Blumenau, 10 de janeiro de 2014.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
- Revivendo Blumenau
(Para Eduardo Venera dos Santos Filho)
Hoje, de novo, saí em busca do
passado. Subi a pequena encosta que leva à Igreja Luterana segurando na mão o
coração tremeluzente de densa saudade. Estivera lá em cima diversas vezes nas
últimas décadas – afinal, sempre alguém se casa, ou morre, ou se batiza, e há
os túmulos dos antepassados – mas sempre subi com os olhos e o coração fechados
para a emoção, sempre passei de raspão, sem querer olhar, sem querer lembrar –
mas hoje fui lá especialmente para ver.
Fiz
os cálculos: mais ou menos aqui se estacionava o carro. Ali embaixo era pasto,
e quando chovia muito, ficava tudo inundado, e depois vinha o sol e naquela
água parada se refletia o azul do céu e as nuvens vogando livres... E veio a
lembrança da liberdade ali, lugar onde ninguém passava em dia de trabalho,
abrigo certo e perfeito para quem estava tão, mas tão, mas tão apaixonado
quanto nós. Era como se a ternura e o carinho não tivessem ido embora e
pairassem por ali, em girândolas coloridas, e até agora, tarde da noite, ainda
estou em dúvida se as girândolas estavam ou se foi só produto da minha
imaginação.
Desviando
um pouquinho o olhar, tinha sido o campo de futebol, Palmeiras Esporte Clube, e
entre uma coisa e outra, a rua estreita e tortuosa, a única que havia então.
Tudo mudou; a rua se multiplicou em diversas pistas lotadas de carros em
movimento, e já não há campo de futebol nem nada é mais como foi: a paisagem está
suja de uma imensidade de prédios e prediozinhos, um deles de vidros tão
espelhados que parece que nem existe, e a gente só o descobre porque espelha
aquela paisagem borrada que parece ter nascido do sonho de um pintor louco. Tudo mudou mesmo: coisas como
grandes supermercados enchem a base do morro, e a encosta, que tivera elegante
fileira de azaleias que juntos vimos florir por toda uma primavera, agora está
coalhada por aqueles arbustos e outras coisas, como moitas de taquaras.
Mais uma vez olhei para as árvores:
qual delas estivera ali naquela época, qual nascera depois, haveria testemunhas
dos tempos que amor tão grande ali vinha se abrigar à sombra da igreja? Uma
placa indicou-me duas palmeiras que ali estavam desde o século XIX – portanto,
havia testemunhos vivos daqueles tempos tão maravilhosos que até parece que
foram só de sonho... Indagava-me que outras plantas de então estariam ainda
vivas, e então apareceu o zelador do local e conversei com ele, que sabia com
exatidão que aquela árvore tinha 27 anos e coisas assim – pude tirar uma medida
de quem ali estivera naquele tempo do nosso tempo e, enquanto conversava com o
zelador, cumprimentava silenciosamente as velhas testemunhas daqueles momentos
que pensava que estavam perdidos lá no passado.
Deba demolido a partir do dia 23/09/2007
Blumenau, 10 de janeiro de 2014.
Crônica
de Urda Alice Klueger/Escritora
4 comentários:
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Prezados Urda e Adalberto,
ResponderExcluirA beleza do texto da Urda é mais uma prova viva de que os mais antigos, como nós, fomos privilegiados por vivermos em uma época que as lembranças que carregamos se referem a momentos, pessoas e lugares.
Parabéns,
Flavio Monteiro de Mattos
ResponderExcluirBeto, aqui de longe, vivi e revivi com D Urda Alice Klueger estes lindos e eternos momentos de felicidade.
Quem tem estas lembranças para recordar, não passou somente pela vida... VIVEU!
Dê a ela o meu abraço carioca
Marília
Por acaso, ao abrir o meu celular, deparei com esta linda e sensível crônica, que não pude deixar de ler e que me fez também voltar no tempo. Estou no interior de Minas, passando a Semana Santa com meus pais. Esta leitura me recordar e sentir saudades. A minha rua era de terra batida onde eu jogava finca e brincava de queimada. Hoje, a rua mais congestionada da cidade de PONTE NOVA, MG. Adorei o acaso. A escritora me proporcionou um lindo momento de recordação. Obrigada! Mônica Pataro.
ResponderExcluirpretty nice blog, following :)
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