Depoimento do ex goleiro Lourival Barreira (Barreira),
campeão pelo Grêmio Esportivo Olímpico de Blumenau pelo estadual de 1964. O título foi decidido no dia 25 de abril de 1965.
Barreira e Ézio
DE
REPENTE FORMOU-SE UM GRUPO DE CAMPEÕES
Éramos
20 (vinte) atletas que fazia parte do reduzido plantel de futebol do Grêmio
Esportivo Olímpico de
Blumenau.
Tudo
começou em meados de fevereiro de 1964 quando fui procurado pelo Sr. Aducci
Vidal e mais dois diretores do Olímpico em frente ao portão principal do
Morumbi, oportunidade que recebi o convite para fazer parte do plantel do
Grêmio Esportivo Olímpico de Blumenau.
O
meu contrato com o São Futebol Clube iria terminar somente em 31/05/1964 e meu
passe ou atestado liberatório ao termino do contrato estava estipulado em CR$
2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros).
Após
meu interesse de ir para Blumenau os diretores entraram em contato com a
diretoria do São Paulo na pessoa do Sr. Vicente Feola, que de imediato não se
mostrou interessado na minha transferência definitiva e sim por empréstimo
alegando que eu era muito jovem e tinha um futuro promissor no São Paulo.
A
partir daí as coisas ficaram difíceis, pois o São Paulo para empréstimo de um
ano solicitava Cr$ 800.000,00 (Oitocentos mil cruzeiros).
Mesmo
assim eles não desistiram e foram em minha residência quando ficou acordado
entre nós caso conseguisse junto ao São Paulo minha liberação os valores
referentes à minha transferência seriam acrescidos em minhas luvas. A partir
desta proposta eu fui pessoalmente até a diretoria do São Paulo e consegui o
que parecia impossível minha liberação definitiva.
Assim
em 14 de março de 1964 assinei meu contrato com Olímpico, passando a fazer
parte daquela família.
No
momento em que fui apresentado aos novos colegas percebi que se tratava de
pessoas serias e que estavam dispostas a formar um grupo vitorioso.
O
entrosamento da equipe foi quase que imediato, graças ao comando do Aducci
Vidal um excelente técnico que soube dirigir e conduzir o time com resultados
favoráveis ao longo do campeonato.
Barreira (Goleiro} 50 anos após , em 2015 com a camisa comemorativa dos cinquenta anos da conquista do bicampeonato que recebeu de Marcelo Greul, filho de Nilson capitão grená.
Foi
um campeonato muito duro e longo que se iniciou em 1964 e terminou em 1965.
Todos os clubes que participaram eram de cidades distantes e as viagens além de
longas se tornavam muito cansativa, pois às estradas na época não eram
asfaltadas e acarretava um desgaste ainda maior.
O
quadrangular final foi muito difícil às equipes se equiparavam tecnicamente e
graças várias atuações individuais que conseguimos muitos resultados
favoráveis.
Salvo
melhor juízo, foram 46 jogos sendo 30 vitórias 10 empates e somente 6 derrotas,
63 gols a favor e 32 contra atingindo 70 pontos ganho. Marca esta que nos
tornamos campeões do Estado em 1964.
Acervo: Suelita Beiler
A
equipe que jogou a última partida contra Internacional de Lages foi formada com
os seguintes atletas: Barreira, Paraguaio, Orlando, Nilson (capitão), Jurandir,
Mauro, Paraná, Lila (Quatorze), Rodrigues, Joca e Ronald.
Vencemos
por 3x1, gols de Rodrigues (3) e Joia fez o gol do Internacional de Lages. O
jogo foi realizado no dia 25 de abril de 1965.
A
campanha foi excelente todos cumpriram com seus deveres e obrigações traduzindo
toda nossa expectativa com a comemoração do título catarinense de futebol de
1964, somando-se ao campeonato de 1949 conquistado anteriormente pelo Olímpico.
Ficha técnica do jogo:
OLÍMPICO 3
Barreira, Paraguaio,
Orlando, Nilson e Jurandir; Mauro e Paraná; Lila (Quatorze), Rodrigues, Joca e
Ronald. Técnico: Aducci Vidal.
INTERNACIONAL 1
João Batista, Nicodemus,
Airton, De Paula e Carlinhos; Roberto e Dair, Puskas, Jóia, Sérgio (Nininho) e
Anacleto.
ARBITRAGEM: Gerson
Demaria, auxiliado por Nilo Eliseo da Silva e Silvano Alves Dias.
GOLS: Rodrigues,
aos 26 minutos da primeira etapa, aos 13 e 38 do segundo tempo. Jóia descontou
aos 10 da etapa complementar.
EXPULSÕES: Nininho e Roberto do Internacional.
RENDA: Cr$ 3.216,500
Todos os campeões de
1964
Lourival BARREIRA (goleiro);
Adilton RODRIGUES Martins (Centroavante) ORLANDO Silva
(lateral); João Sequinel Neto (JOCA) (meia cancha); Orlando José Costa (PARAGUAIO)
(lateral); João Carlos Beduschi (LILA) (meia cancha); ROMEU Paulo
Fischer (zagueiro), Alfredo Cornetet (QUARTOZE) (centroavante); ROBERTO P.
Nascimento (zagueiro); NILSON Greuel (zagueiro); MAURO
Longo (meia cancha); Carlos Heinz Faber (PARANA) (meia cancha);
José GONÇALVES (atacante); MARCOS Oerding
(goleiro); MAX Preisig (MAQUI) (ponteiro); Biramar José de Souza (BIRA)
(meia cancha); EUDES Ribas Guimarães (lateral), ÉZIO Fernandes
de Oliveira (Goleiro); JURANDIR Marques (Lateral); RONALD
Olegário Dias (ponteiro). Técnico: ADUCCI VIDAL, Médico Walmor Belz,
Massagista Frederico Capela, preparador físico Hamilton Curi e roupeiro Osmar.
Também fizeram jus às
faixas de campeão, além do presidente Curt Metzger, os diretores do
departamento de futebol, Rui Motta, Antônio Rodrigues da Costa, Zani Rebelo,
Stanislau Storlaczek, João Gregório Pereira Gomes, Werner Eberhardt, João
Silva, José Marcolino Netto.
Está aí amigos um simples resumo de alguns
fatos que culminaram com a bela campanha de 1964. Infelizmente a maioria do plantel que
participou desta bela jornada já não se encontram entre nós.
Um grande abraço
Lourival Barreira.
25 de abril de 2015
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Carta
Aberta a Lourival Barreira
Jamais
poderia imaginar que, nesta altura da vida, acabaria por me tornar amiga de
Barreira, o goleiro do Grêmio Esportivo Olímpico, time de Blumenau que, nos
idos da minha infância, tornou-se campeão catarinense de futebol. Tal aconteceu
no campeonato estadual de futebol de 1964, e com meu pai, eu assisti ao jogo e
lembro inúmeros detalhes dele, até de como a torcida do Internacional de Lages
botou fogo na faixa do nosso time, pendurada no alambrado do campo.
O
fato é que o tempo passou e o milagre da Internet me permitiu começar uma
amizade com Lourival Barreira, hoje respeitado advogado no Estado de São Paulo.
E no dia de hoje acabei por ler um relato do próprio Barreira no blogue do
Adalberto Day, aqui da minha cidade, onde ele relembrava exatamente aquele jogo
e as coisas que o precederam. Dentre elas, Barreira se referia a Feola.
Quem
ainda se lembra do Feola, sabe dizer quem foi Feola? Nossa, como eu lembro de
Feola, técnico da Seleção Brasileira de Futebol que, em 1958 foi campeã
mundial! Parece que vejo agora as fotos de Feola nas páginas da revista O
Cruzeiro – vem-me uma enxurrada de lembranças, e como eu gostaria de ter aqui,
agora, o meu pai, que tanto gostava de futebol, para conversarmos sobre tudo
isso! Já que o meu pai partiu tão cedo, achei que deveria conversar com alguém
do futebol daquele tempo, e é por isto que estou a escrever esta carta a
Lourival Barreira.
Conto
a Barreira como contaria a meu pai um dos muitos momentos maravilhoso que o
futebol me proporcionou na vida, e estou a lembrar do dia em que conheci Zagallo!
Eu já havia visto Zagallo uma vez, quando o Flamengo jogou em Blumenau e eu
estava no restaurante aonde o time veio jantar, depois do jogo, com direito a
ver Zico e tudo. A mesa onde eu estava parou, petrificada, congelada, a olhar
para Zico, mas Zico não me fez a cabeça: meu fascínio era olhar para a lenda
viva que, para mim, era Zagallo!
Passaram-se
diversos anos, no entanto, até eu conhecer Zagallo de verdade. Eu tinha ido a
Brasília para ir ao Supremo Tribunal Federal ajudar a defender o boi da Farra,
o pobre boi da famigerada e vergonhosa Farra do Boi que ainda grassa em certas
partes deste meu Estado de Santa Catarina, embora eu tenha nos meus arquivos
cópia do Acórdão do Supremo Tribunal Federal que, naquela altura, proibiu a
Farra do Boi sob qualquer aspecto e terminantemente. Eu andava (ando) na luta
contra a Farra do Boi e soube, naquele sábado à noite que teria que estar em
Brasília na segunda de manhã. Foi uma correria. Eu ainda batia ponto e tinha
que avisar ao meu gerente que faltaria na segunda feira – devia ser o ano de
1997, acho, quando até telefone ainda era coisa difícil, e mal e mal consegui
deixar um recado com um colega para que me justificasse junto ao gerente. E
houve problema de neblina, atraso de voos, etc., mas acabei chegando ao Supremo
com algum atraso. Muita água rolou debaixo da ponte, naquele dia e no outro,
coisa para outro texto, e estava toda preocupada que demoraria mais um dia a
voltar – como me justificar com o meu gerente?
Naquela
segunda-feira à noite alguém me levou para o hotel em que ficaria, em Brasília,
e entrei nele pasma pela quantidade de repórteres e cinegrafistas que tomavam
conta de toda a recepção, centenas e centenas deles, e fiquei muito curiosa:
Farra do Boi despertava a atenção da imprensa, claro, mas não tanto assim. O
que estava acontecendo ali? O rapaz da recepção me informou: nada mais nada
menos que a Seleção Brasileira de Futebol estava hospedada ali!
Fremi!
Acho que como todo o amante do futebol, pensei que acabaria por ver a Seleção,
mas em vão – ela estava em ala separada do hotel, fazia as refeições em
separado, etc. De qualquer forma, era uma coisa maravilhosa estar respirando o
ar do mesmo hotel que a nossa Seleção!
Foram
acontecendo coisas, no entanto. Havia um hall cheio de portas de elevadores, e
eu estava ali a esperar quando uma das portas se abriu - e o elevador estava
recheadinho de jogadores um pouco atônitos por estarem no andar errado – a
porta fechou e eles sumiram, como num passe de mágica. Ou como, no final do
jantar em um dos diversos restaurantes do hotel, quando uma enxurrada de
repórteres adentrou onde eu estava, seguindo Romário, que ia dar uma entrevista
coletiva. Não tive nenhum pejo de ficar em pé atrás do bando de repórteres,
assistindo a entrevista, e no final chegar perto de Romário e lhe dizer, com a
minha voz mais trêmula de tanta emoção:
-
Romário... queria que você soubesse que lá no sul do Brasil você tem uma fã...
Já
era emoção mais do que suficiente, mas a maior aconteceu na manhã seguinte,
depois do café da manhã, de novo no tal hall de elevadores. Uma porta se abriu
e saiu Zagallo, e meu coração escorregou até o pé ao me ver frente a frente com
Zagallo! Para mim, aquele era o Zagallo de 58, de 62, de 70, de 94 – era algo
como uma divindade, era como um anjo na minha vida, e fui diretamente a ele e
segurei sua mão com as minhas, e acho que ele ficou um pouco envaidecido com
toda aquela minha tietagem, pois parou e me deu a maior atenção. A emoção era
tanta que não faço ideia do que falamos, mas conversamos, com certeza sobre
aquelas coisa de 58, 62, 70, 94... Nem me passou pela cabeça que alguém poderia
estar vendo aquilo, mas havia um repórter que viu e fotografou – e no dia
seguinte, quando eu ainda não voltara para trabalhar, aquela foto saiu na capa
de um jornal de circulação estadual, aqui em Santa Catarina – e eu virei a
heroína do meu gerente!
Quando
voltei, certa de que ia levar uma bronca, encontrei o banco onde trabalhava
cheio de cópias daquela foto em todas as paredes e meu gerente tão orgulhoso de
mim que só faltava me carregar no colo!
Era isto que queria contar, Lourival
Barreira! Meu pai não chegou, a saber, disso,
havia partido antes, e então agora eu te tomo como confidente. Tantas alegrias o
futebol me deu, tantas! Talvez tudo tenha começado lá naquele campeonato de
1964, naquele jogo em que tu foste o goleiro! E talvez não tivesse lembrado de
tudo isto, hoje, se tu não tiveste falado no Feola!
Valeu, Lourival Barreira! Obrigada!
Blumenau,
27 de Abril de 2014.
Urda
Alice Klueger
Escritora, historiadora e doutora em Geografia.
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Barreira e seu comentário:
Prezada
Urda bom dia!
Foi
com grande emoção que li a Carta Aberta onde você fez questão de deixar público
às emoções vidas por você através do futebol.
Nesta carta você fez relatos de muita importância para
você, principalmente a imagem de seu pai como sendo o seu herói, grande amigo e
companheiro e a ausência dele lhe traz muitas saudades e recordações.
Quanto ao futebol sempre lhe trouxe grande alegria e
satisfação, até mesmo depois de tantos anos, quando você ainda era uma criança
teve a oportunidade de assistir juntamente com seu pai a partida final, ocasião
em que chegamos a conquistar o campeonato de futebol de Santa Catarina com o
Olímpico de Blumenau, clube e cidade do meu coração.
Ademais, com o advento da internet como você bem
salientou, pudemos trocar alguns e-mails começar uma nova amizade.
A respeito das pessoas que citei em meu texto como o Sr.
Vicente Feola, tive a oportunidade de conviver com ele durante as duas
temporadas no São Paulo Futebol Clube. Ele era o Vice Presidente do São Paulo
no departamento de Futebol profissional, aliás, foi com a concordância dele que
consegui minha transferência definitiva para o Olímpico.
Ficou evidente que com minha citação do Sr. Feola é que
despertou sua capacidade de externar os seus sentimentos a paixão pelo futebol,
como sempre elaborado de forma clara e precisa.
Mediante ao que você relatou quem agradece a você sou eu
muito obrigado Urda.
Um grande abraço.
Barreira.
Para
saber mais sobre o Olímpico acesse:
Muito grato pela lembrança.
ResponderExcluirO futebol de Blumenau precisa muito de suas lembranças.
Luis Carlos Koch
Presidente LBF - Liga Blumenauense de Futebol
O Técnico Aducci Vidal era primo de minha mãe.
ResponderExcluirConheci o Barreira, vinha muito na nossa oficina junto com Sr Bücheler, diretor do Olímpico e do Hoepcke.
Henry Georg Spring
Belo relato!
ResponderExcluirOs clubes de SC jamais podem abdicar de suas conquistas, de suas histórias.
O que foi colocado pelo goleiro Barreira é motivo suficiente para que em todos os anos, nesta data, o GE Olímpico fizesse uma comemoração.
Há que se preservar a memória histórica do nosso futebol!
Saudações AvAiAnAs!
André Tarnowsky Filho
Parabéns ao grande goleiro Barreira e ao Beto pelo post.
ResponderExcluirParabéns Adalberto, mais uma vez recordando e registrando fatos do esporte blumenauense. Me recordo de todos esses nomes que vc menciona e vários deles se radicaram para sempre em Blumenau. O comandante desse título foi o Sr. Kurt Metzger, à época representante dos brinquedos estrela em SC.
ResponderExcluirBelo depoimento do Lourival Barreira que realmente foi uma "barreira" no gol grená. Postei no face minha homenagem aos 50 anos da grande conquista do Grêmio Esportivo Olímpico com os gols da partida final que eu narrei pela Rádio Nereu Ramos ao lado do comentarista Álvaro Correa. Aliás, Álvaro e eu somos poucos, senão os únicos remanescentes do rádio de Blumenau que transmitiu a final de 25 de Abril de 1965. Quem quiser ouvir os gols acesse Edemar Annuseck no facebook. Parabéns pela matéria Adalberto Day e pelo depoimento do meu amigo Barreira, hoje advogado em São José dos Campos, no Vale do Paraíba.
ResponderExcluirBELA CONQUISTA
ResponderExcluirMuito boa a matéria Adalberto, foi justamente no ano que nasci.
Um abraço.... Enéas de Souza
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Que lindo, Adalberto! Já sabes que eu estive presente naquela final, junto com meu pai. Lendo o texto, agora, fiquei com muita saudades dele, que gostaria de ter revivido tal coisa também! Há meses devo a resposta de um e-mail para o Barreira – quem sabe tu já encaminhas estas minhas duas linhas para ele!
ResponderExcluirGrande abraço,
Urda Alice Klueger.
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirMais uma vez nos brindando com uma história espetacular, quando é contada sobre tudo com detalhes, certamente fica ainda mais rica.
Está história ocorreu no ano do meu nascimento, por tanto não sei de muita coisa,dai a importância de sempre acompanhar seus textos. Parabéns .
Boa tarde
ResponderExcluirBelas lembranças, "as estradas ainda não eram asfaltadas" e eu tinha na época 8 anos e era pouco ligado no futebol, embora brincasse muito com a bola com os amigos.
Sei que o G.E. Olímpico era um grande time na época, orgulho para o futebol da cidade. Bons tempos!