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terça-feira, 11 de junho de 2013

- Tragédia enlutou Blumenau

Mais uma participação exclusiva do renomado escritor e jornalista Carlos Braga Mueller.


HISTÓRIAS QUE A HISTÓRIA CONTA
Por Carlos Braga Mueller


TRAGÉDIA NA BAÍA DA GUANABARA  ENLUTOU BLUMENAU  
Três de dezembro de 1928. O Rio de Janeiro estava em festa para recepcionar Alberto Santos Dumont, que retornava ao Brasil, aclamado mundialmente como o "Pai da Aviação".
Dumont viajava no navio SS Cap Arcona, inaugurado no ano anterior e um dos mais modernos transatlânticos de luxo da Alemanha, pertencente à  companhia de navegação Hamburg Süd. 
Entre as diversas homenagens programadas estava o sobrevoo de dois hidroaviões sobre o navio, os quais decolaram da Baía da Guanabara para lançar flores e mensagens de boas vindas ao ilustre brasileiro.
Eram as aeronaves Guanabara e Santos Dumont, esta última batizada em homenagem ao "pai da aviação".
Jornais da época registram que "por conta de erro de um dos pilotos, as duas aeronaves entraram em rota de colisão, obrigando os pilotos a efetuarem manobras evasivas. O Guanabara escapou ileso da quase colisão, mas o Santos Dumont fez uma manobra que lhe custou a perda de sustentação, ocasionando a queda do aparelho na Baía da Guanabara diante dos olhos atônitos dos tripulantes e passageiros do SS Cap Arcona, incluindo Alberto Santos Dumont."  
A comissão selecionada para a recepção  estava composta de Tobias Moscoso, Amoroso Costa e Fernando Laboriau, professores da Escola Politécnica do Rio de janeiro, Deputado Amauri de Medeiros, Jornalista Paulo de Castro Maia, cartógrafo Eduardo Vallo, jornalista Abel de Araújo e sua esposa Cândida, Frederico de Oliveira Coutinho, também jornalista e Guilherme Auth, representando a empresa aérea Kondor Syndikat, proprietária do hidroavião.
A tripulação era composta pelo comandante A.W.Paschen, alemão, 26 anos; Rodolfo Enet, 2º piloto, brasileiro, gaúcho; Walter Haslof, mecânico de bordo, alemão, 25 anos, e Gustavo Butzke, mecânico de bordo, brasileiro, catarinense, 23 anos.
Ao receber a notícia, as autoridades de Blumenau e seus habitantes lamentaram profundamente o acidente, muito particularmente porque o mecânico BUTZKE era blumenauense !
Os serviços de salvamento foram ativados rapidamente.
O primeiro a ser resgatado foi Gustavo Butzke, ainda com vida mas em estado de coma. Uma lancha a motor o conduziu ao Hospital da Marinha onde foi internado, mas não resistiu aos ferimentos. Os médicos constataram fraturas na base do crânio e nas duas pernas, além da ingestão de muita água.
Quatro escafandristas foram destacados para resgatar as vítimas. Um deles morreu quando teve o tubo de oxigênio cortado pelas ferragens do avião.
O  número de mortos chegou a 15: no avião todos pereceram: 10 passageiros e 4 tripulantes, além do escafandrista.
Doze vítimas foram sepultadas no Rio; o segundo piloto Rodolfo Enet, e o mecânico Gustavo Butzke foram embalsamados e embarcados respectivamente para Porto Alegre e Blumenau, suas terras natais.
Seu corpo chegou a bordo do rebocador Santa Catarina, da Estrada de Ferro Santa Catarina, que o trouxe de Itajaí a Blumenau.
As fábricas tocavam seus apitos e sirenes em homenagem ao herói blumenauense, morto no cumprimento do dever.
Foto: Wily Sievert
GUSTAVO BUTZKE, O BUBI. 
Bubi Butzke era filho de pais humildes. 
Ao terminar os estudos escolares aprendeu mecânica de automóvel. Passou a exercer esta profissão até a época em que serviu o exército.
S.C.Wahle escreveu, em artigo publicado na revista "Blumenau em Cadernos",  que Bubi  "sentou praça na 9a. Companhia de Metralhadoras Pesadas, aquartelada na esquina da Rua Bom Retiro (hoje Floriano Peixoto) com a Rua 15 de Novembro. Este quartel, com a transferência da unidade militar , passou a servir de hotel e denominava-se Hotel Pauli.
Como soldado, Bubi Butzke teve oportunidade de desenvolver os seus conhecimentos de mecânico, passando a desmontar, consertar e montar metralhadoras e outros armamentos.
Dadas suas habilidades, simpatia e gênio aberto, o capitão Thomé passou a confiar-lhe o carro do comandante, bem como a sua motocicleta. Nesta, Bubi Butzke mostrava suas verdadeiras habilidades.
Ao dar baixa do serviço militar, procurou horizontes mais largos para suas habilidades, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar no Kondor Syndikat (depois Cruzeiro do Sul). Ali, após treinamento na oficina, foi transferido como mecânico de bordo. Realizara-se seu grande sonho !
Este, entretanto não durou muito."
O acidente com o hidroavião Santos Dumont ceifaria sua vida de maneira trágica quando tinha apenas 23 anos. 

A DEPRESSÃO DE SANTOS DUMONT 
Santos Dumont fez questão de acompanhar por vários dias as buscas pelos corpos. Depois, recolheu-se, primeiro ao seu quarto no Hotel Copacabana Palace, depois a sua casa em Petrópolis, onde entrou em profunda depressão.
Após algum tempo voltou a Paris, internando-se em um sanatório nos Pirineus, indo a seguir para Biarritz.
Santos Dumont continuou na Europa as suas pesquisas e invenções, únicas distrações que ainda conseguiam desviar-lhe  a preocupação com os desastres aéreos.
Em 1931, Antônio Prado Júnior, exilado em Paris,  foi visitar o amigo Santos Dumont em Biarritz e constatou seu total abatimento. Imediatamente telegrafou à família do inventor para que esta tomasse alguma providência.
Jorge Henrique Dumont Villares foi buscar o tio na Europa, trazendo-o definitivamente para o Brasil. Passou a ser seu inseparável companheiro, acompanhando-o nos últimos anos de vida.  
Referências bibliográficas:
Curiosidades de Uma Época VIII - Bubi Butzke - S.C. Wahle - Blumenau em Cadernos Tomo XXII, 1981.
Curiosidades de Uma Época LI - Tragédia Santos Dumont - S.C. Wahle - Blumenau em Cadernos Tomo XXXVIII, 1997.
Arquivo Carlos Braga Mueller/Adalberto Day  

12 comentários:

  1. Beto e Sr. Braga
    Muito bom, não conhecia tal acontecimento,nem de fatos do Butzke, (Bubi).
    Henry Georg Spring

    Fortaleza-CE

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  2. Boa reportagem. JA conhecia ela em partes

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  3. Meu amigo e irmão Beto,como sempre nos brindando com belos trabalhos.
    Realmente este veio para acrescentar mais um pedaço da historia e o desconhecia.
    Agradeço e reitero meus votos de SAÚDE...SAÚDE...SAÚDE...
    BAITABRAÇO
    Antonio Aires - Santos.SP

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  4. Verdadeiramente impressionante este relato, que todos os amigos de"Antigamente em Blumenau" deveriam ler na íntegra, OBRIGADA.
    Ursel Kilian

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  5. Muito interessante. Uma história que pouca gente conhece.
    Ernestino Trindade

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  6. Grato, Braga Müller e Adalberto, pela divulgação dessa história. Bubi Butzke teve uma morte trágica, mas deve ser lembrado como um blumenauense que ousou ir além e conseguiu. A ele, todo o nosso respeito. Sujeitos a acidentes, como é sabido, estamos todos nós. Tivéssemos, naqueles dias, um conhecimento médico maior sobre a depressão, talvez nosso valoroso Alberto Santos Dumont tivesse passados seus últimos anos de vida mais feliz. Grande abraço!

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    Respostas
    1. Tio bubi era irmão de meu pai Osvaldo Butzke, minha oma Elise sonhou a noite com o desastre e falou ao acordar:- o bubi está passando mal. E chorava sem parar. Tio bubi está sepulatado.no cemitério protestante do bairro Garcia. Em Blumenau S.C. Onde tem outros ilustres brasuleiros sepultados. É um cemitério considerado histórico.

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  7. Boa tarde Adalberto

    Gostei da reportagem do Braga.
    Tive a satisfação de conhecer a casa de Santos Dumont em Petrópolis em um passeio.
    Muito interessante.
    Lamenta-se a morte de Bubi Butzke.
    Abraço

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  8. Muito obrigada pela reportagem sobre o assunto acima.
    Muito interessante e uma raridade.
    Abraços
    Ivonete Poerner

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  9. Como conhecemos pouco de nossa história e da vida de muitos blumenauenses.Muito importante socializar esse conhecimento.
    Marisa

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  10. Amigo Beto. Obrigado por repassar a mensagem sobre a tragédia na Baia de guanabara. Realmente, eu desconhecia completamente essa passagem da história. Tinha apenas 4 anos quando aconteceu. Foi impressionante mesmo. Obrigado mais uma vez. Abrs.
    E..Santos

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  11. Marden Laus - email: marden.adv@gmail.comsábado, 28 de março de 2020 às 11:48:00 BRT

    Sr. Adalberto, não conhecia esta tragedia na Baia da Guanabara e nem tampouco que havia um blumenauense a bordo da Aeronave Santos Dumont, valeu mais uma vez, pelo relato histórico deste evento. Aproveitando a ociosidade decorrente do Confinamento do Corona vírus, aos poucos estou curtindo os links de história de seu blog.

    Abraços - Marden Laus

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