Mais uma bela colaboração de Carlos Braga Mueller/Jornalista
e escritor, que nos relata mais uma Lenda Urbana de Blumenau.
LENDAS URBANAS DE BLUMENAU
Desde cedo os católicos que ajudaram a construir os alicerces de
Blumenau sofreram com a falta de assistência religiosa.
A Colônia, fundada em 2 de setembro de 1850 pelo alemão e
luterano Hermann Bruno Otto Blumenau, tinha como maior
preocupação dar assistência aos luteranos, em maior número
entre os imigrantes.
A LENDA URBANA DOS CEMITÉRIOS DOS CATÓLICOS EM BLUMENAU
Igreja católica de Blumenau, em 1876 (no mesmo
local foi erguida a atual Catedral São Paulo Apóstolo). Nos fundos ficava
o primeiro cemitério católico de Blumenau. Foto Carl Heinz Rothbarth
Foi já a partir daí, primórdios da colonização, que começou
a peregrinação dos cadáveres católicos em Blumenau, de um cemitério para o
outro, maldição insana que permanece até hoje, sem que as almas descansem
em paz !
1859. A Colônia Blumenau tem apenas nove anos de vida !
Hermann Blumenau mapeou com todo cuidado em suas plantas um
lugar para se instalar uma capela, escola e cemitério para o culto
católico na Colônia. Um terreno elevado, à beira do Rio Itajaí Açú, entre a foz
de dois Ribeirões, Velha e Garcia.
Não havia sacerdote católico na Colônia e os blumenauenses eram
atendidos pelo padre Alberto Francisco Gattone, primeiro vigário da vizinha
Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar.
Padre Gattone não se entendia muito bem com o pastor luterano
da Colônia Blumenau, mas mesmo assim foi obrigado a acompanhar o sepultamento
de alguns católicos no cemitério luterano, construído perto do Ribeirão Garcia.
(onde hoje está instalado o cemitério evangélico da Rua Amazonas).
Em 15 de janeiro de 1862 o padre visitou o local demarcado
por Hermann Blumenau para sediar as cerimônias religiosas da população
católica da colônia. Em julho do mesmo ano o padre apresentou ao Dr. Blumenau
um orçamento de quanto iria custar a construção do seu cemitério. No
mês seguinte, Hermann Wndeburg, diretor da Colônia lhe avisou que o terreno
estava limpo para abrigar os sepultamentos. Mas o padre queria saber mais:
quanto dinheiro dispunha Blumenau para a obra ficar pronta. O fundador não era
homem de curvar-se a insinuações e por isso ele e Gattone se desentenderam. Mas
Hermann Blumenau respeitava todos os credos religiosos e contemporizou. Para
ele, católicos e luteranos mereciam tratamento idêntico.
Na época em que foi feita a transferência do cemitério
católico para a Rua São José, lápides como estas eram as mais usadas
nos cemitérios de Blumenau.
Finalmente, em 25 de janeiro de 1865 foi inaugurada uma
pequena capela de madeira, coberta de palmitos, no local onde hoje se ergue a
catedral de Blumenau. Mais aos fundos ficava o futuro cemitério,
que se espraiava morro acima.
E para lá foram trasladados, depois de exumados, os
corpos dos católicos que haviam sido enterrados no cemitério luterano do
Ribeirão Garcia.
No entretempo Padre Gattone foi transferido para Brusque.
Veio substituí-lo o padre Antônio Zielinsky, que tinha maior diálogo com a
direção da Colônia.
1956 - Igreja antiga e a nova sendo construída.
20 de setembro de 1868: Foi lançada a pedra fundamental
da nova igreja católica de Blumenau, projetada por Henrique Krohberger, que já
havia projetado a igreja evangélica.
Os anos foram passando.
Início de um novo século !
A igreja católica ganhara ampla escadaria, ligando-a à rua
principal da cidade; uma torre enfeitava a construção e o sino badalava, alto e
sonoro, convidando os fiéis às missas ...
UM NOVO CEMITÉRIO PARA OS CATÓLICOS
O progresso chegando fez com que uma rua fosse projetada para
passar nos fundos do terreno da comunidade católica (hoje, Rua 7 de Setembro).
Ao lado da igreja já existia o Colégio São Paulo, depois Santo Antônio. Hoje
Bom Jesus.
Mas se fosse feito um corte no morro para passagem da rua,
para onde iria o cemitério ?
Então, no final dos anos vinte do século XX a comunidade católica fundou
um movimento para instalar um novo cemitério, um pouco mais adiante, onde
está até hoje: o Cemitério São José, em morro mais íngreme ainda do que o
anterior, mas livre de enchentes !
ENTERRADOS VIVOS ?
A crônica dos primeiros anos do século passado em Blumenau
registrou um fato inusitado, mas terrífico.
Por volta de 1905, o jornalista Hermann Baumgarten, então com
uns 45 anos de idade, fundador do "Blumenauer Zeitung", o
primeiro jornal do Município, amanhecera desacordado, e fora dado como morto.
Durante o velório, o médico e deputado por Blumenau, ex-superintendente
do Município, José Bonifácio da Cunha, veio de Florianópolis para prestar
suas homenagens ao amigo falecido. Ao perfilar-se junto ao corpo notou que as
cores de Hermann Baumgartem permaneciam mais vivas do que as de um cadáver. O
morto estava em estado cataléptico e logo depois, estimulado pelo médico,
"ressuscitou", para alegria geral do velório !
Isto causou um susto na população: será que não teria mais gente
"morrendo" e sendo enterrada viva ?
No início dos anos 30 os corpos sepultados no antigo cemitério,
situado nos fundos da igreja católica, começaram a ser exumados e transferidos
para o atual Cemitério São José.
Surgia uma lenda urbana em Blumenau !
Todos comentavam as estranhas posições de alguns corpos exumados;
estavam retorcidos, como a pedir socorro, pareciam em desespero, talvez
querendo sair dali...
Teve gente que implorava aos médicos da cidade:
- Doutor, quando eu morrer, por favor corta meus pulsos para que
eu não volte à vida lá em baixo !
Claro que não foram atendidos pelos médicos; afinal a medicina
avançava, , mas a lenda dos corpos sepultados ainda com vida permaneceu por
muitas décadas, assustando a pacata comunidade blumenauense !
Nos últimos anos novas exumações foram feitas no
próprio Cemitério São José, para permitir a sua reurbanização...
FIM (FIM ?)
Texto e arquivos Carlos Braga Mueller Jornalista e escritor em
Blumenau
Para saber mais sobre textos publicados pelo Jornalista acesse:
OktoberBlog
ResponderExcluirAdalberto e Carlos Braga Mueller. Mais uma excelente matéria, Adalberto! Parabéns pelo Blog e muito sucesso! Boa semana, Ricardo Brandes
Rica matéria em detalhes,parabéns.
ResponderExcluirSó que me fez reavivar o temor que levo comigo desde criança.
Baitabraço
Muito interessante o histórico do Braga sobre os cemitérios católicos. Hoje temos os crematórios, que evitarão futuras translações.
ResponderExcluirCaros Adalberto e Carlos Braga Muller, esta lenda reforça mais uma vez que nosso passado acaba por nos condenar com "culturas e crenças", ou até mesmo convicções de que nós seres humanos fossemos diferentes, que deveríamos ter tratamentos diferenciados (neste caso baseados em credos), fazendo que muitas Lutas e Guerras fossem motivados por tais discórdias. No fundo todos somos iguais no sentido literal da palavra, temos a mesma composição e o que nos difere deveria ser nossa capacidade de utilizar o livre arbítrio. Mas não é isto que acontece e as provas estão por ai nos dias atuais. Tenho dito e repito devemos nos preocupar com o que ensinamos aos nossos filhos, pois somos nós mesmo que criamos os "MONSTROS" tanto na ficção quanto na realidade. ....
ResponderExcluirExcelente postagem, caros Braga e Adalberto!
ResponderExcluirApós lê-la, a conclusão que cheguei é que de tão bela que era Blumenau, nem os mortos queriam abandoná-la.
Flavio Monteiro
Em 10 de dezembro de 1878 foi realizada a primeira cremação na Alemanha, na cidade de Gotha.
ResponderExcluirA luta pela permissão dessa forma de funeral havia sido longa.
O primeiro corpo a ser cremado foi o do engenheiro Karl-Heinrich Stier, natural da cidade, uma das pessoas que mais haviam se engajado por essa forma de funeral. Como ele falecera um ano antes do término da construção, deixou instruções para que seu enterro fosse provisório e seu corpo pudesse ser entregue às chamas assim que o crematório ficasse pronto.
Estudando o texto acima, em 2003, a administração do Cemitério São José idealizou a solução para o impasse criado com a edição da resolução CONAMA 316/2002 que tornou obsoleto o forno que o Cemitério estava importando da Argentina. Um forno produzido em Blumenau em 2004 efetuava a cremação dos despojos exumados respeitando a 316/2002. Assim surgiu o Memorial São Francisco, como Cemitério Vertical e Crematório alternativo atendendo desde 22/12/2004.
Em 2010 a mesma empresa Fornos Jung entregou o Forno capaz de cremar corpos recém-falecidos dentro das normas da 316/2002, forno este produzido dentro do Crematório do Cemitério São José.
Em 16/12/2011 aconteceu a primeira cremação feita em Blumenau, desde lá a Associação Religiosa Ecumênica, que administra o Cemitério São José, o Cemitério Ecumênico Badenfurt, o Memorial Ecumênico São Francisco e o Crematório Ecumênico Blumenau já atendeu 508 famílias sendo 27 que transferiram falecidos de outros Cemitérios para o Memorial e 481 que tiveram óbitos na família nestes 12 meses. Dos 481, 150 optaram por sepultamento tradicional no solo, 331 por cremação, sendo 103 imediatas e 228 após o sepultamento no Memorial e posterior exumação. O número que impressiona é que de um total de 508 atendimentos apenas 150, ou seja, 29,52% optou pelo sepultamento tradicional no solo, o que equivale dizer que 70,48% dos Associados da Associação Religiosa Ecumênica do Cemitério São José optaram pela cremação, sendo que destes 68,88% preferiram que a cremação só acontecesse depois do sepultamento em cemitério vertical e dos 31,12% que optaram pela cremação imediata 48% mantém as cinzas em Jazigo Familiar no Cemitério.
São Números que impressionam e que acima de tudo demonstram uma tendência que começa a ganhar espaço no Brasil tendo Blumenau como pioneira, o Forno Crematório passa a ser um acessório dos cemitérios e não uma opção a eles.
Vale registrar que os custos em um cemitério vertical com forno crematório são menores do que crematórios e ou cemitérios tradicionais seja para a cremação imediata ou precedida de sepultamento.
obs.: (Blumenau tem perto de 300.000 habitantes e + de 30 cemitérios, com média de 140 sepultamentos mês na cidade)
Alcione Alvim da Silva 47 - 99831246
Diretor Presidente do Cemitério São José.
Bastante interessante saber que nos idos anos de l8...passou por aqui um padre com o mesmo sobrenome meu.
ResponderExcluirMuito interessante. Matéria sensacional!
ResponderExcluirBoa tarde Adalberto
ResponderExcluirEsta matéria foi de assustar.
O jornalista Herrmann Baumgarten teve a felicidade de o amigo médico vir de Florianópolis e perceber o estado de catalepsia em que se encontrava.
Graças que a medicina progrediu e acredito que hoje não ocorre mais.
Interessante os esclarecimentos do Diretor Presidente do Cemitério São José.
Abraço
Essa foto de 1956 lavou minha alma...... Nesse ano fui dama de honra de um casamento e, muito criança, não conseguia visualizar as duas igrejas quando lembro que, na antiga, durante a cerimônia, pedi para fazer pipi e fui levada até os fundos, quando pedras enormes estavam espalhadas e a construção ali, muuuito alta, na frente dos meus olhos (mas eu nem sabia que seria a nova igreja). Nunca tinha visto foto da época e hoje.....
ResponderExcluirValeu! Obrigada mesmo pela publicação!!!!!
Ivalci Laun
Interessante a saga dos cadáveres e da lenda urbana
Maribe Santos