COMO ERA A IMPRENSA "ALTERNATIVA" EM
BLUMENAU NO LONGÍNQUO ANO DE 1926
Mais uma participação exclusiva do jornalista e escritor Carlos Braga Mueller (foto) que hoje nos apresenta um relato sem alteração da grafia da
época, do antigo Jornal “O Espião”.
Por Carlos Braga Mueller
Em 1926 o cinema ainda não tinha entrado
na era dos filmes sonoros. Era tudo mudo, pantomima pura, com legendas
inseridas a cada instante na tela para que se pudesse entender o enredo dos
filmes.
Ao mesmo tempo em que o filme era projetado,
alguém proporcionava um fundo musical ao vivo, geralmente um piano.
Eram tempos românticos? Ou puro saudosismo
daqueles que foram as testemunhas desse passado?
Pois a imprensa blumenauense já dedicava
espaço, e muito, ao cinema.
Embora não conste referência no livro "A
Imprensa em Blumenau", do historiador José Ferreira da Silva,
circulou em Blumenau na década de 20 do século passado um periódico, que
hoje seria chamado alternativo, chamado "O Espião".
No subtítulo lá estava: "Orgam critico e
noticioso".
Herdei de minhas tias alguns exemplares deste
jornal, que circularam em Blumenau a partir do ano de 1926.
Tenho apenas do número 2, de agosto de 1926, ao
número 8. Não sei se ele durou muito tempo mais. Cabe pesquisa a respeito.
Mas pela sequência de edições que possuo em meu arquivo,
ele era semanal e vivia a base de fofocas sobre os integrantes da sociedade
blumenauense.
No número 2 os diretores são Evilázio Heusi e
Antônio Reinert. O redator (ou redactor, com se escrevia na época) era Heitor
Ferraz.
Já no número 3 Heitor Ferraz não aparece mais
como "redactor" e no número seguinte Antônio Reinert assume a
redação e Evelazio Heusi permanece como "Director responsável".
Nesta mesma edição, de número 4, datada de 5 de
setembro de 1926, uma nota na capa do jornal, tamanho tablóide, destaca:
"Coitado...
Lastimo sinceramente, o nosso ilustre amigo
Heitor Ferraz mandar tirar o seu nome do cabeçalho do "O Espião".
Domingo último em conversa commigo (grafia da
época) disse-me
o seguinte:
Eu mandei retirar o meu nome do cabeçalho do
"O Espião" porque não estou para apanhar; diversos rapazes já
disseram-me que, se eu publicasse os seus nomes neste jornal, havia de me sair
caro, mas em todo caso vou esperar a sahida de alguns números, se nada
acontecer, aos meus companheiros, tornarei a ser Redactor novamente."
Como se depreende, fofoca pura, brincadeira
entre amigos.
Ainda na capa desta edição aparece esta nota:
Varandão da Casa São José
Foto: Arquivo HJFS
"Cine São José"
Esta bem acreditada empreza
cinematographica focalizará hoje à noite em sua tela o lindo e sentimental
drama intitulado "Os Homens de Amanhã", dividido em 8 partes.
Em vista da boa projeção do novo apparelho tem
sido bastante concorridas as suas sessões." (Mantivemos a grafia da
época).
Por que dividido em 8 partes? Fácil explicar: o
projetor era apenas um e como o filme vinha em 8 rolos de
celulóide, o operador era obrigado a dar os intervalos para trocar de rolo.
Era quando o pessoal aproveitava para ir tomar
uma geladinha no bar.
Mas onde ficava o Cine São José de Blumenau ?
Antigamente existia uma
construção, bastante ampla, situada na Rua 15 de Novembro, fazendo fundos
para o Rio Itajaí Açú.
Era o Hotel São José, localizado onde
hoje está a Ponte Adolfo Konder, que dá acesso à Ponta Aguda.
Em frente, de lado a lado, se situava um
varandão, cuja proteção servia para amarrar ali as montarias.
Depois o salão principal do hotel abrigou um
cinema. O São José também foi utilizado, durante anos, como estação
rodoviária, até ser demolido.
E é justamente ao cinema naquele local, que
fazia concorrência ao cinema do senhor Busch no Salão Holetz, que
se refere o jornal "O Espião".
No número 3 este jornal também estampou uma
extensa matéria sobre filmes, com o título "Cinematica".
Dizia, na grafia de então, o seguinte:
"Como em outras partes aqui também
existem os admiradores da scena muda (explico: o cinema era conhecido como
"scena muda"). Sabem comprehender o valor dos bons films quando
trata-se de trabalhos instructivos e moraes.
A convicção disso está na enchente que vem tendo
em suas contínuas funcções a nova empreza que é o "Cine S. José",
cuja extréia verificou-se a 25 do corrente (25 de agosto de 1926).
D'ahi o numero sempre crescente de
frequentadores áquella casa, dado o momento opportuno de assistir a exhibição
de bons films que os nossos emprezarios não medem sacrificios para exhibil-os
Eis agora, a olho visto, a razão porque outros
cinemas locaes lutam, as vezes com difficuldades para manter em dia seus
programmas.
É que a não ser os Jucas que vêm assistir o
trabalho assombroso do "mocinho" Jack Holt, Hoot Gibson e
mais, outros não ha applaudir essa immensidade de heróes...
Vaqueiros profissionaes já temos os gaúchos e
que devemos consideral-os superiores aos phantasticos norte-americanos.
Films que agradam actualmente os bons
admiradores da scena muda, são aquelles que reproduzem heroismo e bravura a que
foram capazes homens e mulheres dos tempos remotos.
Collecção de féras, manada de bufalos, aventuras
camponezas, nada disso nos ilude mais.
Quanto a esses outros dramas representando uma
louca paixão do amor á primeira vista, que digam os Sulús caiados e as Nenês
coloridas.
Com a apresentação de films nesse gênero, o
"Cine S. José" tem proporcionado horas de agrado geral, motivo porque
estão de parabens os seus dirigentes."
Como vemos, uma verdadeira "crítica"
aos celulóides que Hollywood já nos impingia naqueles tempos, com heróis do
faroeste que nada tinham a ver conosco.
Quando a redação do jornal "O Espião
refere-se a "outros cinemas", sabe-se que na época funcionava o
cinema Busch no Salão do Hotel Holetz e provavelmente existia outra
sala de cinema na Casa Comercial e Padaria Katz, que ficava na
esquina da Rua 15 de Novembro com a Alameda Rio Branco, depois ocupada
pela Casa Kieckbusch. Hoje no local existe um prédio que abriga a Casa
Flamingo.
Ainda a respeito do Cine São José, vale
lembrar que os frequentadores, quando necessitavam um mictório ou lavatório,
tinham que descer por uma escadaria íngreme até o porão, que ficava à beira do rio.
E assim, entre jornais fofoqueiros e sessões de
cinema mudo, transcorria a vida na pacata Blumenau de 1926.
Texto e arquivo do jornalista e escritor Carlos Braga Mueller
Parabéns ao grande Carlos "Charles" Braga. Buscar coisas relacionadas à Blumenau de 88 anos é muito bom. Assim os mais novos blumenauenses tomam conhecimento do que nossa cidade vivenciou.
ResponderExcluirEdemar Annuseck
Curitiba - PR
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirComo é bom entender um pouco do cotidiano do nossos primeiros moradores desta bela cidade Blumenau.
Veja você , eu não tinha ideia de que havia mais um ou o primeiro cinema em Blumenau(São José) até então eu sabia dos três tradicionais, BUCH,MOC,AMAZONAS, talvez estejam errados os nomes, mas vc me entende.
Muito bom o texto excelente matéria, que alias eu achava que era escrito em alemão(O ESPIÃO), e pelo que vi (foto)não.
Parabéns ao amigo Braga Müller por ter garimpado esta relíquia. Sim, porque sequer aparece na longuíssima lista de jornais, informativos, etc. que José Ferreira da Silva abordou em seu 'A Imprensa em Blumenau'. Pela forma com que a escreveu, entende-se que o fez a partir de exemplares existentes no Arquivo Histórico. Esta omissão pode indicar que na época não existiam exemplares no acervo do arquivo. Abraço!
ResponderExcluirOlá amigo Aldalberto,tenho visto teu Blogger e mostro para meus filhos e eles apreciaram muito a historia de Blumenau
ResponderExcluirAndré Luiz Bondavali
Olá,
ResponderExcluirVisitei teu site, achei muito legal. Gostaria de sugerir que fizesse uma matéria com o Pudim Medeiros, que era uma delícia,
Matéria com fotos da fábrica, dos seus fundadores e fotos das embalagens do pudim e essências para matarmos a saudade..è preciso registrar essa memória também;
Abraço
Maurício
Grande Carlos Charles Braga Muller, é isto? bem que este seja mais um degrau, da subida de tua coroa de o rei dos reportes catarinense ira receber um dia , Abraços seu amigo. Salvador.
ResponderExcluirParabéns pela excelente postagem!
ResponderExcluirEspecialista em Como Resgatar Dinheiro de Consorcio Cancelado, Sao Paulo - SP