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quinta-feira, 8 de março de 2018

- Ortografices”


09/02/2018 | N° 14370
CAO HERING
 O Colunista escreve todas as Sextas-feiras no Jornal de Santa Catarina
O texto abaixo  está na integra conforme enviado pelo autor.
 “Ortografices” 
Dia desses encontrei ali perto do Café Blumenau o ex-colega colunista do Santa Gervásio Tessaleno Luz. Levava a tiracolo alguns exemplares do seu último livro e já foi perguntando se trazia uma caneta (não tenho o hábito), para me presentear com um exemplar. Ainda não tive tempo de ler Máximas do Barão de Itapuí, certamente uma deliciosa coleção de crônicas reunidas pelo professor em seus 52 anos observando gentes. O Tessaleno também é uma dessas velhas e atentas onças das redações barulhentas que o jornalismo digital vem esnobando com suas notas sintéticas e fotos em altíssima definição.
   Com mais um amigo à mesa, pedimos uma caneta à moça do café. Depois da dedicatória e amenidades, não deu outra, malhamos “a atual conjuntura” e “tudo isso que está aí”. Dali fomos aos velhos e saudosos mestres de português, tão decisivos em nossas quedas literários. Os caras nos legaram a curiosidade, o encanto pela mecânica da língua e o prazer em devorar textos bem construídos. Eu sei, são manjadas reminiscências, no entanto, revivê-los, inclusive em seus gestos e tiques, é sempre uma fantástica e insubstituível máquina do tempo.
   Gervásio pousou a xícara e despediu-se apresado, não sem antes lançar praga aos imbecis responsáveis pela última, desnecessária, desastrosa e maldita reforma ortográfica. E avisou, levantando o indicador: “as crônicas em Máximas do Barão de Itapuí ainda escritas sob a regência da ortografia anterior, fiz questão que permanecessem todas com a acentuação original, viu?!” Legal essa do Gervásio. Achei um elegante protesto contra os inúteis acadêmicos, lusófonos, aos quais deram poderes para praticar um desmando de tal calibre.
   De volta ao escritório, abri o arquivo do “acordo” pela enésima vez, só para confirmar minha irritação com esse bando de desocupados, signatários do disparate. De novo: por que extraíram sem um bom argumento o acento agudo da terceira pessoa do singular do verbo parar (para) tornando sua grafia idêntica à preposição? Por que fulminaram os acentos de grupos de palavras onde coabitam vôo, idéia e feiúra. Nas regras com os hífens, então, cometeram insana distorção. Foi só pra sacanear as turmas dos concursos públicos e do Enem?
   E o que a sábia comissão teve contra o trema, esse útil e imprescindível diferencial? O caro e paciente leitor sabe como se define a pessoa que fala cinco idiomas? É o quinquelíngue. Pois é, em favor da pronúncia, não seria mais confortável grafar qüinqüelíngüe? Ah... entendi! A massaroca toda foi criada para haja uma ortografia unificada em todos os países de língua oficial portuguesa. Pra quê? Para eu ler o jornal sem me atrapalhar se um dia for ao Timor-Leste?
   Concordo, Gervásio. Também não consegui assimilar as “ortografices”. Troço chato.

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Delícias de crônicas
Por Gervásio Tessaleno Luz
Santa Catarina teve e mantém um time razoável de cultores do gênero crônica. Na Capital, não são poucos. Aqui, na região do Vale, continuam nascendo. O último que descobri foi Luiz Carlos Nemetz, que deveria reunir seus textos, divulgados até agora somente pela internet, em livro. Dele iremos falar em semanas por sua última publicação: Orador completo – Técnicas, exercícios e dicas para falar bem em público.
Demos boas risadas lendo Oh! Casos e delícias Raras, de Raul Caldas Filho. Trata-se de uma continuação de Oh! Que delícia de Ilha, já devidamente consumido anos atrás. O autor a quem o irreverente e gozador Beto Stodieck grafava Raul Pêssegos em Caldas, nasceu em 1940 em São Francisco do Sul, mas menino ainda fixou-se em Florianópolis.
De lá só saiu por dois anos para ser repórter da revista Manchete, no Rio de Janeiro. Começa a obra citando frases dos manezinhos senador honorário Alcides Ferreira (“A cidade cresceu tanto que já não se vê mais ninguém nas ruas”.) e o compositor popular Zininho (“Jamais a natureza reuniu tanta beleza, jamais um poeta teve tanto pra cantar.”)
No livro em questão, o jocoso e inventivo espírito ilhéu mais uma vez se manifesta. São bem humoradas crônicas e relatos – retratando costumes e satirizando “maus costumes” – que ao lado de uma nova seleção de casos, anedotas e “manezadas”, revelam costumes citadinos, tendo como cenário a luxuriante paisagem da Ilha de Santa Catarina.
Eis algumas que o autor chama de anedotário da Ilha:
- Ao ser surpreendido por um grupo de moças  à saída do banheiro feminino, num movimentado bar da Beira-Mar, aquele convicto machista não teve outro jeito a não ser proclamar, enquanto fazia um afetado trejeito: - Não me levem a mal meninas, sou gay.
- E quando o maître daquele luxuoso restaurante perguntou à elegante “socialite” qual era o seu prato predileto, ela respondeu com afetação: - O meu prato predileto é porcelana Schmidt.
- Passeava pelo centro da cidade um ceguinho e um inválido sem os dois braços. Aí diz o inválido: - Olha que mulher gostosa! Responde o ceguinho – Então passa a mão nela!
- De um biritum para outro biritum: - Cheguei em casa tão “ferrado” ontem, que até os meus cachorros avançaram em mim.
- E ao chegar a uma solenidade num município da Grande Florianópolis, assim foi saudado o então governador Konder Reis por um locutor local: - Acaba de adentrar ao recinto Sua Majestade o governador Antônio Carlos Konder Reis. Ao ouvir isso, o governador aproximou-se do locutor e indagou: - Você está me achando com cara de Rei Momo?
O autor é professor e escritor em Blumenau.

5 comentários:

  1. Bom dia, Paz Adalberto. Você com certeza ainda cultiva a língua lusa que ouviu em minhas aulas... A vida gira e volta, mas os idiomas sempre se adaptam aos seres de sua época, abraços Alfredo Scottini.

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  2. Salve, Adalberto
    Deliciosa a crônica "Ortografices" mencionando dois dos meus amigos e ídolos locais: Cao Hering e Tessaleno Luz, cada qual com seu molho próprio, suas verves únicas na hora de darem a luz saborosos textos.
    Quanto à "Ortografices", que aborda a última - ridícula - "reforma ortográfica" perpetrada, eu também na ocasião não me contive e produzi um artigo que então não foi exatamente censurado, apenas "desaconselhado"a sua publicação destinada à minha coluna no extinto Jornal de Santa Catarina quando tinha a honra de junto ao Cao e ao Gervásio fazer parte do seleto corpo de colunistas daquele matutino.
    Aproveito a oportunidade para mostrá-la aqui:

    MINHA REFÓRMA ORTOGRÁFICA

    Em ezistindo uma preocupação em reformar noça maneira de escrever, me puz a refletir sobre o asunto. Embóra não seja esta a minha praia e detenha apenas modesto conhesimento do tema, me permito dar minha colaboração. Considerando o rezultado desepsionante da refórma feita pelos entendidos, imagino q não me sairei lá muinto pior. Embóra trate-se de uma refórma feita em caza, ela tem uma lógica, coiza q a refórma oficial não tem. Sua lógica é simples: propõe q cada letra, ou conjunto de letras, represente apenas um fonema e propõe suprimir as letras que não soem.
    Asim, o “s” não poderá soar como um “z” como ocorre na palavra “casa” por ezemplo.
    Viu a palavra “ezemplo”? Por q o som do “z” tem, neste cazo, ser reprezentado por um “x”? A propózito? E o q faremos do “x”? Fica como em “xícara”? Neste cazo caxorro e caximbo seriam grafados assim e o dígrafo “ch” evapóra.
    Não a porq uma letra não soar numa palavra, como atualmente ocorre com o “u” e o “e” na palavra “que”. Aliáz, propósta nada original já q muinto internauta digita apenas “q” no lugar de “que”.
    Claro q esta refórma ignora a etimologia das palavras; a gramática atual é complécça porq se prende à etimologia, entre outras coizas.
    Temos q rever os dígrafos: “ch” cai fóra; é substituído pelo “x” como proposto asima. “lh”, “nh” e “rr” ficam. “Ss” cai fóra poiz o “s” solteiro dá conta do recado já que foi dispensado de soar também como “z”; “rr” é importante basta ver a diferença que á entre “caro” e “carro”; “sc”e “sç” também são dispensados. Doravante a gente nase, por ezemplo. E o “k” em? O “k” emprestará seu som para a letra “c” que doravante será xamado de “kê” como em “como”, “canto”, “culto”.
    Ífen? Prá q ífen? Foi-se e foice, não soam ezatamente igual? Sendo iguais pasam a ser omógrafos; Asim como na interlocusão sabemos direitinho de q foise se fala, teremos que atinar a qual foise se refere na escrita.
    Deu para entender a mecânica da coiza? Com uma ortografia asim, seria tudo muinto simples; bastaria pensar um pouco e escrever serto.

    CEZAR ZILLIG

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  3. Meu caro Adalberto,
    Confesso que não conhecia a história, e não havia visto falar dela até então. Sobre tudo vc nos brinda regularmente com fascinantes histórias como a que acabamos de ler. Parabéns pelo texto.

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  4. Oi Adalberto, belíssima crônica do Cau, meu amigo de longa data em que fomos contemporâneos como estudantes em Porto Alegre. Nossa convivência vem de Armação do Itapocoróy onde Bernardo, seu pai tinha uma casa de veraneio. Gosto muitíssimo do Cau pela sua espiritualidade impar. Grande verve!...

    Eu fui estudante do Pedro Segundo em 1961/62 e ocupei o cargo de Diretor de Relações Públicas na União Blumenauense de Estudantes Secundários, em que Pedro Luso de Carvalho era o presidente da entidade, Antônio Pedro Nunes vice, Dalton dos Reis Diretor financeiro, Paulo Oscar Bayer, diretor de comunicação, creio, Roberto Gomes (hoje imortal da Academia Paranaense de Letras) era um diretor também... Havia outros como Sadi Miguel.... Sou apaixonado por essa tua terra. Morei em diversos ricões deste país sem nunca esquecer de Blumenau. Tenho um blog literário que de vez em quando nomeia e homenageia essa linda terra que me fez mais feliz alargando meus conhecimentos e vivências.

    Gostei imensamente deste teu espaço. Voltarei sempre. Li e gostei também das outras duas crônicas. Teu blog é muito bom! Parabéns! Abraço fraterno. Laerte.

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