UM PASSEIO PELA RUA PRINCIPAL DE BLUMENAU EM 1900/1903
segunda-feira, 12 de abril de 2010
- Um Passeio pela Rua principal de Blumenau II
Escrito por OTTO STANGE - Traduzido do alemão pelo seu filho ERICH STANGE
Nós continuamos nosso passeio pela rua principal. Vemos Friedrich Blohm, saindo da sua casa, descendo a escada com a barba “KaiserFriedrich”e seu chapéu tipo coco, na sua cabeça larga. Guarda-chuva, na mão, segue à direita, subindo pela estrada. Já sabemos, vai ao clube, tomar o seu chope da tarde. Já atravessou o canal e nós também chegamos ao canal, com sua passarela já bastante danificada pelo tempo, pois é de madeira, o corrimão também já não é mais muito seguro, necessitando renovação urgente, para evitar um desastre. Agora estamos chegando à casa do Sr. Eberhardt, onde está instalado o correio. A casa de moradia está fechada, mas mais ao fundo, onde está instalado o correio, há movimento. Uma velha casa de madeira, com escada de dez degraus já velha, de madeira também, tendo como corrimão um sarrafo de telhas num dos lados, para facilitar o acesso. Nada, mas absolutamente nada de pomposo, este nosso “Correio Nacional”, como consta na placa pregada ao lado da porta. Os sacos com a correspondência já estão aí, desembarcados do vapor “Blumenau” e o agente “Eberhard o da barba”, nosso digno agente do correio, abre-os pessoalmente e sua mulher e o filho Paul, distribuem a correspondência. Ao lado da estrada, amarrado na cerca de estaquetas vem buscar a sua correspondência. Também o Sr. Friedenreich, com sua charrete, vem chegando para pegar tudo que se destina para seus vizinhos lá de Altona, saindo em seguida, sentado na sua aranha puxada pelo cavalo, voltando para sua vizinha Altona. Paciência, diz o Sr. Ebehard, todos receberão sua correspondência. Nós também recebemos algo e com as cartas na mão, descemos os degraus da escada, seguindo pela estrada.
Rua XV de Novembro - Blumenau início de 1900
Boas notícias? pergunta o açougueiro Poerner do outro lado da rua. Acho que sim, respondemos, correspondência da velha terra natal. Pois certamente também terá algo para mim, da velha Bohemia, ele responde.
Também o Peter Kiesel, fabricante de escovas, que mora ao lado, dirige-se, balançando a sua barrigona, ao correio. A sua mulher encheu a varanda da casa com roupa branca bem passada, principalmente acessórios para camisas, pois hoje a noite teremos baile do Ernst Bernhardt e então os jovens da sociedade querem apresentar-se bem vestidos, com as suas camisas brancas, bem passadas com amido. Sempre trabalhando, Mutter Kiesel?, perguntamos, e ela responde: - Quem vai passar à ferro toda esta roupa branca, se eu não o faço?, responde orgulhosa e satisfeita.
Quase esquecemos que lá no Merk teremos que comprar lentilhas, encomendadas pelo pessoal da casa. Entramos no estabelecimento dos dois velhinhos. Frau Merk, pequena mas resoluta e sempre alegre, serve-nos com a sua mercadoria, sempre boa, principalmente as lentilhas, fresquinhas, e tem também ervilhas e feijão branco, arroz importado da Índia, sal importado de Lueneburg, com este sempre tem cuidados especiais, pois com tempo úmido que acontece muito aqui nos trópicos, ele fica molhado, ela se queixa, e, assim empilha os saquinhos de sal no fundo, em cima do fogão à lenha, para que fique sempre seco. Levamos nossas compras, agradecemos e nos despedimos.
O Sr. Coletor Buechele, ao lado, bem a vontade, ainda de pijama, esta sentado na beira da sua cama de casal, pois, querendo ou não, com a cortina e a janela aberta, olha-se diretamente para dentro do seu quarto de dormir, situado ao lado da estrada, pois as casas aqui na “Gespensterstrasse” (rua dos fantasmas) ficam a um metro abaixo do nível da estrada, tendo ainda uma calçada, revestida de placas de pedra-louça. Esta calçada, passando pelo correio, acaba num canal de tábuas, na casa dos Blohm. Mas o dentista Haertel, na esquina da Gespensterstrasse quer acabar com este estado, pois com a casa de dois pavimentos, em construção, exige dos poderes públicos solução para este caso, o que já lhe foi prometido.
No outro lado da rua, o Alexandre Lenzi já tem duas casas, com dois pavimentos cada, bem construídas, prontas, uma ao lado da outra, mas devido aos muros grossos sem as fundações necessárias, as duas se inclinaram um pouco para o lado do rio, ainda seguras, parecendo torres de Pisa. Na sua hospedaria, Lenzi hospeda principalmente seus compatriotas de origem italiana, Ao lado, a construção de igual tamanho, pertence ao Benno von Barasky, que tem ali uma pequena padaria onde faz grandes pães. É Barrigudo e bem encorporado. Da varanda da sua casa se tem uma bela vista para o rio, mas neste momento está na janela do bar, esperando algum freguês. Cumprimenta o seu vizinho do outro lado, o alfaiate August Sutter com um “bom dia” e este retribui só com um aceno da cabeça. Sutter está sentado perto da janela na sua máquina de costura e não tem muito tempo para conversas, pois o terno que ele está costurando deverá estar pronto ainda hoje por causa do baile. Cumprimenta também a nós só com um aceno da cabeça, quando passamos por ele.
No lado oposto, na esquina da Gespensterstrasse, tem um bem cuidado jardim com flores e muitas verduras, que o velho Mayer sempre deixa bem em ordem. O velho casal mora na casinha um pouco afastada, nos fundos do terreno, gozando sua existência, com muita calma. Mas bastante agitado está, no outro lado da Rua, o Sr, Gustav Ermlich. Com seu boné vermelho na cabeça, um grande bigode, voz alta e boca grande, fica frente à estrada do seu bazar, ao lado da escada de acesso, e grita: - Entrem, aqui vocês acham tudo que precisam, bem barato. Acabo de chegar do Rio de Janeiro de onde estou trazendo caixas e mais caixas de mercadoria comprada em liquidações. Também aqui temos preços de liquidação. Aqui só se compra bom e barato, repete. Segunda-feira cedo saio de carroça para o Testo, onde já tenho a minha freguesia que sabe de quem se compra bom e barato. Então eles tiram da gaveta os seus mil-réis, esvaziam seus cofrinhos e compram, compram, enquanto tenho para vender, pois tão barato nunca mais comprarão, eles sabem. E vocês não pretendem comprar nada? Estão perdendo a melhor oportunidade, entrem e vejam, e puxando-nos pelo braço, encaminha-nos escada acima para dentro da loja. Vejam, até com um vintém preto já tem coisas à comprar, e com seu boné vermelho na cabeça redonda mostra suas mercadorias.
Rimos e divertimo-nos com seus gestos, damos a mão e despedimo-nos prometendo voltar em outra ocasião para comprar, mas ele continua insistindo em voz alta: barato, barato, barato. Assim saímos, escutando ainda sua voz insistente por alguns instantes, já procurando novos fregueses. O sapateiro Kumm do outro lado, bate sola, não quer saber da conversa do vizinho da frente. Quem fica incomodado com o barulho do lojista é o dentista Hugo Riedel, ao lado da loja. Sem descanso, como se fosse pêndulo de um relógio, ele vai de um lado para o outro, no seu jardim e grita para Ermlich: - Por favor, cale a sua boca pelo menos por alguns instantes. Já não agüento mais este barato, barato, barato, estou ficando louco. O dia que precisares dos meus serviços de dentista, vai sentir a alicate, aí sim, pode gritar à vontade, isto lhe garanto. Sobe a escada e entra na casa, bate a porta e fecha a janela, mas logo está de volta, frente a porta e outra vez retorna para dentro, todo nervoso, parece que hoje esta excepcionalmente excitado, o bom Riedel. A sua caseira, a Senhora Germann observa balançando a cabeça, os gestos nervosos do dentista, em pé na varanda. Também o Sr. Ferraz ao lado, calmamente observa tudo. Acima da porta da sua casa tem uma placa com os dizeres: “Agência Geral das Terras e Estradas Estaduais”, o escritório público de propriedades ou tabelionato. Ao Sr. Ferraz não aborrece a gritaria do Senhor Ermlich para convencer fregueses nem os gestos nervosos do dentista Riedel, que mais parecem danças de índio. Ele é a calma em pessoa, passa dois dedos pela sua barba tipo Ruy Barbosa, num gesto particular muito seu.
Avançando, chegamos ao latoeiro Reinhold Pauli. Erminio Moser e Emil Fiedler neste momento, estão carregando uma carroça com latas de manteiga, digo, para manteiga, provavelmente para F.G. Bush - Exportadora de manteiga e banha. Reinhold Pauli controla o carregamento e sua mulher olha pela janela da sua casa na esquina do Jammertal (Bom Retiro). No lado oposto da rua as crianças brincam na roça de cana, no barranco do rio. Lá, para estes terrenos não se acha compradores, estão num nível muito baixo. Ninguém arrisca construir neste barranco. No outro lado, na esquina do Jammertal a situação é idêntica, o nível baixo do terreno só serve para pasto dos animais. Pode-se ver isto no poço do Sr. Schadrack, que está com o nível da água para transbordar, lá naquelas bandas do pasto. Bom que ele construiu o galpão para sal e couros em palafitas, assim mais seguros contra a umidade. O ferreiro Richter já construiu sua casa e ferraria mais acima do barranco. O acesso a barbearia do August Werner também tem uma escada de 6 a 7 degraus para evitar as constantes enchentes. Ele não tem necessidade de arranjar uma canoa em qualquer pequena enxurrada, lá em casa, infelizmente tem que estar sempre a mão, assim fala a boa Mutter Pauli.
Atravessamos a rua do acesso ao Jammertal e vemos o Ferdinand Schadrack indo apressado a sua moradia, esfregando as mãos, como de costume. A sua casa esta situada no centro do seu pomar de frutas e legumes. Também ao lado, o Karl Rothbarth tem muito espaço ao redor da casa e pomar.
Porto em Blumenau
Ping-pang, ping-pang, assim se ouve a oficina do cobreiro Georg Hindelmayer. Frente a oficina, na valeta a beira da estrada, está jogada uma enorme frigideira redonda de cobre e um alambique com canos em espiral, para cachaça, e encostado na parede há dois palanques com bombas manuais para água, parafusados, prontas para serem entregues. Parece que não falta serviço para este nosso amigo cobreiro. Bem situado, um pouco retirado, atras de arbustos floridos, entre a oficina e a casa do vizinho, fica sua casa. Com sua perna de pau (prótese) o Karl Rothbarth atravessa a rua e vai em direção à sua fábrica de charutos e depósito de tabaco. Sua perna amputada logo abaixo do joelho, não atrapalha muito nos seus afazeres. Neste momento está saindo em carroça do portão, um italiano que trouxe um carregamento de tabaco. A casa ao lado tem um cartaz com os dizeres “Trikotwarenlager von Gebrueder Hering”(depósito de artigos de tricô dos irmãos Hering). Este depósito, bem como o depósito e fábrica de cigarros, separados por um barzinho, são construções baixas. Sabemos que até poucos anos atras, aqui era o berço dos artigos de tricô dos Hering. Aqui o Papa e Tio Hering manejaram e manobraram eles próprios suas primeiras máquinas, mas agora, lá nos fundos do Jammertal eles construíram e instalaram uma fábrica bem maior, tocada por uma grande roda d’água que fornece a energia para suas máquinas com as quais fazem o tricô para suas camisetas e cuecas. Trinta pessoas já trabalham lá e estão ganhando o pão de cada dia para si e seus familiares. E ainda estão aumentando a fábrica. A mercadoria está sendo muito bem aceita, os pedidos se acumulam, a expectativa de vendas é enorme pois neste grande Brasil o potencial de consumo vem crescendo sempre. Aqui na cidade, o depósito está sendo administrado pelo Sr. Ernest Steinbach com a sua jovem esposa, filha do Papa Hering. Agora ele está conversando com seu vizinho Sr. Wilhelm Gross, dono do barzinho entre os dois depósitos. Aos sábados a tarde sempre aparecem fregueses e vizinhos para tomarem alguns copos de cerveja do Jennrich e Rieschbiter ou do Hosang. A charrete do Carl Rieschbieter está parada aí em frente à porta, e ele, no seu jeito simpático e calmo está tomando uma pequena preta, de sua fabricação. Uma “pequena preta” sempre é saudável, ele fala neste instante ao farmacêutico Brandes, na mesa redonda do Stammtish. De cima também está chegando o Sr. Paul Husadel, relojoeiro e joalheiro, e se junta a eles. Da sua última viagem à Alemanha ele trouxe muitas novidades e artigos para a sua loja. Na mesa de bilhar os senhores Schossland, fabricante de gasosa e o Sr. Oscar Gross estão em disputa acirrada.
Esquecemos de visitar o Eugem Currlin, atravessamos a rua, retrocedemos um pouco, passamos pelo estabelecimento da Frau Brockes, com sua loja de chapéus, renda e linhas. Escutamos quando ela, sentada no banco da varanda, conta a senhorita Keine, da sua exportação de canarinhos da telha, que ela mesma leva para a Alemanha. Faz Pouco, voltou de lá. Se a venda destes passarinhos foi um bom negócio, só ela sabe também não nos interessa. Agora subimos os oito degraus para a livraria do Sr. Eugen Currlin. O senhores desejam alguns cartões postais de Blumenau? Tenho aqui cartão da ponte do Garcia, vista do morro do aipim, aqui o porto com o barco “Progresso”, vendo-se ao leme o capitão Gustav Hacklaender e o maquinista José Gall, os “piratas” do rio Itajahy. Cada cartão custa só 300 réis. Os clichês foram feitos na Alemanha, por isso posso vendê-los tão barato. Muito bem, votem sempre.
Novamente na rua, vemos ao lado do farmacêutico no “Urwaldsbote” o ajudante de fiscal Wehmuth, cavalgando como de costume, sua mula, com duas guaiacas de couro atrás do selim e algumas estacas e piquetes com pontas de ferro, do mesmo tipo dos usados por seu superior, o fiscal Ebert, do Fidelis. G. Arthur Koehler está, neste momento, sentado no seu escritório, perto da janela, exercitando-se na sua nova máquina de escrever “Continental”, recém importada da Alemanha., a primeira em Blumenau.
Troço complicado, tem que ser estudado primeiro para ser usada. Mas certamente aprenderá a usá-la. Saindo da sua livraria, fala ao Sr. Wehnuth: - Quando te vejo montado assim na mula me lembro do meu tempo de caixeiro viajante, quando saia para o interior da colônia, vendendo a minha mercadoria. Só as estacas e piquetes eu não precisava levar. Bom tempo aquele mais como vai? - Não tão bem assim, senhor Koehler, este responde, Durante a semana o Ebert e eu estivemos na Velha-Alta, medindo terrenos. Lá a situação não é muito boa, os bugres, vindo do Spitzkopf causam pânico. Velha-Alta e Encano-Alto estão em alerta, esperando assaltos. Lá no Warnow-Alto já houve alguns assaltos destes selvagens, como o povo de lá conta. Os colonos conseguiram fugir pelas picadas dos fundos. O fiscal Ebert queria falar a respeito com o senhor, para publicar algo no jornal, mas agora ele deve voltar para sua casa senão escurece antes de ele chegar lá no Fidelis, onde mora.
Ah, sim,. responde Koehler, sempre estes bugres selvagens. Parece que não há outra alternativa, o Martins com sua turma de caçadores de Índios deverá fazer uma nova batida por lá. Está bem, senhor Wehmuth, agradeço sua informação. Vou imediatamente a redação do “Urwaldsbote” para escrever e publicar isto e advertir os colonos que moram muito isolados, por estas bandas, para não se afastarem muito, andarem sempre em grupos e armados.
Também para Desterro teremos que informar. O governo deverá saber o que está acontecendo a respeito aqui. Eles devem ajudar os colonos contra estes bandos de bugres selvagens.
Hermann Hering, do outro lado, da porta da sua loja, tinha escutado toda a conversa e falou que seu irmão Georg, que veio ontem lá da Ilse, também falou a respeito. Lá eles viram as pegadas de “Pé-Grande” esse deve ter um número enorme para sapatos, mas ele não os usa. Koehler responde, isto é interessante para escutar. Falando para dentro da loja, ele diz: Elsbeth, vou rapidamente ao Fouquet. Até logo, bom domingo senhor Wehmuth. Com isto sai num passo rápido de ginasta para o outro lado da rua, passa pela bela residência do Sr. Gustav Baumgart que passeia, com as mãos nas costas, frente à sua casa, pra lá e pra cá.
Logo na casa ao lado o Sr. Koehler bate na janela, pois lá mora o redator do “Urwaldsbote” Sr. Eugen Fouquet. Falam algum tempo e o Sr. Koehler, voltando pela rua, encontra no outro lado, na sala do clube no pátio de Paul Hering, os senhores Papa e Onkel Hering, que vem chegando na sua própria charrete, lá do Jammertal (Bom Retiro), da fábrica. Agitado o Sr. Koehler conta aos dois, os últimos acontecimentos referente aos bugres. O Sr. Paul Hering saindo da loja, também escuta tudo. Bem, diz Onkel Hering, aí o nosso morro “Schweinerueken” também deverá estar infestado. Otimista como sempre , Papa Hering fala: O Shweinerueken certamente os bugres vão deixar sossegado.
O nosso bom Doutor Blumenau, uns cinqüenta anos atrás, passou por momentos piores. Ele teve a visita dos bugres na barra do ribeirão Velha, onde residia, mas não fugiu, Bem Arthur, não quer entrar e tomar uma cerveja? Obrigado, responde G. A. Koehler, apressado, preciso treinar bastante na minha nova máquina de escrever, é complicado, mas para ler a letra da máquina é mais fácil que do que a minha, que algumas vezes, até eu tenho dificuldades para decifrar. Bem, boas conversas e até logo. Amanhã a gente se encontra la trás, para o Scat. Tenho que dar revanche ao Hermann Müller pelo último jogo onde eles me esvaziaram os bolsos. Todos riem e também nós fomos andando, despedindo-nos.
No jardim do Sr. Lueders falamos algumas palavras com ele e sua esposa, olhando as belas flores do jardim. Ele costura corseletes para as senhoritas e damas da sociedade para afinar as suas cinturas.
E o Dr. Tomé Braga, o nosso advogado “quebra galho”, para os íntimos, atravessa com suas pernas curtas a rua para conversar com o Dr. Juiz de Direito, conversa fiada, pois aos sábados a tarde não se fala do ofício. Dr. Ayres de Albuquerque Gama está a janela e observa o movimento da rua. -Boa tarde, Sr. vizinho. - Boa tarde, Sr. Tomé, como tem passado? nós também atravessamos a rua e cumprimentamos: Boa tarde, senhores doutores e seguindo adiante fazemos uma visita curta ao senhor Otto Freygang, experimentamos o seu excelente licor que este fabricante e dono do bar nos oferece. Muito bom mesmo e bem temperado, senhor Freygang. Ele agradece o cumprimento elogioso e passa a mão na sua barbicha de bode.
Na altura da Igreja católica neste momento começam a badalar os sinos pois é hora da “Ave-Maria”, seis da tarde. Está na hora de apressar os passos se queremos chegar com a claridade do dia em casa e acabar com este nosso passeio por Blumenau. - Até logo amigo Freygang, outro dia a gente conversa mais.
Passeando pela alta escadaria da igreja e comprido muro, damos uma olhada para dentro das janelas do convento dos padres franciscanos. Estes já começaram novamente alguma construção, nunca ficam sem construir algo, estes senhores padres. No outro lado da rua temos o barranco do rio a algumas corujas saem voando das altar árvores envoltas em capim, que se encontram lá.
Nada para observar até chegar na loja de ferragens do Luiz Altenburg. No trapiche particular dele ainda estão descarregando uma lancha . Ferro em barras, cimento em barris, caixotes com vidro plano para janelas, outras caixas e caixotes com ferragens estão sendo levados para o depósito. Ferdinand Altenburg, mais novo dos filhos, atravessa rapidamente a rua para receber um telegrama do telegrafista Veiga. A senhora de Rudolf Altenburg está a frente de sua casa, ao lado da escada e pergunta ao Ferdinand, antes deste entrar no estabelecimento - Notícias Boas? Penso que sim, diz Ferdinand, o Rudolf vai retornar com o vapor “Santos” mas ainda dá uma paradinha em São Paulo à negócios, mas o resto, tudo bem.
Saindo da rua dos padres, vem dois padres montados nos seus cavalos. Interpretados falam que um vai para Belchior e Luiz Alves e outro para Encano e Indayal. Agora estamos chegando ao depósito do estabelecimento comercial de Nienstett e Rabe onde acaba de chegar uma carroça puxada por quatro cavalos, com um carregamento da filial de Massaranduba. Arthur Rabe cumprimenta o carroceiro e ajuda no descarregamento. Os cavalos são levados à cocheira para serem tratados. Leopold Rabe recebe os sacos e os carrega junto com o seu ajudante, para o armazém. O Sr. Nienstett, o padrasto, com a papelada na mão, confere a carga de milho e feijão , os barris de banha e manteiga que são descarregados em seguida. Da bonita moradia do outro lado se escuta a conversa alta e animada dos filhos mais jovens. Também os filhos do Fides Deeke que mora ao lado estão lá, brincando no grande jardim, bem cuidado, ao lado da residência nova dos Deeke. Duas belas construções estas residências destes senhores. É mais um progresso que enfeita Blumenau.
Indaial/Blumenau, maio de 1950
OTTO STANGE
(Traduzido do original alemão para o português pelo filho Erich Stange, em julho de 1994)
Texto enviado por Fernando Pasold. Arquivo de Adalberto Day
6 comentários:
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http://indaial.tempsite.ws/drpasold
ResponderExcluirHavia muito que lí este texto quando da tradução. Agora com olhar mais atento já se percebe que "as gentes" que colonizaram Blumenau já estavam observado o que cheias períodicas do Rio Itajaí-Açú causava. Não é de causar espanto o que hoje ocorre em todo nosso vale. Cada vez que faço e releitura deste texto descubro "novidades". Valeu.
Heinrich Luiz Pasold.
Belo resgate, Beto. Não é possivel ler sem comparar. Aí como cá em Brusque as semelhanças são inevitaveis, em todos os aspectos.
ResponderExcluirA praça, a igreja, o povo, o rio, os costumes e a lingua. Tudo!
Boa noite meu prezado amigo,como sempre,você me leva a passear por esta cidade que adotei no coração.
ResponderExcluirEspero que Deus nosso Grande Arquiteto,auxilie o poder público na restauração deste Lindo Vale.
Abraços do amigo Antonio Aires.
e-mail-toninhoreplicas@yahoo.com.br
Sensacional viajar no tempo com essas belas palavras e imagens históricas. Só mesmo uma alma tão comprometida com a nossa história poderia proporcionar tal emoção.
ResponderExcluirObrigado Beto!
Alexandre Setter
Lendo este texto eu consigo ver claramente uma foto 360o de Blumenau de outrora... ou quem sabe um plano de sequência desses que está na moda hoje, que a gente vê no Youtube.
ResponderExcluirSimplesmente fantástico passeio - a gente se sente AO VIVO, neste resgate!
Parabéns por colecionar essas pérolas!
Fantástico, recordar é viver, muito obrigado.
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