Cine Busch - Cine Blumenau - Cine Garcia
Mais uma participação exclusiva e especial do renomado escritor, jornalista e colunista, Carlos Braga Mueller, que hoje nos relata sobre o encontro de exibidores catarinenses e proprietários de cinemas. Encontro este que ocorreu nos dias 29/30/abril de 1970 em Blumenau.
Por Carlos Braga Mueller
Nestes relatos, que agora chegam ao número 20, temos nos reportado aos acontecimentos que marcaram a história do cinema em Blumenau.
Hoje, vamos falar de um fato importante, um encontro de exibidores (proprietários de cinema) catarinenses que aconteceu em Blumenau no ano de 1970.
Algum tempo atrás, o ex-exibidor Alvacir Ávila me mostrou uma foto deste encontro. Fui atrás de mais detalhes e falando com outro ex-exibidor, Herbert Holetz, ele localizou dados interessantes no seu arquivo, facilitando a compreensão do que aconteceu naquele evento.
TELEVISÃO: PERIGO A VISTA PARA OS CINEMAS !
1969/1970 ! Os cinemas em Blumenau ainda estavam no apogeu. Na cidade existiam 5 salas: Busch e Blumenau, no centro; Cine Garcia, no bairro do Garcia, Cine Mogk na Itoupava Norte e Atlas na Vila Nova.
A televisão incomodava pouco. Chegavam ao município imagens com muitos chuviscos, de uma repetidora do Canal 6 – TV Paraná, de Curitiba.
Mas em 1969 foi fundada TV Coligadas de Santa Catarina em Blumenau. Um ano depois era inaugurada a TV Cultura de Florianópolis. E quase todo mundo ficava em casa, assistindo televisão. Ao cinema iam apenas os apaixonados/viciados na chamada “sétima arte”.
OUTRAS AMEAÇAS RONDAVAM OS EXIBIDORES
Para piorar as coisas, o INC – Instituto Nacional de Cinema, órgão federal, era tão severo na sua fiscalização que proibia até que os donos de cinemas dessem ingressos cortesia a título promocional. Se alguém desse uma cortesia, era obrigado a trocá-la na bilheteria por um ingresso, que estava sujeito ao recolhimento das taxas e impostos (Prefeitura, Imposto Estadual, ECAD e INC).
Os cinemas também eram “obrigados” a exibir filmes nacionais 56 dias por ano, e falava-se que logo este número seria dobrado, passando para 112.
Um terror, na época, porque os filmes nacionais era “detestados” pelo público, em virtude da falta de consistência comercial dos filmes do chamado “cinema novo”.
Resultado: espertalhões criaram as “pornochanchadas”, aproveitando o mote das “chanchadas”, comédias inocentes dos anos 50, adicionando erotismo como apelo para faturar.
Os direitos autorais cobravam percentual sobre o ingresso, a Prefeitura idem, o INC idem, o Estado impunha um famigerado Imposto de Transações ...
A REAÇÃO
Havia chegado o momento dos exibidores tentarem dar um “basta” a tudo isto.
Eles adotaram, inclusive a nível nacional, uma tática, hoje conhecida como “lobby”, e saíram atrás de candidatos a deputado federal que defendessem os interesses da classe, de preferência que fossem também exibidores.
Conseguiram apenas um, em São Paulo, Braz Nogueira.
Em Santa Catarina, os exibidores tiveram no Senador Antônio Carlos Konder Reis um defensor da causa, em Brasília.
FILAS ... DE FISCAIS, NAS PORTAS DOS CINEMAS
Fiscal da distribuidora do filme marcando quantas inteiras e quantas meias entradas estavam sendo vendidas ...para cobrar percentual sobre a receita da bilheteria !
Fiscal de Menores ... Fiscal da Prefeitura...
Taxa e impostos a pagar. E a televisão roubando os frequentadores do cinema !
ENCONTRO DE EXIBIDORES PARA BUSCAR SOLUÇÕES
Foi então que, em Santa Catarina, os exibidores se organizaram, através do Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas dos Estados do Paraná e Santa Catarina, que tinha sede em Curitiba e um Delegado Estadual em Florianópolis.
O presidente era o paranaense Ismail Macedo, enquanto a delegacia em nosso Estado era exercida por Jorge Daux, tradicional exibidor da capital catarinense.
Foi marcado, então, um grande “encontro” de todos os exibidores catarinenses: o ENCONTRO DE BLUMENAU, que foi realizado nos dias 29 e 30 de abril de 1970.
Todos os exibidores foram convocados através de circular expedida pela Delegacia Estadual do Sindicato dos Exibidores.
A reunião foi realizada na sede da ACIB – Associação Comercial e Industrial de Blumenau, cuja sede ainda ficava no Edifício Mauá, na Rua 15 de Novembro, nº 600.
O programa elaborado, do qual Herbert Holetz possui um no seu arquivo, dizia o seguinte:
“Dia 29/4/70, às 14 h início dos trabalhos.
Pauta:
- Devolução do Imposto de Transações
cobrado anos a fio dos exibidores, em virtude
do Sindicato ter ganho a causa em favor de
toda a classe (*).
- Cinema nacional
- Direito autoral
- Tabelamento dos cinemas
- Censura de menores
- Carteiras de estudante
- Filmes e carvões (**)
- Debates e palavra livre.
(*) Este imposto depois passou a ser o de Vendas e Consignações.
(**) carvão era o material importado, usado para criar a luminosidade das lanternas, para projeção dos filmes.
Dia 30/4/70, às 8,30 h. reabertura dos trabalhos.
- Soluções finais
- Memorial de Reivindicações.
Às 10 horas
- Recepção às autoridades
Às 13 horas
- Banquete em homenagem ao Senador Antônio Carlos Konder Reis.
O almoço foi servido no recém inaugurado Restaurante Frohsinn, no Morro do Aipim, onde foi tirada a foto que ilustra esta matéria.
Na circular enviada aos exibidores, o presidente do Sindicato, Ismail Macedo, alertava:
“Compareça sem falta. Agradecemos a sua cooperação. Tudo será feito em defesa de V.Sa. e da própria classe.”
CINEMA NACIONAL: 112 DIAS POR ANO !
Ironia ou não, menos de 60 dias depois, em 30 de junho de 1970, o Instituto Nacional de Cinema baixou a Resolução 38, aumentando para 112 o número de dias ao ano em que era obrigatória a exibição de filmes nacionais, o que gerou mais protestos dos exibidores e estimulou as pornochanchadas, de duvidosa qualidade.
FOTO HISTÓRICA
A foto que registrou o encontro dos exibidores em abril de 1970 reuniu verdadeiros “cobras” da cinematografia catarinense daquela época.
Além do Senador Konder Reis e do Vereador de Blumenau Armando Bauer Liberato (o 1º da esquerda), lá estão: Caetano Deeke de Figueiredo e Osvaldo Pereira (Cine Blumenau); Herbert Holetz (Cine Busch), Reynaldo Olegário (Cine Garcia), Alvacir Ávila (Cine Atlas), Haraldo Mogk (Cines Mogk de Blumenau, Gaspar, Pomerode, Indaial e Timbó).
Entre os vários participantes, aparecem na foto também o delegado do Sindicato, Jorge Daux , Sr. Lenzi dos Cines Luz e Itajaí, de Itajaí,
Irmãos Gracher do Cine Real de Brusque e Sr. Bratti, do Coliseu, também de Brusque.
O toque feminino: a única mulher presente era a secretária da Delegacia do Sindicato em Santa Catarina.
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Texto: Carlos Braga Mueller/arquivo de Carlos Braga Mueller/Adalberto Day
Prezado Carlos,
ResponderExcluirAcompanhar essas suas resenhas sobre cinema nos transportam realmente para um dos mundos em que o ser humano é mais fantástico, aquele da arte de contar uma história.
E que toda a cultura de um povo está inserida.
Veja o exemplo, na década de setenta viamos o belo "Dona Flor e Seus dois Maridos", do romance de Jorge Amado, com a potranca Sonia Braga e músicas do Chico Buarque.
Hoje somos apenas uma "Tropa de Elite II".
Abraços,
Cao
Carlos,
ResponderExcluirO cinema me fascina, por isso estou sempre de olho no blog, aguardando teus resgates históricos.
Abraço,
Valdir