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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

- Um catarinense na Teoria da Evolução

Artigo

LAURO EDUARDO BACCA/ Ecólogo e ambientalista
- Em 2009, o mundo celebrará o Big Year, ou o Grande Ano, do bicentenário de nascimento de Charles Darwin, que será em 9 de fevereiro. Eventos diversos marcarão intensamente a data na maioria das nações. Todos lembrarão e comentarão sobre uma das maiores revoluções da história da Ciência, a Teoria da Evolução, geradora de grande polêmica na época. No furor da discussão que se seguiu à publicação da Origem das Espécies, tanto nos meios acadêmicos como na imprensa, foram inúmeros os cientistas de diversos países que discutiram e debateram a obra de Darwin (Foto), cuja primeira edição foi publicada em 1859. O que poucos sabem, é o extraordinário papel do naturalista imigrante alemão Fritz Müller, em apoio concreto, e não apenas com teorias, nas revolucionárias idéias de Darwin.
Naturalizado brasileiro e radicado na Colônia Blumenau, por 34 anos, dali se afastou por 11 anos, para residir e lecionar em Desterro, capital da Província de Santa Catarina. Foi ali que Fritz Müller tomou conhecimento e entusiasmou-se pela obra de Darwin. Com suas pesquisas sobre o desenvolvimento embrionário e larvar de crustáceos marinhos, reuniu dados e fatos que resultaram na obra Für Darwin, ou: Fatos e Argumentos em favor de Darwin, publicada em 1864, apenas cinco anos após o livro de Darwin.
Darwin providenciou a tradução da obra para o inglês, reconhecendo uma das melhores contribuições de caráter prático que corroboravam cientificamente sua teoria.

Na época, a maioria dos zoólogos e botânicos mantinha uma atitude de hostilidade e negação diante da teoria da descendência. O grande Ernst Haeckel, criador do termo Ecologia, reconheceu que Fritz Müller "contribuiu significativamente para inverter a citada proporção numérica". Por tudo isso, urge que os governos blumenauense, catarinense e brasileiro unam-se para fazer com que a importância inestimável de Fritz Müller seja também lembrada nas comemorações do Big Year.
Blumenau, 08 de setembro de 2008. Publicado no Jornal de Santa Catarina - Edição nº 11411
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jornal Folha de São Paulo , na página de ciência.
Teoria de Darwin
Teoria de Darwin teve teste inaugural em Florianópolis Estudo do alemão Fritz Müller com crustáceos "salvou" a evolução, diz biólogoTroca de cartas com inglês durou 17 anos; naturalista atestou seleção natural e ancestralidade comum em animais de ilha catarinense Divulgação O naturalista Fritz Müller (1822-1897) na antiga Desterro
EDUARDO GERAQUEDA REPORTAGEM LOCAL Se Charles Darwin pudesse dar uma festa hoje, por ocasião de seus 200 anos, o nome do alemão Fritz Müller (1822-1897) certamente estaria entre os convidados. O naturalista, que vivia em Santa Catarina, foi o primeiro a testar em campo, e aprovar, as ideias lançadas por Darwin sobre a evolução dos seres vivos em 1859, história que começou a ficar mais clara na última década."Müller, pode-se dizer tranquilamente, foi o primeiro a criar uma filogenia [história evolutiva das espécies] séria, com base no estudo exaustivo de material vivo, ao contrário das especulações meramente teóricas e fantasiosas, como as feitas por [Ernest] Haeckel", escreve o zoólogo Nelson Papavero em seu livro "A Recepção do Darwinismo no Brasil".À Folha, o pesquisador do Museu de Zoologia da USP foi categórico. "Müller salvou a teoria do Darwin, que tinha acabado de surgir e vinha sendo muito atacada." Papavero lamenta o fato de Müller ser um tanto desconhecido, até entre cientistas brasileiros.A amizade entre Darwin e Müller, que nunca se viram pessoalmente, surgiu a partir da leitura que o naturalista inglês fez da obra de Müller intitulada "Para Darwin", em 1865. O livro fora escrito dois anos antes em Desterro, atual Florianópolis. O "Origem das Espécies" é de 1859. A troca de cartas entre ambos durou até 1882, quando Darwin morreu.Garras da evoluçãoPara testar em campo a evolução, Müller escolheu o grupo dos crustáceos. Afinal, eles eram abundantes na região de Florianópolis, onde ele trabalhava como professor. Além disso, eram bem conhecidos e fáceis de criar em aquários.O último parágrafo da obra, escrita originalmente em alemão, é simbólico: "Espero ter conseguido convencer os leitores de que realmente a teoria de Darwin tem, como para tantos outros fatos sem ela não explicados, também a chave da interpretação para o desenvolvimento dos crustáceos".O autor continua: "Que as falhas dessa tentativa não sejam jogadas sobre o plano pré-construído pela mão segura do mestre, que sejam jogadas unicamente sobre a incapacidade do operador, que não encontrou o local exato de cada ferramenta". Para Papavero, foram muitas as contribuições de Müller à teoria darwinista.Seu único livro publicado em vida (outros foram editados após sua morte), "desenvolvido em ambiente primitivo, sem biblioteca adequada, equipamentos e recursos, tornou-se um marco para a consolidação da teoria de Darwin".Para Müller, por exemplo, a seleção natural explica o fato de os machos do gênero Tanais (crustáceo que vive sob a areia) terem duas formas anatômicas. Um grupo de machos apresentava pinças grandes e um certo número de filamentos olfativos. No ou tro grupo, as patas eram pequenas, mas o número de filamentos para o olfato aparecia em quantidade enorme.Segundo Müller, a variação dos machos privilegiou os grupos dos preensores e o conjunto dos animais com olfato mais desenvolvido. Mas ele foi além.A luta pela sobrevivência entre os dois grupos estava sendo muito mais fácil para o grupo dos que tinham as pinças grandes. Na contabilidade de Müller, ao contar os crustáceos de Florianópolis, havia cerca de cem indivíduos do grupo dos preensores para apenas um representante do grupo de olfato aguçado e patas pequenas.E Müller observou outra evidência da evolução. Descobriu que os chamados crustáceos superiores, como o camarão, também possuem uma fase embrionária chamada náupilus. Cientistas a conheciam apenas em crustáceos inferiores, e isso era problema para a teoria de Darwin. Se todo o grupo evoluiu desde um mesmo ancestral comum, todos os crustáceos deveriam passar ter as mesmas fases embrionárias -assim como Müller atestou.Pai da evolução diz que Müller prestou "admirável serviço"
DA REPORTAGEM LOCAL
Logo após ler o livro de Fritz Müller sobre os experimentos feitos em Santa Catarina, Charles Darwin escreveu ao amigo. A carta é de 10 de agosto de 1865. "Meu caro senhor, estive por um longo período tão doente, que somente agora acabo de ter ouvido as leituras de sua obra sobre espécies, que me foi feita em voz alta. Agora, o senhor me permita lhe agradecer cordialmente pelo grande interesse com o qual eu a li. O senhor fez um admirável serviço pela causa em que ambos acreditamos. Muitos de seus argumentos me parecem excelentes, e muitos de seus fatos, maravilhosos (...)."As 39 cartas escritas por Darwin a Müller e as 34 que fizeram o sentido contrário estão publicada na obra "Dear Mr. Darwin", escrita em português, na cidade de Blumenau, pelo neurocirurgião Cezar Zillig. O livro está esgotado. O próprio pesquisador, na obra, relata que nem todas as cartas trocadas entre ambos foram encontradas até hoje.É interessante notar na correspondê n cia, como apontou Zillig em entrevista à Folha, que os dois se tornaram grandes amigos e conversaram sobre tudo. Pouco, até, sobre a evolução dos crustáceos propriamente dita. O lado botânico de Darwin e de Müller emerge claramente dos textos."Há poucos dias recebi sua dissertação sobre plantas trepadeiras, e me apresso em lhe expressar minha gratidão por esta valiosa dádiva. Eu a li com o maior interesse e estou muito feliz que minha atenção foi dirigida para estas notáveis plantas, que são extraordinariamente frequentes em nossa flora (...)", escreveu Müller ao amigo inglês no dia 12 de agosto de 1865.É possível perceber nas cartas que ambos nem sempre tinham certezas definitivas sobre evolução. Porém, a dupla confiava em suas observações e na ciência que estavam fazendo. Nos textos, Müller demonstra ser um preocupado observador da natureza."A paisagem em nossa ilha é muito bonita. (...) Infelizmente, agora a vegetação perdeu muito de sua primitiva grandiosidade. (...) muitos de nossos morros são agora cobertos quase que exclusivamente por arbustos baixos de uma insignificante Dodonaea (vassoura-vermelha)", disse Müller em carta de 1º de novembro de 1865.CurrículoO alemão Müller nasceu em 1822 e chegou a Blumenau em 1852, já formado filósofo e médico. Em 1856, passou a ensinar matemática no Liceu Provincial da antiga Desterro. Ocupou também o cargo de naturalista do governo da província até 1891. Em 1884, passou a ser naturalista-viajante do Museu Nacional do Rio de Janeiro, posto que perdeu com a proclamação da República. (EG)
arquivo Adalberto Day

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