Na madrugada de 22 para 23 de setembro de 1880 Blumenau recebeu um verdadeiro dilúvio. A água desabou com tanta intensidade que em apenas poucas horas o Rio Itajaí-Açu atingiu uma altura de 14,6 metros acima do nível normal. Muita gente conseguiu salvar apenas a vida.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
- O destemido Vapor "PROGRESSO".
Mais uma bela crônica do renomado jornalista e
escritor Carlos Braga Mueller que nos relata sobre o Vapor “Progresso” em
Blumenau.
Por Carlos Braga Mueller (foto)
O DESTEMIDO VAPOR "PROGRESSO"
Ao completar 25 anos, em 9/12/1904, o Vapor Progresso "desfilou" pelo Rio Itajaí Açu com banda de música a bordo.
1864. Blumenau tem apenas 14 anos de existência e precisa desenvolver sua
atividade econômica.
A produção dos colonos, embora pouca
tinha que ser transportada para o litoral.
O Governo da Província de Santa Catharina
prometera abrir duas estradas: uma de Blumenau ao Porto de Itajahy; outra de
Blumenau aos contrafortes da Serra Geral, subindo em direção ao planalto.
Enquanto as estradas ficavam só na promessa, Dr.
Blumenau adquiriu de Frederico Bruestlein, de Joinville, um vaporzinho que
passou a navegar no Rio Itajaí Açú rebocando chatas, levando ao Porto de
Itajahy a produção da Colônia.
Em 1874 foi fundada em Desterro, capital da
Província, a Companhia Catarinense de Navegação que adquiriu o vapor São Lourenço para fazer
uma linha regular de cargas e passageiros entre a capital e Gaspar. O vapor não
conseguia chegar a Blumenau devido a corredeiras e pouca profundidade do rio na
localidade de Belchior. Com ele vinham as encomendas, mala postal, passageiros.
De Gaspar a Blumenau utilizavam canoas ou carroças.
O comandante do São Lourenço era João Várzea,
pai daquele que foi um grande poeta catarinense: Virgílio Várzea.
O grito de independência foi dado no dia
20 de maio de 1878, quando foi fundada em Blumenau a Companhia de Navegação
Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau.
Encomendaram um vapor destinado ao transporte de
passageiros e pequenas cargas. Construído na cidade alemã de Dresden,
o vapor foi batizado de "Progresso"
e atravessou o Atlântico, a reboque, no ano de 1879, como conta a historiadora
Edith Kormann na sua obra "Blumenau, arte, cultura e as histórias de sua
gente".
De Itajahy a Blumenau o vapor já veio
com propulsão própria, as pás laterais girando e impulsionando a
embarcação. Ao apitar na curva do rio, no Capim Volta, foi saudado pelos
blumenauenses com fogos de artifício.
O Progresso era um vapor de tonelagem pequena, provido de rodas laterais e
máquina de 30 cavalos. Media 22,80 metros de comprimento, 3,34 m de largura e
1,80 de altura, com calado de setenta centímetros. Seu primeiro comandante
foi Carl Hansen.
Esta valente embarcação completou 25 anos de
viagens entre Blumenau e Itajahy no dia 9 de dezembro de 1904, data que foi
festejada com o vapor chegando ao porto todo enfeitado com palmitos, flores e
bandeiras, e com a banda musical Werner tocando marchas militares.
Quando o Progresso se tornou insuficiente
para o escoamento da nossa produção, a Cia. de Navegação encomendou um novo
vapor. Ele chegou da Europa desmontado e foi remontado em Itajaí. Batizado
de Blumenau, sua viagem inaugural aconteceu no dia 30 de maio de 1895 e a
bordo vinha o Governador Hercílio Luz.
O Progresso estava cansado...e quando suas
máquinas sofreram uma pane geral, os proprietários fizeram as contas e resolveram
aposentá-lo em janeiro de 1912, depois de 32 anos de serviços. As máquinas
foram desmontadas e o casco foi transformado em lancha de carga para ser
rebocada, tendo sido atrelado ao rebocador "Catarina".
Na despedida, muitas lágrimas rolaram nos rostos
dos blumenauenses.
Era o fim de uma missão que foi de grande
importância para o progresso de Blumenau em suas primeiras décadas de
existência.
HEROISMO DURANTE A GRANDE ENCHENTE DE 1880.
Na madrugada de 22 para 23 de setembro de 1880 Blumenau recebeu um verdadeiro dilúvio. A água desabou com tanta intensidade que em apenas poucas horas o Rio Itajaí-Açu atingiu uma altura de 14,6 metros acima do nível normal. Muita gente conseguiu salvar apenas a vida.
Na madrugada de 22 para 23 de setembro de 1880 Blumenau recebeu um verdadeiro dilúvio. A água desabou com tanta intensidade que em apenas poucas horas o Rio Itajaí-Açu atingiu uma altura de 14,6 metros acima do nível normal. Muita gente conseguiu salvar apenas a vida.
O jornal "Kolonie Zeitung",
editado em Joinville, na sua edição de 9 de outubro de 1880, contou como foi a
tragédia dos blumenauenses, destacando inclusive a participação heroica do vapor
Progresso, resgatando e salvando vidas:
"De madrugada, por volta de uma e meia,
começou repentinamente o perigo na cidade de Blumenau, quando no início da
noite só se esperava uma cheia, enchente moderada, como já acontecera diversas
vezes em outras ocasiões, sem risco de alcançar casas. Mas a partir daquela
hora as águas não só subiam, mas rolavam em fantásticas avalanches. Os gritos
de pedidos de socorro de pessoas em perigo e dos animais sendo arrastados vivos
pelo turbilhão das águas, ecoavam pela noite. E a escuridão tornava a tragédia
ainda mais horrível. Com ansiedade era esperado o amanhecer por todos quantos
conseguiam manter-se a salvo.
O novo dia traria um enorme trabalho de
resgate, exigindo de todos tudo quanto a força humana pudesse alcançar.
Queremos aqui fazer uma referência especial, manifestando o reconhecimento de
todos quantos foram auxiliados, ao capitão e à tripulação do pequeno Vapor "Progresso"
que, incansáveis e destemidos, socorreram aos que solicitavam socorro, tanto na
cidade como no distante Garcia, onde iam buscar pessoas ilhadas, socorrendo-as
e levando-as sãs e salvas até a igreja protestante. A eles, principalmente, se
deve o fato de não se haverem perdido vidas humanas no centro da cidade ou nas
proximidades. Em direção das duas igrejas, que foram erigidas em morros,
dirigia-se, de toda parte, o cortejo dos que eram salvos e dos que conseguiam
escapar da tragédia.
O Vapor Progresso transportava para estes
locais as pessoas resgatadas e com o clarear do dia todas as canoas,
embarcações diversas e inimagináveis, como cochos, tinas, etc., improvisados em
embarcações, convergiam para aqueles locais de abrigo, onde encontravam
proteção e asilo.
(publicado pelo jornal "Kolonie
Zeitung" de 9/10/1880, transcrito por José Deeke em seu livro "O
Município de Blumenau e a História de seu Desenvolvimento").
134 (2014) anos depois, fazendo este registro,
consignamos aqui a eterna gratidão àquelas pessoas que agiram com tanto
destemor e heroísmo, e se pudéssemos, lhes entregaríamos com muito
respeito um diploma de"Honra ao Mérito", o que fazemos de forma
simbólica através desta crônica (Carlos Braga Mueller).
Texto Carlos Braga Mueller/jornalista e
escritor.
Arquivo Carlos Braga Mueller e Adalberto Day
7 comentários:
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Bacana a reportagem.
ResponderExcluirProvavelmente se eu vivesse naquela época possivelmente trabalharia no Vapor Progresso. Como o transporte está em meu "sangue", e na época não havia a Catarinense (risos...!!!), o Vapor seria a opção de trabalho.
Valeu, abraços e boa semana,
Theodor Darius.
Prezados Adalberto e Braga Müller, de fato os nossos vapores foram elementos decisivos no processo de desenvolvimento de Blumenau. Os transportes são vitais para a integração e na falta de estradas adequadas, os rios foram de valor inestimável neste aspecto. É interessante observar que vapores maiores, como o Progresso e o Blumenau, poucas vezes se arriscavam em viagens acima da barra do Garcia, onde ficava o porto. Isso só acontecia em situações muito especiais, quando o nível das águas o permitia - recordemos do imenso rochedo que se esconde perigosamente sob as águas ao longo da Beira-Rio, logo acima da barra do Garcia - tem até nome, mas não me recordo agora qual é. Relata a respeito de uma destas ocasiões o Blumenauer Zeitung de 13/06/1885. Foi um passeio de entretenimento do vapor Progresso, com direito a música ao vivo da Banda Schneider, do qual participaram muitos moradores do antigo Stadtplatz. Homens, mulheres e um grande quantidade de crianças, para as quais aquele evento foi o máximo. O Progresso subiu o rio até a altura da balsa da Itoupava Norte, pouco antes da atual Ponte Irineu Bornhausen, onde o grupo desembarcou. Fome e sede foram saciados no restaurante do Wegner. Enquanto alguns aproveitaram para improvisar um pequeno baile, outros foram até as vizinhanças reencontrar amigos e conhecidos. A rara oportunidade de ter o vapor ali fez com que para a viagem de volta o grupo se multiplicasse com pessoas do local, contentes por poderem experimentar, naquele 07 de junho, um domingo diferente. Pouco antes das 4 da tarde, ao som da banda, o Progresso retornou ao Stadtplatz, onde chegou aprox. 20 minutos depois. Certamente, um domingo feliz para aquelas pessoas. O jornal informa ainda sobre um carga que o Progresso transportou para Itajaí naquela semana, em 10/06: 3252 kg de tabaco, 22000 charutos, 11848 kg de banha, 4440 kg de carne, 3243 kg de manteiga e 10 sacos de batatas. Não era fraco, o Progresso! Grande abraço e feliz 2014 a ambos!
ResponderExcluirCaros Adalberto e Braga Müller, ainda no contexto dos nossos vapores: o Dr. Blumenau era, mesmo após sua partida para a Alemanha, em 1884, acionista da Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajaí-Blumenau. Seu nome aparece ao lado do de outros acionistas, bem conhecidos na cidade, como Emilio Odebrecht, Dr. Fritz Müller, Luiz Altenburg Senior, Pedro Christiano Feddersen, Carlos Hoepcke, Marcos Konder, Avé-Lallemant, Franz Lungershausen, Gustav Salinger, Ferdinand Schrader, Otto Stutzer, e vários outros. Grande abraço!
ResponderExcluirFiquei arrepiada em ler sobre a enchente de 1880 e que o bravo Vapor "Progresso" ajudou a salvar vidas, animais e tantas outras coisas. Pequeno e tão gigante!!! Parabéns por ser tua genial nas suas colocações sábio Beto. Obrigada por você existir. Abraço... da sua amiga Vângela. :)
ResponderExcluirBoa noite Adalberto,
ResponderExcluirComo sempre um belo texto, mas desta vez queria parabenizar por sua nova foto de capa, pois também circulei nestes ônibus, em especial os últimos que vinham para o bairro, como os que seu ponto final era em frente a igreja da rua da Gloria....Desculpas sair do contexto original, mas foi inevitável, abraços...
Querido Adalberto e Prezado Braga Müller.
ResponderExcluirNossos vapores, nossas enchentes, quantas histórias. E ainda mais contadas de forma poética, emociona.
Passamos muitas enchentes, lembranças de andar nos caminhões do exercito, para atravessar locais alagados e outros mais, lembrar fatos e principalmente lembrar os tantos heróis anônimos que em cada alta do rio se desdobraram para ajudar os que precisavam, nos fortalece em orgulho e amor por nossa gente tão brava.
Um beijo querido primo e um abraço Sr. Braga Müller, obrigada por estes momentos.
Muito lindo saber os nomes de Erois da época so não vi nem uma vez o nome do batedor ou canoeiro, que deve ter vindo na frente dos famosos Vapores pois tinha que conhecer o leito do rio suas pedras seus rasos e suas profundesas para passar os Vapores. grato Valdir.
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