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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

- Filme Férias no Sul

Jornal de Santa Catarina 20/12/2012 | N° 12759
CINEMA
Romance, tragédia e polêmica
Férias no Sul, filme gravado em Blumenau. Produção expôs tabus da época e gerou críticas da população
O ano era 1966 e o cineasta Reynaldo Paes de Barros resolveu que Blumenau seria o cenário para gravar o roteiro de Férias no Sul. O filme de ficção teve três meses de filmagens e a equipe, instalada na cidade, movimentou a rotina dos blumenauenses. O filme conta a história de Celso (David Cardoso), um estudante carioca que vem passar férias em Blumenau. Aqui, conhece duas mulheres: Helga (Dagmar Heidrich), bela descendente de alemães, e Isa (Elizabeth Hartmann), uma escritora paulista. Ele se envolve com as duas e a história termina em tragédia. O filme gerou polêmica durante a esperada estreia, ocorrida em 1967. Quem estava na poltrona do cinema em 1967 era a escritora Urda Alice Klueger:
– A fila para ver o filme ia até onde hoje está o Banco do Brasil. O que mais me impressionava era que todo o mundo ia lá para falar mal da produção. Dizia-se que o filme foi feito para rebaixar Blumenau e a moral da sua gente.
O jornalista, escritor e amante de cinema Carlos Braga Mueller relembra que a pré-estreia de Férias no Sul ocorreu no Cine Blumenau, em três sessões: às 17h, 19h e 21h. Apareceu tanta gente que houve uma sessão extra às 23h.
– Mas na hora do lançamento oficial, por desentendimento do produtor com o Cine Blumenau, o filme foi lançado no Cine Atlas, no Bairro Vila Nova, onde ficou em cartaz durante um mês.

No blog do historiador Adalberto Day (adalbertoday.blogspot.com), ele conta, em quatro postagens, detalhes do filme. O roteiro, a montagem e a escolha dos atores estão publicados com textos de Braga Mueller e de Urda. Os mais conhecidos do filme eram o galã David Cardoso, que havia feito apenas pequenos papéis em filmes de Mazzaroppi, e a atriz paulista Elizabeth Hartmann. A mocinha do filme foi interpretada por Dagmar Heidrich, Miss Blumenau na época. O restante do elenco foi composto por “atores” da comunidade e pessoas conhecidas, como o secretário do Colégio Santo Antônio Franz Pult.

Relevância histórica

Braga Mueller, que também colaborou com a equipe de produção, não hesita ao dizer que, lamentavelmente, Férias no Sul não representou nada para a cultura local. Pelo contrário, as insinuações maldosas que o filme apresentou no roteiro criaram mal estar na comunidade quando ele foi exibido. Mas ele ressalta uma importância:
– Se levarmos em conta ter sido um filme ficcional, realizado com equipe de profissionais, visando o mercado exibidor, podemos considerá-lo como o primeiro filme a ser rodado em Blumenau.
Já o blogueiro Adalberto Day destaca a relevância do filme para Blumenau hoje:
– Na época o filme gerou polêmica, mas faz parte da história da nossa cidade. Depois que publiquei os textos com curiosidades sobre a produção, uma das atrizes que participou do longa entrou em contato comigo um pouco descontente com as lembranças guardadas por ela, mas depois de alguns e-mails até me pediu uma cópia do filme. Fato que me deixou muito feliz.

PAMYLE BRUGNAGO
CINEMA
História de bastidores
Na época, o diretor Reynaldo Paes de Barros resolveu fazer um trabalho que se distanciasse das chanchadas humorísticas, sucesso que estava se esgotando, como do hermetismo e obra de autor do Cinema Novo, movimento que tinha em Glauber Rocha como maior expressão. Reynaldo optou por localizar a história no Sul e contratou como produtor executivo do filme Geraldo Mohr, casado com uma jovem do Vale do Itajaí.
O cineasta estava disposto a investir no filme, tanto que em entrevista para o Jornal Mensageiro, de Blumenau, em janeiro de 1967, Barros conta que todo o dinheiro da produção saiu do próprio bolso. Na equipe estavam técnicos que haviam acabado de participar das filmagens de um seriado do Tarzan, estrelado por Ron Ely. A blumenauense Sheila Weickert, além de atriz, foi assistente de direção e continuista.

A fotografia é de Jorge Veras, substituído durante as filmagens por Edgar Eichhorn, veterano cineasta alemão radicado no Brasil. A maquiagem esteve a cargo da profissional Nena e a trilha musical foi composta por Remo Usai, que estava nas principais trilhas dos filmes na época.
Curiosidades

- A casa escolhida para as cenas externas do filme foi a da viúva Frau Peiter, na Alameda Rio Branco, que ficava logo depois do Grêmio Esportivo Olímpico, hoje já demolida.
- As cenas internas foram filmadas na casa estilo “castelinho” do Sr. Antônio Reinert, na Rua Namy Deeke.
- Filmagens também foram feitas no Tabajara Tênis Clube; na Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, na Alameda Rio Branco; no Grande Hotel Blumenau; no Morro do Aimpim; na Reserva Florestal da Cia. Hering e nas ruas da cidade.
- Além dos cenários de Blumenau, o filme também se passa em Balneário Camboriú, Caxias do Sul e Gramado.
Mas de 90% da ação se desenrola em Blumenau.
- O carro usado pela atriz Dagmar pertencia ao Sr. Taeschner, que emprestou à equipe de filmagens.
- A TV Furb fez a telecinagem de uma cópia celuloide de Férias no Sul, existente em 16 mm, que foi transferida para VHS. Há cópias na Biblioteca da FURB e no Arquivo Histórico Professor José Ferreira da Silva.
Fonte: Blog Adalberto Day

Anos mais tarde, a escritora Urda Klueger reviu Férias no Sul, considerado polêmico na época e conta que foi hilariante entender o que fez o povo ficar tão indignado:CINEMA
Polêmica revista e estudada
– A grande cena que chocou todo o mundo é que em algum momento depois de uma paquera entre o mocinho e uma mocinha vestida de Frida, fica subentendido que eles foram dar uns amassos. Momentos depois, eles retornam e a moça volta arrumando a roupa. Nessa “arrumação” ela deixa ver um pedacinho da alça do sutiã. Foi este o grande escândalo.
Ingenuidade

Para Urda, o filme é uma grande ingenuidade e considera que foi um momento de glória para Blumenau aparecer nas telas de cinema do Brasil durante a década de 1960.
– Até hoje, nas rodas de pessoas com mais idade, ouço falar do filme Férias no Sul como algo que envergonhou nossa cidade. As pessoas de hoje deveriam rever o filme, para poderem rir de seus velhos preconceitos.

Hoje, o filme também é usado como referência dentro da sala de aula. Professor da Furb e especialista em cinema, Rafael Jose Bona confirma que o longa é utilizado nas aulas sobre cinema no Vale do Itajaí e que há uma cópia na biblioteca da universidade.

10 comentários:

  1. Mesquita
    Adalberto Muito bom, o Sr tem este filme convertido para DVD, se positivo, seria bacana coloca-lo no youtube.

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  2. Bom dia ,
    Não sabia que,Blumenau serviu para tal filme em épocas passadas,muito bom.
    Att.
    Nilton

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  3. Muito interessante!
    Só acho um desperdício ou uma preguiça muito grande esse tipo de material(que é histórico) não estar disponível em ferramentas como o youtube para a apreciação da população...
    É o mesmo caso do filme da Nova Rússia, preciosidades que ficarão no anonimato para a grande maioria da população porque os detentores das cópias ou dos direitos se recusam a postar esses materiais em ferramentas que facilitam e massificam a visualização...(ou alguém realmente vai biblioteca da FURB pegar alguma versão em VHS para assistir).
    Desculpem o desabafo, mas é lamentável.

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  4. Digo isso porque eu desconhecia a existência dessa película e fiquei muito curioso em assistir(mais para saber como era a cidade na época do que pelo filme em si).
    Mas parece que vou ficar só na vontade...

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  5. Parabéns, Beto, pela postagem. Um Feliz Natal pra ti e família, com saúde, paz e alegria. Que o ano Novo seja inspirador e a continuidade deste blog. Ao Braga, que no lê, aquele afetuoso abraço e boas festas, Xico

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  6. Beto, espero que meu desabafo não seja mal entendido, a minha crítica é aos detentores de tais obras que não se esforçam para facilitar a disponibilização das películas.
    O seu trabalho de nos informar sobre essas preciosidades históricas em detalhes é perfeito, parabéns pelo excelente trabalho e pelo blog!

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  7. Miguel Francisco ‏
    Adalberto Um ótimo 2013 para você. Acompanho seu blog e admiro seu trabalho!! Um forte abraço!!

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  8. Carlos Grothoff ‏
    Adalberto Parabéns pela história, acervo e dados, Adalberto. O rádio merece alguém como você e o público, também. Abraço!

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  9. Pois é. Eu fui à estreia de Férias no Sul. Achei um pouco avançado para a época. As moças que se comportavam assim, eram tachadas de vadias.(a pílula anticoncepcional era perigosa na época) Esperemos mais 40 anos para ver como ficam essas atitudes. Raul

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