminho atual [e não pelo acesso através do Jordão];
- que em Blumenau conheceu tudo.
Especificamente sobre as matas do atual Parque Nacional, lembra que na Terceira
Vargem tinha uma Serraria dupla, tocada com uma única caldeira (locomóvel)
e que lá tinha também umas 4 ou 5 casas, a estrada no meio e a serraria do lado
direito;
- que o Leopoldo Zahrling tinha
Serraria na Nova Rússia, especificamente na Segunda Vargem e na Terceira Vargem
a serraria dupla;
- que o Leopoldo Zahrling tinha
400 toras cortadas no mato, na Terceira Vargem, mas chegou à conclusão de que
era mais lucro deixá-las apodrecer no mato do que puxar até a serraria para
serrá-las;
- que o Knapel [que outros
entrevistados chamaram de Knapa e um outro supõe ser Knaper] tentou buscar
estas toras. Quando veio embora, no topo do morro olhou para trás e viu fumaça
... (A Serraria da Terrceira Vargem estava queimando)?;
- que na região do Bepe chegou a existir
uma serraria, na região de Águas Pretas;
- que foi comerciante, tinha 5 –
6 cavalos e com eles ia para o Encano;
- que o Tallmann tinha uma
Serraria no Encano junto com o Sr. Masen;
- que sobre possíveis áreas de
mata ainda virgens, informou que entre o Jordão e a Nova Rússia, o Sachtleben
tinha 120 morgos de terra, “que ia até Gaspar e não deixava cortar nada” e que
mais para dentro, no seu tempo, era tudo mata virgem e que uma vez viu seis canelas
(-pretas) de cerca de um metro de diâmetro, na Buraqueira, no Encano;
- que nas Minas (de Prata) era
muito ruim para subir, para ir a pé para o Encano;
- que na Chapada (ponto mais alto
da estrada, então caminho que ia para o Encano), viram revirado de terra de
porco, com pegadas fresquinhas de onça-pintada e que a água ainda estava suja
da sua presença;
- que viu a onça-pintada morta na
Toca da Onça em Blumenau, sobre um Ford 1948;
- que subiu o Spitzkopf várias
vezes e que uma vez desceu pela água e saiu no Encano;
- que não sabe se ainda tem mata
virgem no Spitzkopf, pois “tiraram muita madeira”;
- que sobre acidentes de caça
soube de um genro do Roepke e que na família houve um acidente desses;
- que seu irmão João sempre dizia
que ....///????;
- Sobre sua vida social, contou
que entrou como sócio do Clube de Caça e Tiro Jordão depois da II Grande Guerra
e que foi Rei do Alvo ou Rei do Tiro e que suas filhas foram damas e ele foi
ainda duas vezes Primeiro Cavalheiro e uma vez Segundo Cavalheiro e que o café
do Rei era na casa do Rei, mais ou menos como hoje. Tocava também na Orquestra
Jazz Ideal, que se apresentou no Teatro Carlos Gomes, no Hotel Elite; tocava um
acordeão italiano, muito lindo, que vendeu para poder comprar uma camionete
pick-up e saiu da orquestra em cerca de 1942.
- Ainda sobre suas atividades,
foi taxista por 20 anos, foi mascate na região do Alto Vale do Rio Itajaí do
Norte e que ia com o seu carro, junto com o vendedor Alfredo Krug e que ainda
foi tecelão por 17 anos, sendo 13 anos na Empresa Industrial Garcia e 4 anos na
Artex S/A.
- Voltando ao assunto CAÇA, disse
que comentava-se que iam proibir a caça por 5 anos mas que a proibição
permaneceu até hoje;
- que seu pai chegou a matar
jacutinga até num cafezalzinho que tinha;
- que nos últimos anos que
caçaram, mataram 31 jacutingas em três caçadas, na área do Moreira Bastos (no
Braço do Encano) e que não matavam mais por que não tinha como carregar os
bichos mortos;
- que aos sábados, na rua
Progresso, diante de sua Venda, “era só carroça passando e latidos de
cachorros” do pessoal que se dirigia às matas do Garcia e Encano, para caçar
nos fins de semana;
- ainda sobre bichos de caça, comentou
enfático: “oh, comemos muuuita carne de anta e que viu uma sendo carneada no
Bepe e naquela mesma manhã, pelas dez horas, vieram com mais um veado abatido e
que uma semana após viu outra anta.
- sobre ideia de reintrodução,
ele acha que daria certo “só se os caçadores não caçarem mais”;
- informou ainda que parou de
caçar quando foi proibido, “para não ser preso, ir para a cadeia” e que não
tinha graça ir caçar com medo dessa possibilidade;
- Sobre o Parque Nacional da
Serra do Itajaí, disse “que é bom ...”, apenas;
- Sobre SECAS, disse que nos
fundos de seu terreno, que tinha mais de 600 metros de fundos, um ribeirãozinho
chegou a secar, mas não se lembra o ano;
- sobre o nome do morro
Bugerkopf, disse que sempre o conheceu com esse nome;
- sobre ÍNDIOS, disse que seu pai
chegou a ver um mas ele mesmo não viu.
[FIM da entrevista].
"arquivo de Lauro Eduardo Bacca e Parque Nacional da
Serra do Itajaí"
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Bom dia Professor!
ResponderExcluirEspero poder ler todos os relatos.
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirNunca vou me cansar de ler tais histórias, pois querendo ou não fazem parte da construção do nosso bairro e de nossa cidade, não o conhecia mas é uma bela história assim como todas que vc me oportuna de ler. Muito obrigado por mais este magnífico relato da família exposta no texto a cima.
Não tive oportunidade de conversar diretamente com ele, apenas bom dia, boa tarde, mas vie ele sempre e sempre com semblante sereno tranquilo e de bem com a vida, e deveras é inspirador ler esta matéria
ResponderExcluirValeu
Abração
Att:
Maestri / LC
André e Adalberto
ResponderExcluirMe lembro bem dele e seu Taxi.
Carlos Hiebert
O Velho BOINA.
ResponderExcluirQue DEUS o tenha.
Abraços
Henry Georg Spring
Belo relato do neto André L. Bonomini, Adalberto;
ResponderExcluirtenho uma entrevista que fiz com ele aos 93 anos, com foco nos aspectos ecológicos testemunhados por ele ao longo de sua longa vivência. Interessar-te-ia para postares no teu blogo? Posso enviar-te o resumo anotado, já que o gravador falhou.
baitabraço,
"Ecordialmente"
Lauro E. Bacca
Adalberto e André.
ResponderExcluir101 anos é uma dádiva.
Deixou um legado.
Jairo Santos