ESTABILIDADE E INEFICIÊNCIA
Por Cezar Zillig/Neurologista em
Blumenau
Cezar Zillig é médico, neurocirurgião de formação,
atuando em Blumenau desde 1978.
Entre 2004 e 2015 foi colunista semanal do Jornal de Santa
Catarina.
Publicou os seguintes livros:
Dear Mr. Darwin “A intimidade da correspondência entre Fritz
Müller e Charles Darwin”. 1997.
Dose o Stress, Tempere a Vida. 1998.
Fritz Müller: Reflexões Biográficas. 2000 [em co-autoria]
De Ventos e Brisas. (poemas) 2000.
Fritz Müller, Meu Irmão. [2004]
Foto divulgação Internet
Em Blumenau e região, temos ótimos servidores públicos e que nem
necessitariam de estabilidade para bem servir. Servidores de carreira que poderiam até exercer cargos públicos e de confiança dos governantes. Aos nossos bons funcionários públicos nossa admiração e estima. Dia do Servidor público 28 de outubro.
Como ocorre frequente em consultórios
médicos, mormente nos de psiquiatria, neurologia, recentemente atendi um
paciente que estava arrasado, chutando o pau da barraca. A causa de seu
infortúnio era curiosa, bizarra: aposentado depois de mais de trinta anos na
iniciativa privada em Blumenau e sentido-se ainda com energia, aceitou um convite para
atuar como secretário da fazenda num pequeno município. Afinal, uma experiência
nova, pensou. E aí começou o calvário que culminou na procura de socorro
médico. Acostumado com coisas como
disciplina, hierarquia, eficiência, não conseguiu engolir alguns subalternos
relapsos, preguiçosos, vadios, acostumados a se refugiar atrás da excrescência
chamada "estabilidade no emprego". A tal da "estabilidade" é
um defeito congênito, uma espécie de microcefalia, que acomete o funcionalismo
público brasileiro em todos os níveis. (Existiria em também em outros países?
Países sérios?)
A justificativa, segundo consta, é proteger o
servidor de perseguições políticas quando da alternação do poder. Pode ser, mas
na iniciativa privada também há troca de poder e ninguém, que tenha valor,
perde emprego por causa disto. Ademais, as leis trabalhistas do setor privado
já são suficientemente paternalistas para proteger muito bem o trabalhador, de
tal maneira que a "estabilidade" inventada para o setor público é
totalmente casuística, demagógica, servindo apenas para promover a ineficiência
e proteger os péssimos "concursados", como muito bem experimentou o
meu infeliz e deprimido paciente. Ressalte-se que bom servidor não necessita da
proteção desleal da "estabilidade". Desleal para com o cidadão, o
contribuinte que paga por um serviço caro e que em geral é muito mal prestado.
O fato de meu paciente não ter sobrevivido
entre os indolentes "trabalhadores estáveis" indica que ele tem
estômago, que não se deixou contaminar pela cultura da ineficiência. "Nem
o próprio prefeito consegue fazer um servidor de má vontade trabalhar",
bravejava o desiludido homem.
A questão não se esgota por aqui; o assunto
continua. Quando se pará para pensar a respeito, se conclui que as consequências
deste detalhe aparentemente inofensivo tem um efeito deletério impactante para
a sociedade. É apenas um dos tantos males insuspeitos que assolam este pobre
país e sua gente.
ESTABILIDADE E INEFICIÊNCIA II
A relação entre empregado e empregador, é um
contrato de compra e venda: um vende a sua operosidade e o outro paga por ela.
Se isto não for cumprido, o contrato terá que ser rompido; a tal da
"estabilidade no emprego" é uma cláusula leonina onde desde o início
fica claro que o contrato não poderá ser rompido, mesmo sem a contrapartida do
serviço prestado. (Para alguém ser demitido em regime de "estabilidade no
emprego" necessita quase cometer um crime hediondo para que o empregador -
o estado - lhe ponha no olho da rua!)
"Estabilidade no emprego" é uma
carta branca para o indivíduo só trabalhar quando e o quanto quiser. Neste
regime empregatício, poucos são os servidores produtivos, que têm iniciativa,
que enxergam e executam o trabalho a ser feito. Uns poucos que carregam o piano
enquanto o resto faz pouco mais que figuração.
É imoral. É a mãe do corpo mole e da
ineficiência; é uma das razões do porquê no setor público estar sempre faltando
efetivo, sempre há longas filas, as obras levam séculos para serem concluídas e
ainda por cima são de baixa qualidade.
Desacorçoado em meio da maior crise de
incompetência já vista no país, o povo acredita que basta tirar do poder os
governantes atuais e demais figurinhas funestas da república que tudo estará
resolvido. Ledo engano. Enquanto existir a deformidade da
"estabilidade", o brasileiro continuará a ser mal servido. Mal
servido em qualquer área: rodovias, trânsito, saúde, segurança, educação, etc.
Afinal, a interface do governo (Federal, estadual e municipal) voltada para o cidadão
pode ser representada por um servidor desmotivado que não vê a hora de ir para
casa ou se aposentar. E antes que o desolado contribuinte reclame, lhe apontam
o indecente aviso encontradiço em repartições, mormente nas piores, com o
profilático Decreto Lei nº 2.848 de 07 de
Dezembro de 1940, Art. 331 -
Desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois
anos, ou multa.
Uma verdadeira mordaça.
Mesmo a maior carga tributária do planeta não
está sendo suficiente para manter o inchado setor público brasileiro. O mais
irônico é que alegam ser este um regime democrático: do povo, pelo povo e para
o povo!
Que tal perguntar ao povo o que ele acha da
estabilidade no emprego praticada no setor público?
Texto dr. Cézar
Zillig
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirPrimeiro que um texto primoroso,já respondendo a pergunta feita no texto, "enquanto vivermos com políticos corruptos nunca haverá mudanças, por tanto vai continuar a grande maioria dos serviços públicos muito ruin". Claro que não vamos generalizar ,pois neste meio temos ótimos profissionais(é bem verdade que a minoria). Entendo que quando se cria uma lei erronia desta(estabilidade) já é criada com segundas intenções, pois somente para eles se perpetuarem em tais cabides de empregos públicos, lamentável. Com tudo ,volto a repitir texto primoroso, parabéns.
Prezado Dr Cezar Zillig, seu texto contém muitas verdades, porém em nenhum momento podemos generalizar. Sou aposentada pelo serviço público do Estado de São Paulo, professora e como tal não existe e não existia a menor possibilidade de deixar o "paletó na cadeira". Assim como há médicos e médicos. Alguns sequer levantam os olhos do papel para fixá-los no paciente; fazer o exame clínico, nem pensar, além de muita rispidez para com o paciente.Tenho sofrido isso na pele e mais, com pessoas idosas. Logo, existe sim a falta de responsabilidade em qualquer profissão. Penso ser uma questão de educação.
ResponderExcluirPor outro lado, se o indivíduo tem estabilidade é tão somente por ter prestado um concurso e não por ser colocado no cargo por apadrinhamento. Se teve capacidade para ser aprovado, merece a estabilidade.
Nossas experiências são muitas em se tratando do serviço público. Todos os dias temos estes dissabores.
ResponderExcluirA mordaça existe e a mentira também a fortalece.
Conhecemos pouquíssimos servidores que trabalham e são criticados pelos colegas.
São preguiçosos, sem educação, autoritários, 'chefinhos' e normalmente não estão lotados em uma função adequada.
E, falando em prefeito, um de Ipatinga-MG perdeu as eleições, por fazer os funcionários da saúde trabalharem e tratarem bem os pacientes. Pronto, foi o suficiente para uma grande campanha contra o mesmo.
Uma laranja e ele se tornou ficha suja.
O que foi, o que é, sempre o será!
"Alguns - médicos - sequer levantam os olhos do papel para fixá-los no paciente; fazer o exame clínico, nem pensar, além de muita rispidez para com o paciente."
ResponderExcluirProfissionais deste tipo deveriam ser botados incontinenti no olho da rua!
Agora, se forem servidores "concursados", continuarão a prestar este tipo de (de)serviço até se aposentarem.
A tal da "estabilidade" talvez seja a principal razão para a indolência tão frequentemente encontrável em repartições públicas.
Médicos inclusive.
Cezar Zillig
BOM DIA!EXISTE UMA CONSTITUIÇÃO QUE NELA ESTA QUE OS DIREITOS SÃO IGUAIS PARA TODOS! SÓ QUE TEMOS DOIS EXEMPLOS FALHOS: SAÚDE DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO(Não lembro o artigo)E SE NÃO ME ENGANO NO ARTIGO 50: SEGURANÇA DIREITOS IGUAIS PARA TODOS INDEPENDENTE COR RAÇA, OU POSIÇÃO SOCIAL ETC...(É APLICADO?) Enquanto existir a deformidade da "estabilidade", o brasileiro continuará a ser mal servido. Mal servido em qualquer área: rodovias, trânsito, saúde, segurança, educação, etc. Citei dois exemplos que existe no papel e não são respeitados :Saúde,e Segurança. Os dois estão ligados a estabilidade no funcionalismo publico: EXEMPLO: SE A PESSOA COMUM CHEGA A UM DESSES AGS DA VIDA Pra reclamar os direitos delas a um especialista, a um exame de alto custo, ou mesmo baixo,QUAL A RESPOSTA Q SE RECEBE? VC VAI TER QUE AGUARDAR, E NÃO SE ALTERE POR ESTA SUJEITO AS PENAS DA LEI QUE PODEM O LEVAR A PRISÃO COM PENAS E ETC...OU SEJA VC É MAL CUIDADO PESSIMAMENTE ATENDIDO E TEM Q CALAR A BOCA, O Q da ao Funcionário publico a segurança de te XINGAR,DESACATAR sem vc poder reagir. ISSO É UMA VERGONHA COMO DIZ O SR JORNALISTA Boris Casoy. POR ESSAS E OUTRAS QUE SOU CONTRA A ESTABILIDADE!ACHO QUE VC DEVE SE MANTER NO EMPREGO POR MÉRITOS A SERVIÇOS PRESTADOS.E QUANTO A CONSTITUIÇÃO: PRECISA SER REVISTA COM URGÊNCIA, POIS NELA A MUITAS BRECHAS QUE CABEM EMENDAS ABSURDAS. ISSO ALGUM DIA VAI MUDAR? NÓS VAMOS VER ESSA VERGONHA MUDAR? DESCULPE ME ALONGAR GRANDE ABRAÇO!
ResponderExcluirQue bom poder ler as crônicas do Dr. Cezar Zillig, meu dileto amigo e colega de faculdade!
ResponderExcluirCezar, parabéns pelo que escreve e como escreve!!
Sucesso e vida longa para este blog !