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terça-feira, 19 de julho de 2016
- O senhor Candinho
O jovem e depois idoso Sr. Antônio Cândido
Em história de nosso
cotidiano apresentamos depoimento do
senhor Antônio Cândido da Silva, concedido a Rose Mary Soares voltolini em 07 de abril de 1991.
Trabalhador da Empresa Industrial Garcia em Blumenau.
Texto enviado pelo Dr. OSCAR EWALD
Nascido no dia 31 de maio de
1908, Candinho faleceu de morte súbita, provável aneurisma abdominal de
aorta roto, no dia 29 de maio de 1998 prestes a completar 90 anos,. em uma sexta feira, indo fazer compras para festa de aniversário no domingo
seguinte!
Os pais dele eram
Nicolau Candido da Silva e Maria Rita Lemos
FUNDAÇÃO
UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU.
CENTRO DE CIÊNCIAS
HUMANAS, LETRAS E ARTES.
EMPRESA INDUSTRIAL
GARCIA
DEPOIMENTO DE UM
TECELÃO
Rose Mary Soares
Voltolini
Curso: História
Disciplina:
Pesquisa em História
Ficha Técnica
Entrevistado:
Antônio Cândido da Silva.
Entrevistadora:
Rose Mary Soares Voltolini.
Local: Balneário
Camboriú.
Data: 1991 (7/4).
Título Empresa
Industrial Garcia – Depoimento de um Tecelão.
Biografia
Antônio Cândido da Silva, nascido em 31 de
maio de 1908 em Blumenau, Santa Catarina. Filho de Nicolau Cândido da Silva e
Maria Rita Lemos da Silva. Sua família é composta por dez filhos, entre eles,
seis meninos e quatro meninas, sendo ele o segundo mais velho.
Estudou no bairro
Garcia, na escola (foto) “(não lembra)” [Com caneta está escrito acima da menção à
escola as seguintes palavras legíveis: Prof. Rudolf Hollenweger, ] sendo ele mesmo seu professor, cursou até
o 4º ano primário (hoje 4ª série).
Foto da EI. Garcia em 1926
Foto da EIG em 1967
1970
Em 1922 começou a trabalhar na Empresa Industrial Garcia, com seu pai.
Aos vinte e sete
anos, casou-se com Rosa Westarb
e deste matrimônio tiveram três filhas: Rosa Maria da Silva (falecida aos nove
anos), Nair da Silva e Geonilda da Silva.
Família Cândido da Silva reunida no Natal
Residência da família do senhor Candinho na Rua da Glória,100
Em 1966, com
cinquenta e seis anos, sua esposa veio a falecer de câncer. Continuou residindo
na Rua da Glória até aos sessenta e dois anos de idade quando casou-se pela
segunda vez em Rio do Sul, com Tereza (Inês) passando a morar naquela cidade.
No dia 10 de
novembro de 1980, seu Antônio e sua
esposa, buscaram em Camboriú (cidade), sua filha adotiva, Juliana da Silva.
No ano de 1984,
sua residência foi atingida por uma grande enchente, Perdendo praticamente
todos os seus pertences, muda-se com a família para Balneário Camboriú, onde
reside até hoje .
Relógio que o sr. Candinho ganhou da EIG ao completarr 25 anos de trabalho em 1947
Rose Mary Soares
Voltolini – R.M.S.V. – (Entrevistadora).
Antônio Cândido da
Silva – A.C.S. – (Entrevistado).
R.M.S.V. – 1991. Estamos na
residência do senhor Antônio Cândido da Silva
que fica na rua
916, casa 490, Balneário Camboriú. A entrevista será realizada por Rose Mary
Soares Voltolini com aprovação do entrevistado.
Essa entrevista
fará parte do Acervo de História Oral do Arquivo Histórico José Ferreira da
Silva. Em sua narração, Seu Antônio
nos contará como foram seus quarenta e três anos de serviço prestados à Empresa
Industrial Garcia.
(Pausa).
R.M.S.V. – Seu Antônio, o
senhor poderia nos contar, então, como foram seus anos de serviço na empresa?
A.C.S. – Eu entrei
primeiro na Empresa Garcia, meu pai trabalhava, eu entrei junto com ele na sala
do pano, significava, na sala de revisão. E depois dali, passei a carregar
espula, tratavam naquele tempo de carregador de espula .Trazia espula,
espalhava espulas nos teares. Logo passei a ser tecelão.
Nesse tempo que eu
estava aprendendo a se tecelão, foi a primeira greve na Empresa Garcia. Meu pai
não deixou eu entrar na greve porque ele achava que isso era um... que eu não
devia entrar mas aí, o Otto Huber
com sua qualidade que ele tinha um alemão, chegou e disse “Halt dein Webstuhl”. Ele disse “para o teu tear” que todo mundo
parou, tu também podes ir pra casa. Aí eu parei meu tear com ordem do mestre
geral. Fui embora não me metendo. Nem eu, nem meu pai, nos metemos
na greve, continuamos. Depois, logo eu passei a trabalhar como contramestre,
mas, sozinho primeiro cuidando. Eu trabalhava numa segunda turma, numa sessão
onde trabalhava só uma turma. Mas a minha empresa precisava daquela qualidade
de artigo, então, a empresa mandou que eu e outro companheiro trabalhássemos de
noite, mas nós éramos mesmo, contramestres dos nossos teares, nós tanto
trabalhávamos como fazíamos a manutenção. Dali pra frente parou aquilo. Eles
acharam que eu era capaz de consertar tear.
Alguns artigos que a Empresa Garcia produzia
Comecei a trabalhar na mesma
sessão, na mesma sala e na mesma segunda turma, como contramestre. Saí dali,
passei para a sala 13, que é a sala mais antiga. Quando eu, aliás, eu devia
contar como é que era, primeiramente, a Empresa Garcia, conforme você
perguntou. É uma novidade a Empresa Garcia não tinha telhado. O telhado da
Empresa Garcia era de vidro. Vidro fundido com arame, com ferro, isso aí da
muito calor no verão, era um calor insuportável. Ela foi crescendo, a Empresa
Garcia foi crescendo, mas eu já era contramestre na Empresa Garcia. Primeiro
aumentou a sala 14 de felpudo. Passou a sala 14, se formou a sala 15 com tear
de felpudo e alguns teares de chacate. Quer dizer:felpudo e chacate em alto
relevo, isto é, atoalhado, roupa de cama, todas essas coisas, diversos, toalha
de mesa...Bom, enfim, depois dali começou a sala 16, só felpudo. Foi a carreira,
estou falando da carreira, como a Empresa Garcia foi crescendo. Depois disso a
Empresa Garcia fez a outra sessão que era a sala de automática, tear automático.
Assim a empresa foi crescendo que era uma maravilha, crescendo, crescendo... A
sala de automática, ela lotou porque onde eu trabalhava, aliás, na primeira
sala de felpudo chamava-se tinha o nº14 e essa sala de automática também passou
a ser 14 não, levou sala 14ª e até ali eu conheci a Empresa Garcia.
Agora vamos a
outro assunto, como é que essa Empresa Garcia, um caso que eu gostaria de
narrar, porque a Empresa Garcia não merecia sofrer, digo, o nome da Empresa
Garcia que era um nome de tradição, tanto no país como mundial ou
internacional. Ela não merecia sofrer o que sofreu, mas como diz o ditado “não
faça mal a seu vizinho que seu mal tá no caminho”, eles tiraram a Empresa
Garcia, não sei por intermédio não sei de quem trouxeram um tal de, tiraram o
gerente que era o João Medeiros e
botaram o Ernesto Stodieck, então
tirou o Otto Huber, a mão direita da
Empresa Garcia, aquele grande austríaco. Tiraram ele, no dia que deram sentença
que o Otto Huber saiu ele caiu na
cadeira dele. Deu um choque no coração dele, decerto foi grande, porque ele
estimava aquilo e foi levado. Quem levou ele pra casa foi o cunhado, Rodolfo Wuensch contando a causa da
Empresa Garcia. O Otto Huber fez um
ranchinho lá numa terra de um tal de Johann Heinrich Grevsmuhl que tinha uma atafona,
tinha engenho de serra, e tudo ali perto de uma Companhia.
Já existia o Zadrosny e o tal de Dr. Hess, junto com o Otto Huber. O Otto Huber levou o Rodolfo
Wuensch que era um senhor de uma boa pessoa pra cuidar, ele conhecia a
manutenção de tecelagem e ele fez a pequena tecelagem e começaram. Nós, cá na Empresa Garcia, rindo daquela pequena tecelagem,
eu não, eu nunca gostei porque eu gostava do tal Otto Huber e sempre até eu
gostava justamente quando fez 50, 25 anos eu fui lá visitar. Fui lá ver como
estava grande aquilo. Foi se formando a Artex. A Artex
foi crescendo e a empresa foi parando e até que um dia, como diz o ditado, mas
é bem ao contrário essa história que vou contar. Eu dizia sempre assim, diz o ditado
“que a cobra come o sapo”, mas ali foi bem ao contrário, “o sapo comeu a cobra”
porque agora, aquela mini tecelagem que tinha lá foi crescendo e comeu aquela
que comprou mais tarde. Comprou aquela poderosa Empresa Garcia, grande firma de nome que era internacional. Isso eu
não posso compreender como foi aquilo. O povo, mas eu já não trabalhava mais, o
povo ficou revoltado. Choro e ranger de dente, de raiva, tudo aconteceu na Empresa Garcia. Agora eu também vou
contar, na Empresa Garcia, você está perguntando coisas de mim?
R.M.S.V. – Sim, sim.
A.C.S. – Eu trabalhei
muitos anos na Empresa Garcia,
dentro desses quarenta e três anos eu também vi aquelas artes, aquelas coisas
bonitas, aquele felpudo, os desenhos, eu quis caprichar para subir, ficar mais
alto pra aprender por correspondência, a teoria de tecelagem de São Paulo, mas
por correspondência depois em janeiro, não tenho mais na memória qual foi o ano
que fui examinado, nós tínhamos quatro dias para fazer os exames da nossa lição
feita por correspondência. Peguei um certificado, não foi diploma, me deram um
certificado como eu tinha estudado e que eu era capaz de fazer em todo tecido
de tecelagem, mas não cresci na Empresa Garcia. Fiquei ali parado e comecei. Eu
dizia pra eles: “eu sei, eu quero”, mandava, falava, mas isso não entrava no
ouvido lá da direção da Empresa Garcia, não sei, decerto eles estavam muito
ocupados, talvez não iam com a minha cara, talvez não sei o que.
R.M.S.V. - A sua última
função seria a de contramestre até ali?
A.C.S. – Até ali eu era
contramestre, já estava como supervisor porque tinha na minha sessão dois
ajudantes e um contramestre e eu era mais ou menos como supervisor.
R.M.S.V. - Sim.
A.C.S. – Sempre fui um que
ganhou quase sempre um pouquinho mais do que os outros contramestres. Pouca
coisa, mas sempre ganhava mais porque a minha produção era sempre acima de 90%,
agora como acontecia isso quase impossível, como acontecia isso eu não sei. EU
queria aumentar, aprendi a fazer desenho e fazia desenho de felpudo de alto
relevo e também felpudo de flor, de maneira que eu fiz um desenho pra fora. O
primeiro desenho que eu fiz na minha vida, foi um desenho para aquelas
toalhinhas para botar atrás do banco, do acento, do avião que era da “Varig”,
então tinha que escrever um aviãozinho e no aviãozinho, por detrás, escrever
“Varig” até eu fiquei admirado de mim mesmo, que eu fiz uma coisa com muita
perfeição, muito bonitinho.
Dali comecei a
fazer. A empresa soube que eu estava fazendo isso, me chamou atenção uma vez,
me chamou a segunda vez, me chamou a terceira vez, na terceira vez me disseram:
“você tem que assinar/ isso aqui, senão nós vamos processar você”. Eu assinei
um atestado que não deveria mais fazer desenho para fora porque eu estava
fazendo concorrência contra a firma, mas coisa que eu nunca precisaria copiar,
nunca precisei copiar porque eu criava mesmo sozinho, eu tinha essa capacidade
porque eu aprendi, eu também tinha a capacidade de fazer, de criar outra coisa,
não precisava copiar aquilo que a empresa estava fazendo.
R.M.S.V. – Sim, e sua
intenção também não era de concorrência?
A.C.S. – Não era
concorrência, a minha intenção era de subir um pouco mais alto. Eu merecia, eu
fui um operário de quarenta e três anos de serviço, não é brincadeira. Depois
saí de lá, somente com o meu salariozinho, três salários.
Vamos dizer que
era cento e cinquenta e seis mil cruzeiros que eu ganhava.
Três salários e um
pouco, naquele tempo um salário era cinquenta, era cinquenta cruzeiros por
salário. Eu ganhei três salários dava cinquenta e seis, dava cento e cinquenta
e daí, de maneira que passei o tempo todo ali, trabalhei parece mais três anos,
pedi por favor pra eles, eu via mesmo que não me chamavam num ponto mais alto,
eu pedi pra eles pagar pra mim um pouco mais, pra eu ganhar mais quando me
aposentasse, tirasse mais do meu salário, pagasse, não precisaria eles pagarem.
Tirasse do INPS, pra poder, quando me aposentasse, ganhar mais. Não no último
pedido que eu fui fazer pra eles, assim: “escuta o Rolf, eu venho aqui hoje fazer um pedido para o senhor”. “O que é
Antônio, o que tu queres pedir que eu faço”. Eu disse: “ Eu queria pedir pra me
aposentar e continuar o serviço como a lei permite”. “Antônio, não dá porque os
teus subordinados estão de boca aberta esperando a tua vaga”. Eu morri, aí
acabou.
R.M.S.V. – Seu Antônio, como
era, na sua época, o regulamento com os funcionários dentro da tecelagem?
A.C.S. – Assim conforme eu
já disse para você, como tá gravado, a Empresa Garcia era uma empresa sem
telhado, era de vidro, mas não de dizer atirem uma pedra em cima e quebra. O
vidro era com uma peneira, de arame por dentro, isso dava muito calor no tempo
de verão. No inverno era frio e no verão era quente. Mas agora sobre o
regulamento, era severo. Era uma coisa que tinha ordem, mas nós, como tecelão,
não tínhamos hora de serviço. Nós tínhamos hora de entrada, mas menos a hora de
serviço. Nós trabalhávamos, naquele tempo, devia ser em 30 antes das leis, nós
trabalhávamos quanto queríamos, porque nós ganhávamos por metro e não por
batida. Naquele tempo não existia esse relógio de marcar ponto. Hoje se ganha
só por batida, por quantidade de batida. Faz por dia, por mês, soma, o
empregador faz a média, tantas batidas, o operário ganha tanto. Naquele tempo
não, era por metro. Quanto mais nós produzíamos, mais nós ganhávamos. Não havia
primeira e segunda turma, não tinha essa ideia, o tear era nosso até nossa vontade.
Às vezes trabalhava até às nove horas da noite, às vezes até às dez horas, até
às oito era assim. Quando a fábrica parava e não tinha mais barulho, o
guardião, que tinha a portaria ali ao lado, ia lá dentro e olhava aquilo tudo,
lá dentro estava tudo fechado, tudo parado, apagava as luzes, parava os motores
e saía. Agora sobre o regulamento lá dentro, da ordem que nós tínhamos, era uma
ordem severa, não uma ordem de escravo não, era uma ordem para não deixar a
regalia, a vontade. Para ir no banheiro fumar, nós tínhamos que deixar o tear
trabalhando, e na volta fazia que ia no banheiro, enquanto isso ia fumando, em
viagem acendia o cigarro, voltava quando chegava na porta outra vez quebrava,
botava o cigarro fora e entrava na fábrica trabalhando. Uma vez até eu tinha
deixado o meu tear trabalhando e saí, fui ligeiro, o Schrader naquele tempo o
Schrader era o gerente, chegou e disse “escuta aqui, eu já passei diversas
vezes por aqui e o seu tear está trabalhando sem dono, digo, não senhor, é a
primeira vez”. Ele chegou a dizer até pra mim: “olha, se acontecer mais uma
vez, tu sabes, por onde tu entraste aqui tu vai sair também”. Ele quis dizer
com isso que ele me botava na rua mas eu era garoto naquele tempo, mas isso me
serviu para uma alta lição porque, embora se eu quisesse ir no banheiro fumar
uma ou duas vezes por dia, porque o fumo faz mal, eu achei que ele tinha razão.
Eu nem contei para o meu pai porque meu pai ia brigar comigo, lógico. O
regulamento lá dentro era assim: bem em ordem e mulher, naquele tempo, não
trabalhava no tear era só homem, depois começou a entrar mulher também.
Começaram a fazer a segunda turma. Não que a Empresa Garcia, toda vida só teve
primeira e segunda turma na parte de tecelagem, agora na fiação, que é da mesma
Empresa Garcia. Que era ligado a tecelagem. A fiação tinha três turmas para
poder dar conta da tecelagem porque a Empresa Garcia nunca comprou fio fora,
comprou só algodão em fardo em São Paulo. Nós sempre víamos quando vinham
caminhões e caminhões, fila de caminhões, sempre de fardos de algodão que eles compravam.
A Empresa Garcia nos primeiros
tempos, foi uma empresa bem calçada uma coisa que eu deveria já ter dito no
começo. A Empresa Garcia foi formada pela companhia, um sócio da empresa, o
primeiro que fez a Empresa Garcia foi a família Hauer junto com o Probst. Isto
era por ali onde hoje é a Artex,
mais ou menos por ali. Depois passou pra frente, o lugar era maior, lá onde
estava, o lugar era pequeno. Ali onde está a empresa hoje não é mais a empresa
é a Artex. Ali a empresa foi crescendo, se formou naquele ponto. A empresa
passou só para o Probst e dos Probst passou para a família Hauer de Curitiba, a
família Hauer os últimos sócios, o mais forte. Com as pequenas lembranças que
eu tenho o último sócio mais forte, vamos dizer, os donos da Empresa Garcia, o
dono mesmo, com todo o poder era a família Hauer de Curitiba. Tinha o Alex
Hauer, aquele trabalhou muito tempo, até fazia pagamento para os operários.
Esse tal de Alex Hauer e tinha outro Hauer que agora no momento eu me esqueci o
nome, também foi gerente, depois esse Hauer saiu e entrou o João Medeiros, João
Medeiros filho do velho João Medeiros, chamava-se João também e tinha o filho.
Foi crescendo de maneira que quando eu deixei a Empresa Garcia, quando eu saí
da Empresa Garcia, ela começou assim com pouca gente, quando eu saí estava com
três mil empregados. Outra vez falando da Artex, quando eu deixei a Empresa
Garcia, a Artex estava mais ou menos com duzentos empregados e a Empresa Garcia
estava com três mil empregados e aquela pequena fábrica, de duzentos ou trezentos
empregados comprou aquela que tinha três mil empregados.
R.M.S.V. – O senhor falou
antes que mulher não trabalhava com tear, onde elas trabalhavam?
A mulher e a força do trabalho na EIG
A.C.S. – Elas tinham
serviço separado. Elas trabalhavam na espula, na meadeira, mas mulher era pra
fiação. O serviço da fiação justamente um serviço que dizia propriamente para
mulher. Ainda hoje, acredito que a fiação é mais para mulher, é um serviço mais
leve é um serviço que não precisa carregar rolo, para tirar as espulas, tem os
contramestres que faziam isso. Elas só cuidam e limpam, é um serviço muito
fácil. A Empresa Garcia separou tecelagem para homem, fiação para mulher. A
fiação na Empresa Garcia como está hoje, ainda é uma grande fiação, é uma
fiação que eu não sei se tem aqui no Estado como aquela. Pode ser que em
Brusque tenha, mas eu não sei, porque a fiação da Empresa Garcia é muito
grande.
R.M.S.V. – O senhor lembra
como era feito o tingimento do fio e do tecido?
A.C.S. – Lembro sim. Tudo
isso era feito lá. Tinha a tinturaria separada, primeiro foi, tinto, era
tingido o tecido dentro de tinas, levavam lá na água corrente para passar água.
Levavam com carrinho, com vagãozinho, levavam e traziam. Trabalhavam dessa
maneira, depois no fim, trabalhavam com essas coisas automáticas. Tudo
automático, eles primeiro faziam a roca, antigamente faziam o fio, alvejavam em
meadas, nos últimos tempos estavam alvejando em roca. Ali ia para o secador, do
secador ia para o tear o fio já alvejado, e também já faziam cru. Eles
alvejavam quando era um pano branco, só branco.
Vamos dizer, pra
roupa de cama faziam cru e alvejavam. Na tinturaria moderna que eles tinham,
não sei se existe outra igual aquela, porque a Empresa Garcia podia naquele
tempo. Se outra tecelagem foi formada em Blumenau, foi copiada da Empresa
Garcia. Porque a empresa foi a maior tecelagem que eu conheci até hoje. Até fui
diretor de outra firma lá em Rio do Sul.
Eu trabalhei, entre tudo, sessenta e três anos em tecelagem, de maneira que eu
estou dentro do quadro de tecelagem, ninguém precisa me ensinar nada, eu
conheço bem essa arte. Ainda hoje em dia, se precisar trabalhar, apenas pela
visão, eu era capaz de dirigir qualquer firma. Então, como nós íamos falando da
tinturaria, a tinturaria tanto alvejava como também tingia o pano, a cor que quisesse.
Todas as cores para vender em peça. Logo já botaram na mesma tinturaria, no
outro lado, a estamparia, também pertencia ao ramo da tinturaria.
Isso já foi quase
no fim da vida da Empresa Garcia. Já
estava sentindo meio fraca, mas ainda deu para fazer essa estamparia, isso eu
tenho certeza porque pouco conheci a estamparia. Logo quando eu saí, a Artex
comprou, quando eles me disseram que a Artex tinha comprado a Empresa Garcia eu
não quis acreditar nem por nada. Não quis acreditar porque era impossível e foi
comprado mesmo. Eu mesmo de fora da firma, saí um pouco retraído, um pouco
aborrecido dela mas ainda fiquei com muito choque, com pena, de uma grande
firma com tanto sacrifício dos operários, dos mandatários que mandavam lá
dentro e depois acabasse assim, em nada, mas nesse tempo foi a falência. Vamos
dizer, eu acredito que foi a falência. O gerente era o Jorge Buechler (falecido em 2016), naquele tempo era o Jorge Buechler que mandava naquilo lá, sabe?
Eu quero alterar
uma coisa aí. Que, se saiu um grande homem da Empresa Garcia, assim como eu ele
está vivo e são, pode provar. Foi o Alfredo
Iten (falecido em 26/10/2011 aos 92 anos). Se o Alfredo Iten estivesse dentro da
Empresa Garcia, não teria acontecido aquilo. Assim como eu posso provar que o
Alfredo Iten chegou lá na Cremer. Até onde ele ajudou uma tecelagemzinha lá em
Rio do Sul por causa disso eu digo, uma grande besteira, a empresa tropeçou na
pedra, foi ter tirado o Alfredo Iten lá de dentro.
R.M.S.V. – Seu Antônio, o
senhor teria mais alguma coisa pra nos contar?
A.C.S. – Rose, teria muita
coisa sabe quarenta e três anos de trabalho, isso é muita coisa mas com o tempo
a gente vai esquecendo e conta detalhe por detalhe, alegria, sabe como é operário
pouco tem dentro da firma e começa a fazer fofoca, e contar as mágoas, isso
quase ninguém gosta de ouvir. Eu acho que fico muito obrigado pra você que veio
de Blumenau pra cá e com
muito prazer escolhesse eu como um de tua confiança, que trabalhou na Empresa Garcia quarenta e três anos. E
pode acreditar dona Rose que eu não. (Virada da fita). Talvez esqueci de dizer
algumas coisas muito úteis, mas infelizmente não posso fazer nada. Mas o
iniciado eu contei, a coisa mais interessante da Empresa Garcia, e do Estado, que ela é hoje em dia, eu entrei lá
dentro que era coberta com telha de vidro. Não faz tua casa com telha de vidro
que os outros atiram pedra em cima e quebram, mas aquela não quebrava não, era coisa
boa, um vidro grosso ainda, feito com uma peneira de arame por dentro mas só
que era ruim, era claro, muito claro para trabalhar, no sentido de tecelagem
era uma maravilha, porque gastava pouca luz, porque era como estar na rua, a
mesma coisa é uma casa com telhado, fica escuro, então aquele telhado de
antigamente, foi uma coisa muito boa mas não precisava de energia a gente
enxergava de longe porque era tudo claro, a sala tinha mais de cem metros de
distância. Enxergava um companheiro, já sabia quem era.
Lançadeira e espula que produzia a toalha
Assim era a Empresa Garcia, aquilo era uma maravilha,
nós tínhamos nos primeiros tempos, no tempo do Otto Huber, nós tínhamos quase
que mensalmente uma churrascada para os operários, de graça, nós tínhamos lá um
lugar chamado “Hirschloch”, isto em
brasileiro chama-se “O Buraco do Veado” justamente lá tinha uma água onde os
veados caíam lá dentro, os caçadores matavam. E depois dali começaram a
diminuir e a fazer três ou quatro vezes por ano no mesmo restaurante que a
empresa tinha. A empresa tinha um restaurante para os empregados da empresa
almoçar ao meio dia, quando vinham de longe e até para os solteiros que não
moravam ali também podiam ficar no hotel. Logo fizeram um hotel e um dormitório
muito grande.
Justamente quem
cuidava do dormitório da Empresa Garcia,
primeiro, que eu posso dizer, foi a minha senhora, a Rosa, que hoje em dia é
falecida. Tinha ali uma porção de empregados que dormiam naquele dormitório e
comiam no restaurante. O restaurante era tocado por um irmão meu, chamava-se
Pedro Cândido da Silva e sua esposa Aquilina (Bohn) da Silva, de maneira que nós éramos muito conhecidos na Empresa Garcia.
Ainda hoje, felizmente, quando vou lá eles me tratam pelo meu nome, é Antônio
Cândido da Silva mas como meu pai era pequeninho eles chamavam meu pai de
Candinho, então hoje quando chego lá, eles me chamam de “Candinho”. O meu maior
prazer quando chego lá é ver aquela gente antiga, sabe por que? Eu gosto muito
daquela gente de lá, gosto porque eles me tem como parente deles. Essa
lembrança traz da minha qualidade, não é que eu vou me prosear mas eu acho da
minha criação, da educação que meu pai deixou para mim. É assim que eu espero
que a mocidade de hoje em dia cresça com essa ideia como eu tenho até hoje
graças a Deus. Nunca tive queixa, nem processo, nem fiz queixa e nem processei,
nem fui repreendido por polícia de qualidade nenhuma graças a Deus essa é minha
atitude que eu digo pra ti, pra senhora, perdão, que eu nunca tive questão eu
era meio safado nos bailes, eu gostava de brincar, mas sabe, ao invés de ir
para casa cedo, eu chegava tarde, mas sempre obedeci meus pais. E daí na
Empresa Garcia. Eles também usavam pelo Natal fazer um Papai Noel e faziam o
Papai Noel mesmo.
Eu fui ver um
Papai Noel enfeitado como usa a tradição europeia foi na Empresa Garcia. Um
Papai Noel bem feito, vestido de vermelho e branco, barba bem grande, foi lá
Empresa Garcia o primeiro Papai Noel, isso continuou anos, mas digo, no tempo
do senhor João Medeiros ou no tempo do Mendes, naquele tempo. Mas depois que
entrou o senhor Stodieck acabou-se
tudo, foi tudo pro monte, empilharam e depois a Artex comprou tudo. Eu acho, dona Rose, que se eu tivesse muito
tempo eu tinha pra contar um mês inteiro a história da Empresa Garcia.
R.M.S.V. – Seu Antonio eu
agradeço ao senhor pelo seu tempo e a sua dedicação à nossa entrevista.
A.C.S. – Se precisar outra
vez pra falar do nome da Empresa Garcia, que o nome da Empresa Garcia, com toda
a ingratidão que eu recebi dos últimos dirigentes mandatários, eu ainda tenho a
Empresa Garcia dentro do coração.
Parece que a
Empresa Garcia existe e não é a Artex, mas felizmente está em boas mãos.
Arquivo de Adalberto Day e da família Dr. OSCAR EWALD/Oftalmologia Clínica e
Cirúrgica/CRM/SC 12330 RQE 8036/ Especialista em
Oftalmologia pelo MEC e CBO - Fellowship em Glaucoma pela USP; Membro da
Sociedade Brasileira de Glaucoma.
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9 comentários:
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Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirQuando comecei a ler este belíssimo texto, lembrei do meu tempo de tecelão na Artex .
Guardada as devidas proporções, também fumavamos , mas em local seguro sem maiores problemas, claro que em tempos diferentes mas também esramos ameaçados constantemente se não cumpriamos com nossa produção , que já eram marcadas em relatórios diários. Com tudo sempre é muito bom reviver aqueles 5 anos de tecelagem (felpudo), que tem muitas histórias.
Parabéns pelo texto.
Bom dia meu querido prof Adalberto. História como a do Sr Antônio Cândido da Silva temos inúmeras cada qual com sua batalha em fazer a EI. Garcia CRESCER E consequentemente crescerem junto com a mesma. No caso dos desenhos feitos por Sr Antônio Cândido da Silva,Vc q trabalhou por muitos anos na Artex deve ter ouvido falar d Funcionários q inventaram não só desenhos como peças q eram importadas da Suíça.Vamos ser bem honestos quanto a isso: Usavam o fato de os funcionários serem leigos, e se apoderavam de suas criações, inventos,o que os deixava contentes era um elogio, e não o reconhecimento e a eles era devido.Meu Pai foi um caso q inventou peças q eram importadas, e não levou nenhum credito por isso. Mais não querendo me alongar Nós q sabemos um pouco da historia dessa grande Empresa,q milhares de funcionários constituíram famílias,criaram filhos q tbm foram funcionários,e assim se seguiu por mais de uma centena de anos.Hoje quando passo por lá sinto um vazio, uma decepção do q se tornou,e me permita usar um ditado do texto ( “não faça mal a seu vizinho que seu mal tá no caminho”) Bem amigo Parabéns sempre e grande abraço!
ResponderExcluirCaro Adalberto,
ResponderExcluirQue bela história e que bom trabalho dos pesquisadores!
Parabéns.
Abraço,
Antunes Severo
Oi, Adalberto, que bela entrevista! Parabéns à pesquisadora, ao entrevistado e à tua iniciativa de publicar!
ResponderExcluirAbração,
Urda Alice Klueger.
Meu grande Historiador
ResponderExcluirLi e fiquei muito contente consegui aumentar meus
Conhecimentos sobre nosso Bairro do Garcia
Muito obrigado
Edemar Faht
Muito legal mesmo! Relembrei histórias de meu avô! Ainda tenho essa toalha que ele cita da VARIG! Por isso me vi na obrigação de compartilhar com o colega Day! Abraços
ResponderExcluirTive o prazer de ser vizinho do Sr Candinho e da "Jonilda". Até ontem achava que era assim que se pronunciava, quando descobri que era Geonilda. Vizinhos de esquina da Almirante Saldanha da Gama.Depois, acho que foi casa do "Xico" Siegel.Bons tempos.
ResponderExcluirBom dia amigão !
ResponderExcluirE lá vamos nós para curtir mais um fim de semana. Como não está fazendo frio, sugiro que você moleste as loirinhas.
Sr. Antonio Candido
Eu conhecia ele como Sr. Candinho e lembro bem da casa que ele morava na entrada da rua Almirante Saldanha. Ele era muito educado, porém meu contato com ele quase não acontecia. Lembro ainda do carro, se não me engano um Aéro Willis de cor preto. Não tenho certeza, mas acho que deu de presente para a filha dele a Jeonilda. Por falar em Jeonilda, ela era muito amiga da minha irmã Iolanda. O filho dela Oscar eu vi apenas uma vez, e na ocasião estava cursando medicina. Fico feliz por ter se formado e hoje ser consagrado na profissão. Ainda sobre o Sr. Candinho, normalmente eu o encontrava no pátio da E.I.G., quando juntamente com o Sr. Antonio Santos (Tenòrio ou Titona) como eu o chamava, fazíamos o transporte dos teares ( Picanol ) montados por nós na oficina da EIG. O nosso chefe na época era o Sr. Herich Rosenmek e o Sr. Arnoldo Gauche. O desenhista era o Sr Dieter Altenburg que fumava cachimbo, sendo fumo aromático e se não me engano da marca Timoneiro. Não sei se escrevi os nomes corretamente.
Beto ! isso é apenas um pequeno relato dos bons tempos.
Atenciosamente
WALFRIDO BACHMANN
Boa noite Sr. Adalberto
ResponderExcluirReferente ao Hotel da EIG. Meus primeiros 4 anos de vida, foram vividos neste hotel Sou o terceiro filho de Pedro Cândido da Silva e de Aguilina (Bohn) da Silva. Guardo algumas lembranças desta época. Nascido em 1945. Vi com emoção a entrevista dada pelo meu tio Antonio Cândido da Silva. Peço um favor para editar o nome de meu pai na postagem. Ali está só Pedro Cândido. Completar com "da Silva" e mencionar o nome da minha mãe, (Aquilina (Bohn) da Silva) pois muito ela trabalhou naquele estabelecimento e gostaria que fosse homenageada com a menção de seu nome.
Alvino da Silva