Foto: João Carlos Day
CLUBE DO SPITZKOPF, OU SPITZKOPFCLUB, UM
EXEMPLO TURISMO NO INÍCIO DO SÉCULO XX
Hoje o colunista, escritor e jornalista Carlos Braga Mueller, nos relata o envolvimento do professor Rudolf Hollenweger no Clube Spitzkopf formado em 1927.
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Rudolf Hollenweger (foto) foi uma personalidade na área da educação em
Blumenau.
Nascido na Suíça em 1880, veio para Blumenau em 1904,
estabelecendo-se no Garcia Alto. Lecionava em uma pequena escola da
região, que ficou conhecida como a "escola do professor Hollenweger",
como conta o pesquisador e cientista social Adalberto Day em seu blog na
internet.
PAIXÃO PELA MATA ATLÂNTICA
Rudolf Hollenweger era um amante da natureza e concordava com o
médico, deputado estadual e ex-Superintendente de Blumenau, José Bonifácio
da Cunha, de que era preciso preservar o manancial das cabeceiras do Ribeirão
Garcia, de onde Blumenau inteira poderia receber um dia a sua água encanada. Já
era um sonho na primeira década do século passado !
Hollenweger, visionário, foi mais longe. Para ver de perto as
maravilhas que a Mata Atlântica oferecia, foi o incentivador e um dos
fundadores do Spitzkopfclub, clube que surgiu em 1927 e reunia as
pessoas que queriam conhecer de perto o cume do Morro do Spitzkopf, de onde se
descortinava uma vista maravilhosa: em dias de sol aberto, via-se
até o litoral.
DESCREVENDO A AVENTURA DE ESCALAR O MORRO
Em um relato publicado em 1933 no anuário "Blumenauer
Volkskalender" e reproduzido em 1992 pela revista Blumenau em
Cadernos (Tomo XXXIII, nº4, com tradução de Edith Sophia Eimer), o professor
relata que o Spitzkopf teria sido escalado nos dias 19 e 20 de
julho de 1892 pelo professor Fritz Alfarth, e mais Hermann Gauche Senior,
Otto Wehmuth, fiscal durante muitos anos, e pelo velho caçador de bugres,
Christhian Imroth.
Hollenweger teve acesso a um manuscrito que Alfarth deixou, que
revelava que a rota da escalada, por falta de conhecimento, fora feita pelo
lado rochoso. Mais tarde outros alpinistas tentaram a façanha, só que pelo
"Goldbachtal", ou Vale do Riacho do Ouro. Mas ainda era difícil
o acesso e pessoas de mais idade não tinham condições de chegar ao topo do
Spitzkopf.
ABRINDO O CAMINHO PARA O TOPO
Em 17 de julho de 1927 Hollenweger, Johann Iten, Otto Huber, Alfred
Gossweiler e Paul Scheidemantel fundaram o "Clube do Spitzkopf"
(Spitzkopfclub). O grupo abriu um "picadão" até o alto e durante
muitos anos ele serviu para se chegar ao cume do morro.
400 metros abaixo do topo foi construído um abrigo que tinha
acomodação para cerca de 50 pessoas. Ali os visitantes encontravam mesas,
bancos, fogão e beliches e podiam permanecer tranquilamente no local por
alguns dias. Perto, corria uma água cristalina e pura, que jorrava de uma
rocha.
E então, depois deste "descanso", os mais corajosos
enfrentavam a escalada dos quatrocentos metros finais.
PROTEÇÃO DA NATUREZA
A caça já era proibida e falava-se em preservar aquela
mata, como uma futura reserva florestal.
Premonição, ou não, o professor já profetizava:
"Pois é alegria para todos ver uma vez ou outra um dos poucos
animais da floresta que dentro em pouco permanecerão no passado".
Hollenweger relata também, no artigo para o " Blumenauer
Volkskalender", que "a vista é maravilhosa em todas as direções
e principalmente depois das trovoadas. A olho nu se reconhece o mar, a Serra
Geral, a Serra do Mar com todos os seus terminais, até o Morro do Funil."
No relatório, ele conta que de janeiro a julho de 1932, a cabana
havia sido visitada por mais de 300 pessoas e que na assembléia então realizada
foi decidida uma ampliação das instalações para atender melhor,
principalmente as senhoras.
Os sócios do clube estavam livres de taxas, inclusive os
professores que visitassem a montanha com seus alunos. Não sócios pagavam uma
taxa mínima, para manutenção da cabana.
VISITA AO SPITZKOPF SIGNIFICAVA DIAS DE ALEGRIA
O Clube Spitzkopf
Passeio morro do Spitzkopf 1935. Descanso para lanche
A historiadora Edith Kormann, na sua obra "Blumenau,
Arte, Cultura e as Histórias da sua Gente", descreve que era muito
gratificante pertencer a este clube, tanto que à noite, os que chegavam lá em
cima faziam sinais com fogos de artifício para avisar que tinham
chegado bem.
E do centro de Blumenau, outros fogos eram atirados, respondendo
que a mensagem havia sido bem recebida !
As crônicas daquela época dão conta da alegria que reinava nos
dias que antecediam a jornada para subir o morro.
Cada senhora preparava os lanches com carinho e dedicação. Aos
homens cabia levar o material mais pesado, colchas e cobertores principalmente.
No trajeto, a bordo de carroças e carros de mola, os turistas
entoavam alegres canções alemãs, interrompidas de vez em quando por um
brasileiro mais afoito, que cantava "Luar do Sertão", inspirado pelas
noites de lua cheia que enfeitavam o céu.
Mas com o tempo o clube acabou desaparecendo, talvez até por falta
do professor Rudolf Hollenweger, que faleceu em 2 de fevereiro de
1949.
Cabana 17.07.1927 -Devorada pelo incêndio em 1995
Certamente a iniciativa dos passeios ao Morro do Spitzkopf
foi a precursora do turismo interno em nossa região. Até hoje, Blumenau e seus
arredores continuam a ser explorados turisticamente de uma forma muito tímida.
A Mata Atlântica que nos cerca por quase todos os lados; a sinuosidade do Rio
Itajaí Açu; os parques florestais do Garcia, a região colonial da Vila
Itoupava, os clubes de Caça e Tiro, enfim, temos tudo para mostrar. Só falta
trazer mais pessoas para ver !
23ºBI em 24/05/2010 em marcha ao topo do morro.
Foto :Luiz Ricardo Dalmarco
ADENDO
Tendo em vista que foi levantada pelo internauta José Vitor
Iten uma dúvida sobre a proibição da caça no idos de 1933,
cabem aqui alguns esclarecimentos.
No seu relato publicado no "Blumenauer Volkskalender,
1933", a páginas 66, traduzido e reproduzido na revista Blumenau em
Cadernos TOMO 33, nº 4, é o próprio Professor Hollenweger que escreve:
"Toda a região (Spitzkopf) está prevista para se tornar uma
"reserva florestal", e ali a caça é proibida"."
A história registra que em 1932, aos 22 anos de idade, Udo
Schadrack herdou do pai, Ferdinand Schadrack uma imensa área de terras ao
sul do município de Blumenau. Ali, estavam situadas as matas da quase
totalidade da vertente norte do Morro do Spitzkopf.
A partir daquele ano, cessou toda a exploração de madeira no
local.
Tendo participado de caçadas quando jovem, prática comum na época,
Udo Schadrack impressionou-se ao perceber, ano após ano, a rápida diminuição da
fauna. Lauro Bacca, reportando-se a Udo Schadrack neste blog
(1º/10/2010), conta que a situação fez Udo tornar-se um dos mais ferrenhos
defensores da preservação da fauna, tarefa que executou com extrema dedicação e
sem esmorecer, até sua morte, apesar de ter sofrido inúmeras decepções e
dissabores de toda ordem.
Chamava os caçadores de "exterminadores da nossa fauna, os
quais escolhem o meio mais fácil de matar a caça que estou criando e protegendo
no meu Parque de Criação, com sacrifícios que poucos conhecem."
Sómente em 1952 Udo Schadrack conseguiu transformar a área em
Parque de Criação e Refúgio de Animais Silvestres, com registro no Ministério
da Agricultura.
Esta obsessão de proibir a caça em suas terras deve ter começado
tão logo herdou as terras, porque um ano depois, em 1933, Hollenweger já
confirmava esta proibição.
No Brasil inteiro se caçava sem limites; no Spitzkofk, seu
proprietário já proibia a atividade !
No final dos anos 50, para melhorar a fiscalização à caça, Udo
encabeçou um abaixo assinado, endereçado ao Governo do Estado.
Ainda em relação ao nosso internauta, cabe esclarecer também
que o nome correto do professor era Rudolf Hollenweger, que no português ficou
sendo Rodolfo. O sobrenome é exatamente assim: HOLLENWEGER. Se em alguma
placa indicativa consta diferente, cabe ser corrigido. (Carlos Braga Mueller)
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Para saber mais acesse :
Texto Carlos Braga Mueller/jornalista e escritor.
Arquivo de Adalberto Day
Bom dia Adalberto,
ResponderExcluirEspero que o amigo esteja bem. Muito bom este texto. Tomei a liberdade de indicá-lo ao grupo "Antigamente em Blumenau", no Facebook.
Melhoras,
Paulo R. Bornhofen
Grato, Adalberto e Carlos Braga Müller, pela referência ao Spitzkopf-Klub. Conversando há alguns anos com o Sr. Hans Schadrack, proprietário do parque que abriga o Spitzkopf, este me disse que o Klub, quando criado, foi registrado em cartório, e que nunca foi oficialmente extinto. Ou seja, em tese, ainda existe. Interessante o envolvimento do Prof. Hollenweger. Outro professor amante contumaz do Spitzkopf foi o Prof. Max Humpl, um dos professores dos primórdios do Machado de Assis. Não só fazia excursões regulares ao Spitzkopf, como chegou a construir uma casinha lá. A montanha de fato atrai. Meu pai foi lá quando jovem e mais tarde eu também. Fiz a subida algumas vezes e sempre foi uma experiência enriquecedora. Grande abraço!
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirGostei muito da reportagem sobre o Spitzkopf
Segue anexo foto do 23ºBI em 24/05/2010 em marcha ao topo do morro.
Vou aprofundar o estudo
Muito obrigado
Luiz Ricardo Dalmarco
Olá Adalberto e Carlos
ResponderExcluirO meu avô Joahnn Iten foi um dos fundadores do Clube, muito bem lembrado.
Quero fazer 2 considerações:
A 1º é quanto ao nome do Rudolf:
Tanto a Rua quanto a esoola Rudolf Hollenwerger, possuim entre o W e o G um R, contrariando o texto, qual o correto?
A segunda é que o autor diz que a caça Já era proibida. Não!! Na época não havia a proibição.
Att
José Victor Iten
Amigo Adalberto como esta tudo bem? otimo, amigo Carlos tudo legal, parabens pela reportagem , mas o que mais chama atenção é porque embora esteja tão bem administrado com todo carinho a visita ao morro não evolui, porque sera devia ser muito mais comentado eu visitei o morro, e porque sera que naquela epoca ja era proibida a caça e não era proibido matar bugre pelos contratados bugreiros? muito bem vamos aguardar novas e bonitas historias como esta abraços Valdir Salvador.
ResponderExcluirBoa tarde Adalberto
ResponderExcluirInteressante a matéria postada.
Posso dizer que estive 3 vezes no topo do Spitzkopf, isto no tempo em que freqüentava o grupo da juventude da Paróquia Bom Pastor e sempre admirando a beleza que a visão podia alcançar.
Bom, quanto ao professor Hollenweger acho que encontrei agora bastante subsídios para revisar o histórico da Paróquia Bom Pastor do Garcia.
Abraço
Boa tarde Prof. Adalberto.
ResponderExcluirPrimeiramente obrigado por manter um blog tão importante como o seu, sempre com histórias de grande interesses para nós blumenauenses , nascidos ou não nesta terra.
Eu sou um jornalista recém formado (IBES-Sociesc), e estou com um projeto direcionado ao esporte de nossa cidade.
Minha meta é divulgar e estimular as conquistas da nossa cidade e cidadãos. Bem como valorizar o que acontece na nossa cidade.
Tendo você como referência de grande historiador de nossa cidade, vim lhe incomodar.
Seria possível, me indicar algumas direções para continuar melhorar e completar a minha pesquisa sobre a história do esporte em nossa cidade?
E até mesmo, se não for pedir muito, pudesse me conceder uma entrevista, uma conversa sobre o assunto.
Agradeço desde já.
Creio que poucos,muito poucos blumenauenses não estiveram por lá!É mais ou menso com ir à Roma e não ver o Papa.
ResponderExcluirPrezado Adalberto Day,
ResponderExcluirSou o Dr. Christian Pohl de Santiago de Chile, e estou procurando o livro "Manual das escolas primárias de Blumenau" de Rudolf Hollenweger.
O livro contem uma lista de imigrantes á Blumenau do ano 1856 onde aparece me bisavô Emil Pohle chegado solteiro ao Brasil nesse mesmo ano.
O senhor sabe onde eu poderia encontrar o livro?, para mim é muito importante sua informação.
Muito obrigado.
Atenciosamente,
Belíssimo trabalho de pesquisa e de valorização de nossa história.
ResponderExcluirUm abraço do amigo Silvio.
GOSTEI MUITO EM SABER QUE MEU AVO ERA E FOI QUERIDO DOS BLUMENAUENSES. QUANDO TINHA 6 ANOS EU TOMAVA BANHO NOS FUNDOS DA CASA DO MEU AVO NOS ANOS DE 1949 E 1950.ERA UMA BELEZA A GARCIA. JOSUE DA SILVA.
ResponderExcluirGostei muito do artigo,pude conhecer um pouco mais da história a qual meu bisavô se dedicava.
ExcluirMariane Hofmann
ResponderExcluirAdministrador
Era o passeio que fazíamos com meu pai.
Ele não dava lambuja. Lá de baixo... Nada de deixar o carro na serraria, no meio da subida.
Outro dia tinha a impressão que minhas pernas tinham sido chumbadas.
Paulo Fernando Bacca
ResponderExcluirsubi pela primeira vez no inicio dos anos 70...depois várias vezes ao longo dos anos...lindas lembranças
Gilson Martins
ResponderExcluirMeu falecido pai, Walmor Demétrio Martins, nos mostrava fotos destas aventuras ao Morro...eram picnic's em grupo...muitos com os amigos da Mútua Catarinense de Seguros Gerais...década de 50/60...por aí !!!!!
Rolf Ullrich Junior
ResponderExcluirLegal .tempos de ouro, muitas histórias
René Moritz
ResponderExcluirBela lembrança, Adalberto.
Lá pelas décadas 70/80 subíamos uma vez por ano, sempre no inverno.
Tinha um ranchão de alojamento e ao lado tinha uma área pequena com um fogão a lenha.
Sempre levantávamos de madrugada para ver o nascer do sol.
Se tempo limpo, avistávamos o mar e se amanhecia com neblina, o espetáculo era indescritível pois estávamos acima dela.
Muitas histórias a serem contadas.
Maria Lucia Moreira Zanis
ResponderExcluirLindas recordações abraços meu amigo , continue eu amo ver seus trabalhos .Deus lhe abençoe muito vocês queridos
Paulo Fernando Bacca
ResponderExcluirJosé Cândido da Silva meu irmão completou 100 subidas ...foi com um grande grupo para celebrar a façanha...com ele subi a primeira vez em 74. havia uma cabana com mtos beliches e uma cozinha campeira...depoisforam depredando as edificaçõese usando como lenha...hj nada mais existe....lá nesse refugio existia um balde...num cabo e roldana..desciamos o balde na corda..até parar...puxavsmos e vinha cheio de água de uma nascente. foi tudo destruido e se acabando. era um lugar comunitário. a geração dos anos 60 e 70 começou a ver aquilo como algo de ninguém...e detonou. infelizmente o legado dos antigos foi desconsiderado...
Uta Hering Meyer
ResponderExcluirSubi uma vez o morro do Spitskopf com um grupo de amigos nos anos 60. Adorei. Já o Schweineruecken subi algumas vezes. Era muito legal. Saíamos bem cedo de casa com mochilas com salsicha, leite condensado, pão etc,. Comia-se palmito cru de monte. Uma farra. Boas lembranças
Caroline Melchioretto Schwanke
ResponderExcluirSubi o Spitzcopff a primeira vez em 1993, com 12 anos, ainda tinha o rancho, já bastante deteriorado. Depois em 95, com o grupo de confirmandos da Igreja Luterana da Velha, depois em 96 com outro grupo de confirmandos, 98 com o grupo de jovens de Igreja. Depois com amigos do grupo escoteiro, por 4 anos seguidos, toda lua cheia de julho, depois da atividade, à noite, subíamos sem lanternas (dava para enxergar bem e, apreciávamos melhor o caminho), e pernoitávamos lá em cima, para ver o sol nascer...
Leny Maria Wagner Garcia
ResponderExcluirQue relato lindo desse povo guerreiro que deixou esse legado aos apaixonados pela história. Blumenau continua maravilhosa, seu povo também. Devemos todos aproveitar o que temos de bom, vamos continuar focando no que é bom, assim faremos uma rede fortalecida com energias positivas atraindo mais coisas boas. É assim que funciona.
Airton Gonçalves Ribeiro
ResponderExcluirRelatos fantásticos os quais nos remetem ao deslumbrante passado onde reinava o improviso, a coragem para escalar determinados locais, bairro Garcia oferecia estas oportunidades, principalmente pelo seu desafiante relevo, o tempo passa, vez em quando retorno a Nova Rússia, permaneço por horas no Recanto do Miguel, dedico momentos de recordação quando na infância e adolescência percorríamos com nossas precárias bicicletas nos domingos onde os banhos, as goiabas e araçás silvestres preenchiam nossos anseios de lazer, orgulho desta época e de sua simplicidade.
Bernadete Ribeiro Olbrisch
ResponderExcluirAinda reportando sobre a foto o sr. Erwin Panock também na foto fez o primeiro rancho, para descanso e canalizou com calhas de bambu o primeiro acesso a água para beber.