A Rodoviária de Blumenau ainda se situava na Rua 7 de Setembro, esquina com a Rua Padre Jacobs, mas o "Correio" tinha como destino a agência do Correio no início da Alameda Rio Branco, em frente ao Cine Busch, onde descarregava as cartas e encomendas destinadas a Blumenau, e carregava as malas postais daqui para outros destinos. Depois seguia em frente, noite afora, levantando poeira...rumo à sinuosa Serra de Jaraguá.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
- O ônibus do Correio
Mais uma bela colaboração de Carlos Braga
Mueller/Jornalista e escritor, nos relata sobre
O Transporte dos correios através dos ônibus da Auto Viação Catarinense.
Por Carlos Braga Mueller
- O Correio já passou?
Esta era uma pergunta
comum que as pessoas faziam lá pelos anos 60 nos bares, armazéns, etc., que
ficavam às margens das rodovias que ligavam as cidades de Florianópolis e Jaraguá do Sul, principalmente tarde da noite,
quando não havia mais linha de ônibus regular, e a última solução era
pegar o "Correio"...
Mas afinal, como é que funcionava esta linha de ônibus conhecida por todos como
o "Correio”?
Voltemos cinquenta anos
no tempo...
1960, 61, 62, 63, o
asfalto ainda não pavimentava as antigas estradas em nosso Estado. Eram todas
de barro...
Foi então que a Auto
Viação Catarinense, empresa de passageiros pioneira no sul do País, fez um
convênio com o Correio para transportar as malas de correspondência da região
do litoral e do norte do Estado, para agilizar a entrega do que se postava em
Florianópolis, Itajaí e Blumenau com destino às demais regiões do Brasil, pelo
sistema "via terrestre", garantindo inclusive uma entrega mais
segura.
É interessante lembrar
que naqueles tempos você podia escolher: sua carta poderia seguir por via
aérea ou via terrestre. Se fosse por avião custava mais caro e o envelope
era diferenciado, em papel mais fino e especial, com tarja verde amarela. O
texto também tinha que ser escrito em papel de carta especial, que era finíssimo
e transparente, ou seja, o envelope devia pesar o mínimo possível, porque você
pagava pelo peso.
Ao despachar via aérea o
remetente ficava tranquilo, com a certeza de que o destinatário receberia a
correspondência o mais rápido possível.
Já as cartas e encomendas por via terrestre custavam bem menos, em compensação
demoravam mais para chegar ao destino.
A LINHA DO CORREIO
O Grupo JCA, que em 1995
assumiu o controle acionário da Auto Viação Catarinense, no histórico da
empresa registra o seguinte:
"O transporte de
encomendas também era feito pela Catarinense desde os primeiros tempos. Como
não houvesse serviço oficial de correio, nem qualquer forma de prestação
regular desse tipo de serviço, a empresa logo se destacou por entregar as
encomendas sem danos, já que, até então, era muito comum que fossem extraviadas
ou danificadas pelo caminho. Elas eram transportadas em carros exclusivos, e
quando nasceu a empresa de Correios, a Catarinense foi sua parceira, em carros
que transportavam encomendas na parte traseira e passageiros, na
frente."
Por falta de
informações, não se sabe ao certo o horário em que partia de Florianópolis
(devia ser pelas 20 h), mas era comum que o ônibus do "Correio"
passasse por Itajaí lá pelas 21,30 horas; em Ilhota era pelas 22,00 horas que
ele passava, depois seguia por Gaspar, Blumenau, Pomerode, até chegar , de
madrugada, em Jaraguá do Sul, importante polo de redistribuição, via férrea, do
norte catarinense.
De manhã o trem misto
(carga e passageiros), que ligava São Francisco a Porto União, com conexões
para Curitiba ao leste, São Paulo ao norte e Porto Alegre ao sul, se incumbia
de levar as cartas do "Correio" para seus destinos.
A característica do
ônibus da Auto Viação Catarinense que fazia esta linha era "sui
generis": chamava a atenção a carroceria especial, metade para
passageiros, com 12 lugares, e metade (a de traz) fechada, para abrigar
as malas postais.
A Rodoviária de Blumenau ainda se situava na Rua 7 de Setembro, esquina com a Rua Padre Jacobs, mas o "Correio" tinha como destino a agência do Correio no início da Alameda Rio Branco, em frente ao Cine Busch, onde descarregava as cartas e encomendas destinadas a Blumenau, e carregava as malas postais daqui para outros destinos. Depois seguia em frente, noite afora, levantando poeira...rumo à sinuosa Serra de Jaraguá.
Estas informações são
baseadas em lembranças; por isto, e para ajudar na reconstituição da história,
se alguém que também viveu estes fatos, e sabe de mais detalhes, por favor
colabore, enviando suas memórias para este blog. Elas serão incorporadas ao
texto na forma de adendos.
CURIOSIDADES
O motorista do ônibus do
Correio pisava fundo... Se você, noite fechada, precisasse aquela condução (foi
algumas vezes o meu caso), a recomendação dos ribeirinhos das estradas era
firme:
- Te joga na frente do
ônibus, senão ele não para!
E era verdade. Não sei
se a instrução era para não parar no meio do trajeto, e somente nas agências do
Correio, ou se era "pirraça" do motorista; mas ele fazia de tudo para
não parar.
Algumas vezes eu estava
em Ilhota, lá por volta de 1964, onde tínhamos arrendado o Cine São Luiz, e
quando a sessão de cinema acabava, pouco antes das dez da noite, tínhamos que
nos "jogar" em frente ao ônibus para que o motorista nos visse e
parasse (50 metros a frente, tamanha era a velocidade com que ele vinha).
Segundo dados históricos
da Auto Viação Catarinense, a linha do Correio Florianópolis-Jaraguá teve sua
origem exclusivamente por causa da parceria da transportadora com o Correio, e
não através de concessão do Estado, como seria normal.
Mas deu tão certo, que
depois, mesmo com a extinção da linha do Correio, o trajeto continuou sendo
atendido pela Catarinense, dando origem também à linha Florianópolis/Mafra, a
qual persiste até hoje com vários horários e demanda satisfatória.
Muitas destas
informações, assim como as fotos do ônibus, nos chegaram por intermédio
do senhor Theodor Darius, que tem o mesmo nome de seu avô, um dos fundadores da
Auto Viação Catarinense, ao qual agradecemos pela colaboração (Carlos Braga
Mueller).
Texto Carlos Braga
Mueller. Arquivo Theodor Darius
22 comentários:
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Amigo Adalberto
ResponderExcluirMais uma das belas histórias do amigo Braga. Conta-se também que em bares as pessoas entravam no estabelecimento e perguntava "já passou o Catarinense" era a pergunta se o ônibus daquele horário havia passado. Com a resposta afirmativa o cliente pedia uma cerveja. Ou seja o Catarinense era a referencia e de certa forma a pontualidade funcionava como relógio para iniciar a rotina da cervejinha diária.
José Geraldo Reis Pfau
Interessante como as coisas evoluem rápido.
ResponderExcluirApesar de todos os seus problemas, os correios são um serviço eficiente e seguro.
Bela história!
A rodoviaria já foi na transversal da Padre Jacobs?E quando era na 7 de setembro próximo da Igreja MAtriz?Foi em que período?
Desculpe o equívoco... essa que estou falando é a rua Padre Jacobs, estava confundindo em minha cabeça com a rua João Pessoa! :(
ResponderExcluirBoa tarde Adalberto
ResponderExcluirbelíssimo resgate histórico.
não lembro deste ônibus-correio, apenas da Rodoviária na Rua 7 de setembro.
o tempo passa, trazendo consigo mudanças...
abraço
A história de Blumenau ainda é muito pouco conhecida, e só agora começam a vir a público fatos relevantes, que ajudaram a construir esse mosaico cultural que formamos. A região da bucólica Nova Rússia, lá no final do Progresso, é um exemplo disso. Os brasileiros, em geral, imaginam que Blumenau é uma cidade alemã, quando na verdade nossa cidade é muito mais cosmopolita do que se pode imaginar.
ResponderExcluirBraz dos Santos
Andei muito nesse aí. Era meio passageiros e meio correio. Essa linha do Correio passava por Jaraguá do Sul. Iámos com este ônibus até Jaraguá, dormíamos em casa de conhecidos e no dia seguinte pegávamos o ônibus da Rex que subia até São Bento do Sul. Era uma verdadeira odisseia...
ResponderExcluirMarcus Kellermann
1967 - Toda sexta-feira Florianópolis-Blumenau, para passar o findi em casa...
ResponderExcluirSergio Roberto Maestrini
Dieter Altenburg Sim tmbém. viajávamos no ônibus do coorreio.Chegavamos cedo no encruzo de Porto Belo.Agora esta explicado o"porque" dum motorista ter o apelido de (VENTANIA).O outro motorista ,muito atencioso, chamava-se "Frank", já mencionado em comentarios anteriores
ResponderExcluirLembro-me que nos anos 50 quem levava a correspondência a e a distribuía pelo caminho até Itajaí (4 horas) era o velho Adolfo,avô do Decio Lima.
ResponderExcluirRubens Heusi
Cheguei a conhecer a rodoviária da Rua 7, em uma das visitas que fiz com o meu pai.
ResponderExcluirQuando era pequeno, usava estes envelopes com o famoso "via aérea" e tarjeta verde e amerela, mas nunca entendi a razão.
Agora está explicado.
Abraços,
Paulo R. Bornhofen
Não me canso de ler estas historias.Veja vc.jamais eu poderia imaginar o Correio por esta Empresa tão conhecida no Estado Catarinense,muito bom saber de mais esta historia.
ResponderExcluirOlá amigo, Beto
ResponderExcluirCumprimento por mais esta bela matéria do Carlos Braga Mueller.
Por favor, transmita o nosso abraço também para ele.
AS
Ahá! Já andei num desse, era o último a sair! Metade correspondência e metade passageiro. Relíquia!
ResponderExcluirOseas Nascimento
Lorena Karasinski Quando era criança, lá pelo final dos anos 40, inicio dos anos 50, ia passar as férias em Rio Cerro II. Não tinha luz elétrica e quando chegava a noite eu começava a chorar. Meu tio dizia me mandar para Blumenau com o Correio. E assim ficava sentado comigo na varanda em uma cadeira de balanço até que eu adormecesse. Já quando namorava meu marido, vinhamos de Mafra de trem e em Jaraguá pegávamos o Correio para Blumenau. Não espalhem, mas a 1ªviagem foi à 50 anos atrás. Santo papagaio..... Meu marido porem fazia esta viagem em 1956. Chegava em Blumenau, dormia nos bancos da Rodoviária e na manhã seguinte continuava viagem para Floripa, onde estudava. Boas lembranças. Passamos alguns perrengues nestes ônibus.
ResponderExcluirViviane Coelho tempos onde os recursos eram mais escassos, mas em contrapartida se vivia com mais intensidade dentro da simplicidade de cada momento. No final de semana fui para o sítio e fiquei observando cada detalhe... Um lugar sem muitos recursos, onde ainda se depende das safras. Tudo muito manual, mas ver o prazer com que fazem as coisas tem um sabor inexplicável! Um café de chaleira e não de cafeteira, o frango do quintal e não o congelado do mercado, a hortaliça colhida na hora, o leite puro... sem comparação. Hoje é tudo muito fácil, muito prático... acho que isso faz com que parte da sociedade seja frustrada.
ResponderExcluirTambém viajei neste ônibus misto em 1957 e 58. Vinha de Itaiópolis até Mafra, embarcava no trem em Mafra que ia até São Francisco,
ResponderExcluirDesembarcava em Jaraguá do Sul e pegava o ônibus correio que esperava o trem com as correspondência viajando para Blumenau , dormia no banco da rodoviária e pela manha seguia para Florianópolis. Era uma maratona e eu tinha 15 anos. Tempos bons.
Alcemir Karasinski
Bela historia do pioneirismo da Viacao Catarinense, que por bom tempo colaborou para a eficiencia e o bom nome dos correios no Brasil.
ResponderExcluirAMIGO ADALBERTO, E BRAGA,como eu gosto e fico feliz em poder relembrar,passagem tão boas,eu lembro muito bem deste meio de transporte, porem não consigo lembrar os horarios de saida de Floripa que parece eu ouvia falar que voltavam com muito sacrificio, os estudantes de Blumenau na faculdade de contabilidade em Floripa, Quanto ao grande motorista Frank o cabeça branca,super amigo de seu patrão Sr Osvaldo Fiedler, dona da Empresa de Honibus Catarinense, Ex Barbeiro, Tocador musical de bailes de acordeon por sinal muito bom nos interiores, sei disto pois meu pai barbeiro Salvador fazia a vez dele na barbearia para o mesmo ir tocar o baile, quanto ao Frank era dono de um bar em sua residencia no bairro da ponta aguda na rua das missões, e depois de um bar muito famoso em Blumenau, esquina da rua 7 de set, o famoso Bar Monte Carlo, um bangalo que hoje é uma Pizzaria na esquina , quanto a Rdoviaria da sete, era famosa por voce poder usar um otima sapataria coberta, o dono do Restaurante era do conhecido portugues, ficava ao lado da fabrica de gardachuvas esqueci o nome e parei, abraços a todos. Valdir Salvador.
ResponderExcluirMiriam Odete Soares
ResponderExcluirExcelente matéria Beto O ônibus do correio http://www.adalbertoday.blogspot.com.br/2013/02/o-onibus-do-correio.html … …como eram transportadas as cartas e mensagens nos anos 50/60
Meus agradecimentos ao amigo Braga Mueller, por mais esta interessante contribuição no blog do Adalberto. Não recordo de ter utilizado este ônibus, mas recordo que minha mãe ainda o citava no final da década de 1970/início da de 1980. Grande abraço!
ResponderExcluirPrezados/as, nos anos setenta, essa linha de Florianópolis, ai já sem o Correio, seguia até São Miguel d'Oeste, eu ficava em Concórdia, trabalhava de desenhista o dia todo numa gráfica, e voltava na noite seguinte até Blumenau, onde tinha deixado o meu Fusca, e depois nele seguia para Brusque. Fazia isso uma vez por semana. Bons tempos aqueles. Abraçaços do CAO
ResponderExcluir"Se Deus falou está falado, padre Marcelo para o próximo Papado", esse e outros temas em:
http://caozone.zip.net/
De 74 à 78 estudava na FURB . Algumas vezes tive que esperar esse ônibus para vir até Ilhota, onde moro.
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