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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

- História da Imprensa em Blumenau

HISTÓRIAS DA IMPRENSA EM BLUMENAU





Por/Carlos Braga Mueller
Jornalista e escritor



O PRIMEIRO JORNAL
O primeiro jornal editado em Blumenau chamava-se "Blumenauer Zeitung" e teve vida longa.
O número 1 circulou no dia 1º de janeiro de 1881. A última edição foi às ruas no dia 2 de dezembro de 1938.
Seu fundador, Hermann Baumgarten, pioneiro da imprensa em Blumenau, editava o jornal em alemão, única língua que se falava, e lia, por estas bandas. A novidade era quando um anúncio aparecia publicado em português.
Pois o "Blumenauer Zeitung" durou 57 longos anos, embora Hermann Baumgarten tivesse falecido em fevereiro de 1908. Seus herdeiros continuaram a missão.

O JORNALISTA POLÍTICO E REVOLUCIONÁRIO
Hermann Baumgarten tinha firmes convicções políticas. Na Revolução Federalista de 1893 lutou pelos ideais republicanos ao lado de lideranças como Hercílio Luz, Bonifácio Cunha, e Vitorino de Paula Ramos. Em julho de 1893, Hercílio Luz, líder dos republicanos em Blumenau, insurgindo-se contra o governo da capital, Desterro, proclamou Blumenau como a capital provisória do Estado, assumindo a governança. E então a Guarda Cívica de Blumenau marchou contra Desterro, onde ajudou a derrubar o governador Eliseu Guilherme pela força das armas.

O COMBATE DO "MORRO DO AIPIM"
Enquanto a Guarda Cívica lutava em Desterro, Blumenau ficou desguarnecida e coube a Hermann Baumgarten, nomeado Capitão da Guarda Nacional, coordenar a defesa da cidade de Blumenau, caso houvesse alguma ameaça de ataque. E foi o que aconteceu. A tropa da Policia estadual marchava contra o Município, revidando o ataque á capital.
Baumgartem conseguiu reunir 70 homens, entre jovens e anciãos, os quais, armados com seus "pica-paus", ficaram entrincheirados no Vorstadt, a espera dos militares.
Estes chegaram, uma tropa de 200 soldados, e houve intenso tiroteio em refrega que ficou registrada na história como o "Combate do Morro do Aipim".
Os soldados logo bateram em retirada levando dois mortos e 9 feridos graves.
Os blumenauenses nada sofreram.

VINGANÇA PROVOCA EMPASTELAMENTO DO JORNAL
Em dezembro de 1893, ao passarem por Blumenau em direção a Itajaí, as forças revolucionárias federalistas sob o comando do general Laurentino Pinto, não causaram maiores problemas a população.
Mas não perdoaram Hermann Baumgarten. Seus editoriais republicanos no jornal e a posição de Capitão da Guarda Nacional fizeram com que ele e sua família fossem perseguidos. Tiveram que refugiar-se no interior do município.
Não satisfeitos, os "maragatos" como eram conhecidos os federalistas, invadiram as instalações do jornal "Blumenauer Zeitung" e empastelaram a tipografia. Várias máquinas foram jogadas no Rio Itajaí Açú; outras foram levadas pelas tropas que pretendiam invadir Desterro.
O jornal só voltou a circular em maio de 1895.

JORNALISMO REGIONAL
Em outra demonstração de pioneirismo, Hermann Baumgarten assumiu um jornalismo de caráter regional. Ao mesmo tempo em que fazia circular em língua alemã o "Blumenauer Zeitung" em Blumenau e no Vale do Itajaí, também editava, em Itajaí outro jornal, a "Gazeta de Itajahy", este em português.

DER URWALDSBOTE, OU MENSAGEIRO DA FLORESTA
O "Der Urwaldsbote" foi fundado em 18 de julho de 1893.
Em 29 de agosto de 1941 circulou a última edição em língua alemã, que levava o número 18.
Em seguida foram lançados os números 19, 20 e 21, impressos em português, com o título de "Correio da Mata" e o subtítulo "Ex-Der Urwaldsbote".
Já as edições seguintes, até a 27, que seria seu último número, voltaram a estampar o antigo nome: "Der Urwaldsbote", com o subtítulo "Mensageiro da Mata".

A NAÇÃO
O equipamento gráfico do "Der Urwaldsbote" foi comprado por Honorato Tomelin, que fundou então o jornal "A Nação", cuja primeira edição circulou no dia 29 de maio de 1943. Pouco depois, em agosto de 1944, este jornal foi vendido aos "Diários Associados" de Assis Chateaubriand, que também editou em nosso Estado o diário "Jornal de Joinville".
"A Nação" competia diariamente com "Cidade de Blumenau", outro jornal blumenauense que teve sua época áurea.
Para homenagear o jornal antecessor, "A Nação" circulou a partir de maio de 1953 com o subtítulo "O Mensageiro das Selvas", que em 1967 foi trocado para "O Mensageiro do Vale".
No início dos anos 80 "A Nação" exalou seu ultimo suspiro.

CIDADE DE BLUMENAU
Em 21 de setembro de 1924 foi fundado em Blumenau o jornal "A Cidade".
Nove anos depois, em 2 de agosto de 1933, o jornal fez uma fusão com o "Correio de Blumenau", surgindo então "Cidade de Blumenau", que deixou de circular em dezembro de 1962.

O "SANTA"
Em 1969 um grupo de empresários blumenauenses fundou a TV Coligadas de Santa Catarina, primeira emissora de televisão do Estado.
Foto do jornalista Nestor Fedrizzi, que dirigia o Jornalismo da TV Coligadas e depois organizou e assumiu o Santa.
Para comandar o Departamento de Jornalismo da TV foi contratado o experiente jornalista Nestor Fedrizzi. Ele havia sido por quatro anos chefe de redação do jornal "Ultima Hora" de Porto Alegre.

Dois anos depois, em 1971, o mesmo grupo montou um parque gráfico para editar um jornal diário em Blumenau, que cobrisse o estado inteiro, a exemplo do que já acontecia com a televisão que, através das repetidoras, ia do litoral até São Miguel do Oeste.
Para organizar o jornal, de novo foi convocado Fedrizzi, que com sua experiência, arregaçou as mangas e debruçou-se sobre o arrojado projeto.
O jornalista Nei Duclós, em depoimento no site www.consciência.org, recorda aqueles anos:
"O ônibus parou e todos desceram. Fiquei lá dentro, me perguntando o que tinha acontecido com a viagem. Ao meu redor só havia árvores. Estávamos num acostamento e até mesmo o motorista sumira. Eu vinha de Porto Alegre, convocado para participar do lançamento do Jornal de Santa Catarina. Resolvi descer e perguntar. É o fim da linha, me disseram. Isto é Blumenau ? perguntei. Era. Foi quando conheci Nestor Fedrizzi, que fora chefe da redação da Última Hora do Rio Grande do Sul por quatro anos e estava catando jornalista no grito, já que ninguém queria ir para o interior de Santa Catarina."
O jornalista César Valente, em artigo intitulado "A Imprensa na Grande Florianópolis" , fez uma interessante avaliação do panorama jornalístico dos jornais da capital catarinense a partir da segunda metade do século passado:
"Os jornais e as emissoras de radio em Florianópolis eram conhecidos por serem "de propriedade" de uma ou de outra corrente política. A Rádio Guarujá e o jornal "O Estado" elogiavam quem era simpático ao PSD e expunham as mazelas dos adversários. A mesma coisa, só que com o sinal inverso, faziam a Rádio Diário da Manhã e o jornal "A Gazeta", da UDN."
Em seguida, Valente analisa como sobrevivia a imprensa naqueles anos:
"Os jornais eram mantidos em estado de indigência tecnológica pela falta de ambição comercial. Ninguém parecia interessado em ganhar dinheiro com jornais ou em buscar mais leitores com algumas inovações já disponíveis em outras capitais brasileiras: bastava que cumprissem seu papel de arautos dos partidos."
Em Blumenau, a situação não era diferente. Os jornais editados na região mantinham as velhas linotipos em funcionamento e as ilustrações eram feitas na base dos clichês. Quando se falava no Presidente da República, por exemplo, colocava-se sempre o mesmo clichê.
Para César Valente, por isso "o lançamento do Jornal de Santa Catarina", em Blumenau, em 1971, foi um terremoto jornalístico cuja onda de choque chegou a Florianópolis com toda a força. Não só porque Nestor Fedrizzi (jornalista gaúcho responsável, com João Aveline, pelo sucesso da "Última Hora" em Porto Alegre) levou para Blumenau jornalistas da melhor qualidade, uma rotina jornalística profissional e nova tecnologia de impressão, mas também porque, antes mesmo do lançamento, começou a montar uma grande sucursal na capital.
Ayrton Kanitz lembra que, ao chegar a Florianópolis em 1970, trazido de São Paulo por Nestor Fedrizzi, com a tarefa de montar a sucursal do Santa (como é chamado o jornal de Blumenau) foi muito bem recebido por Adolfo Zigelli, um radialista de prestígio que embora apaixonado por Florianópolis e defensor das tradições locais, não hostilizou os recém-chegados e os ajudou de inúmeras formas, mesmo antes de tornar-se colunista do jornal.
O SANTA foi lançado em 22 de setembro de 1971, composto a frio e impresso em rotativa off-set. Todos os demais jornais tinham composição a quente (com linotipos) ou manual (com tipos móveis) e impressão direta plana ou no máximo rotoplana (matriz plana e entintador rotativo). E um projeto editorial moderno e competitivo."

TV COLIGADAS E JORNAL DE SANTA CATARINA: A JUNÇÃO DAS REDAÇÕES
Eu apresentava telejornalismo na TV Coligadas, sob a direção de Nestor Fedrizzi.
Foi assim que em determinada noite ele chegou perto de mim e disse:
- Hoje você vai noticiar uma "bomba" !
Curioso, indaguei:
- O que é que vem por aí ?
Na sua tradicional calma Fedrizzi apenas retrucou:
- Aguarda que o texto está chegando.
A notícia era, nada mais nada menos que o anúncio de que o grupo TV Coligadas estaria lançando muito em breve um jornal diário moderno, inclusive com rotativa em off-set. e cujo título seria "Jornal de Santa Catarina" !
Naturalmente o projeto vinha sendo mantido em segredo, a sete chaves, para que os demais jornais fossem tomados de surpresa !
Por isso a notícia só foi liberada quando faltavam uns dois meses para o seu lançamento.
Ainda é César Valente, que no seu artigo acima mencionado, esclarece:
"O jornal "O Estado" foi, de certa forma, surpreendido pela iniciativa do SANTA. José Matusalém Comelli conta que a modernização de "O Estado" estava sendo pensada e planejada, mas ainda não tinha sido feito qualquer processo de compra ou importação de equipamentos, procedimentos excessivamente burocratizados e que, em geral, demoravam mais de um ano."
Pronto ! O JORNAL DE SANTA CATARINA havia chegado na frente !
E a concorrência demoraria pelo menos um ano até que pudesse estar lado a lado em tecnologia de ponta.
A partir da montagem da moderna redação na Rua São Paulo, nas instalações da antiga Fábrica de Chapéus Nelsa, e sob a supervisão de Nestor Fedrizzi, o Jornal de Santa Catarina abrigou também, durante algum tempo, a redação e laboratórios de revelação de filmes e "slides" do Departamento de Jornalismo daTV Coligadas, que mudaram-se para lá, também supervisionados por Fedrizzi.
De segunda a sábado eu ia até aquela redação onde recebia o script do noticiário e os filmetes em 16 mm, negativados, os quais só seriam positivados na hora de ir para o ar, na sala de telecinagem da TV.
Carlos Braga Mueller
Eu chegava (Foto) então nos estúdios da televisão, na Rua Getúlio Vargas, centro de Blumenau, passava pelo camarim, para colocar paletó e gravata, e ia para a frente da câmera. Estava no ar, o telejornal. De 1970 até 1974 tinha a missão, também, de apresentar o noticiário regional do "Jornal Nacional".
Com o tempo, a redação do telejornalismo voltou para a sede da TV. Era mais funcional e dinâmico de se trabalhar.
Agora, quando se festejam os 40 anos do "Jornal de Santa Catarina", vale colocar aqui estas lembranças, recordações de um tempo de pioneirismo.
Como o do colega de rádio e TV Edemir de Souza, que nos dias que precederam o lançamento do jornal começou a vender assinaturas. E só na empresa Electro Aço Altona angariou 21 assinaturas ! Assinaturas que foram fidelizadas por alguns anos.
Para elaborar este trabalho pesquisei várias fontes e me vali de lembranças do tempo em que, de carteira assinada, era funcionário da TV Coligadas de Santa Catarina.
Foram valiosas as informações contidas na revista Blumenau em Cadernos; no livro "A Imprensa em Blumenau", de José Ferreira da Silva,; o relato de Nei Duclós; o artigo de César Valente.
E valiosa é, também, a leitura que você, internauta, está fazendo deste artigo, através do blog do Adalberto Day.

Carlos Braga Mueller
Jornalista e escritor
Arquivo Dalva e Adalberto Day

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

- A “Pedra do Lontra”

A “ PEDRA DO LONTRA “
- como marco referencial da nossa conjuntura. ALINHAVOS MEMORIAIS DE NIELS DEEKE À PRIMEIIRA BALIZA PARA AFERIÇÂO DO NÍVEL DO ITAJAÍ AÇU NO CENTRO DE BLUMENAU – ÍNICIO DA COLONIZAÇÃO ATÉ APROXMADAMENTE O ANO DE 1906..
Presumia-se, até os anos sessentas do século passado, que o nível das águas do rio Itajaí Açu, quando considerado em seu fluxo padrão, estivesse situado a cerca de 1,50 metros acima do nível do mar, no trecho, de seu curso, diante da posterior cidade de Blumenau, ou mais precisamente na linha da flor d’água que fluía sobre a Pedra do Lontra. Nos primórdios da colonização o que mais importava quanto ao nível das águas, era a condição de haver fluxo de águas com volumes suficientes à viabilidade da navegação, se bem que, por evidente, houvesse grande preocupação com possíveis enchentes. Tal assertiva pode ser verificada em documentos vários, e principalmente nos registros contidos nas correspondências comerciais e particulares dos imigrados. Nos períodos de longa estiagem a antiga Colônia permanecia completamente isolada de qualquer comunicação, por não haver, então, via alternativa de trafego que não fosse o Itajaí Açu. Atente-se que só após aproximadamente os anos seqüentes a 1890, foi possível seguir à Itoupava Seca por precário caminho, aberto em leito que posteriormente tomou o nome de rua São Paulo, e mesmo assim ultrapassando imensidades de porteiras e pastagens particulares. Tudo seguia pelo eterno rio. Todavia houve realmente via alternativa, que percorrendo a atual rua São José, seguia pela também atual rua João Pessoa, alcançava o Jaraken Bach, quase na altura da empresa Resima e então infletia à direita, passando pelo atual Hospital da Unimed ( Anterior Arno Bernardes) e então, adiante, desembocava no atual Hospital do Pulmão da Itoupava Seca. Por evidente era muito mais cômodo seguir pelo rio Itajaí Açu. Dessarte a preocupação predominante esteve dirigida às secas do rio, situação diametralmente oposta a que se observa na atualidade, quando os níveis elevados das águas é que provocam apreensão.
Situações de calamidade ocorriam quase anualmente quando a pequena vazão das águas não permitia que as embarcações, provindas de Itajaí, com toda sorte de mantimentos e mesmo novos colonos, alcançassem Blumenau, necessitando procederem, quando ainda possível, o desembarque em Gaspar, cujo atracadouro situava-se onde, no presente, encontra-se a cabeceira da margem direita da Ponte Hercílio Deeke. Era o quanto acontecia com o vapor São Lourenço – de navegação marítima - que desde 1874 foi a embarcação que mais significativamente atendeu a Colônia Blumenau. O primeiro aportamento do São Lourenço em Blumenau, ocorreu em 22/11/1874, quando foi criada a Agência do Correio em Blumenau.
O ponto referencial para verificarem se haveria condições de navegabilidade até o porto de Blumenau, era o cabeço da ¨Pedra do Lontra¨. Antes de 1937 era dita ¨ Otter Stein¨, mas devido a nacionalização que então ocorria de forma coercitiva, passaram nos documentos oficiais a referi-la como Pedra do Lontra, no masculino, porque na língua germânica Otter, ou seja Lontra, é masculino. Também ouvi dizerem que a razão da tradução foi a de que sendo, então, em 1937, prefeito municipal Alberto Stein, a menção Otter Stein, remeteria à idéia de ¨Otário Stein¨- associando o patronímico do prefeito ¨Stein” à Otter- otário -ontra , porquanto Otter, ou Lontra, é um espécime do gênero das “otárias“, do grupo dos pinípedes. Assim traduziram o topônimo para, ao não pronunciá-lo em língua alemã, evitarem lembrança ao chiste que associava a pessoa do prefeito a “otário Stein”, ou ¨Stein Otário¨ ( Lontra = Otária)
Na verdade trata-se de uma extensa laje de pedra estratificada ( em camadas) que se estende desde a margem direita do Itajaí Açu até pouco antes da margem esquerda, quando termina formando um cabeço mais elevado.
Observada do alto da margem, em períodos de seca, a aparência da escura laje coberta de liquens à guisa de pelagem cujos filamentos remexiam com a fraca correnteza, era a de uma gigantesca lontra, com o corpo submerso e cuja cabeça sobressaia da água.
Com relação à aferição dos níveis das águas registrados nas diversas enchentes há que considerar um fato relevante, qual seja o das diversas substituições dos locais que contiveram as apropriadas balizas graduadas grafadas com a escala métrica, ou seja as réguas de controle. Recordo-me das réguas que foram utilizadas nos anos 1948 e 1949, penso que tivessem uma largura de 15 cm e eram parafusadas em trilhos Decauville ( Trilhos para servirem ao deslocamento de vagonetes empurrados a braço humano) os quais estavam por sua vez profundamente espetados em pontos de fácil acesso. As réguas, das quais me recordo, estiveram fixadas em dois locais diversos.
 A primeira e mais antiga, esteve quase sob a antiga ponte de ferro sobre o Ribeirão Garcia (foto), ponte que foi substituída em 1949 pela atual de concreto e que tem a denominação de Ponte Dr.João Pedro da Silva ( Uma homenagem ao genitor do dr. Adherbal Ramos da Silva ), na barranca da margem direita do Ribeirão Garcia, em terreno da PMB. Foi inaugurada oficialmente em 03 de março de 1950.
Devido a movimentação para a construção da ponte, foram, as réguas, fixadas mais a montante, na mesma margem, onde em 1952/53, havia os canteiros com as mudas das Palmeiras Imperiais (Roystonea oleracea) que em 1953 Hercílio Deeke mandou buscar do Horto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, para, em número de 100 árvores, substituir os antigos coqueiros Jerivá (Siagrus Romanzoffiana) (Foto cima) – cujos frutos são ditos cocos de graxaim e que foram plantados em 1872 por Hermann Wendeburg a mando do dr. Blumenau ;. e. além, havia extensos canteiros, escalonados, por toda a barranca que servia de viveiro para as mudas dos frondosos chorões que meu velho pai mandou plantar ao longo das margens do rio até a saída do ribeirão Bom Retiro e ribeirão Garcia adentro.
Na atualidade nada sobrou. Por haver referido as Palmeiras Imperiais, cá aproveito para consignar que as mudas foram cedidas pelo supradito Jardim Botânico, e por especial favor do botânico e dendrólogo João Geraldo Kuhlmann (1882-1958), diretor da instituição e blumenauense de nascimento, o qual apesar de já aposentado, recebeu o jardineiro contratado pela PMB o Sr. Gustavo Krueger – decano dos topiários locais, e que seguiu à capital do país no navio Carl Hoepcke, especial e particularmente estipendiado por Hercílio Deeke para preparar as céspedes de 200 palmeiras ( plantadas na Alameda Duque de Caxias foram 100 unidades) envoltas em sacaria de aniagem. Recordo-me que foram necessárias duas viagens da caminhão caçamba da PMB à Itajaí para buscar as mudas das Palmeiras já então bem desenvolvidas ( O estipe < tronco> talvez medisse 1,80 m de altura) e de outras árvores para ajardinamento das ruas, pois aguardei a chegada do 1º caminhão com o meu pai, lá nos fundos da PMB. Atente-se que do Jardim Botâniico vieram as Palmeiras Imperiais ( de folhagem crespa) e não a Palmeiras Reais ( de folhagem lisa) gênero muito diverso e denominado Arcontophoenix Cunninghamiana.
F) Consta do acervo particular de Niels Deeke - in arquivos Hercílio Deeke- o que se segue :
Uma carta dirigida em 25/11/1953 pelo Pref. Municipal Hercílio Deeke ao Prof. João Geraldo Kuhlmann- agradecendo a acolhida que este dispensou ao jardineiro Gustavo Krueger- da Prefeitura de Blumenau, o qual seguiu aquele Jardim Botânico para especialmente buscar Mudas de Palmeiras Imperiais e recolher suas Sementes, além de mudas de árvores decorativas destinadas à arborização das ruas e praças de Blumenau e, ao mesmo tempo, remetia, como oferta para João Geraldo Kuhlmann, diversas roseiras –Pasta H.D. - ano 1953- Diversos Ministérios e Repartições) # Em 23 de abril de 1951- O Prefeito Hercílio Deeke escrevia longa carta ao dr. João Geraldo Kuhlmann, solicitando mudas de “PAU-BRASIL” ( Ibirapitanga, os tupis chamam árvore de Araboutan, e com lavadura da sua cinza sabem dar uma cor vermelha mui durável - (Robert Southey, História do Brazil, Garnier, Rio,1862, t.1, p.44, extraído de A. Franco, A IDADE DAS LUZES, p. 310) Na mesma carta Hercílio Deeke autorizava o despacho das ditas mudas por intermédio da firma “Sysack & filhos” - Rio GB, rua D. Pedro Gerardo nº 60 – telefone 23-6217- que eram agentes do navio “Urânia” de propriedade da empresa “Navita”, de Itajaí - SC. – vide cópia in Arquivo –HD Pasta Expedida div. Ministérios ano 1951- acervo Niels Deeke.
Lembro-me de ter subido inúmeras vezes a rudimentar escada, cavada na terra, cujos degraus eram suportados por tabuinhas escoradas em sarrafos, para buscar bebidas e cachorros quentes no Ponte Bar, quando, nas cercanias, fazia pescarias de tarrafa para apanhar cascudos, peixe então ainda desprezado em Blumenau. A dita escada levava às réguas, que eram em número de três, desde a mais baixa até a mais elevada. A mais baixa iniciava a marcação em 5,00 metros e cada régua media somente até 3,00 metros, portanto as medições estiveram limitadas a 14,00 metros Lá permaneceram até, 1963, quando Hercílio Deeke mandou demolir o Ponte Bar, que fora inaugurado em 1950, e que era propriedade de Ricardo Bliesner, o qual recebeu gratuitamente para exploração terreno da PMB cf. contrato formado em 19/7/1950, com o compromisso de construir um “sanitário público”. O local é atualmente parcialmente ocupado pelo aterro que contém o Mausoléu dr. Blumenau. No dito Ponte Bar, onde vendiam exclusivamente bebidas e os ditos cachorros quentes, havia, no subsolo, os sanitários. Cf. consta da p. 127 do Rel. Administrativo do Prefeito Hercílio Deeke, “Mandei demolir, mediante indenização ao respectivo concessionário o “Ponte Bar”, ao lado da Prefeitura, ajardinando o terreno pelo mesmo ocupado e mandando construir novas instalações sanitárias públicas à margem do Ribeirão Garcia, em local discreto”. Vide in arquivo Hercílio Deeke- Tabularium Niels Deeke- cópia da certidão (duas páginas) do Processo Administrativo sobre a execução do Contrato de Concessão firmado entre a Prefeitura Municipal de Blumenau e o Sr. Ricardo Bliesner, - Laudo Pericial- etc. Conclusão- datado de 15/3/1963. assinado Annemarie Techentin- Diretora do Expediente e Pessoal . Visto do Prefeito Hercílio Deeke.
Quando Hercílio Deeke iniciou, em 1964, a construção da Beira Rio, com o enrocamento da foz do Garcia, foram, as réguas de medição, transferidas para a barranca junto à Estação da Estrada de Ferro, na foz do ribeirão da Velha. [ Remeta pesquisa para Supl. Vórtex 35 N.D. – “ Ribeirão da Velha” ] Conforme era voz corrente, na transferência para a foz do Velha, as réguas teriam sido colocadas 0,37 metros abaixo do ponto mínimo em que estiveram fincadas no local anterior, ou seja atrás do PMB. Desde então a responsabilidade pela manutenção e conferência das réguas passou à administração da Estrada de Ferro. As discussões foram muitas, entretanto não houve quem dirimisse a dúvida. Cumpre-me aqui esclarecer um fato que poderá matar a charada. Desde o início da colonização o marco ZERO, da Lâmina de Água, sempre foi considerado como o ponto imaginário estabelecido a “HUM E MEIO METROS acima do cocuruto da “Laje do Lontra”, cabeço do lajeado que se encontra pouco mais próximo da barranca esquerda do rio e que pode ser visto, nas estiagens, a partir da linha transversal que faz, com rio, a partir do local onde se encontra a “Caça e Pesca.” A chapada daquela pedra (“ Pedra ou Laje Do Lontra”- no masculino, como costumavam chamá-la até o ano de 1954 e com tal denominação a referia Raul Deeke, que estudou detalhadamente as enchentes visando emergir o casco do “Vapor Blumenau”, então semi submerso na foz do ribeirão de Tigre (Tigerbach) para colocá-lo na
“Prainha”- e o feito é devido a ele Raul Deeke, que realizou a trabalhosa proeza através da entidade “Kennel Clube de Santa Catarina” (2) foi, a dita ¨Pedra¨, no passado remoto e mesmo neste século XX, o marco referencial de níveis para a navegação. O nível considerado mínimo normal - padrão - foi sempre estimado como fixo em 01 metro e 50 centímetros acima da “Pedra da Lontra”, aliás a carreira ( Plano Inclinado) de estaleiro para reparos da “Cia Fluvial a Vapor Blumenau- Itajaí, instalações que foram desativadas em 1919 ”, também servia-se do dito marco Otter Stein - ¨Pedra do Lontra ¨, vez que situava-se justamente defronte às suas instalações e era notoriamente visível para as respectivas avaliações.. Este rudimentar estaleiro- dotado de Plano Inclinado - para reparos nos vapores “ Progresso” e “Blumenau”, situava-se na foz do ribeirão Bom Retiro, no lugar, que depois de receber grande aterro, serviu para conter a Praça dr. Blumenau. Dessarte as medições eram efetuadas considerando-se um metro e meio acima do topo, medida de nível mínimo da água para possibilitar a navegação dos vapores para Itajaí e vice versa, pois ambas as embarcações calavam profundidades de 1,50 m. considerando, com pequena variação sua carga ou mesmo dead weight, o que era necessário para não encalhar no paredão do Belchior – margem esquerda – ( Na época colonial o paredão de pedra lilás ali existente era denominado ¨Forteleza-1840” , e o dr. Blumenau recebeu do Império 5 contos de reis para mandar explodi-lo, contudo não procedeu qualquer obra, havendo utilizado o numerário em outras benfeitorias) Portanto era preciso haver 1,50m. de água acima da Pedra da Lontra, se bem que o rio sempre tivesse algum nível de água, que a submergia, lá havia no passado, fortemente cravada uma haste de ferro – pedaço de trilho - cuja base estava encravada e chumbada em uma fenda no centro da rocha, e eu próprio Niels Deeke, ainda a vi e inclusive a apalpei com minhas mãos em, 1948 e 1949, durante as muitas pescarias nas armações dos espinhéis grossos para pescar os grandes bagres de corso. Não procedi medição, mas suponho que aquele vergalhão tivesse 1,50 metros de altura, e lá, naquele espeto, amarrávamos a bateira nadando até a Prainha. A dúvida para equalizar os verdadeiros níveis de água do rio, atingidos outrora e na atualidade, excluindo-se as diferenças devidas a fixação das réguas em níveis diversos, poderia ser facilmente esclarecida, tomando como ponto de referência a Casa Husadel que na sua parede lateral tem (pelo menos tinha) espetado um vergalhão de metal que indica o nível alcançado pela enchente de 1911.
Casa Husadel ( A foto é por demais divulgada) e conferir com um aparelho GPS qual o nível das águas retratadas no foto. Simples, não ? Ora, a partir da chapada da pedra, acrescido 1,50 m, medir-se-ia até o vergalhão espetado (se é que ainda lá esteja) para conferir a medição que acreditamos deverá acusar a altura alcançada em 1911, fato que talvez derrubasse outras medidas consignadas, se compulsadas com a marcas devidamente assinaladas. As marcas dos níveis alcançados pelas enchentes que constam cravadas, em vergalhões de metal, nas paredes do prédio da “Casa de Força” da Usina Salto, não podem ser consideradas como, absolutamente, válidas para o centro da cidade, mormente depois do estrangulamento do rio no centro da cidade, causado pelo enrocamento da margem direita que consubstanciou-se no talude da Beira-Rio. (Uma das antigas réguas que constava próxima à ponte sobre o Garcia, quando avariada e depois de substituída por nova, elaborada e pintada sobre “Placa” elaborada pelo marceneiro Schramm da rua Itajaí, fez parte do acervo particular de Niels Deeke – e atualmente só parte dela ainda existe, aliás era a citada marcenaria Schramm que produzia as réplicas não só das réguas para aferir níveis do rio, como também as balizas dos topógrafos locais e da PMB, e mais, lá eram fabricadas das antigas chatas de reboque, batelões de 10 ou 12 metros para extração de areia e transporte de madeira e que seguiam em comboio rebocadas pelos vapor Blumenau para Itajaí e vice-versa ). A altitude de Blumenau sobre o nível do mar, é citada como a de 14,00 metros (F), em frente a Prefeitura Municipal (Rel. Adm. Hercílio Deeke ano 1951 p. 107-Agendas de serviço de Hercílio Deeke).
F) ESTAÇÃO METEREOLÓGICA DE BLUMENAU : A Estação em Blumenau, situava-se à rua Itajaí, quase defronte à antiga Cadeia Pública, pelo menos até o ano de 1966. Por tratar-se de informe interessante, a seguir consta transcrito o ofício nº 589 de 10 de maio de 1961 expedido pelo Prefeito Hercílio Deeke ao Sr. José Luiz Paranhos de Araújo- Chefe do I.R.M Coussirat Araújo em Porto Alegre RS : “ Senhor Chefe . Atendendo o pedido contido no seu ofício nº 791/60, pedindo informações sobre a altitude da cuba do barômetro e do solo da Estação Metereológica desta cidade , informo a V.Sa. que a altitude da cuba do barômetro é de 15,462 metros, e a do solo da Estação de 14,083 metros, tomadas em relação ao marco do I.B.G.E, existente em frente à Estação de cota 14.1196. Aproveito e ensejo para apresentar a V.Sa. os protestos de minha distinta consideração. Atenciosamente Hercílio Deeke- Prefeito Municipal.”
Em novembro de 1999- comentavam alguns “ditos entendidos” nas “ coisas ” do rio em Blumenau, dizendo que a solução para a erosão das margens do rio Itajaí Açu no centro da cidade de Blumenau, seria explodirem a “Lajota” ou Pedra, pois que estaria desviando a corrente das águas em direção às barrancas. Tal pedra trata-se, na verdade, da “Laje (ou Pedra) da Lontra”. Já no ano 2.000 informal e surrealisticamente rebatizaram a lajota, denominando-a - certamente são arrivistas ou desconhecedores do nosso passado - por “Pedra da Fome” ( Hunger Stein – jamais ouvi no passado) , alegando que a rocha, ao aflorar visível no rio, indicaria grande flagelo de seca, provocando escassez de alimentos – conseqüência muito relativa na atualidade e portanto denominação injustificável, vez que no passado, estando o rio, antes do seu aterro com pedras que forma o atual talude, mais largo em oito metros ou mais, motivo porque a Pedra do Lontra surgia com maior freqüência, quando a vazão d’água em uma superfície mais larga era muito maior. Ademais podem ter confundido a denominação do local, porquanto ali desemboca o ribeirão Bom Retiro, o qual era chamado de ¨ Yamen Kanal ¨- canal do Inhame, mas que o alemão novo – recém ingresso na Colônia, entendia como ¨Jammer Kanal ¨ Canal da Miséria ou Calamidade, remetendo à fome, pela razão de Yammem e Jammmer serem pronunciados com sons idênticos, e inhame não existir na Alemanha. Obs. o Ribeirão Bom Retiro, teve, no passado, outras denominações entre as quais : Yamen Kanal e Blohm Kanal. Naquele sítio da laje, tanto em sentido da Ponta Aguda com em direção à cidade na margem direita, o rio praticamente não possui em Talvegue que como tal possa ser definido, pois a laje estende-se em um só nível por toda a largura do rio. Há entretanto um raso canal – com a largura de cerca 3,50 metros e talvez 2,00 m de profundidade, em sentido oeste a partir do cabeço da Pedra, ou seja em direção à margem direita do rio. O mencionado canal foi aberto justo no ponto da ¨ NUCA do LONTRA ¨, segundo ouvi dizerem, resultou de explosão procedida por volta de 1905 pela empresa alemã que construía a Estrada de Ferro, porquanto era necessária maior profundidade naquele ponto para possibilitar que os vapores que transportavam os trilhos e ferragens das pontes da futura linha Férrea, pudessem ultrapassar aquele baixio, trafegando até alcançar a Foz do Velha onde localizava-se o primeiro canteiro de obras da ferrovia e também a Itoupava Seca no local onde construíram as oficinas da dita empresa. Pessoalmente penso que tal obra de explosão aconteceu muito antes, entre 1880 e 1905, ou talvez com os recursos dos 5 contos de réis, remetidos pelo Império ao dr. Blumenau, visando melhorias à navegação do rio. Sintetizando : A Laje do Lontra representa, na verdade absoluta, uma Barragem, um Talude, uma Represa, enfim um imenso Paredão submerso, que impede o escoamento das águas em nível profundo. Acaso removido, com o aprofundamento da calha em até quatro metros, o fluxo da vazão de fundo teria nível idêntico ao que apresenta o fundo do dito portinho da praça Hercílio Luz. Sim – parece inacreditável, porém o fundo do rio no dito portinho, situado a menos de cem abaixo da Laje, é 04 metros mais profundo que a chapada da plataforma da Laje do Lontra. Removida a laje, certamente ocorrerão efeitos colaterais, quiçá danos à sedimentação da areia na Prainha, o que, porém, poderá ser evitado mediante construção de proteção específica, em concreto. Também é certo que somente tal providência junto à Pedra do Lontra não solveria o problema, pois no rio abaixo, até Gaspar e pouco além, seria necessária igualmente a remoção dos obstáculos, nisso compreendendo-se o aprofundamento do talvegue com a remoção das pedras e o areal de assoreamento, alargamento das ribanceiras – possíveis e impossíveis – trabalhos que deveriam estenderem-se até a localidade de Pocinho, utilizando potentes Drag Line, Poclain, e Buldôzeres.
Mas POR FAVOR POUPEM-NOS DE OUVIR AS QUIMÉRICAS PROPOSTAS DE ABERTURA DE CANAIS DE VAZÃO ( Extravazores), seja entre a Itoupava Norte e Belchior - quando ultrapassaria o Morro do Abacaxi ( antigo Morro do Ananás) ou seccionando a Ponta Aguda, no seu costado, entre local pouco abaixo da Ponte de Ferro ( Ponte Aldo Pereira de Andrade ) e a Ponte dos Arcos (Ponte Antônio Victorino Ávila Filho) esta última conforme sugeriu Getúlio Vargas quando cá esteve em 1940. Ora bolas... é por demais sabido que o nível das águas entre a Itoupava Norte e o Belchior, quando o rio está em 8,00 metros , não difere entre tais os locais em mais de 15 cm ( quinze centímetros) e a diferença de nível entre a boca e a saída ( foz) de um canal cortando a Ponta Aguda, é menos 08 cm ( oito centímetros ) . Acaso realizassem a abertura de tal canal no costado da Ponta Aguda, a única conseqüência seria a de fazerem a nova área do canal conter água – aumento volumétrico da cuba – porquanto o ¨ralo de vazão ¨, no rio abaixo da foz do canal, continuaria somente permitindo a passagem do mesmo volume de água quanto esgotava antes da abertura do canal. Então a feitura de tais canais não traria vantagem alguma no escoamento das águas, quando muito formaria duas imensas ilhas, a ILHA DA PONTA AGUDA e a ILHA DO ABACAXI. Uma brincadeira... enfim proibitivamente dispendiosa, pois que é patente que se estreitássemos ainda mais a vazão logo abaixo da Ponte dos Arcos, o alagamento em Blumenau seria proporcional. Fechem o ralo de uma cuba e observem se haverá esgotamento de líquido, logo o ralo de vazão deve ser proporcional a alimentação de líquido. Elementar.............
CANAL EXTRAVASOR, sim.... mas do Escalvado em direção à Penha. Reconstituir a antiga Barra Morta, cavando-a desde o rio Itajaí,  a partir do ponto maxímo do vertice angular da Volta Grande na localidade de Escalvado na margem esquerda, logo a jusante do ribeirão Espinheiros que  situa-se na margem direita, conduzindo o desvio, das águas, com 10 a 12 metros de profundidade, com no mínimo 50 metros de largura,  até alguma foz a ser a criada em Penha.  As ribanceiras em 45 graus de inclinação ( em forma de trapézio isósceles) deveriam ser concretadas, e quiçá seu leito pudesse ser aproveitado como rodovia em tempos normais. Este canal extravasor por si só não resolveria cheia em Blumenau, amenizaria sem dúvida, porém para as cidades de Itajaí, Ilhota e Gaspar seria a redenção. Tal Barra Morta foi uma CANAL Extravasor NATURAL para quando níveis das águas alcançassem 16,00 metros em Blumenau, entretanto seu curso foi obstruído pelo aterro procedido na construção da Br101- seção sul -, iniciada no governo Juscelino Kubitschek.
Além de todas as intervenções supracitadas é imprescindível a extração da areia que paulatinamente se acumula em depósito no fundo do rio, assim procedendo, desde Rio do Sul até a foz em Itajaí, evitando o assoreamento da calha de curso do rio. Contudo, malgrado a necessidade da extração, ecologistas domingueiros, combatem, com aguerrida tenacidade, tal proveitosa atividade.
Muitas informações mais eu poderia anexar ao presente texto, como, dentre outras, a  menção as muito criteriosas e acertadas observações procedidas pelo sr. Mailer - antigo funcionário da Empresa de Força e  Luz - Celesc - na Usina Salto, que, graciosamente, anotava as variações dos níveis d'água na  represa do Salto durante  imensidade de anos. Certamente caberia uma Moção de Agradecimento ao Sr. Mailer, porquanto foram os seus muito precisos e exatos anúncios, anteriores a 1983, comunicando os níveis que as águas alcançariam em Blumenau - os únicos  de então  - e que, alertando, fizerem com que a população  se colocasse em resguardo  e salvasse seus bens. Sem as exclusivas tabelas, avisos e informações sr.Mailer,  ocorreria, certamente, verdadeira hecatombe.
_________

Em título próprio, consta em separata, o desenvolvimento das :
SOLUÇÔES PARA EXCLUIR QUALQUER POSSIBILIDADE DE ENCHENTE –COM NÌVEL SUPERIOR A 10 METROS, EM BLUMENAU. Pareceres e Sugestões manifestas em 1881/84 e 1991/13, redigidas em língua germânica – arquivo Hercílio Deeke – Pastas Enchentes e Muro de Arrimo. Acervo particular de Niels Deeke.
E para solver a problemática das enchentes , a PEDRA DO LONTRA será recorrente e decisória.
Durante as tratativas do Kennel Clube que, em 1961, determinaram o assentamento do Vapor Blumenau, em 08/9/1961, sobre pilares do concreto na “Prainha”, foi, por Raul Deeke, aventada a hipótese de erigirem duas grossas pilastras sobre a Laje da Lontra, elevadas até nível idêntico ao do piso da Ponte Adolfo Konder (então já existente) para então lá sobreporem, sobre travessões de concreto constituídos em berço, o casco da embarcação com sua proa embicada para montante do rio. Pretendiam proceder o acesso ao Vapor Blumenau, após sua firme fixação sobre os pilotis, mediante o lançamento de uma ponte pênsil ( pinguela) até barranca do rio próxima à Prainha.
2) Kennel Clube de Santa Catarina : Criado em 14/5/1952, com sede em Blumenau, cuja finalidade era amparar e fiscalizar a criação de cães de toda espécie, como os de caça, serviço, guarda ou luxo, porém todos de raça. Em 26/10/1952 ocorreu a 1ª Exposição de Cães promovida pelo Kennel Clube de Santa Catarina, realizada na sede social do Clube Blumenauense de Caça e Tiro, então ainda situado no bairro Bom Retiro, mais precisamente na atual ( ano 1997) rua Porto Alegre. Em 25 e 26 de abril de 1953 o Kennel Clube de Santa Catarina promoveu a sua Segunda exposição, quando concorreram cães de expositores vindos do Rio, São Paulo, Curitiba, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em 27 e 28 de novembro de 1954 o Kennel Clube de Santa Catarina promoveu a Terceira Exposição Canina , oficial no Estado, realizando o concurso no campo do Grêmio Esportivo Olímpico. Em 23/4/1962 o Kennel Clube de S.Catarina realizou a oitava exposição de cães. Em 31/3/1964 foi eleito presidente do Kennel Clube de Santa Catarina o Sr. Percy Freitag. Em 18/19.4.1964, no Grêmio Esportivo Olímpico, realizou-se uma exposição de cães, com expositores de todo o país. Vide Relatório dos Negócios Administrativos do Prefeito Hercílio Deeke ano 1952 p. 93 título : “Kennel Clube de Santa Catarina”.
Raul Deeke inicialmente abraçou tal idéia, e insistiu junto ao seu irmão Hercílio Deeke, que então era o Prefeito Municipal, a fim de que a Prefeitura executasse as duas pilastras e travessões do berço. No entanto Hercílio Deeke, apesar de considerar a idéia louvável, ponderou que naquele período de crise financeira, a execução das soberbas pilastras, dariam margem à acerbas críticas, vez que nem mesmo meios havia para restabelecer o prédio da Prefeitura Municipal incendiado cerca de três anos antes. Ao fazer um ano que o casco do Vapor Blumenau havia sido assentado na Prainha, quando em julho de 1962, durante uma caçada na Fazenda de Raul Deeke ( Fazenda Marily) no alto Palmeiras, presentes os dois irmãos Raul e Hercílio Deeke, além de Niels Deeke que estas linhas consigna, comentavam, os irmãos, ambos embombachados e calçados com suas botas sanfonadas e providas de tacões adequados para encaixar as esporas rosetadas para o incitamento das montarias, numa noite gélida de rachar os beiços, e estando à beira da fogueira dos nós de pinho cujo crepitar era abafado pela monótona marchinha extraída do bandônion que o gordo Xenofonte Lenzi ( apelidado “Fonte”) esticava e então, no entremeio das passadas da cuia do chimarrão, em seus devaneios, aquelas duas testemunhas ocularese co-partícipes de tantos fatos históricos da colonização do Vale do Itajaí, arrazoavam — feição e olhares saudosos perdidos nos seus passados distantes— quão imponente teria ficado o “Vaporzinho” postado, sobre a Laje do Lontra, bem lá no alto, como um “Brasão Alegórico”, a cingir a cidade de Blumenau. Entretanto imagine-se o que teria ocorrido ao monumento se a sua elevação ( altura) não fosse suficiente para, nas enchentes de 1983,1984, deixar o navio imune à força das águas. Por outro lado, também na Prainha, sobre pedestal muito mais baixo, esteve sujeito àquelas enchentes e resistiu, sem maiores problemas, à corrente do rio, se bem que lá estivesse à margem do centro da maior correnteza.
Enquanto em 31 de outubro de 1953 o nível do rio Itajaí Açu atingia 9,00 metros, no Nordeste brasileiro, no mês de março, a seca alcançava índice altíssimo, e a repercussão do flagelo ecoou por todo o país. Em Blumenau foram levantados fundos para auxílio à vitimas do infortúnio, cf. cópia de documento in arquivo Hercílio Deeke- (Pasta Revistas e Jornais ano 1953), cujo teor é o seguinte : “Escudo Armorial do Município de Blumenau – timbre (em vermelho) Prefeitura Municipal de Blumenau- Cópia do telegrama enviado pela COMISSÃO ANGARIADORA DE FUNDOS PRÓ-FLAGELADOS NORDESTINOS ao Exmo Sr. Governador do Estado da Paraíba, Dr. José Américo de Almeida. – Exmo. Sr. Governador José Américo de Almeida- João Pessoa – Paraíba . Temos a honra de comunicar Vossência Município de Blumenau vg solidário nossos irmãos nordestinos esta hora grave infortúnio flagelo seca vg reuniu através movimento popular prestigiado Prefeitura Municipal vg autoridades civis vg militares e religiosas vg imprensa vg rádio vg associações de classe vg escolares vg esportivas vg indústria vg comércio e povo em geral vg importância cento e vinte mil trezentos e setenta e um cruzeiros vg a qual vg em obediência deliberação Comissão responsável campanha vg nesta data foi remetida Vossencia ordem telegráfica agência banco do Brasil essa Capital vg fim aplicação a critério Vossencia benefício vítimas terrível flagelo pt Rogamos Vossência fineza comunicar recebimento importância fim divulgação esta cidade PT Atenciosas Saudações – Hercílio Deeke- Prefeito Municipal.. Marcílio João da Silva Medeiros, Juiz de Direito vg – Presidente Comissão. Federico Carlos Allende vg Presidente Associação Comercial e Industrial.
Em Resposta : O Sr.Prefeito Municipal Hercílio Deeke acaba de receber o seguinte telegrama : Oficial : Prefeito Hercílio Deeke Blumenau SC D 106 João Pessoa PB 5101,53,26,21 H Agradeço o nobre gesto de solidariedade humana dos brasileiros de Blumenau para com seus irmãos da Paraíba que sofrem mais uma vez neste ano funesto os efeitos de uma longa estiagem que deixou os homens do campo sem trabalho e a terra improdutiva pt Cds Sds José Américo Governador.”
F) SUPERFÍCIE APROVEITÁVEL PARA O ESPORTE AQUÁTICO : Dentre a parafernália de tubos de plantas cartográficas que Hercílio Deeke possuía na Secretaria da Fazenda do Estado, em Florianópolis, escolheu um e desenrolou uma comprida maqueta, cujo projeto representava um lindo lago salpicado de ilhotas interligadas por estreitas pontes em arco. Pedalinhos constavam desenhados sobre o espelho d’água e nisso perguntou a Niels Deeke se poderia identificar o local atinente à projeção. Não consegui e não posso hoje jurar que tenha sido elaborado especificamente para tentar ele implantá-lo no lugar que afirmou se destinar. Tratava-se do ribeirão Garcia, na época em que construíam a ponte da continuidade da rua 07 de setembro com destino a atual fonte luminosa, no início do bairro Garcia. O Ribeirão seria represado em baixo nível no local da atual da ponte dr. Udo Deeke, com parede (Tapume em concreto) de baixo custo e as áreas a montante planadas até as margens mais íngremes, sendo o material compactado em ilhotas mais elevadas que muradas de pedras em gabião depois de arborizadas seriam interligadas por pontilhões para pedestres abrigando áreas de passeio com bancos e mesas de marmorite. Algumas poderiam ser arrendadas com obrigação na manutenção e limpeza das demais. Concessão para “pedalinhos” seria efetuada com idêntico ônus. O nível de profundidade não ultrapassaria três metros e um espetacular espelho d’água com passeio público através das compridas ilhotas que necessariamente precisariam ser formadas com o material extraído no canal principal mais profundo ( O Talvegue seria implantando para dreno mestre, caso contrário em pouco tempo tudo estaria assoreado- somente a água esbordada do canal inundaria a totalidade da superfície) proporcionariam oportunidade de lazer e terminaria de vez que os fétidos banhados que vão desde do centro da cidade até os fundos das instalações da Cia. Souza Cruz. Acreditava Hercílio Deeke que a execução do projeto não seria muito dispendiosa, demandando poucas desapropriações pois tudo quanto estivesse abaixo da cota de 08 metros do nível do rio Itajaí estaria vedado à construções por disposições da P.M.B., além de pretenderem executar tudo em pedra, prevendo submersões ocasionais sem maiores danos, entretanto a renúncia de Jânio Quadros, e a instituição do Estado Parlamentarista com a criação dos Cargos de Primeiro Ministro, ou Presidente do Conselho de Ministros tudo postergou. Assim com a formação, no país, do 1º ministério parlamentar tendo como Presidente do Conselho de Ministros Tancredo Neves –( Tancredo Neves nascido em 1910) que exerceu a presidência até julho 1962, Brochado da Rocha e Hermes Lima – este último que em janeiro de 1963 ainda exercia a “Presidência do Conselho” (pesquisar quem precedeu a quem na Presidência do Conselho) Decadência do Parlamentarismo.) # ( Instituição do “Parlamentarismo” através da Emenda Constitucional nº 04- Ato Adicional de setembro de 1961 com IV Capítulos e 25 artigos, promulgada pelas mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do artigo 217, parágrafo 4º da Constituição Federal) # ( Estado pseudo Parlamentarista desde setembro de 1961 até o retorno ao presidencialismo pelo plebiscito 07 de janeiro de 1963), e retorno ao presidencialismo, a agitação no governo de João Goulart e a revolução de 31 de março de 1964, além da inflação galopante inviabilizaram qualquer tentativa de sua implantação.
Recordamo-nos que o projeto inicial ( desaparecido) da “Beira-Rio” consignava a rodovia contornando o ribeirão Garcia até a altura da Ponte sobre a rua 07 de setembro – Ponte dr. Udo Deeke. O projeto que foi chamado de “Projeto Pedalinho”, creio que quando Hercílio Deeke deixou a P.M.B. em 1966, aquele tubo com o esboço ficou no gabinete do Prefeito. Um indício disto tivemos quando Victor Fernando Sasse assumiu a Prefeitura de Blumenau em 01/01/1991( Exerceu a cargo de Prefeito até 31/12/1992), pois aventou, em entrevista radiofônica, a hipótese de viabilizar projeto nos mesmos moldes. Dificilmente uma idéia tão inusitada se repetiria espontaneamente, por isso creio que a “aquarela” de Hercílio Deeke ainda estivesse nalguma repartição da Prefeitura, depois da transferência para novo prédio. Seria a solução para resolver a problemática da falta de praças e mesmo paisagista que Blumenau mais necessita. Fica o registro.
()


“ ({ É possível saber muito, e ao mesmo tempo ignorar o necessário. Leon Tolstoi })”
Autoria : NIELS DEEKE, em Blumenau – Santa Catarina

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

- Coral Misto Garcia “Bom Pastor”

CORAL MISTO GARCIA – 60 ANOS – 15/05/1951 – 15/05/2011

Foto¹  de agosto de 1951 (34 foram reconhecidos dos 39 da foto pelo senhor Waldemar Hinkeldey) inauguração da Igreja no Gaspar Alto que se vê aos fundos com as folhas de palmeira, para dar mais solenidade ao fato. O regente Oswaldo Hinkeldey é o que se vê nos fundos, o último a direita da foto.
Foto início dos anos 19(60)
Da esquerda para a direita: Frederico Moeller, Wiegang Rüdiger, Curt Labes, Willibert Bewiahn, Hugo Kertischka, Ingo Eskelsen, Oswaldo Hinkeldey (regente), Hermann Roeder, Alfredo Roepcke, Rodolfo Roepcke, Geraldo Hinkeldey, Raulo Fischer, Ralf Gauche. Lore Ebeling, Ilma Iten, Anemarie Iten, Schwester Martha Kunzmann, Tecla Kertischka, Helga Dorow, Sidonia Moeller, Erna Moeller, Anna Firzlaff, Maria Kertischka, Iracema Hinkeldey, Iris Sandner, Irmgard Freygang, Irma Roeder, Erica Schiphorst, Adele Hinkeldey e Andolina
Coral Misto do Garcia no início dos anos 60, sob a regência do senhor Oswaldo Hinkeldey. A Schwester (irmã) Marta Elisabetha Kunzmann é a quarta da esquerda para a direita na primeira fila. Era carinhosamente chamada pela comunidade de "O Anjo Branco". Além de parteira, era muito popular devido à prática de caridade e espiritualidade, sem distinção de confissão religiosa. Com sua bicicleta, se locomovia para atendimento em diversas localidades do bairro entre 1937 e 1961.
Da formação atual (18/09/2011) são os seguintes nomes: (da esquerda para a direira): Ilse Hort, Roseli Rosenbrock, Gerda Schmidt, Ivone Butke, Hildegard Muege, Lia Hort, Lorena Hinkeldey, Regente Waldemar, Marlise Lümke, Pastor Horst Lümke, Margarete Germer Batista, Hildegard Bahr, Ilse Schwabe, Ursula Zwicker, Raul Splitter, Roberto Kertischka, Claudio Rosenbrock, Ingo Alfarth, Ingo Schmidt.
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Ata transcrita na integra e conforme a grafia da época
ATA DA REUNIÃO EM CASA PARTICULAR DA SENHORA VIÚVA MATHILDE GAUCHE, À RUA AMAZONAS S/Nº, BLUMENAU.

ÀS 20 HORAS DO DIA 15 DE MAIO DE 1951, FORAM CONVIDADOS POR MIM, O ABAIXO ASSINADO, DIVERSAS PESSOAS DA COMUNIDADE EVANGÉLICA DA GARCIA, PARA UMA REUNIÃO EM CASA PARTICULAR DA SRA. VIÚVA MATHILDE GAUCHE, A FIM DE FORMAÇÃO DE UM CÔRO MIXTO. APARECERAM OS SEGUINTES SENHORES: RALF GAUCHE, RUDOLFO ROEPCKE E MEINRAD DUWE, E SENHORITAS: ISOLDE WÜNSCH, ISOLDE MISSFELDT, RENATE ROSENBROCK E ELVIRA GAUCHE. ABERTO A SESSÃO, PEDI A PALAVRA E FIZ A SEGUINTE PROPOSTA: I.- A FORMAÇÃO DE UM CÔRO MIXTO SERIA UMA HONRA COMO TAMBÉM UMA ALEGRIA PARA TODA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE GARCIA. II.- O CÔRO SOMENTE DEVERIA CANTAR PARA FINS DE IGREJA, COMO TAMBÉM OS RESPECTIVOS ENSAIOS SERIAM EXECUTADOS SOMENTE NA SALA DA IRMÃ MARTHA. CADA SÓCIO, DIGO, CADA CANTOR COMO CANTORA, TINHAM QUE CONTRIBUIR COM UM (1) CRUZEIRO POR MÊS, DINHEIRO ESTE, QUE SERIA EMPREGADO PARA COMPRAS DE NOTAS, ARQUIVOS, PAPEL, ESTANTES, ETC.
PEDINDO AINDA A PALAVRA O SR. RUDOLFO ROEPCKE, ESTE PEDIU QUE, NA ENTRADA CADA SÓCIO DEVERIA PAGAR UMA JÓIA, NO VALOR DE CR$ 10,00 NO MÍNIMO.
TODOS DE PLENO ACORDO COM O ACIMA EXPOSTO, EM SEGUIDA FOI ELEITO A DIRETORIA PROVISÓRIA, ASSIM CONSTITUÍDA:
PRESIDENTE: RALF GAUCHE; PRESIDENTE: ISOLDE WÜNSCH.
SECRETÁRIO: RUDOLFO ROEPCKE; SECRETÁRIA: RENATE ROSENBROCK; TESOUREIRO: MEINRAD DUWE; TESOUREIRA: ISOLDE MISSFELDT.
REGENTE: OSWALDO HINKELDEY
ADJUDANTE: ELVIRA GAUCHE
AGRADECENDO A TODOS, FOI ENCERRADA A SESSÃO ÀS 21 ½ HORAS.
BLUMENAU, 15 DE MAIO DE 1951. 
OSWALDO HINKELDEY



Foto: Oswaldo Hinkeldey

SEGUEM AS ASSINATURAS DOS ELEITOS NOS RESPECTIVOS CARGOS
ESTE GRUPO DE PESSOAS CRESCEU E NO MÊS DE AGOSTO DAQUELE ANO DE 1951, JÁ TINHA A FORMAÇÃO DE UM GRANDE CORAL MISTO COM OS NAIPES DE VOZES COMPLETOS.
NAQUELE MÊS, O CORAL RECEBEU UM CONVITE PARA CANTAR NA INAUGURAÇÃO DA IGREJA DO GASPAR ALTO.
OS CORALISTAS FORAM CONDUZIDOS ATÉ O LOCAL EM UM CAMINHÃO, COLOCADO À DISPOSIÇÃO PELO SR. EDMUNDO HORT.
NA INAUGURAÇÃO DAQUELA IGREJA, O CORAL APRESENTOU 2(DOIS) HINOS QUE JÁ TINHA NO SEU REPERTÓRIO:
• “O SENHOR DOS ALTOS CÉUS”
• “A CAUSA É TUA SENHOR”
RESSALTAMOS QUE O PRIMEIRO HINO AINDA HOJE FAZ PARTE DO HINÁRIO DA IGREJA LUTERANA (HPD 1 – 243).
ABAIXO A NOMINATA DAQUELA FORMAÇÃO INICIAL COM 39 (TRINTA E NOVE) CORALISTAS, INCLUÍDO O REGENTE, CONFORME A FOTO DE AGOSTO DE 1951 (A primeira Foto¹  da postagem). : ALEX ROEPCKE, CURT LABES, ARNO KERTISCHKA, RODOLFO ROEPCKE, MEINRAD DUWE, HUGO KERTISCHKA, ALFREDO ROEPCKE, HEINZ FIRZLAFF, ROBERTO KERTISCHKA, WIEGAND RUEDIGER, GUSTAVO SEILER, RALF GAUCHE, RAULO FISCHER, HANS PREISSIG, OSWALDO HINKELDEY, PASTOR HANS METHNER, TECLA KERTISCHKA, ALRUN KERTISCHKA, ANITA KOERTELT, ERICA KOERTELT, ILSE FISCHER, ANNEMARIE ITEN, ELVIRA DUWE, GERTRUDES TALLMANN, HILDA ENNS, WALLY ENNS, SIEGRON SCHOENFELDER, ISOLDE WUENSCH, ISOLDE MISSFELDT, RUTH MISSFELDT, SIBILA ROSENBROCK, RENATE ROSENBROCK, ANNELIESE ITEN e ASTA WANDREY.
DESTA FORMAÇÃO INICIAL, COM A QUAL O CORAL OFICIALMENTE SE APRESENTOU, TEMOS CONHECIMENTO DE QUE 6 (SEIS) CORALISTAS AINDA ESTÃO EM NOSSO MEIO.(em destaque em negrito sublinhado).
NESTES 60 ANOS DE EXISTÊNCIA, O CORAL MISTO DO GARCIA CONTOU COM 2 (DOIS)REGENTES: OSWALDO HINKELDEY DESDE A FUNDAÇÃO ATÉ 03 DE AGOSTO DE 1992 E A PARTIR DESTA DATA ATÉ OS DIAS ATUAIS, ASSUMIU A REGÊNCIA O FILHO WALDEMAR HINKELDEY.
TODOS OS CORALISTAS ABRAÇARAM A CAUSA COM MUITO AMOR E CARINHO DESDE ENTÃO ATÉ OS DIAS DE HOJE, LEVANDO A PALAVRA DE DEUS EM FORMA DE CANTO CORAL NÃO APENAS EM CULTOS, MAS TAMBÉM EM ASILOS E APRESENTAÇÕES PÚBLICAS.
ATUALMENTE O CORAL MISTO GARCIA SE REÚNE TODAS AS 6as. FEIRAS PARA O SEU ENSAIO.
CONSTA NA PLACA DE HOMENAGEM PELOS 60 ANOS DE EXISTÊNCIA DO CORAL MISTO DO GARCIA, O SALMO 101, VERSÍCULO 1.
“Cantarei a bondade e a justiça, a Ti, Senhor cantarei”.
ESTE É O MOTIVO MAIOR QUE ESTAVA NO CORAÇÃO DAQUELE GRUPO DE PESSOAS QUE SE REUNIU EM 1951 COM O PROPÓSITO DE FORMAR UM CORAL MISTO.
ISTO PODE SER RESSALTADO COM TODA A CERTEZA, TENDO EM VISTA QUE O ÚLTIMO HINO QUE O CORAL GARCIA CANTOU SOB A REGÊNCIA DE OSWALDO HINKELDEY FOI “EU AGRADEÇO AO SENHOR”.
ESTE MOTIVO MAIOR ESTÁ PLANTADO E O CORAL MISTO NESTES SEUS 60 ANOS TEM CAMINHADO FIRME NESTE PROPÓSITO.
PARABÉNS A TODOS OS CORALISTAS, AOS QUE SE ENCONTRAM AINDA EM NOSSO MEIO, AOS QUE COMPÕE O CORAL MISTO ATUALMENTE, BEM COMO AO SEU REGENTE WALDEMAR HINKELDEY. E CONTINUEM FIRME NESTE BELO TRABALHO!
BLUMENAU, 18-09-2011.
Paróquia Evangélica Luterana Bom Pastor-Garcia.Fotos do Culto Festivo, realizado no domingo 18/setembro de 2011: Ação de Graças – Colheita e 60 anos de Fundação do Coral Misto Bom Pasto-Garcia.
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Ata da formação do Coral Misto do Garcia enviado pelo Advogado e amigo Osmar Hinkeldey, filho do fundador e regente Oswaldo Hinkeldey.
Transcrito com grafia original - portanto sem correções.
Arquivo Osmar Hinkeldey/Waldemar Hinkeldey/Adalberto Day
Acesse também:
http://adalbertoday.blogspot.com/2011/06/oase-ordem-auxiliadora-de-senhoras.html
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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

- A Fanfarra da EEB “Padre José Maurício”

Em Histórias de nosso cotidiano, apresentamos mais um belo texto do colunista André Luiz Bonomini relatando sobre “A Fanfarra da EEB”. Padre José Mauricio do bairro Progresso.

Por André Luiz Bonomini

Olá amigos!
Depois de um tempo de ausência, volto com algumas postagens, meio sem regularidade, mas vou fazer o possível para continuar aqui contando grandes histórias também do Progresso, Garcia e da nossa querida Blumenau, como um todo.
A cidade de Blumenau, por natureza, já tem grande nome quando o assunto é fanfarras, tanto as fanfarras do “Projeto Bandas & Fanfarras” da prefeitura quanto as fanfarras das escolas estaduais aqui da cidade proporcionam grandes espetáculos quase todos os anos em apresentações cívicas, concursos e nos eventos ditos “máximos” entre as bandas e fanfarras da cidade, que são os desfiles de 2 e 7 de setembro.
Muitos são os nomes tradicionais que existem no meio musical nas escolas de Blumenau, Anita Garibaldi, que sob a regência da Bia Passold, já conquistou até campeonato nacional. Entre outras como as bandas do Pedro II (do centro), Francisco Lanser, Machado De Assis, Celso Ramos, entre outros. No entanto, em 2001, começou a despontar também outro grande nome famoso na praça. Neste ano era fundada a fanfarra da EEB Padre José Maurício. É o que nós saberemos agora de sua história, que com muito brio, completa nesse ano, inabaláveis 10 anos de alegria!
A Fundação
E.E.B. Padre José Maurício
A ideia de se ter uma fanfarra já vinha há muito tempo percorrendo os diretores que por lá passaram, a primeira a realmente pensar construtivamente na fundação de uma fanfarra foi a Senhora Walkiria Sens Luchtenberg, na época, diretora do educandário.
No entanto, segundo ela mesma, era tudo muito difícil, desde a compra de instrumentos até a ajuda de alguma pessoa entendida de musica.
Tudo parecia complicado, mas o sonho da querida dona Walkiria começou mesmo a tomar forma apenas em 2001, quando uma soma de fatores fez com que a fanfarra começasse suas atividades tão logo no começo daquele ano. Por intermédio já da sucessora de dona Wailkiria, dona Dulce Maria Lehnen, se prosseguiu o processo de formação da banda. Com a vinda de instrumentos novos pelo governo estadual e a tão esperada vinda de um regente. O baterista Gian Carlos Candido.
Gian tinha (e tem) um conhecimento incrível sobre percussão e na época era baterista da afamada Banda Do Barril. Mas como regente era sua primeira experiência. O primeiro objetivo de imediato era convidar e preparar o grupo que, pela primeira vez, levaria a fanfarra a um desfile no dia da independência daquele ano. A data de fundação mais clara é do dia 3 de Abril de 2001. Tendo como primeira formação o numero de 36 integrantes, isto só contando a bateria.
Os ensaios eram levados a margem da perfeição, e com isso, Gian também foi ganhando muita experiência em lidar com aquele jovem grupo. Em 7 de Setembro de 2001, a fanfarra, enfim, é colocada a prova no seu primeiro desfile. Uma primorosa estreia, com muitos elogios de toda a comunidade do Garcia e Progresso. Curiosamente, no mesmo ano e um ano depois começou uma verdadeira chuva de novas fanfarras do bairro Progresso, Henrique Alfarth, Pedro II, José Vieira Corte, Izolete Muller e Nilo Borghesi passaram a integrar o cast de fanfarras do bairro que já tinha Celso Ramos, Santos Dumont, e, claro, o Padre José Maurício.
A escrita de uma Bela História
Em 2002 mais novidades, com a chegada de duas liras para compor o lado melódico da fanfarra. A partir delas, pode se começar a tocar musicas e se criar um repertório.
Além do desfile, esse ano, a fanfarra faz sua primeira apresentação “parada”, na Praça Dr Blumenau, no inicio da XV. Era manhã de domingo e o repertório escolhido era composto de “Asa Branca” (baião), “4 Semanas De Amor”(bolero) e uma valsa que não me recordo.
- Em 2003, a fanfarra apresenta-se pela primeira vez na tradicional festa da escola. Uma apresentação que se tornou habitual em todas as festas. No mesmo ano, a fanfarra participa pela primeira vez do famoso “Concurso Regional De Bandas e Fanfarras” em Gaspar. E tão logo na sua primeira participação fatura o 2º lugar na modalidade “Fanfarra Especial Com Lira” categoria infanto-juvenil.
- Mas a sagração maior da fanfarra, sem duvida viria em 2004, depois de mais um ano agitado a fanfarra vai pela primeira vez ao Concurso Estadual de bandas, que neste ano era realizado em Blumenau, no ginásio do tradicional Conjunto Educacional Pedro II, e Blumenau é agraciada com duas conquistas. Não só o Anita Garibaldi, mas o Padre José Maurício sagra-se campeã na categoria - mesma categoria e modalidade de Gaspar. A festa foi tamanha, tanto no ginásio quanto dentro da escola.
A fanfarra continuou por mais dois anos participando em Gaspar, em 2005 e 2006 vieram os dois títulos de campeã na modalidade “especial”. Mas, por não ter fanfarras em sua categoria, a corporação desistiu de concursos por um bom tempo, se dedicando aos desfiles e apresentações na cidade. Nessa época a fanfarra adota um nome “secundário” de muito sucesso e sempre lembrado por seus integrantes ate hoje: “Corporação Musical FAJOMA”.

Em 2010, Gian deixa a corporação depois de 9 anos de excepcionais serviços prestados a FAJOMA. Sua ultima apresentação foi no festival de Itapema, em dezembro de 2010. Em seu lugar, para o ano de 2011 entra em cena o jovem e promissor Fabio Maia Motta. Com experiência no que tange as bandas, concursos e seus afins, Fabio começa a fazer a fanfarra novamente entrar na trilha do sucesso. Modifica toda a organização, trabalha junto da direção em maneiras para investir e melhorar a banda, seus instrumentos, indumentária e pessoal e, claro, aumenta o numero de apresentações em que a fanfarra se faz presente.
Só no primeiro semestre de 2011 a FAJOMA já fazia 5 apresentações, algo nunca mais visto desde 2008. Entre elas, os destaques ficam para o festival de Nova Trento e a volta aos concursos. E em grande estilo, com o 2º lugar na categoria “Fanfarra Especial Com Lira”. Importante salientar que a fanfarra tem superado expectativas, calado os críticos, contrariado previsões e voltado a se estabelecer entre as grandes corporações escolares-musicais de toda Blumenau.
Chegamos em 2011, e com ele a FAJOMA completa então seus 10 anos de atividades ininterruptas. Mesmo com seus altos e baixos a fanfarra da EEB “Padre José Maurício” conseguiu muito mais do que simplesmente representar a escola. Conseguiu se estabelecer como uma corporação firme, forte, briosa, garrida, que continua surpreendendo a todos, com musicas que convidam a se cantar junto. Foram 10 anos de muitas histórias de todos que já foram contadas. E se em 10 anos já tivemos tudo isso, e só em 2011 já fizemos mais do que os últimos anos...o que esperar de mais 10 anos? 20? 30?
É isso ai amigos, essa foi um pouco da história da Corporação Musical FAJOMA, da Fanfarra da EEB Padre José Maurício, de uma banda que vai continuar, com muito brio, a abrilhantar cada vez mais o Progresso e toda a cidade, parabéns a todos que já fizeram parte, que ainda nos ajudam, que estão doando seu tempo para escrever a gloria merecida. Esta não é uma fanfarra, apenas. Está é a Fanfarra da EEB Padre José Maurício, esta é a Corporação Musical FAJOMA!
Acesse também a Fanfarra da EEB.Celso Ramos :
 http://adalbertoday.blogspot.com/2010/10/destaques-do-bairro-gloria.html

André Luiz Bonomini - desde 2001 como integrante dessa fanfarra.
Arquivo de André Luiz Bonomini e Adalberto Day

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

- Homenagem José Gonçalves

Em histórias de nosso cotidiano, apresentamos a derradeira entrevista de José Gonçalves, concedida ao nosso grande amigo Luiz Eduardo Caminha

Por Luiz Eduardo Caminha

Blumenau, 20.03.2010
Preâmbulo:

Esta foi, sem dúvida, a última entrevista concedida por José Gonçalves. Entrevistei-o para conhecer mais deste grande blumenauense, meu amigo. Em especial de tudo o que ele vivera e conhecera sobre os Stammtische. O Objetivo principal era trazer subsídios para o livro de minha autoria que estava em fase final de redação “Stammtisch, re-inventando tradições”, cujo lançamento ocorreu em 21 de Outubro de 2010. Tanto assim o foi que a parte da entrevista em que José Gonçalves trata desta tradição germânica em Blumenau foi toda publicada no próprio livro.
Mas havia um outro motivo. Uma surpresa que eu queria fazer, após o lançamento do livro, a este grande personagem da história de Blumenau. A ideia era publicar a entrevista completa na Sessão “Mérito Stammtisch” de meu Site “Stammtisch, Confrarias e Patotas”.

Agendamos e transferimos o compromisso por três ocasiões. Em seu último livro “Memórias de meu viver”, José Gonçalves ainda registrou que eu lhe telefonara para uma entrevista sobre o tema “Stammtisch” e discorre algumas experiências vividas sobre a tradição. Em 20 de Março, gravador em punho, a entrevista aconteceu. Conversamos por quase duas horas, na varanda de sua casa no Bairro Bela Vista. Foram momentos de muitas lembranças, histórias e emoções.
Seu “Ze´” estava radiante, feliz em estar trabalhando na re-edição do livro “Espelhos da Alma”, por solicitação da Rede Record, com amplas possibilidades de vir a se transformar numa novela. Manifestou o desejo de continuar a viver mais um pouco, até que publicasse dois outros livros em que estava também trabalhando. Contou muitas coisas, entre tantas, uma surpresa: foi um dos fundadores do Moto Clube de Blumenau.
Infelizmente José Gonçalves não viu a entrevista publicada parcialmente em meu livro e, muito menos, a entrevista completa cuja homenagem eu preparava. Acabou nos deixando poucos dias antes do lançamento do livro.
Mas a dívida ficou. No começo, fiquei constrangido em publicar a homenagem no Site. Agora, passados nove meses de sua partida, faço-o como forma de gratidão a um dos personagens mais vibrantes e atuantes que conheci nesta minha passagem por Blumenau. Em homenagem ao escritor e incansável defensor da cultura desta cidade. E, sobretudo, em homenagem aos inúmeros e incontáveis amigos que deixou, para que possam usufruir destas suas últimas manifestações em vida. José Gonçalves, se nada tivesse que ser dito a seu respeito, notabilizou-se por ser uma pessoa que a vida ensinou a bravura, o destemor e a sabedoria de saber ouvir. Era um mestre da vida e da paz.
Um eterno conciliador. Um sábio.

Nome: José Gonçalves
Nasc.: 31.12.1919
Local: Sertão do Ilze que pertencia, na época, ao Distrito de Indaial, município de Blumenau.
Falecimento: 01.10.2010, em Blumenau, aos 91 anos.

Caminha: Quem é José Gonçalves, por José Gonçalves?
José Gonçalves: Sou o que sempre fui, um batalhador de Blumenau que sempre lutou pelas boas causas que se realizaram em nossa cidade. Fui sempre um ativo participante de diversas iniciativas de nossa cidade, que cito no meu 6º. Livro que acabo de publicar “Memórias de meu viver”, como salvar o vapor Blumenau que hoje está na Prainha, participar da Codevi – Comissão de Defesa do Vale do Itajaí, da qual fui Secretário Executivo sob a Presidência do Coronel Moreira Lima, então Comandante do Batalhão. Nesta Comissão, eu me orgulho muito de ter participado junto com o Coronel e outros companheiros e conseguir realizar nosso principal objetivo que era a Construção das três barragens que estão aí hoje para ajudar a resolver o problema das enchentes em Blumenau.

Caminha: Eu lhe conheci ocupando o cargo de Diretor da Fundação Cultural de Blumenau. Como foi a sua experiência à frente da Fundação.
José Gonçalves: Quando assumi eu aceitei um desafio que me foi feito pelo Renato Vianna, então Prefeito da cidade, para colocar aquilo mais ou menos nos eixos porque andava meio desamparada. O outro desafio foi porque eu tinha que me transformar efetivamente em jornalista e pesquisador. Eu já praticava o jornalismo, mas não tinha experiência como pesquisador e isto me fez prender muito porque eu consegui editar a Revista Blumenau em Cadernos, que o Ferreira (José Ferreira da Silva) fundou, por um período de 18 anos enquanto administrava a Fundação. Mas os dois maiores desafios que eu enfrentei lá foram as enchentes de 1983 e 1984, quando perdemos só em 83, vinte e cinco mil arquivos entre livros e revistas dispostos na Biblioteca que havia ali. Além disso, nos vimos com a obrigação de construir o prédio da Biblioteca porque a outra se desmontou inteira com a segunda enchente (1984). E isso eu consegui. Dois anos depois da enchente, em 1986, conseguimos inaugurar a Biblioteca que até hoje lá está. Foi uma vitória conseguida não só por mim, mas por todos os blumenauenses que colaboraram com recursos. Todos achavam que eu não conseguiria ergue-la por menos de 2,5 milhões de cruzados novos e eu consegui entrega-la toda edificada, com todos os equipamentos internos pela quantia de 1.753.000,00 cruzados novos.

Caminha: Quantos anos à frente da Fundação?
José Gonçalves: Eu fiquei lá de 1977 a 1996.

Caminha: Conversando com historiadores, com pesquisadores a opinião é unânime: a Fundação Cultural de Blumenau contém um dos maiores acervos brasileiros sobre a história da colonização alemã e das tradições alemãs. O Senhor concorda?
José Gonçalves: Exatamente. E não é só a Biblioteca. O Arquivo Histórico, eu acho que não existe no Estado de Santa Catarina e talvez nem no sul do Brasil existe um Arquivo Histórico tão perfeito, tão completo como nós temos em Blumenau, que registra com documentos e inúmeras fotografias tudo o que aconteceu ao longo dos anos que se iniciaram em 1850 a partir da fundação de Blumenau. É uma verdadeira obra com uma riqueza de detalhes, uma fortuna histórica que a maioria dos blumenauenses nem conhece. Eu recomendo até que cada cidadão blumenauense vá conhecê-lo, passe um dia todo no Arquivo, para ver um pouco do que existe lá.

Caminha: As principais fontes de minhas pesquisas sobre Stammtisch e as tradições em Blumenau foram o Arquivo Histórico, a Biblioteca Municipal e o Blumenau em Cadernos do qual eu sou fã e assinante. Graças a Deus que a iniciativa do Blumenau em cadernos, do historiador José Ferreira da Silva, teve pessoas como o senhor e a professora Suely Petry para dar continuidade para esta obra que é uma referência da história de nossa gente.
José Gonçalves: Sem dúvida alguma. O Arquivo Histórico não só atende os interesses do blumenauense em suas pesquisas como também a muitos pesquisadores do sul do país que aqui vem, em Blumenau, para efetuar suas pesquisas. Aqui encontram informações que raramente encontram em outro local. E há que se contar ainda aquele terrível incêndio de 1958 que queimou uma quantidade grande de documentos. Mas mesmo assim ainda se conseguiu recuperar muita coisa e o Ferreira, neste pormenor, teve um trabalho extraordinário. Em boa hora ele fundou a Revista Blumenau em Cadernos, em 1957, que já completou seus 50 anos de circulação. Infelizmente, face a dificuldades financeiras a Revista está circulando a cada dois meses, mas existe material suficiente apara publicá-la mensalmente. A Suely, neste processo, tem sido de fundamental importância para continuidade das iniciativas do Ferreira e da própria Fundação.

Caminha: E vez por outra o senhor ainda nos brinda com seus artigos...
José Gonçalves: É. Eu deixei, quando sai da Fundação, um acervo muito grande, para ser publicado na própria Revista. Como eu disse, eu me propus a ser um pesquisador quando entrei na Fundação e lá mesmo eu me enriqueci muito, aprendi muito. Como eu digo a meus amigos, nós seremos eternos aprendizes se quisermos aprender. E o Arquivo histórico ensina tudo aquilo que o povo não sabe.

Caminha: Bem, vamos falar do escritor José Gonçalves. Quantos livros editados e os títulos?
José Gonçalves: São seis livros, contando este último publicado no ano passado, Memórias do meu Viver”.
O primeiro foi “Ele Sobreviveu”, sobre a vida do Alfredo Wilhelm e o que ele passou como um brasileiro, na condição de soldado alemão, na 2ª. Guerra Mundial. O segundo é também sobre a 2ª. Guerra, a vida do Curt Max Lebrecht, que foi soldado das forças aliadas. Ele tem uma história fantástica porque era judeu, fugiu da Alemanha porque foi perseguido por Hitler, foi para os Estados Unidos, lá se naturalizou e logo em seguida foi convocado para o exército. Já no posto de cabo ele foi para a Inglaterra para ser treinado e participar da invasão da Normandia. Aliás, ele participou desta invasão. Esta história toda está neste segundo livro e duvido que alguém tenha descrito com tanta clareza aquilo que aconteceu naquela madrugada da invasão da Normandia, quando estava presente, naquele exército de vanguarda, o Curt Max Lebrecht. Ele quem me contou todos os detalhes que estão neste livro que se chama “O cidadão de três pátrias” com duas edições já totalmente esgotadas. O terceiro livro foi “Dico, sertanejo herói” que conta a história de outro participante da 2ª. guerra, mas agora na Itália, integrando a Força Expedicionária Brasileira, o Dico, que se chamava Hercílio Gonçalves, que era meu primo em 3º. Grau e que veio a falecer em Monte Castelo, em Novembro de 1944, durante a tomada de Monte Castelo. Neste livro eu romanceio a história do Dico e acrescento outros personagens fictícios para embelezar a história. Depois vem o livro que é o meu xodó “Espelhos Da Alma”. Todos os que o leram tinham a opinião de que este livro deveria se transformar numa novela porque ele contém todos os ingredientes necessários para se mostrar a força moral que um povo pode ter, desde que siga as normas da justiça da retidão, da humildade e da bondade. É por isso que estou trabalhando na sua 2ª. edição porque a TV Record, através de sua filial em Blumenau solicitou-me de formas a enviá-lo à sede da emissora em São Paulo a fim de estudarem a possibilidade de adapta-lo a uma novela. É o que estou me ocupando agora. Passando-o a limpo para gravá-lo, como exige a modernidade, num PEN-DRIVE (risos) de formas a envia-lo à Gráfica e Editora Odorizzi para que eles o imprimam. A capa do livro já está pronta. São coisas que estou vivendo.

Caminha: Então o senhor está revisando o livro e dando uma repaginada, não?
José Gonçalves: É isso. O livro foi escrito há 20 anos e estou dando uns retoques, melhorando-o um pouco. Bem, daí vem o 5º. Livro “O piloto e a rainha”, um livro curto, rápido de ler e muito agradável para quem gosta da aviação do passado, especialmente dos primórdios de nossa aviação naval. É uma história muito interessante que chega a revelar a existência de uma rainha de um povo que vivia há muitos anos atrás na Amazônia, e por fim este livro que acabo de publicar “Memórias do meu viver” que narra toda a minha vida desde os sete meses de idade gestacional, ainda no ventre de minha mãe. Lógico que desta época até os seis anos muitas coisas me foram relatadas ou relembradas por meus irmãos, como foi o caso da casa toda de palmito que meu próprio pai construiu. Agora ainda tenho outros dois livros que já estão prontos para irem para o tal do Pendrive. Um deles é “Folhas ao Vento”, um livro em que procuro emprestar meu apoio integral ao Agrônomo, um profissional sem um adequado reconhecimento e que pode fazer muito para a salvação dos problemas ecológicos que passamos, pela nossa Amazônia, pelo nordeste, e outros tantos que os governos sucessivos nunca tiveram a devida coragem de encarar. Se o governo apoiasse esse profissional e os enviasse para estes locais, com o devido apoio das forças armadas para protegê-los daqueles jaguaras de políticos que não querem ver nada daquilo resolvido. Este é um livro em que eu faço uma espécie de provocação sobre o assunto. Mas eu estou esquecendo de uma coisa importante neste que não tem estas conotações com a história, um livro não histórico, eu diria assim, algo que saiu da minha mente: seria o resultado desta ação destes profissionais que acabam por transformar todo o nordeste do Brasil e dar um fim nos absurdos que ocorrem na Amazônia.

Caminha: Quem sabe este livro não venha a servir como plano de ação para um governo no futuro?
José Gonçalves: Eu espero que estas coisas realmente ocorram. Quem sabe lá?
E, finalmente temos ainda um 8º. Livro “O passado em crônicas”, que publica as crônicas que escrevi no passado, quando eu era radialista e tinha o programa Revista Matinal. Foram mais de 370 crônicas, das quais eu escolhi aquelas que eu julgo importantes por guardarem uma conotação histórica com Blumenau.

Caminha: Considero que o alemão, via de regra, é mais reservado em fazer amizades. No litoral, quando você é convidado para ir à casa de alguém, você já é recebido na primeira ocasião pela cozinha, um lugar privado da família. O alemão convida recebe pela sala. Mas quando você lhe convence que veio para trabalhar, para edificar, que você é honesto, correto, ele escancara as demais dependências da casa como se você fizesse parte de sua família. Ou seja, quando ele se torna seu amigo é amigo mesmo.
José Gonçalves: Sem dúvida é isto mesmo. Ele pode ser reservado, um pouco desconfiado, mas o que ele quer é identificar bem a pessoa que está querendo ter o contato com ele, mas o elemento alemão é tão hospitaleiro como qualquer outro . E isto fez a fama da cidade ser hospitaleira. Ainda hoje, apesar do crescimento enorme, conhecendo Blumenau como nós conhecemos, nós podemos dizer que ainda vivemos num paraíso.

Caminha: Quando foi seu primeiro contato com um Stammtisch?
José Gonçalves: O primeiro "Stammtisch" que eu conheci lá pela década de 1947 foi aquele que eu frequentei e se localizava num bar e lanchonete existente no local em que mais tarde foi erguido o prédio em que se acha instalada a ACIB – Associação Comercial e Industrial de Blumenau. Naquele local, que era o térreo de uma casa de dois pavimentos, realizava-se costumeiramente e naturalmente quase todas as tardes, um encontro de jornalistas e radialistas que ali em redor de uma mesa, conversavam e trocavam ideias sobre tudo e todos, assim como analisavam as últimas noticias sobre esportes e outras mais.

Caminha: Eram muitos os participantes?
José Gonçalves: Lembro-me dos que mais frequentavam o local e que eram o João Vieira, poeta repentista muito popular pelo seu pseudônimo de "Mano Jango", Maurício Xavier, jornalista emérito e mais tarde diretor do jornal "A Nação", Luiz Reis, abalizado jornalista, Nilton Russi, editor da página esportiva de jornal "A Nação", Manoel Pereira Júnior, o popular Maneca da Radio, muito estimado e conhecido em Blumenau. Com mais raras aparições o Sebastião Cruz e o Cássio Medeiros também militantes da imprensa local, além de outros cujos nomes minha memória nega-se a fornecer neste momento.

Caminha: Mais alguma lembrança de outro Stammtisch?
José Gonçalves: O outro "Stammtisch" que eu conheci e frequentei foi c existente num restaurante situado à Rua Sete de Setembro, na quadra entre as ruas Ângelo Dias e a Nereu Ramos e parece-me que era conhecido como Restaurante Holetz. Ali, numa ampla mesa que não era na realidade redonda começamos, os motociclistas de Blumenau, a nos encontrar já na década de 50 e dessas reuniões quase que diárias, acabamos fundando o Moto Clube de Blumenau do qual, além de fundador, fui Secretário da 1ª. Diretoria e da Comissão Constitutiva do Clube. Desse grupo eu lembro o nome do Fritz Reimer, do Klever, que era funcionário das Gaitas Hering, Ivo Moes, Hans Mailer, Waldemiro de Oliveira, Ernesto Wetsch e do Paul Beimerche.
Também conheci e frequentei o Stammtisch que se reunia no varandão do Clube Náutico América, no tempo em que o Sebastião Cruz era o Presidente. Lá compareciam diariamente, ou quase todos os dias, além do Sebastião Cruz, o Paulo Hering, o notável defensor de nossa flora e fauna, Carlos Ubiratan Jathay, que mais tarde foi Presidente do Clube, um cidadão de sobrenome Otte (não lembro o primeiro nome), que era proprietário de uma fundição que fabricava tachos de cobre, ali na Alameda Rio Branco, o técnico da guarnição americana de remadores, cujo nome também não lembro e outros mais.

Caminha: Mas eu li, também, no Blumenau em Cadernos, de um Stammtisch que o senhor conhecia ou frequentava, onde participava o Senhor Augustinho Schramm.
José Gonçalves: Sim. Este se localizava na Churrascaria Palmital, ali na Rua Nereu Ramos. Foi ainda na década de 50 e eu também o frequentava. Ali se reuniam, os integrantes da Rádio Clube de Blumenau, principalmente o Flávio Rosa, eu, o De Maria e o Jenner Reinert.
Nesta mesma churrascaria também se reunia um outro Stammtisch cujos membros eram também meus amigos. Este foi o grupo que eu referi no Blumenau em Cadernos. Dele faziam parte o Augustinho Schramm, o Heinz Hartmann, Nilton Kiesel, Júlio Metzger. Eu também frequentava este grupo. Foram aqueles quatro, mais eu e o Flávio Rosa, os seis idealizadores do Bela Vista Country Club. Mas a este grupo também compareciam o Walter Klitzke, o Nicolau Eloy dos Santos, o José Ribeiro de Carvalho que também se associaram àquele grupo que deu início ao Bela Vista.

Caminha: O Senhor não perdia um grupo de Stammtisch, não? (risos)
José Gonçalves: Pois é. O Adolfo Ern, que era o proprietário da Churrascaria Palmital, comprou então um terreno na Rua 7 de Setembro. Construiu um prédio de dois andares e fundou lá a Churrascaria do Adolfo. Ele morava no piso superior e o Restaurante era embaixo. Com isto acabou-se o Stammtisch da Palmital e seus habituais frequentadores transferiram-se para o Restaurante Chinês, na Rua Quinze, defronte a Casa Flamingo, numa mesa redonda que era o nosso ponto de encontro. Ali o grupo cresceu muito, formou-se um outro quase só de brasileiros. O grupo ia crescendo e trazendo novos sócios para o projeto do Bela Vista. Eu lembro que eram muito agradáveis os fins de tarde ali no meio de tantos companheiros e amigos.

Caminha: E na Churrascaria do Adolfo?
José Gonçalves: Lá se formou um outro Stammtisch. Eu participei deste grupo algumas vezes, embora não diariamente e o fazia porque, pelo menos duas vezes por semana eu me encontrava naquele recinto com o saudoso amigo e companheiro do Rotary, Nilton Machado Vieira, tenente-coronel e comandante do 23º. Batalhão de Caçadores.
Estes foram os Stammtisch que eu frequentei em nossa querida cidade.

Caminha: Mas o senhor conhecia outros Stammtisch, não? Lembro que o senhor me falou a respeito de um que se localizava na Itoupava Seca. Aliás, o senhor cita em seu livro “Memórias do meu viver” a existência de um Stammtisch no Hotel Wüerges, ali no antigo Bairro Altona (hoje Itoupava Seca).
José Gonçalves: Sim, o Hotel Wüerges ficava defronte a sede do Jornal A Nação, onde trabalhei. Era pela segunda metade da década de 40. Seu dono, Sr. Wüerges, e toda a sua família era muito acolhedora. Eu frequentava muito o hotel porque lá havia um bar, dentro do próprio hotel, aonde eu ia com frequência fazer um lanche ou comprar alguma coisa. E eu via uma, às vezes duas vezes por semana, um grupo que sempre estava reunido ali. Talvez até houvesse mais grupos, porque sempre havia gente reunida lá. Mas um destes grupos era formado por pessoas que moravam ali por perto, cerca de 10 a 12 homens cuja idade já ultrapassava os 60 anos. Era um Stammtisch muito bonito, que estavam sempre conversando, alegres, jogavam “caneco” (também conhecido como general ou poker de dados). Naturalmente que só falando em alemão. Mas eles estavam sempre lá.

Caminha: Entre as características dos Stammtische atuais, além da mesma mesa, o mesmo lugar, os mesmos acentos etc, uma que se destaca é a irreverência. No bate-papo quase que diário ou semanal, além dos assuntos sérios da cidade, havia o famoso “jogar conversa fora” (como os alemães gostam de chamar para as piadas, os assuntos irrelevantes) e as brincadeiras, as gozações, enfim a irreverência no seu sentido de coisa trivial, fútil, banalidades. Talvez neste espírito é que tenha se forjado tanto compadrismo, eles se tratam como verdadeiros irmãos, não de sangue, quem sabe de cerveja. Nas suas lembranças isto também era comum nos grupos do passado?
José Gonçalves: Sem dúvida alguma. Era do hábito do alemão discutir muitos assuntos. Às vezes havia até divergências, de tal forma que se esta divergência fosse muito intensa, renitente, radical, eles se separavam. Aí, o grupo ficava lá e o um ou alguns iam formar um outro grupo ali mesmo, no mesmo ambiente, ou em outro lugar. Assim como aconteceu com os Clubes de Caça e Tiro que, no fundo, se formos buscar bem, quase todos começaram com um grupo que se caracterizava como um Stammtisch. Não todos. Mas depois do primeiro, que hoje é o Tabajara Tênis Club, o que aconteceu foi isso. Hoje nós temos cerca de 35 Clubes que se formaram fruto da teimosia do alemão em querer fazer a coisa bem feita. Quando começava a surgir divergências na diretoria destes Clubes, a metade saia pra formar um outro Clube de Caça e Tiro.
E assim aconteceu de, naquela época, proliferarem os Stammtische de Blumenau.

Caminha: Há até uma piada que diz mais ou menos o seguinte: na época que começaram a proliferar as Schützenverein, dois alemães se reuniam e formavam uma Schützenverein. Se três alemães se reunissem, sairia, em pouco tempo, duas Schützenverein e assim por diante.
José Gonçalves: Sim, é mais ou menos isso e tudo vem desta cultura de procurar fazer o mais certo possível. Procurar sempre a perfeição.

Caminha: Para finalizar vamos falar de um período sempre citado como um trauma para a cultura germânica no Brasil. Falo da Era Vargas. Nas pesquisas que fizemos nota-se claramente que houve uma espécie de apagamento da memória alemã, de alguns costumes, algumas tradições, entre elas o Stammtisch. Foram levadas de rodo pela xenofobia daqueles anos. O que o senhor pensa desta época?
José Gonçalves: Bem, eu penso que se dependesse do próprio Getúlio Vargas nada disto teria acontecido. O que havia era uma política nacionalista que foi aproveitada por algumas pessoas que tinham o poder na mão e praticaram algumas vinganças, algumas crueldades contra os filhos ou descendentes dos alemães, dos italianos e dos japoneses. Mas eles nunca tiraram do coração de ninguém esta vocação, este desejo, de se reunirem, sentarem em torno de uma mesa como faziam nos Stammtisch. Muito parecido com o que agora está acontecendo.

Caminha: Como o senhor avalia esta re-invenção do Stammtisch e os Encontros de Stammtisch, a Strassenfest mit Stammtischtreffen, como ferramentas de resgate desta tradição?
José Gonçalves: Sem dúvida alguma, tudo o que se faz para resgatar o passado e os hábitos trazidos da Europa desde a época dos colonos, tem um valor inestimável. Isto que se está fazendo em Blumenau é muito importante para reavivar esta tradição que andava apagada da memória, assim como outras que a gente vê nestes Encontros da Rua 15. Naquela época do nacionalismo, não se podia falar alemão e, portanto, não se podia falar a palavra Stammtisch, mas isso passou e agora vemos isto renascer a até nas escolas já se sabe o que isto significa.

Caminha: Bem, como última questão, além desta vida toda que o senhor passou, por todas as coisas que o senhor esteve ombreando seja à frente seja lado a lado, além dos 6 livros, da re-edição do Espelhos da Alma, dos dois outros que estão lá aguardando um Pendrive, além dos 90 anos bem vividos, com toda esta lucidez, posso arriscar que exista um projeto para o senhor chegar aos 100 anos ou há ainda algum outro projeto futuro?
José Gonçalves: Não! O meu projeto futuro agora é viver né (risos). Pra isto eu tenho que cuidar de mim mesmo. Cuidar da minha carcaça (risos). Como diz o meu médico “Olha, Gonçalves, você não pode querer viver como se fosse um jovem de 60 ou 70 anos, você tem que pensar que já tem 90 anos”. Eu até aconselho meus amigos a aprender a viver com a idade que eles têm, mas às vezes eu esqueço disso. Dia desses, eu esqueci deste pormenor e acabei no hospital. Mas eu me cuido, na esperança que Deus na sua eterna bondade, como fez comigo me trazendo em suas mãos até esta idade, me deixe viver um pouquinho mais para ver todos estes meus livros publicados. Aliás, em todos os meus livros, em tudo o que fiz e faço, eu agradeço a Deus, presto-lhe uma homenagem, e sugiro às pessoas que também acreditem em Deus.

Caminha: Seu recado final a todos aqueles que lhe admiram e lhe querem tanto, alguns como o Vasco, entre outros.
José Gonçalves: (Eu também gosto muito do Vasquinho). Sabe, eu agradeço todos os dias por esta herança. Por ter tantos amigos, em todos os lugares que vou. Gente que se aproximou de mim por causa de algumas sementes que eu plantei. Gente que até vem a mim para dizer que eu sou uma personalidade especial. Eu não sou nada disto. Eu apenas aprendi a viver e a conviver e é isto o que desejo a todos que vierem a ouvir ou ler esta entrevista. Tratem bem o seu semelhante Se não puderem fazer um algo mais, dêem um abraço bem apertado no amigo quando o reencontrar ou mesmo naquele que, não sendo seu amigo, seja seu conhecido, porque num aperto de mão ou num abraço que se dê em alguém nós estamos dando um pouco de nós, mas também estamos recebendo um pouco de quem apertamos a mão ou abraçamos. E isto é muito bom. Provoca um sentimento de amizade muito agradável além de começar a desenvolver um sentimento muito grande de bondade em seu coração. Além disso, eu recomendo a todos que conduzam Deus em seu coração e estarão sempre muito bem amparados.



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