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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

- A despedida de Dr. Blumenau

[...] O pesar foi geral quando, em 1884, o Dr. Blumenau deixou a Colônia para se juntar à sua família que já se encontrava na Alemanha. Na época, em quase todos os jornais de idioma alemão no sul do Brasil, foi publicada, reportagem cujo teor era o seguinte: “ A bordo do Vapor “Progresso”, deixou a nossa Colônia no dia 15 do corrente mês, o Sr. Dr. Hermann Blumenau para iniciar viagem à Europa. Na noite anterior ao embarque, seus amigos e admiradores se reuniram, no Hotel Schreep, onde estava hospedado, para então se despedirem dele. Foi um ato que todos cumpriram comovidos e com o coração constrito. Tratava-se de apertar a mão do amigo, por todos benquisto, o “Pai Blumenau”, como era cognominado e, quiçá, ver pela última vez seu cabelo grisalho e na nobre face.”
Por proposta do Vigário de Paróquia de São Paulo Apóstolo, formaram uma comissão com presidente e escriturário, a qual em reunião tomou as seguintes resoluções:
1) O Município de Blumenau deverá eterno agradecimento ao Sr. Dr. Blumenau, por seus 40 (quarenta) anos de incansável trabalho.
2)Este município deve ao seu fundador e diretor o bem-estar e o êxito alcançados deste à sua fundação e ficará devendo, preferencialmente por todo porvir, pelos longos anos de trabalho e sacrifícios dependidos.
3) Estas resoluções serão publicadas no jornal.
Em seguida, os participantes dirigiriam-se ao salão superior do hotel e, na presença do homenageado, o Padre Jacobs, a pedido, em nome de todos os presentes e em nome também da comunidade.pronunciou a alocução de despedida . Nela expressou os sentimentos dos blumenauenses, nos seguintes termos: - “De forma improvisada, se reuniu uma parcela de seus inúmeros amigos e admiradores para se despedir. Todos se acham no dever de agradecer os seus esforços e a incansável atividade que dedicou a esta Colônia, durante os 40 anos, desde sua fundação. O futuro reconhecerá melhor os sucessos dessa atividade. Ele plantou a semente que germinou e se transformou numa árvore maravilhosa e que no futuro trará bastantes frutos. Muitas horas amargas e muitos dias ingratos anuviaram sua existência. Que uma velhice agradável e despreocupada seja o seu pagamento. Nós todos, de coração, dizemos ]: “Adeus” – e, ao mesmo tempo, “Até a vista!”

O Dr. Blumenau, profundamente comovido, agradeceu as palavras, manifestando, ao mesmo tempo, a alegria de ver seus amigos ali reunidos.
Logo após as palavras do Pe. Jacobs, o Dr. Blumenau citou o conhecido verso do poeta da canção da “Despedida”, que diz: “Quando amigos se separam, dizem: Auf Wiedersehn (Até Breve)”. Foi grande a alegria de todos, pois não excluía, ante o pronunciamento do homenageado, a esperança que todos tinham de que ele retornasse a Blumenau.
Na seqüência da reunião de despedida, o Dr. Blumenau recusou os elogios e manifestações de louvor, assegurando sentir a maior satisfação, caso houvesse realmente contribuído para o bem estar da Colônia e de seus residentes. Depois estendeu a mão a todos, abraçando alguns, o que para todos foi, sem dúvida, um momento inesquecível. Realmente a despedida desse homem foi muito comovente. Estava com os cabelos grisalhos, não tanto pelo passar dos anos, quanto pelo estóico esforço com que se empenhou desveladamente por longos anos de incansável labor, no trato dos negócios administrativos desta terra.
Todos ficaram profundamente sensibilizados ao ver esse venerável veterano , com sua agradável e sincera maneira, encontrar palavras de despedida para cada um dos mais caros amigos e assim deixar marcada, na lembrança de todos , a sua inconfundível personalidade.
Quem, naquele momento, poderia deixar de ver, ante seus olhos, o descortinar de um quadro do passado na história do desenvolvimento dessa grande Colônia, tão intimamente identificada com seu fundador e diretor? Honra ao homem que, desprezando oportunidades de empregar sua capacidade intelectual em condições mais favoráveis num país civilizado, preferiu seguir seus impulsos idealistas, desenvolvendo sua atividade, até avançada idade , em áreas nunca até então cultivadas da imensa floresta, para dar vida a uma brilhante e próspera Colônia Alemã.
É oportuno citar aqui a poesia feita pelo Sr. Vigário, em forma de acróstico, que foi lida e depois entregue ao Dr. Blumenau, e que á a seguinte:
“Acróstico ao Sr. Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau - 15 de agosto de 1884:
Belas flores que você cuidou,
Livres, flores - sua coroa de honra,
Um Vale que você zelou
Muito brilho no futuro trará
E colherá sua benção
No tempo mais distante
Apesar de invejosos se manifestarem,
Um sucesso a honrará!
Blumenau em Deus Confia!
Adeus! E viva muitos anos
Temos isto a dizer como despedida
E o dia jubiloso chegará
Ao clamor glorioso dos céus,
Vendo tempestades o cercar,
Onde sem descanso estiver
Logo erguerá os olhares nos céus
Todos sempre lhe dirão,
Ao “Porto Seguro” venha!
Blumenau em Deus Confia!
Em seguida, foi elevado um brinde ao Dr. Blumenau, que respondeu com outro à Colônia e a seus moradores.
No entanto, pode-se deduzir pelas palavras que pronunciou, por ocasião da solenidade de despedida, que ele esperava regressar. Também algumas noticias de jornais da época aventuram so9bre essa possibilidade, reportando que o Dr. Blumenau retornava à Alemanha por incumbência e solicitação do Governo Imperial.
Hoje, realmente não se sabe e é difícil imaginar que o Dr. Blumenau recebesse novamente uma prova de benemerência oficial, depois de longa espera e amargas provas de paciência. Portanto, apesar de um jornal noticiar essa nova incumbência oficial, não se pode entendê-la verdadeira, mesmo ante o conhecimento de que ele não havia “caído em desgraça”. Até o fim, continuou nas boas graças do imperador, que muito o considerava, e, entre amigos, o fundador da Colônia sempre contou com personalidades influentes, como por exemplo, o Visconde de Bom Retiro e o Dr. Alfredo d`Escragnolle Taunay.
A emancipação de Blumenau teve por conseqüência a dissolução da diretoria da Colônia, fato que ocorreu por motivos gerais e não como um ato dirigido contra a pessoa do Dr. Blumenau, tanto que o mesmo registrou-se quando na emancipação de outras colônias. Em todo esse episódio o que causa espécie, é a circunstância de deixarem o Dr. Blumenau partir sem sequer uma palavra oficial de agradecimento por parte do Governo imperial, do que se conclui que houve falta de sensibilidade daquelas autoridades.
Na Alemanha o Dr. Blumenau continuou dando mostras de seu apego à Colônia que fundará , elevando sua voz em defesa dos interesses pela preservação da boa reputação dos alemães residentes no sul do Brasil. Com a colaboração de seus amigos, Karl Von Koseritz e Hugo A. Gruber, publicou um Manifesto no qual convocava os teuto-brasileiros a subscreverem uma petição a ser encaminhada à Assembléia Prussiana. Nesse documento era exigida a revogação do “Rescrito de Von der Heydt", de 3 de novembro de 1859, que proibia a emigração de alemães para o Brasil. A iniciativa do Dr. Blumenau foi coroada de sucesso.
Ao Dr. Blumenau, os efeitos provocados pelo contrato de venda de suas terras em Blumenau, em maio de 1885, com o Pastor Gustav Stutzer, causaram muitos dissabores, tanto particulares como jurídicos. Defrontou-se com processos, sujeitando-se a discussões pessoais através de cartas e jornais, o que, certamente, não tornou mais agradáveis e despreocupados os últimos anos de sua existência.
Após falecerem alguns de seus melhores amigos, como Karl Von Koseritz e o Dr. Alfredo d`Escragnolle Taunay que o antecederam, o Dr. Blumenau faleceu em Braunschweig, com 79 anos de idade, no dia 30 de outubro de 1899 [...]


Dados extraídos do livro O município de Blumenau e a história de seu desenvolvimento. Escrito em 1917 por José Deeke/reeditado -Blumenau Nova Letra,1995 e revisado pelo Dr. Niels Deeke, neto de José.
Ficha Catalográfica elaborada pela Fundação "Casa Dr. Blumenau" - Blumenau - SC
Título original "Das Munizip Blumenau und seine Entwickelungsgeschichte", José Deeke, 1917.

12 comentários:

  1. Caro Adalberto, a despedida do Dr. Blumenau deve ter sido mesmo lamentada por muitos que conviveram com ele e tiveram humildade e sabedoria para compreendê-lo - ou julgá-lo - à luz de tudo o que passou, desde sua primeira vinda ao Brasil em 1846, até o momento da sua partida. Devemos admirar e respeitar a memória deste homem - que avanço se faz nesta direção trocando o mito pelo homem! -, não apenas pelo legado que deixou graças à sua perseverança sem fim e fé na tarefa à qual decidiu se entregar, mas também pela profunda transformação interior à qual se submeteu, sobretudo no tocante às suas ideias. O Dr. Blumenau que deixou o Brasil, quase brasileiro - foi um alemão brasileiríssimo, segundo o saudoso Jamundá - pouco ou nada tinha a ver com aquele, 100% alemão, que aqui chegou em 1846. Contudo, a criação do Município, em 1880, e sua instalação, em 1883, parecem ter marcado, não somente o que poderíamos chamar, e nada há de pejorativo nisso, de 'fim do seu reinado', mas também aberto alas para um contexto, ainda nos últimos anos do Império, de disputas por prestígio e cargos políticos. Neste sentido, não devemos duvidar, ainda que a afirmação careça de maior fundamentação, de que possa ter havido algum grupo feliz com a sua partida. Ele passou seus últimos anos junto à família, e seu maior prazer, como amante da natureza, era visitar o Jardim Botânico de Braunschweig. Ainda assim, a velhice não o poupou de dissabores. Doença, processos judiciais e mágoas profundas para com aqueles que prejudicaram seu sucesso durante o período em que esteve à frente da Colônia marcaram seus últimos dias. Desde meados da década de 1970 jaz em paz em nosso meio, no torrão que com justiça carrega seu nome, mas nem sempre é justo para com sua memória. Obrigado, Dr. Blumenau! Grande abraço, Adalberto!

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  2. lapolli @adalbertoday Excelente registro da história de Blumenau. Pq isso não é divulgado nas escolas ?

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  3. Okarasinski @adalbertoday Já li. Meu avô tem livros alemães de 1900 http://twitpic.com/3y9sph http://twitpic.com/3y9spl http://twitpic.com/3y9sqz

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  4. ivannaatz recomendo a leitura do blog do historiador @adalbertoday que traz um trabalho bacana sobre a despedida do Dr. Blumenau http://bit.ly/fkcYY1

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  5. Prezado Adalberto

    legal esta matéria sobre a despedida do Dr. Blumenau; não tinha conhecimento desta poesia; a mesma foto colocada junto ao texto também se encontra no Jardim de Infância Dr. Blumenau.
    abraço

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  6. parabéns amigo.
    bela matéria
    abraço do antunes severo

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  7. Muito bom....estou aprendendo muito com seu blog.
    obrigado



    Maicon S Cabral

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  8. Oi Beto.
    Muito interessante essa narrativa da despedida do ilustre fundador de nossa querida cidade. Como vi, tinha que haver referencia aos registros de inegável importância do Dr. Niels. Notou-se que houve por parte de nosso governo central, uma injusta omissão nesse acontecimento tão importante, pois, para nos, foi um verdadeiro patriota, contribuindo com seu importante trabalho em prol do desenvolvimento desta região, que, mais tarde foi motivo de orgulho para a Nação. Dessa leitura, colhi uma palavra bastante característica da língua alemã, que não sei o significado. Se o amigo souber (o Dr. Niels deve saber): "Entwickelungsgeschichte". Um grande abraço e obrigado por mais esse importante trabalho.
    Eutraclínio Antônio dos Santos

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  9. Estimado Adalberto :
    Respondendo à indagação do prezado leitor do Blog, o Sr. EUTRACLINIO ANTÔNIO DOS SANTOS, contida nos comentários postados à " Despedida do dr. Blumenau " esclareço o significado do termo da língua germânica " Entwickelungsgeschichte", que é : Desenvolvimento - Evolução.
    Sem mais de oportuno,
    com abraços,
    Niels

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  10. Prezado Adalberto Day :

    Assunto :
    " Entwickelungsgeschichte "

    Na anterior mensagem que lhe enviei, referente ao termo Entwickelungsgeschichte precipitei-me , quando, na pressa, somente traduzi Entwickelungs, permanecendo incompleta a explicação que ora procedo.
    a) Entwickelung : Desenvolvimento, evolução
    b) Geschichte : História.

    Muito pouco entendo da língua alemã, todavia, assim suponho, sua grafia permite sejam os substantivos grafados unidos ( Emendados), independentemente do gênero das palavras da composição, sejam masculinas, femininas ou neutras.

    Logo Entwickelungsgeschichte , formada por Entwickelung ou Entwickelungs ( Desenvolvimento) , acrescida de Geschichte ( História) , tem por tradução :
    HISTÓRIA DO DESENVOLVIMENTO.

    São os seguintes os referenciais bibliográficos da obra em foco, que é uma entre os mais de 100 títulos de sua autoria. Os trabalhos executados por José Deeke, encontram-se parcialmente relacionados nas páginas 266 a 295 da tradução da obra “O Município de Blumenau e a História de seu Desenvolvimento” por José Deeke - Editora Nova Letra Editoração e Impressão - Blumenau 1995., sob o título “Relação Parcial Das Obras de Autoria de José Deeke” numeração 01 a 139. Nesta relação deixou de constar . “Os auxiliares do Dr. Blumenau, biografados por José Deeke , in “Der Urwaldsbote” ano 33 nº 02 de janeiro de 1926- traduzido na revista “Blumenau em Cadernos”- tomo XXIX nº 05 - pg.159 a 160 e nº 6 -165 a 168 .

    A obra original de meu avô José Deeke foi intitulada , “DAS MUNIZIP BLUMENAU UND SEINE ENTWICKELUNGSGESCHICHTE - IN DREI BANDEN. (O Município de Blumenau e a História de seu Desenvolvimento - Em 03 volumes - Alemão - Impresso in Verlag Rotermund & Co. - São Leopoldo, 1917”, a publicação compreende os tomos 10 11 e 12 ( 03 volumes) da série “Literatura Sul Americana”- Traduzida para o português, foi publicada em 1995 – Nova Letra Editoração e Impressão Ltda- Blumenau
    Servi, o compêndio, como primeira informação basilar a diversos historiógrafos, entre os quais se inclui, em 1933, ¨O Doutor Blumenau, de José Ferreira da Silva, 129 paginas, impressa pelo Estab.Gráfico Appolo –L.Fernandes & Irmão. Rua da Misericórdia 38, Rio, na qual o autor, lamentavelmente, não menciona qualquer fonte de onde obteve as informações.

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  11. Na corrida, acabei só vendo agora, o que já tinha sido publicado a 4 dias atrás. Mas o que vale, é conhecer esse pequenos fatos bucólicos de nossa cidade.
    O Lapolli lembrou uma coisa muito importante: Porque não aprendemos isso na escola? Detalhe? Sim. A vida é feita e desfeita em função deles. E a história é nossa referência. Fico imaginando um pequeno filme, que quem sabe algum cineasta consiga levar para as telas.
    Fico extremamente feliz e agradecido, pela informação. Os detalhes e eventual problema de tradução, pode ser importante. Mas prefiro um pequeno erro aqui ou acolá e ter alguém que compartilhe aquilo que somente a leitura de um livro nos proporcionaria, sabe lá em que página.
    Abs, Claus.

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