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terça-feira, 24 de junho de 2014

- A Imprensa “Alternativa” em Blumenau 1926

COMO ERA A IMPRENSA "ALTERNATIVA" EM BLUMENAU NO LONGÍNQUO ANO DE 1926
Mais uma participação exclusiva do jornalista e escritor Carlos Braga Mueller (foto) que hoje nos apresenta um relato sem alteração da grafia da época, do antigo Jornal “O Espião”.
 
Por Carlos Braga Mueller


Em 1926 o cinema ainda não tinha entrado na era dos filmes sonoros. Era tudo mudo, pantomima pura, com legendas inseridas a cada instante na tela para que se pudesse entender o enredo dos filmes.
Ao mesmo tempo em que o filme era projetado, alguém proporcionava um fundo musical ao vivo, geralmente um piano.
Eram tempos românticos? Ou puro saudosismo daqueles que foram as testemunhas desse passado?
Pois a imprensa blumenauense já dedicava espaço, e muito, ao cinema.
 
Embora não conste referência no livro "A Imprensa em Blumenau", do historiador José Ferreira da Silva, circulou em Blumenau na década de 20 do século passado um periódico, que hoje seria chamado alternativo, chamado "O Espião".
No subtítulo lá estava: "Orgam critico e noticioso".
Herdei de minhas tias alguns exemplares deste jornal, que circularam em Blumenau a partir do ano de 1926.
Tenho apenas do número 2, de agosto de 1926, ao número 8. Não sei se ele durou muito tempo mais. Cabe pesquisa a respeito.
Mas pela sequência de edições que possuo em meu arquivo, ele era semanal e vivia a base de fofocas sobre os integrantes da sociedade blumenauense.
No número 2 os diretores são Evilázio Heusi e Antônio Reinert. O redator (ou redactor, com se escrevia na época) era Heitor Ferraz.
Já no número 3 Heitor Ferraz não aparece mais como "redactor" e no número seguinte Antônio Reinert assume a redação e Evelazio Heusi permanece como "Director responsável".
Nesta mesma edição, de número 4, datada de 5 de setembro de 1926, uma nota na capa do jornal, tamanho tablóide, destaca:
"Coitado...
Lastimo sinceramente, o nosso ilustre amigo Heitor Ferraz mandar tirar o seu nome do cabeçalho do "O Espião".
Domingo último em conversa commigo (grafia da época) disse-me  o seguinte:       
Eu mandei retirar o meu nome do cabeçalho do "O Espião" porque não estou para apanhar; diversos rapazes já disseram-me que, se eu publicasse os seus nomes neste jornal, havia de me sair caro, mas em todo caso vou esperar a sahida de alguns números, se nada acontecer, aos meus companheiros, tornarei a ser Redactor novamente."
Como se depreende, fofoca pura, brincadeira entre amigos.
Ainda na capa desta edição aparece esta nota:

Varandão da Casa São José
Foto: Arquivo HJFS

"Cine São José" 
Esta bem acreditada empreza cinematographica focalizará hoje à noite em sua tela o lindo e sentimental drama intitulado "Os Homens de Amanhã", dividido em 8 partes.
Em vista da boa projeção do novo apparelho tem sido bastante concorridas as suas sessões." (Mantivemos a grafia da época).

Por que dividido em 8 partes? Fácil explicar: o projetor era apenas um e como o filme vinha em 8 rolos de celulóide, o operador era obrigado a dar os intervalos para trocar de rolo.
Era quando o pessoal aproveitava para ir tomar uma geladinha no bar.
Mas onde ficava o Cine São José de Blumenau ?
Antigamente existia uma construção, bastante ampla, situada na Rua 15 de Novembro, fazendo fundos para o Rio Itajaí Açú.
Era o Hotel São José, localizado onde hoje está a Ponte Adolfo Konder, que dá acesso à Ponta Aguda.
Em frente, de lado a lado, se situava um varandão, cuja proteção servia para amarrar ali as montarias.
Depois o salão principal do hotel abrigou um cinema. O São José também foi utilizado, durante anos, como estação rodoviária, até ser demolido.
E é justamente ao cinema naquele local, que fazia concorrência ao cinema do senhor Busch no Salão Holetz, que se refere o jornal "O Espião".

No número 3 este jornal também estampou uma extensa matéria sobre filmes, com o título "Cinematica".
Dizia, na grafia de então, o seguinte:
"Como em outras partes aqui também existem os admiradores da scena muda (explico: o cinema era conhecido como "scena muda"). Sabem comprehender o valor dos bons films quando trata-se de trabalhos instructivos e moraes.
A convicção disso está na enchente que vem tendo em suas contínuas funcções a nova empreza que é o "Cine S. José", cuja extréia verificou-se a 25 do corrente (25 de agosto de 1926).
D'ahi o numero sempre crescente de frequentadores áquella casa, dado o momento opportuno de assistir a exhibição de bons films que os nossos emprezarios não medem sacrificios para exhibil-os
Eis agora, a olho visto, a razão porque outros cinemas locaes lutam, as vezes com difficuldades para manter em dia seus programmas.
É que a não ser os Jucas que vêm assistir o trabalho assombroso do "mocinho" Jack Holt, Hoot Gibson e mais, outros não ha applaudir essa immensidade de heróes...
Vaqueiros profissionaes já temos os gaúchos e que devemos consideral-os superiores aos phantasticos norte-americanos.
Films que agradam actualmente os bons admiradores da scena muda, são aquelles que reproduzem heroismo e bravura a que foram capazes homens e mulheres dos tempos remotos.
Collecção de féras, manada de bufalos, aventuras camponezas, nada disso nos ilude mais.
Quanto a esses outros dramas representando uma louca paixão do amor á primeira vista, que digam os Sulús caiados e as Nenês coloridas.
Com a apresentação de films nesse gênero, o "Cine S. José" tem proporcionado horas de agrado geral, motivo porque estão de parabens os seus dirigentes."
Como vemos, uma verdadeira "crítica" aos celulóides que Hollywood já nos impingia naqueles tempos, com heróis do faroeste que nada tinham a ver conosco.
Quando a redação do jornal "O Espião refere-se a "outros cinemas", sabe-se que na época funcionava o cinema Busch no Salão do Hotel Holetz e provavelmente existia outra sala de cinema na Casa Comercial e Padaria Katz, que ficava na esquina da Rua 15 de Novembro com a Alameda Rio Branco, depois ocupada pela Casa Kieckbusch. Hoje no local existe um prédio  que abriga a Casa Flamingo.
Ainda a respeito do Cine São José, vale lembrar que os frequentadores, quando necessitavam um mictório ou lavatório, tinham que descer por uma escadaria íngreme até o porão, que ficava à beira do rio.
E assim, entre jornais fofoqueiros e sessões de cinema mudo, transcorria a vida na pacata Blumenau de 1926.
Texto e arquivo do jornalista e escritor Carlos Braga Mueller  

7 comentários:

  1. Parabéns ao grande Carlos "Charles" Braga. Buscar coisas relacionadas à Blumenau de 88 anos é muito bom. Assim os mais novos blumenauenses tomam conhecimento do que nossa cidade vivenciou.

    Edemar Annuseck
    Curitiba - PR

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  2. Meu caro Adalberto,
    Como é bom entender um pouco do cotidiano do nossos primeiros moradores desta bela cidade Blumenau.
    Veja você , eu não tinha ideia de que havia mais um ou o primeiro cinema em Blumenau(São José) até então eu sabia dos três tradicionais, BUCH,MOC,AMAZONAS, talvez estejam errados os nomes, mas vc me entende.
    Muito bom o texto excelente matéria, que alias eu achava que era escrito em alemão(O ESPIÃO), e pelo que vi (foto)não.


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  3. Parabéns ao amigo Braga Müller por ter garimpado esta relíquia. Sim, porque sequer aparece na longuíssima lista de jornais, informativos, etc. que José Ferreira da Silva abordou em seu 'A Imprensa em Blumenau'. Pela forma com que a escreveu, entende-se que o fez a partir de exemplares existentes no Arquivo Histórico. Esta omissão pode indicar que na época não existiam exemplares no acervo do arquivo. Abraço!

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  4. Olá amigo Aldalberto,tenho visto teu Blogger e mostro para meus filhos e eles apreciaram muito a historia de Blumenau
    André Luiz Bondavali

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  5. Olá,
    Visitei teu site, achei muito legal. Gostaria de sugerir que fizesse uma matéria com o Pudim Medeiros, que era uma delícia,
    Matéria com fotos da fábrica, dos seus fundadores e fotos das embalagens do pudim e essências para matarmos a saudade..è preciso registrar essa memória também;
    Abraço

    Maurício

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  6. Grande Carlos Charles Braga Muller, é isto? bem que este seja mais um degrau, da subida de tua coroa de o rei dos reportes catarinense ira receber um dia , Abraços seu amigo. Salvador.

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