Mais uma participação exclusiva e especial do renomado escritor , jornalista e colunista , Carlos Braga Mueller, que hoje nos presenteia sobre programas de auditório do Rádio.
Por Carlos Braga Mueller
Auditório da PRC -4 Rádio Clube de Blumenau
na antiga Lojas "A Capital" em Blumenau
Nos programas de auditório da PRC-4 (anos 50), os cantores e cantoras locais imitavam as vozes dos grandes astros nacionais:
Vitório Pfiffer e Carlos Galhardo
Vitório Pfiffer (depois vereador do Garcia) cantava igualzinho ao Carlos Galhardo.
O comerciante Salomão Eichner interpretava árias líricas.
A mulata Daura Maria era a sambista que imitava Ângela Maria, entre outras.
O Nelson Gonçalves blumenauense era o Dalmo Feminella ( cantava com o nome artístico de Dalmo Suarez).
Flávio Santos representava o nosso Jorge Veiga (Alô, alô emissoras do Brasil, dêem os seus prefixos para orientação da nossa aeronáutica, dizia Jorge Veiga antes de cantar).
Menção deve ser feita a um dos pioneiros dos programas de rádio na década de cinquenta: Erinho, que organizou um competente conjunto musical na época, para acompanhar todos estes artistas locais, inclusive muitos calouros que se apresentavam e levavam o gongo quando erravam o tom ou a melodia.
Erinho e Seu Conjunto transformou-se depois no Quinteto Catarinense e, finalmente, em ERINHO E ORQUESTRA, que abrilhantou bailes pelo Brasil inteiro.
NELI MARIA, CANTORA E ACORDEONISTA
Neli Maria era o nome da cantora e acordeonista que se apresentava nos anos 60 nos programas de auditório da PRC-4 Rádio Clube de Blumenau.
Estes programas eram organizados e apresentados pelo locutor Jener Reinert, que no rádio usava o pseudônimo artístico de Carlos Fernando.
Jener era primo de Neli.
Ela era filha do
Sr. Armando Silva, dono do Café Urú, cuja fábrica se situava no bairro do Garcia.
Nos anos 50/60, Adelaide Chiozzo era estrela dos filmes da Atlântida e com um acordeon nas mãos cantava e encantava os espectadores, ao lado de Eliana, Anselmo Duarte, Oscarito e Grande Otelo.
A blumenauense Neli Maria fazia o mesmo em Blumenau e tinha muito talento.
Tanto assim que excursionou pelo Estado de Santa Catarina, fazendo shows para a marca de máquinas de costura Vigorelli, distribuidas pela firma Hermes Macedo.

Mas quando conheceu o comerciante
Manoel de Borba e casou com ele, Neli Maria abandonou a carreira artística.
Rua XV de Novembro próximo as Lojas "A Capital"
O casal vive em Blumenau.
Manduca: O toureiro
A realização de programas de rádio em auditórios, geralmente cinemas, era moda nos ano cinqüenta do século XX.
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro detinha o título de campeã desses programas (César de Alencar, Paulo Gracindo, Manoel Barcelos etc.), todos estimulados por uma platéia frenética, onde alguns mais exaltados eram classificados como “macacas de auditório”. Para atender essa demanda, a Nacional possuía um palco-auditório localizado nos altos do edifício onde funcionava a emissora.
Para evitar os “excessos” do público, havia uma proteção: um vidro separava palco e espectadores. O requinte era tão grande, que o palco era assentado sobre molas especiais, protegidas por borracha, para evitar ruídos que pudessem perturbar as transmissões.

Em Blumenau, a Rádio Clube PRC-4 orgulhosamente mantinha um pequeno palco, com um piano, acoplado a um auditório com 80 poltronas.
Mas quando os programas tinham muito sucesso de público, eram feitos no Cine Busch, que comportava 800 pessoas na platéia e mais 400 no balcão.
Livro de Ouro do Hotel Rex - 14/março/1959 - Mazzaropi.
Texto do Artista Mazzaropi na integra:
"Congratulo-me com a direção do “Hotel Rex” pela maravilhosa acolhida que pode proporcionar aos visitantes que não esperam encontrar tanto conforto, elegância no servir.
Blumenau maravilhosa cidade catarinense tem hoje um Hotel a altura de sua grandeza".

No final dos anos 1950, por volta de 1958, ia ao ar nas sextas-feiras à noite o Big ShowC-4 e a principal atração era o cômico Manduca, uma espécie de
Mazzaropi(foto) catarinense.
Manoel Alves Silveira, o Manduca, morava em Joinville e atuava na Rádio Difusora daquela cidade, onde apresentava programas sertanejos matinais.
Antigo Cine Busch
Um dia por semana, nas sextas-feiras, vinha a Blumenau para apresentar-se no palco do Cine Busch.
Sua especialidade eram os “sketches” caipiras, que naqueles tempos faziam muito sucesso nos circos e parques de diversão (os parques tinham sempre um pequeno palco para essas apresentações).
A platéia do Cine Busch lotava tamanha era a empatia de Manduca com o público.
E como ajudantes no palco ele requisitava alguns funcionários da PRC-4. Alvacir, Chiquinho Nascimento, Nilton Simas iam para o palco “na marra”. Manduca dava a dica:
- Sai por aqui, me acena e diga alô. Depois deixa comigo…
Ou então:
- Entra capengando e diz que foi no futebol. Eu tenho a resposta.
A noite do toureiro.
Naquela memorável noite, cinema lotado, programa no ar, a peça a ser apresentada era “Manduca Toureiro”.
Rua XV de Novembro - próximo a PRC 4 Rádio Clube de Blumenau - Prédio da antiga Loja A Capital
O cômico havia trazido consigo uma cabeça de boi moldada em papelão, tipo papel-machê, com dois furos para permitir a visão, e dois grandes e reluzentes chifres. Esta “máscara” bovina era enfiada na cabeça daquele que iria representar o papel de touro.
Manduca escolheu Chiquinho Nascimento para ser o touro. Orientou que ele passasse por trás da tela, e que saísse pelo outro lado quando ele gritasse: “Hei touro!”. Então, deveria investir contra um pano vermelho que Manduca estaria balançando à sua frente.
Tudo combinado.
Chiquinho foi para os fundos do palco e começou a caminhar por trás da tela.
Silêncio total.
Manduca entra no palco e estende o pano vermelho. E então grita:
- Hei Touro!”
Aguarda um pouco e nada.
- “Hei Touro!”, de novo. Nada.
Nervoso, o cômico grita mais alto:
- “Entra touro!” Uma, duas, três vezes. “ENTRA touro”. E nada do touro entrar.
Alguém corre para trás da tela e se depara com o Chiquinho engatado nos fios que esticavam a tela. Os fios de amarração da tela haviam se enroscado nos chifres, imobilizando o touro.
Quando finalmente conseguiram soltá-lo, Manduca já havia inventado um monte de piadas para o público.
E quando, todo suado, apareceu o touro, Manduca improvisou de novo:
- Aí, hem? Estava com medo de me enfrentar! Pois agora você vai ver o que é bom.
O público ria, batia palmas, e não fazia idéia do drama vivido ali, bem em frente, nos bastidores do palco.
Histórias do rádio de antigamente!
Texto Carlos Braga Mueller/Jornalista e escritor/Colaboração José Geraldo Reis Pfau
Arquivo: Adalberto Day