ACAPRENA
– Associação Catarinense de Preservação da Natureza
Lauro Eduardo
Bacca
Também na área ambiental
Blumenau é pioneira em Santa Catarina. A ACAPRENA é a ONG ambientalista mais
antiga do Estado e uma das mais antigas do país, fundada que foi junto à FURB, em
Blumenau, em 05 de maio de 1973, antes mesmo da existência dos órgãos
governamentais de meio ambiente. Foi numa época do grande avanço mundial na
questão ambiental, suscitado pela Primeira Conferência da ONU sobre Meio
ambiente e Desenvolvimento Humano, acontecida em Estocolmo, capital da Suécia. De
tão importante, a data do início dessa histórica reunião, 5 de junho, passou a
ser considerado Dia Mundial do Meio Ambiente.
Quando da fundação da
Acaprena, havia pouco mais de 10 entidades não governamentais ambientalistas ou
conservacionistas no Brasil, entre elas a conhecida AGAPAN em Porto Alegre, a
pioneira ADEFLOFA, depois ADEMA em São Paulo e a FBCN - Fundação Brasileira
para a Conservação da Natureza no Rio de Janeiro. Também na questão ambiental a
sociedade saiu na frente dos órgãos governamentais federal e estadual,
respectivamente criados apenas em outubro de 1973 e julho de 1975.
A história da ACAPRENA
começou em dezembro de 1972, quando, estudante de História Natural da FURB,
tive a oportunidade de ciceronear o Dr. Paulo Nogueira-Neto, numa viagem de
estudos que o mesmo fez ao Vale do Itajaí com seus alunos de Mestrado da
Universidade de São Paulo. Na Reserva Indígena em José Boiteux, quis o destino
que, por falta de espaço em duas canoas usadas para acessar umas colméias de
abelhas indígenas rio Platê acima, ficamos, Dr. Paulo e eu, aguardando sentados
na margem, junto à sua foz no rio Itajaí do Norte onde, por bem mais de uma
hora, tivemos uma muito proveitosa conversa, quando soube que ele dirigia a ADEFLOFA
- Associação de Defesa da Flora e da Fauna, fundada por ele e alguns colagas em
São Paulo, em meados da década de 1950. Manifestei então desejo de me filiar à
ADEFLOFA e o Dr. Paulo, que depois foi ministro de Meio Ambiente de quatro
presidentes da República, respondeu-me que seria melhor eu mesmo fundar nossa
própria associação.
Esse conselho não me
convenceu, não me julgava em condições de fazer semelhante coisa. No mês
seguinte, janeiro, porém, recebi pelos Correios um envelope contendo uma cópia
dos estatutos da ADEFLOFA, um cheque do Dr. Paulo e uma carta, dizendo que
aquele dinheiro era para auxiliar nas despesas iniciais de fundação de nossa
associação. Assim surgiu a ACAPRENA, em 05 de maio de 1973, graças a
esse inesperado apoio e decisiva participação de colegas, a maioria estudantes do
curso de História Natural da FURB com participação de dois professores. A
primeira diretoria ficou assim constituída:
Lauro Eduardo Bacca –
presidente,
Prof. Alceu Natal Longo –
Vice-presidente,
Nélcio Lindner – Secretário,
Profa. Marlene Lauterjung –
2ª. Secretária,
Nicanor Poffo - 1º
Tesoureiro e
Nívia da Silva – 2ª.
Tesoureira.
O primeiro Conselho
Consultivo foi composto por Erica Heidemann, Jaime Tomelin, Leila Denise Longo,
Marisa Elsa Demarchi e Vitório Felsky.
A ACAPRENA, desde sua
fundação, ainda que sem qualquer vínculo institucional, teve espaço para a sede
e apoio logístico da FURB de Blumenau. Com total independência, participou
ativamente de muitas das grandes discussões ambientais no País, em Santa
Catarina e, principalmente, em Blumenau. Foi modelo para outras associações
criadas no estado que continuam, algumas com grande eficácia, a luta pela
conservação dos ambientes naturais e pelo desenvolvimento sustentável.
A Árvore-símbolo (imbuia, Ocotea porosa) e a flor-símbolo de Santa
Catarina (a orquídea Laelia purpurata),
assim como o próprio órgão ambiental do Estado – FATMA, atual IMA e do
município de Blumenau – AEMA, atual SEMMAS, foram fruto de proposições da
ACAPRENA, já no início de sua existência.
A entidade também abraçou
causas históricas, como, no âmbito estadual, as campanhas contra o absurdo projeto de
dessalinização do complexo lagunar da região de Laguna, o que iria inviabilizar
o sustento pela pesca do camarão, à época, de quase 11 mil famílias. No âmbito nacional
lutou contra a caça às Baleias que ainda acontecia no Brasil. Para essa última
mobilização nacional, a Acaprena contribuiu com um expressivo abaixo-assinado
de quase 12.000 assinaturas colhidas no Estado, número bem expressivo,
considerando uma época em que não existiam abaixo-assinados pela internet.
A Associação foi também
co-fundadora da FEEC – Federação de Entidades Ecologistas Catarinenses.
Desenvolveu trabalhos de Educação Ambiental, organizou cursos sobre diversos
temas ambientais e, ao longo dos anos, sempre procurou estar alerta aos
problemas, denunciando-os e cobrando providências das autoridades e, também,
sempre que possível, executando, promovendo palestras, os originais “Tribunais
Ecológicos” em estabelecimentos de ensino, plantio de árvores, formando algumas
parcerias e colaborando com outras entidades.
Destaque-se ainda a precoce
atuação da Acaprena na área jurídica, a partir dos anos 1980, resultando em
importantes conquistas para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida
dos cidadãos. Fruto de uma das ações jurídicas da Acaprena, ocorreu em Blumenau
o primeiro caso de aplicação de recursos do Fundo Estadual de Reconstituição de
Bens Lesados.
No curso de sua história, a
Acaprena raramente assumiu posturas mais agressivas ou radicais. Uma exceção
foi a campanha contra o projeto de instalação em Blumenau de uma usina de
gaseificação de carvão mineral, a qual incluiu uma grande passeata de protesto
realizada no início dos anos 1980, que fechou metade da rua Sete de Setembro,
uma das mais importantes vias do centro da cidade.
Uma das muitas atividades
bem-sucedidas e que merece destaque ao longo da existência da Acaprena, têm
sido as inúmeras excursões ou expedições a vários locais de interesse ambiental
ou de preservação brasileiros, um projeto exitoso, que já atingiu milhares de participantes,
seguindo o princípio de que é necessário conhecer para amar e preservar. Essa
atividade tem despertado razoável interesse entre pessoas de todas as idades e
resultado na formação espontânea de várias novas lideranças ambientais na
região e no estado.
No que diz respeito à
divulgação, a Acaprena produziu várias publicações, algumas específicas, outras
periódicas. Entre estas últimas, ressalte-se o “Informativo da Acaprena” e a
revista semi-artesanal “Consciência”, que foi publicada por muitos anos
seguidos, além do informativo “A Semente”, com periodicidade trimestral e de
boa qualidade gráfica, em parceria com empresa local. Entre as muitas
manifestações através da imprensa merece destaque a pioneira página “Meio
Ambiente”, mantida durante algum tempo, aos domingos, no Jornal de Santa
Catarina de Blumenau. Mais que material próprio produzido, a Acaprena reconhece
na imprensa catarinense um inestimável papel na divulgação de assuntos
ambientais, fundamental para a formação da consciência ecológica dos cidadãos.
Foi ainda a Acaprena que
pioneiramente começou a chamar a atenção para a importância da preservação da
Serra do Itajaí, que resultou, passados mais de 20 anos de lutas, alegrias e
dissabores, na criação, pelo Ministério do Meio Ambiente, do Parque Nacional
da Serra do Itajaí, com mais de 57 mil hectares, finalmente efetivado
graças à intervenção decisiva do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica e do apoio de várias ONGs ambientalistas de Santa Catarina e de
outros estados. Apesar de todas as dificuldades, hoje sabemos que esse Parque
Nacional, uma vez implementado, tem potencial de ser um dos 5 ou 6 mais
visitados do Brasil, gerando milhares de empregos e oportunidades de renda para
as comunidades e municípios de seu entorno.
A entidade tem-se dedicado
também profissionalmente a projetos de pesquisa do ambiente natural, com
financiamentos governamentais ou privados, com destaque ao projeto de
elaboração e execução do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do
Itajaí, o que permitiu ser esse Parque um dos mais ágeis do país em ter seu
Plano de Manejo aprovado.
Ao longo de quase meio
século de história, cabe destacar a diversidade de formação dos dirigentes da
Acaprena. Em que pese um certo predomínio de Biólogos, também advogados,
médico, dentista, administrador de empresa, cientista social,
médico-veterinário e arquiteto constam entre os dirigentes da Acaprena, repetindo,
na diversidade das formações de seus dirigentes, a biodiversidade que tanto vem
defendendo nesse quase meio século de existência. Cada um dedicou-se de forma
absolutamente voluntária na direção da Acaprena, vários deles mantendo-se
permanentes colaboradores da entidade até hoje.
Passados 49 anos, revisando
alguns arquivos, o alerta enviado por carta por um associado de Joinville, no
início da existência da Acaprena, em 1973, permite que se tenha uma noção de
como era o contexto ambiental naqueles tempos: “as motosserras estão chegando, temos que nos defender!”
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Fonte: Bacca, L. E. Meio
ambiente em Blumenau: da Pré-História à História. Blumenau em Cadernos,
Edição Especial 50 anos, Tomo XLVIII, nov/dez 2007. p. 19-56.
Em 2023 a Acaprena irá
completar 50 anos. Apesar de ser a entidade ambiental mais antiga deSanta
Catarina, e de ter atuado em diversas frentes desde 1973, a entidade nunca teve
sua história publicada em livro.
Sendo assim, lançamos uma
campanha para arrecadar fundos para custear a publicação do Livro “Acaprena 50
anos”. Contribuições podem ser feitas em:
https://www.vakinha.com.br/vaquinha/livro-acaprena-50-anos
ou pela chave PIX: 2927295@vakinha.com.br
Meu caro Adalberto!!
ResponderExcluirSem duvidas uma instituição muito importante, pois sabemos da entrega do Lauro quando nos referimos ao meio ambiente, ele foi o PIONEIRO em cuidados e proteção em nossa região. Muito bom ter este conhecimento muito obrigado.
Parabéns, estimado amigo Adalberto, por apoiar a divulgação deste projeto da ACAPRENA voltado à comemoração, no próximo ano, de seus 50 anos de existência. Nossos votos de que seja bem sucedido, assim como o importante trabalho da ACAPRENA na defesa do ambiente em que vivemos. Grande abraço e que Deus lhe conceda saúde e força!
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