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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

- ACAPRENA

 


ACAPRENA – Associação Catarinense de Preservação da Natureza

 

Lauro Eduardo Bacca

 

Também na área ambiental Blumenau é pioneira em Santa Catarina. A ACAPRENA é a ONG ambientalista mais antiga do Estado e uma das mais antigas do país, fundada que foi junto à FURB, em Blumenau, em 05 de maio de 1973, antes mesmo da existência dos órgãos governamentais de meio ambiente. Foi numa época do grande avanço mundial na questão ambiental, suscitado pela Primeira Conferência da ONU sobre Meio ambiente e Desenvolvimento Humano, acontecida em Estocolmo, capital da Suécia. De tão importante, a data do início dessa histórica reunião, 5 de junho, passou a ser considerado Dia Mundial do Meio Ambiente.

Quando da fundação da Acaprena, havia pouco mais de 10 entidades não governamentais ambientalistas ou conservacionistas no Brasil, entre elas a conhecida AGAPAN em Porto Alegre, a pioneira ADEFLOFA, depois ADEMA em São Paulo e a FBCN - Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza no Rio de Janeiro. Também na questão ambiental a sociedade saiu na frente dos órgãos governamentais federal e estadual, respectivamente criados apenas em outubro de 1973 e julho de 1975.

A história da ACAPRENA começou em dezembro de 1972, quando, estudante de História Natural da FURB, tive a oportunidade de ciceronear o Dr. Paulo Nogueira-Neto, numa viagem de estudos que o mesmo fez ao Vale do Itajaí com seus alunos de Mestrado da Universidade de São Paulo. Na Reserva Indígena em José Boiteux, quis o destino que, por falta de espaço em duas canoas usadas para acessar umas colméias de abelhas indígenas rio Platê acima, ficamos, Dr. Paulo e eu, aguardando sentados na margem, junto à sua foz no rio Itajaí do Norte onde, por bem mais de uma hora, tivemos uma muito proveitosa conversa, quando soube que ele dirigia a ADEFLOFA - Associação de Defesa da Flora e da Fauna, fundada por ele e alguns colagas em São Paulo, em meados da década de 1950. Manifestei então desejo de me filiar à ADEFLOFA e o Dr. Paulo, que depois foi ministro de Meio Ambiente de quatro presidentes da República, respondeu-me que seria melhor eu mesmo fundar nossa própria associação.

Esse conselho não me convenceu, não me julgava em condições de fazer semelhante coisa. No mês seguinte, janeiro, porém, recebi pelos Correios um envelope contendo uma cópia dos estatutos da ADEFLOFA, um cheque do Dr. Paulo e uma carta, dizendo que aquele dinheiro era para auxiliar nas despesas iniciais de fundação de nossa associação. Assim surgiu a ACAPRENA, em 05 de maio de 1973, graças a esse inesperado apoio e decisiva participação de colegas, a maioria estudantes do curso de História Natural da FURB com participação de dois professores. A primeira diretoria ficou assim constituída:

Lauro Eduardo Bacca – presidente,

Prof. Alceu Natal Longo – Vice-presidente,

Nélcio Lindner – Secretário,

Profa. Marlene Lauterjung – 2ª. Secretária,

Nicanor Poffo - 1º Tesoureiro e

Nívia da Silva – 2ª. Tesoureira.

O primeiro Conselho Consultivo foi composto por Erica Heidemann, Jaime Tomelin, Leila Denise Longo, Marisa Elsa Demarchi e Vitório Felsky.

A ACAPRENA, desde sua fundação, ainda que sem qualquer vínculo institucional, teve espaço para a sede e apoio logístico da FURB de Blumenau. Com total independência, participou ativamente de muitas das grandes discussões ambientais no País, em Santa Catarina e, principalmente, em Blumenau. Foi modelo para outras associações criadas no estado que continuam, algumas com grande eficácia, a luta pela conservação dos ambientes naturais e pelo desenvolvimento sustentável.

A Árvore-símbolo (imbuia, Ocotea porosa) e a flor-símbolo de Santa Catarina (a orquídea Laelia purpurata), assim como o próprio órgão ambiental do Estado – FATMA, atual IMA e do município de Blumenau – AEMA, atual SEMMAS, foram fruto de proposições da ACAPRENA, já no início de sua existência.

A entidade também abraçou causas históricas, como, no âmbito estadual,  as campanhas contra o absurdo projeto de dessalinização do complexo lagunar da região de Laguna, o que iria inviabilizar o sustento pela pesca do camarão, à época, de quase 11 mil famílias. No âmbito nacional lutou contra a caça às Baleias que ainda acontecia no Brasil. Para essa última mobilização nacional, a Acaprena contribuiu com um expressivo abaixo-assinado de quase 12.000 assinaturas colhidas no Estado, número bem expressivo, considerando uma época em que não existiam abaixo-assinados pela internet.

A Associação foi também co-fundadora da FEEC – Federação de Entidades Ecologistas Catarinenses. Desenvolveu trabalhos de Educação Ambiental, organizou cursos sobre diversos temas ambientais e, ao longo dos anos, sempre procurou estar alerta aos problemas, denunciando-os e cobrando providências das autoridades e, também, sempre que possível, executando, promovendo palestras, os originais “Tribunais Ecológicos” em estabelecimentos de ensino, plantio de árvores, formando algumas parcerias e colaborando com outras entidades.

Destaque-se ainda a precoce atuação da Acaprena na área jurídica, a partir dos anos 1980, resultando em importantes conquistas para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida dos cidadãos. Fruto de uma das ações jurídicas da Acaprena, ocorreu em Blumenau o primeiro caso de aplicação de recursos do Fundo Estadual de Reconstituição de Bens Lesados.

No curso de sua história, a Acaprena raramente assumiu posturas mais agressivas ou radicais. Uma exceção foi a campanha contra o projeto de instalação em Blumenau de uma usina de gaseificação de carvão mineral, a qual incluiu uma grande passeata de protesto realizada no início dos anos 1980, que fechou metade da rua Sete de Setembro, uma das mais importantes vias do centro da cidade.

Uma das muitas atividades bem-sucedidas e que merece destaque ao longo da existência da Acaprena, têm sido as inúmeras excursões ou expedições a vários locais de interesse ambiental ou de preservação brasileiros, um projeto exitoso, que já atingiu milhares de participantes, seguindo o princípio de que é necessário conhecer para amar e preservar. Essa atividade tem despertado razoável interesse entre pessoas de todas as idades e resultado na formação espontânea de várias novas lideranças ambientais na região e no estado.

No que diz respeito à divulgação, a Acaprena produziu várias publicações, algumas específicas, outras periódicas. Entre estas últimas, ressalte-se o “Informativo da Acaprena” e a revista semi-artesanal “Consciência”, que foi publicada por muitos anos seguidos, além do informativo “A Semente”, com periodicidade trimestral e de boa qualidade gráfica, em parceria com empresa local. Entre as muitas manifestações através da imprensa merece destaque a pioneira página “Meio Ambiente”, mantida durante algum tempo, aos domingos, no Jornal de Santa Catarina de Blumenau. Mais que material próprio produzido, a Acaprena reconhece na imprensa catarinense um inestimável papel na divulgação de assuntos ambientais, fundamental para a formação da consciência ecológica dos cidadãos.

Foi ainda a Acaprena que pioneiramente começou a chamar a atenção para a importância da preservação da Serra do Itajaí, que resultou, passados mais de 20 anos de lutas, alegrias e dissabores, na criação, pelo Ministério do Meio Ambiente, do Parque Nacional da Serra do Itajaí, com mais de 57 mil hectares, finalmente efetivado graças à intervenção decisiva do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e do apoio de várias ONGs ambientalistas de Santa Catarina e de outros estados. Apesar de todas as dificuldades, hoje sabemos que esse Parque Nacional, uma vez implementado, tem potencial de ser um dos 5 ou 6 mais visitados do Brasil, gerando milhares de empregos e oportunidades de renda para as comunidades e municípios de seu entorno.

A entidade tem-se dedicado também profissionalmente a projetos de pesquisa do ambiente natural, com financiamentos governamentais ou privados, com destaque ao projeto de elaboração e execução do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Itajaí, o que permitiu ser esse Parque um dos mais ágeis do país em ter seu Plano de Manejo aprovado.

Ao longo de quase meio século de história, cabe destacar a diversidade de formação dos dirigentes da Acaprena. Em que pese um certo predomínio de Biólogos, também advogados, médico, dentista, administrador de empresa, cientista social, médico-veterinário e arquiteto constam entre os dirigentes da Acaprena, repetindo, na diversidade das formações de seus dirigentes, a biodiversidade que tanto vem defendendo nesse quase meio século de existência. Cada um dedicou-se de forma absolutamente voluntária na direção da Acaprena, vários deles mantendo-se permanentes colaboradores da entidade até hoje.

Passados 49 anos, revisando alguns arquivos, o alerta enviado por carta por um associado de Joinville, no início da existência da Acaprena, em 1973, permite que se tenha uma noção de como era o contexto ambiental naqueles tempos: “as motosserras estão chegando, temos que nos defender!

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Fonte: Bacca, L. E. Meio ambiente em Blumenau: da Pré-História à História. Blumenau em Cadernos, Edição Especial 50 anos, Tomo XLVIII, nov/dez 2007. p. 19-56.

Em 2023 a Acaprena irá completar 50 anos. Apesar de ser a entidade ambiental mais antiga deSanta Catarina, e de ter atuado em diversas frentes desde 1973, a entidade nunca teve sua história publicada em livro. 

Sendo assim, lançamos uma campanha para arrecadar fundos para custear a publicação do Livro “Acaprena 50 anos”. Contribuições podem ser feitas em:

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/livro-acaprena-50-anos

ou pela chave PIX: 2927295@vakinha.com.br

 

 

2 comentários:

  1. Meu caro Adalberto!!
    Sem duvidas uma instituição muito importante, pois sabemos da entrega do Lauro quando nos referimos ao meio ambiente, ele foi o PIONEIRO em cuidados e proteção em nossa região. Muito bom ter este conhecimento muito obrigado.

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  2. Parabéns, estimado amigo Adalberto, por apoiar a divulgação deste projeto da ACAPRENA voltado à comemoração, no próximo ano, de seus 50 anos de existência. Nossos votos de que seja bem sucedido, assim como o importante trabalho da ACAPRENA na defesa do ambiente em que vivemos. Grande abraço e que Deus lhe conceda saúde e força!

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