sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
- O Empreendedorismo de BUSCH
HISTÓRIAS QUE BLUMENAU CONTA
Mais uma contribuição exclusiva do escritor e
jornalista Carlos Braga Mueller – que nos relata a trajetória do
empreendedorismo de Frederico
Guilherme Busch Sênior.
Por Carlos Braga Mueller
O EMPREENDEDORISMO DE FREDERICO BUSCH, O
PAI.
Blumenau tem orgulho, e com razão, de
ter sediado a primeira associação de empresários das microempresas no país.
Em março de 1984, foi fundada a ACIMPEVI, hoje
AMPE Blumenau.
Rememorando a história dos empreendedores de
nosso Município, nos vem à lembrança, por leituras e recordações que parentes
nos contavam, a figura carismática de um empreendedor nato do início do Século
20, Frederico Guilherme Busch Sênior.
QUEM FOI BUSCH
Os mais velhos ainda lembram-se do Cine Busch,
cujo prédio continua firme na Alameda Rio Branco, hoje tombado pelo município
e servindo como Centro de Convenções. Frederico Busch foi pioneiro
de uma sala fixa para sessões de cinema em nosso Estado, fundando no Salão
Holetz, em 1904, aquele que seria conhecido como Cine Busch.
Catarinense, natural de Santo Amaro da
Imperatriz que pertencia a cidade de Palhoça na época, onde nasceu em 29 de dezembro de 1865, Frederico Guilherme
Busch veio para Blumenau em 1888 e de tal forma atuou na vida social e econômica
do município que logo se tornou uma das suas figuras mais destacadas.
Blumenau lhe ficou devendo iniciativas
pioneiras; não só o cinema, mas também a exportação de laticínios, a construção
da primeira usina de energia elétrica no Vale do Itajaí, o transporte de
cargas e passageiros entre Blumenau e Itajaí pelo vapor
"Gustavo", diretor e sócio proprietário da Empresa Industrial
Garcia 1900/1906, a fabricação de fósforos, que ficaram famosos pela
criatividade das embalagens. Também trouxe para Blumenau o primeiro automóvel,
em 1903, e a primeira companhia lírica da Europa a apresentar-se no Teatro
Frohsinn.
Faleceu em 1943. Seu filho, Frederico Busch
Júnior sucedeu-lhe na administração do cinema e foi prefeito de Blumenau duas
vezes na década de 50.
OS "PHOSPHOROS CATHARINENSES"
Antigamente fósforo escrevia-se com dois
"ph" !
Busch instalou sua fábrica de
"phosphoros" em Blumenau por volta de 1906. Ocupava cerca de 15
operários. A produção era de 1.800 a 2.000 caixotes mensais, cada um com 120 pacotes
de 10 caixinhas de fósforos.
No início os palitos eram feitos de pinho de
Riga, importado da Rússia, que chegavam ao Porto de Blumenau em grandes
caixotes.
Como o Brasil era rico em florestas, Busch
mandou amostras das madeiras daqui para a Alemanha e na análise os técnicos
indicaram o uso da nossa imbaúba, que passou então a ser usada na fabricação
dos fósforos blumenauenses.
Eram três as marcas comercializadas por Busch:
Dominó, Meia Lua e 10.000.
JOGANDO DOMINÓ COM AS CAIXINHAS DE FÓSFORO
Os fósforos "Dominó" logo acabaram
sendo os mais populares e eram vendidos com dois rótulos.
O primeiro, em papel branco, trazia no
centro, em tinta azul escuro, os sinais característicos das pedras do dominó.
No segundo rótulo, os pontos eram pretos e cercados de vermelho.
O jogo completo compunha-se de 28 rótulos
e Busch, já demonstrando sua versatilidade naquilo que hoje chamamos
"merchandising", desenvolveu intensa propaganda do produto.
Em cada pacote de 10 maços de fósforos era
colocado um "aviso" no canto superior, onde podia ser visto um velho
jogador de dominó, pensativo, com a mão à testa, tendo a sua frente as pedras
do jogo. O aviso dizia:
"A pessoa que apresentar um
"double" ao fabricante ou aos vendedores destes phosphoros, receberá
como prêmio um pacote dos mesmos phosphoros. A pessoa que colecionar o jogo de
dominó completo e apresentar as 28 caixinhas ao fabricante ou aos
vendedores, receberá como prêmio uma lata contendo 120 pacotes de phosphoros."
Os "doubles" naturalmente eram
distribuidos com parcimônia, sendo muito difícil a pessoa conseguir reunir o
jogo completo.
A fábrica blumenauense obteve uma popularidade
enorme, tanto assim que Busch recebeu uma oferta para vendê-la. Em março de 1906
um jornal local publicou a notícia de que um poderoso grupo que comandava o
"trust" de fósforos no país havia oferecido a Busch vinte contos de
réis pela sua fábrica. Busch não aceitou.
CURIOSIDADES
Busch estranhou quando um vendedor do norte do
Estado lhe enviou quatro doubles 5-5. Pagou o prêmio, mas no mês seguinte o
fato se repetiu. Houve, então, um acaso providencial. Os rótulos estavam sobre
a mesa do empresário. Com a janela aberta, uma forte trovoada acabou
molhando as caixinhas e então se constatou que os rótulos haviam sido
adulterados. Com a água alguns pontos do jogo de dominó descolaram... estava
descoberta a "mutreta", que já existia naqueles tempos ! A partir de
então só se pagavam prêmios depois de colocar os rótulos em um recipiente com
água...
Apesar dos fósforos e caixinhas serem de boa
qualidade, isto não impediu que alguém escrevesse na parede da fábrica estes
versos:
"Ó que saudades que eu tenho
Dos fósforos Dominó
Riscavam mal dos dois lados
E pior dum lado só !"
Quando em 1903, orgulhoso, recebeu seu Ford Model "A" importado dos Estados Unidos, Frederico Busch foi retirá-lo na
Alfândega de Florianópolis. O funcionário da aduana não sabia como qualificar o
produto. Consultou os superiores no Rio de Janeiro pelo telégrafo e foi
autorizado a declarar o carro como importação de uma "máquina a
vapor". Quando o automóvel finalmente chegou ao Porto
de Blumenau, Busch apressou-se em convidar os amigos para dar uma
voltinha naquela engenhoca, que mais parecia uma charrete sem cavalos. Meu
tio Victorino Braga, ainda menino, foi um dos rapazes que, como o também menino
Frederico Júnior, sentiu uma estranha sensação: a de andar pela primeira vez em
uma máquina que se locomovia sem qualquer tração animal....
Foi grande o susto de quem estava na Stadtplatz,
perto da Prefeitura, quando estourou um pneu do carro de Busch; afinal era a
primeira vez que isto acontecia na pacata Blumenau.
Cine Busch - e Hotel Holetz
Quando adquiriu sua primeira máquina para
projetar filmes, Busch não tinha a menor ideia de que o cinema seria,
no futuro, uma ótima fonte de renda. Como era novidade e quase
ninguém tinha "cinematógrafo" no Brasil, em 1902
Busch comprou um grande lote de filmes (mudos) diretamente da empresa
francesa Pathé Frères e os exibiu durante algum tempo de graça, para uma plateia
que acabou se acostumando com esta diversão. Nos anos seguintes foram
chegando filmes com enredo, principalmente norte americanos, os quais eram
locados e não mais tinham que ser comprados pelo exibidor, e assim surgiu,
em 1904, o Cinema do Salão Holetz, depois Cine Busch. A partir daí,
quem quisesse ver um filme tinha que pagar ingresso.
Em 1905 Busch instalou duas turbinas hidráulicas
na localidade de Gasparinho. Blumenau saiu na frente e passou a ter luz elétrica,
inclusive nos postes das vias públicas.
(O presente artigo foi escrito com informações
obtidas em livros dos historiadores José Ferreira da Silva e Edith Kormann e
baseado, também, em lembranças contadas por pessoas que vivenciaram a
história de Blumenau naqueles tempos.)
Arquivo Carlos Braga Mueller/Adalberto Day
12 comentários:
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Muito interessante.
ResponderExcluirEu era assíduo frequentador do CINE BUSH, se não me engano assisti ao último filme que passou lá, foi o TOP GANG 2... uma comédia com Charlie Sheen que fazia sátiras a varios filmes incluindo Rambo.
Desconhecia a história da personalidade por trás do nome do cinema.
Carlos Braga Mulher, lindo parabens pelo seu comentario copiado de outros,mas lembrando coisas maravilhosas como estas são todo seu meus parabens, vamos la , primeiro eu pergunto vamos fazer uma gincana onde estão estes rotulos, caixas,cartazes de filmes da epoca, eu me proponho ate a comprar alguns exemplares, e desafio a apresentarem voce ou o amigo Day, a me mostrar um homem como este de mais benfeitorias ou diga outro nome para ser lembrado este nome que tanto fez por Blumenau, como o Dr Blumenau, que foi embora depois de ...., e so voltou as cinzas, parabens a familia Bush não podemos esquecer abraços de seu amigo Salvador.
ResponderExcluirOi amigo Beto. Muito bacana. Gostei dessa história, porque, vivenciei um pedacinho do final. O cine, naquela época era ligado ao Hotel Holetz, pais da Margot. Eles assistiam filmes, gratuitamente por serem muito amigos do Frederico Busch. Realmente, o Busch (pai), foi um grande empreendedor. Só essa dos "phosphoros" foi muito importante para esta região. Quando comecei a ler a historia do "phosphoro", imaginei que a Fósforos Pinhiro viria arrastar as asas por aqui. Obrigado a você e o Braga por mais essa interessante pagina da historia de nossa querida cidade.
ResponderExcluirE.A.Santos
Braga, você me deixou curioso com o fim da história dos Phosphoros Dominó. Muito interessante a forma de divulga-lo. Eu trabalho na Fiat Lux, fabricante de fósforo e gostaria de saber o destino que foi dado à fabrica de Blumenau. Foi vendida, fechada? Abraço e parabéns pelo texto.
ResponderExcluirAdalberto e Braga
ResponderExcluirMuuuuuito bom o artigo!
Estamos trabalhando na formatação de nosso segundo livro e lhe pergunto: como conseguir uma foto do automóvel do J.G. Busch? – para fornecer direto à Gráfica Nova Letra? Dedicamos alguns parágrafos a este primeiro automóvel do Vale e à viagem pioneira que Busch fez com ele até Barra do Rio Pombas, em Taió, fazendo propaganda da venda de terras naquela região....
Seu blog tem trazido artigos de grande interesse geral dos leitores.
Renate S.Odebrecht.
Grato estou a você,meu irmão,por ter conhecimento da linda historia deste pedaço de Terra que passei a amar.
ResponderExcluirBAITABRAÇO
Prezados/as, quando numa dessas enchentes dos anos oitenta, a ACIMPEVI firmou contrato com o Banco do Estado do Paraná, e saiu um empréstimo subsidiado pelo governo Federal, se formando longa fila de micro-empresários no escritório do seu Busch, para que ele assinasse como avalista, esse dinheiro salvou a lavoura, minha, e de muita gente. Meu eterno agradecimento ao grande seu Busch. Abraçaços do Cao
ResponderExcluir"Se Deus falou está falado, padre Marcelo para o.próximo Papado", esse e outros temas em:
http://caozone.zip.net/
Suponho haja lapso com relação à época da enchente citada pelo sr. Cao Zone como sendo alguma ocorrida na década de 80, porquanto refere o sr. Frederico Guilherme Busch júnior, nascido a 21/01/1899 em Blumenau, e que faleceu em 27/4/1971.
ResponderExcluirAdalerto,muitas saudades do Cine Bush,ja as caixinhas de fosforos com jogo de dominó,muito interessante.Muito boa postagem...
ResponderExcluirBom dia Adalberto
ResponderExcluirmuito boa a postagem do Braga.
não conhecia muito a respeito do Sr. Busch pai, que de fato foi em admirável empreendedor para a época.
quantos filmes assistidos no Cine Busch! saudades dos domingos a tarde com o pacote de pipoca na mão!
abraço
Sempre com belas reportagens.Tenho saudade dos tempos do Cine Bush, Blumenau, Garcia, Mock, Atlas, do Cine Clube Carlitos, dos filmes que assistia no Campo do Amazonas, daquele Cine que tinha la perto da Eletroaço Altona, que vc tinha que reservar acento.E quer saber, não sou tão velho assim não.E assisti filmes em todos. Pena que este " PHOSPHORO DOMINÓ " não tive o prazer de conhecer.PArabes Beto E Braga pela exelente e curiosa postagem.
ResponderExcluirOlá. Gostaria de parabenizar pelo artigo. Sou colecionador de fósforos do Brasil e esta reportagem me ajudou a entender um pouco mais da história. Se alguém souber mais sobre a fábrica de Phosphoros ou souber quem tenha destes para vender por favor entre em contato.
ResponderExcluirromeudaroda@hotmail.com