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segunda-feira, 2 de maio de 2011

- Salvamento do Vapor BLUMENAU

Memórias  
A HISTÓRIA DO SALVAMENTO DO VAPOR ‘BLUMENAU”

José Gonçalves/memorialista em Blumenau e escritor.
Graças á iniciativa do Kennel Club de Blumenau, liderada por seu presidente, o saudoso Raul Deeke, o vapor “Blumenau I” que, durante tantos anos havia ligado Blumenau a Itajaí através das águas do nosso rio, foi possível retirá-lo do abandono em que se encontrava em Itoupava Seca, pois sem iniciativa estaria fadado a afundar ali mesmo e desaparecer.
Visando, pois, o salvamento do vapor, depois de ouvir por várias vezes no meu programa Revista matinal pelas ondas da Radio Clube e também ler nos jornais comentários de diversos jornalistas, apelando ás nossas autoridade para que salvássemos o vapor de tão triste destino, num dia de agosto, após a grande enchente que assolou toda a região do vale do Itajaí, recebi a visita, em meu programa, do bom amigo Raul Deeke, presidente do Kennel Clube de Santa Catarina, cuja sede era em Blumenau. Raul vinha a meu encontro com uma sugestão> Era a de que, se conseguíssemos a autorização oficial do Prefeito Busch, o Kennel Club reuniria todos os esforços para retirar o vapor de onde estava a transportá-lo navegando até a prainha em frente a cidade para, ali colocá-lo sobre um pedestal. O Kennel Club reivindicava apenas o direito de usar uma das salas existentes no navio para realizar suas reuniões de diretoria e nada mais.
Apoiei desde logo a idéia do Raul e combinamos marcar uma audiência com o prefeito tratar do assunto.

Dias depois, lá estávamos eu, o Raul Deeke e o Sr. Feigel, este vice-presidente do Clube, sendo recebidos pelo Sr. Frederico Guilherme Busch Jr., ao qual foi apresentada a sugestão do Kennel Club.
Depois de conhecer os propósitos da iniciativa, o prefeito chamou seu assessor jurídico e o consultou sobre a viabilidade de ser assinada uma portaria, na qual autorizava o Kennel Club, a realizar seus objetivos, com os direitos reivindicados. O assessor, após conhecer todos os detalhes da solicitação, afirmou que não havia nenhum impedimento legal, pois o vapor continuaria a pertencer ao município.

Diante disso, o prefeito determinou que fosse redigida a portaria que seria logo assinada e publicada no Boletim Oficial. E também nos autorizou que fôssemos desde já tomando todas as providencias para a salvação do vapor.
Assim autorizados, fomos à Itoupava Seca à procura da residência de Generoso que, como funcionário da Rede Ferroviária Federal, estava encarregado de zelar pelo patrimônio da Rede e que incluía o vapor “Blumenau I”. Generoso então nos informou que, apesar dos cuidados que sempre teve com a conservação do vapor, este fora por diversas vezes assaltado, tendo os ladrões roubado muito metais e outras peças importantes e que, se o vapor não fosse logo retirado dali acabaria numa sucata imprestável.
Generoso era meu amigo pessoal. Ele fora um dos mais completos defensores da equipe de futebol do G.E. Olímpico cuja linha média era formada por Piska, Heine e Generoso e cuja equipe grená sagrará campeã do Estado em 1949. Por isso, Generoso entusiasmou-se ainda mais para colaborar conosco. Assim, combinamos com ele o inicio dos trabalhos para o dia seguinte. Seria o de obter grande quantidade de tambores vazios em boas condições para serem atados nas laterais do navio. Esses garantiriam a flutuação e, no dia em que as águas do rio subissem novamente, lá estaríamos para empurrá-lo para o centro da correnteza e trazê-lo até a prainha. Haviam se passado algumas semanas e já tínhamos concluído todas as amarras dos tambores, estando assim tudo pronto para a largada.
Eis que chegou o dia de navegar. As chuvas retornaram ao vale do Itajaí e as águas começaram a subir com rapidez. Ficamos na expectativa e, quando as águas já se achavam bastante altas que permitiriam forçar o vapor a flutuar, lá estavam algumas dezenas de pessoas dispostas a ajudar para depois navegar. E foi assim que conseguimos colocar o vapor bem no centro do rio, sobre a maior força da correnteza, a qual foi conduzindo o barco rio abaixo. Tornou-se fácil usar o leme e com a ajuda também de alguns varejões, foi possível manter o barco na rota certa. Depois de mais de uma hora de navegação, eis que avistamos a ponte ferroviária. Foi aí que começou um foguetório, pois o Raul, o Feigel e outros mais haviam levado para o navio numerosas caixas de foguetes. Parece até que a população da cidade e arredores já estava aguardando aquele momento, pois surgiram explosões de foguetes de todos os lados, como a receber festivamente a chegada do vapor.
Passamos debaixo da ponte de ferro com boa folga do mastro principal. Já na segunda, a ponte “Adolfo Konder” quase impediu a passagem. Porque, além do rio estar subindo rapidamente, ela possui menos altura do que a outra. Assim mesmo, pela diferença de uns vinte a trinta centímetros cruzamos por baixo da segunda ponte e começamos todos a empurrar com varejões o vapor na direção da prainha, o que conseguimos, felizmente, embicando o mesmo na direção certa.
Saltando do navio, diversas pessoas, auxiliadas pelos que já estavam na prainha aguardando a chegada do vapor, seguraram os cabos que estavam atados ao navio, puxando forte para subir o máximo possível e amarrando as cordas em árvores fortes existentes um pouco mais afastadas. Em toda a cidade era uma verdadeira festa o espocar de foguetes, produzindo alegria contagiante a toda a população pelo sucesso da salvação do navio “Blumenau I”!
Diversas pessoas prontificaram-se para ficar de plantão noturno, acompanhando o subir das águas e aproveitando para ir puxando o navio mais para cima da prainha. Assim, no dia seguinte, quando lá comparecemos, o barco já se achava no local onde hoje ainda se encontra, pois as águas subiram mais de um metro vertical sobre a prainha, permitindo ao navio flutuar e se puxado até ali sem maiores dificuldades.
A segunda etapa do plano de salvação do navio era a de colocá-lo sobre um pedestal. O Kennel Club aceitou a oferta do engenheiro Humberto de Almeida que era um dos orientavam a extensão da linha férrea além de Rio do Sul. Este se ofereceu para elaborar o projeto de construção do pedestal para o navio e acompanhar a edificação da obra. E assim aconteceu. O saudoso amigo engenheiro Humberto fez um trabalho notável, como ainda hoje podemos observar e, meses após o navio ali haver chegado, foi colocado sobre o pedestal, tudo sob a orientação técnica do Engenheiro Humberto de Almeida. Com essa dedicação de tantos blumenauense e amigos de Blumenau, ficou salvo mais um marco histórico muito valioso no enriquecimento da memória histórica de Blumenau.
 Para saber mais acesse:
http://vaporblumenau.blogspot.com/2011/04/neto-de-ultimo-piloto-do-vapor-blumenau.html
Extraído da Revista Blumenau em Cadernos pags.23/28 - Editora Cultura em movimento - tomo 49 - nº 4 julho/agosto/2008. Fundação Cultural de Blumenau.
A Revista Blumenau em Cadernos foi fundada em dezembro de 1957, pelo professor e ex prefeito de Blumenau José Ferreira da Silva
Arquivo: Paulo Sergio Scheneider /Dalva e Adalberto Day

9 comentários:

  1. Boa matéria
    Na realidade, ainda não salvaram o Vapor Blumenau, continua sempre ameaçado.
    Dá pena
    Em outros centros principalmente no exterior ele seria um destaque.
    Continuo achando que deveria ter uma cobertura,
    como também na Macuca junto a Prefeitura.
    Bobeando, e se as autoridades constituídas não tomarem providencias, isso tudo vai virar lixo.
    José Geraldo Reis Pfau/publicitário em Blumenau

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  2. Olá prof. Admiro a sua dedicação em trazer os resgates de fatos tão curiosos e importantes para a preservação da história local. Continue sempre com seus relatos, a memória de Blumenau e região agradece.

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  3. Concordo com o comentário do Sr. José Geraldo Reis Pfau, uma cobertura em ambos os casos Vapor e Macuca iria ajudar na preservação, infelizmente primeiro fica em estádo lástimal para ai fazerem uma reforma, a Macuca inclisive poderia ter uma cobertura imitando uma antiga estação ou algo parecido.Atenciosamente Arno.

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  4. Meu abnegado amigo preservacionista Adalberto :
    Muito pertinente a divulgação do relatório produzido pelo José Gonçalves - entrementes já falecido - narrando as hercúleas manobras havidas com a salvatagem do Casco do Vapor Blumenau.
    Tudo ocorreu exatamente da maneira como ele relata. Faltaram contudo as datas das ocorrências e as exaustivas tratativas que interpuseram-se à realização do feito. Em 2002 em razão das alegações fantasiosas do filho do último timoneiro da Vapor, produzi uma breve coletânea dos episódios que adiante segue consubstanciada.
    Ainda uma ponderação : ¨¨JAMAIS HOUVE VAPOR BLUMENAU I ¨ Houve, sim. o ¨VAPOR BLUMENAU I I ¨, porém referir VAPOR BLUMENAU I - aliás assunto que já foi exaustivamente discutido há anos - é simplesmente prova de estupidez. Se denominar-se o VAPOR BLUMENAU COMO ¨ I ¨ , então certamente esta designação importará em ter existido o ¨ Vapor Blumenau 0 ¨ ( Zero) .
    Imagino seja por demais extensa, a minha sinopse, para anexá-la como Adendo, contudo deixo a teu critério a utilização.
    Sem mais de oportuno, com forte abraço,
    Niels

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  5. Prezados/as, aproveito essa bela matéria para falar sobre um caso de resgate de navio que deu certo. O rebocador Laurindo Pitta da Marinha do Brasil, entrou em atividades em 1910, depois de muitos serviços prestados, quem diria, foi parar num estaleiro seco na década de 70, na mais completa pindaíba. O governo FHC intercedeu, a Fundação Ford (USA) patrocinou, um estaleiro de Itajaí (SC) reformou, e desde 1997, ele enfeita a baia de Guanabara com passeios turísticos pra lá de concorridos. Abraços. Cao

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Rebocador_Laurindo_Pitta

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  6. Oi amigo Beto. Mas quanta falta de vontade por parte das autoridades em acatar esses pedidos para se manifestarem sobre a restauração desse marco historico de Blumenau.Acho que, diante desse descaso evidenciado, a comunidade blumenauense deveria reunir-se e tomar a iniciativa, levantando recuirso entre a popúlação, empresarios etc., para o fim almejado, principalmente em se
    tratando de um objeto tão importante para a historia da cidade. Se houver um movimento nesse sentido, estarei pronto a colaborar.
    Um grande abraço a voces e ao amigo Niels.

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  7. Amigo Alberto,

    Medíocres são todos aqueles que, ainda, não entenderam que o vapor Blumenau pode gerar lucro, se fosse um ponto turisto, aportado em um pier adequado, com toda estrutura que um legado destes merece.

    Aos que discordam, aqui vai: você não gostaria de tomar um café, neste friozinho, abordo do vapor, com todo seu charme e pegar um sol?

    É... a mente humana é muito pequena.

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  8. Caro Amigo Adalberto,
    Vejo que hoje assim como em outras cidades do Brasil, a miscigenação de raças, culturas, religiões acabou por ser prejudicial à valorização da história.
    Se desde a última reforma no Vapor Blumenau, ao invés de deixar somente o tempo se encarregar do desgaste e ficando ao léo sem proteção, houvesse sido criada uma forma de vigilância e manutenção programada, o custo de manutenção seria muito menor do que se fazer reformas em cada décadas.
    Mas, infelizmente num País onde a classe politica quando assume a primeira coisa que faz é parar todas as obras da gestão anterior, causa esses danos aos patrimonios publicos, danos a saúde publica, danos a cultura, porque muitas vezes elegemos Palhaços, pessoas semi ou analfabetas.
    Mas o pior de todos são os cegos que enxergam, os surdos que escutam, pois eles carregam o perfil de serem dissimulados, e sempre tem a resposta pronta do não sei, não vi.
    Continuemos a nossa luta, pois com certeza eles de alguma forma se veem incomodados quando falamos de suas incompetências.
    Um forte abraço,
    Milton da Luz

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  9. Caro Adalberto, ainda lembro quando, há alguns anos ouvi, orgulhoso, de um colega professor de Joaçaba, elogios a Blumenau pela gama de atrativos turísticos oferecidos ao visitante. Entre eles, o museu do Vapor Blumenau. Aquele orgulho se foi e, infelizmente, só me resta esperar que meu amigo não volte para cá tão cedo. Grande abraço, Wieland Lickfeld

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