segunda-feira, 14 de setembro de 2009
- O Cinema em BLUMENAU – Parte XVI
E o cinema sempre esteve no alvo desta “fiscalização”, por tratar-se de uma diversão muito popular, assistida por praticamente toda uma comunidade, a mesma que freqüenta as igrejas e pratica religião.
Então, desde que o cinema descobriu sua vocação de diversão pública, encontrou forte resistência de bispos e padres, onde quer que existisse uma sala de projeção.
Em Blumenau não poderia ser diferente.
Não existia uma proibição, mas sim uma indicação dos filmes recomendados pela igreja católica, na forma de uma “orientação aos fiéis”, dando-lhes uma classificação moral, na qual se destacava os que podiam ou não ser assistidos pelas famílias, sem constrangimentos.
Quadro de orientação aos fiéis sobre os filmes em cartaz, afixado na porta de entrada da Igreja Matriz de São Paulo Apóstolo de Blumenau (Ano de 1966. Reprodução de fotograma do filme "Férias no Sul").
Durante os anos 60 do século passado, lembro-me de que era distribuído um informativo na Paróquia de São Paulo Apóstolo, com a cotação moral dos filmes em cartaz na cidade.
Além disso, houve um tempo (por volta de 1966), em que estava afixado na entrada da Igreja São Paulo Apóstolo de Blumenau, um quadro elaborado pelo “Centro de Defesa Moral – Orientação do Serviço de Informação Cinematográfica da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”. E lá estavam as indicações dos filmes que podiam ou não ser assistidos.
Segundo a Enciclopédia do Cinema Brasileiro, “uma das primeiras manifestações da censura cinematográfica no Brasil coincidiu com o início das atividades de Francisco Serrador no ramo de exibição em São Paulo, em 1908. Serrador, que seria posteriormente proprietário de centenas de salas nas principais cidades do país, havia alugado um salão dos padres salesianos, quando surgiu uma fita considerada imprópria, pela ótica dos padres.
“Ele então mostrou que o filme poderia ser cortado, sem necessidade de suspender toda a sua apresentação.”
Cine Garcia
Em Blumenau, ficaram registros das críticas da igreja católica ao Sr. Reynaldo Olegário, então proprietário do Cine Garcia, porque o seu cinema exibia as comédias brasileiras conhecidas como pornochanchadas.
QUANDO ESTA CENSURA GANHOU FORÇA
Segundo a Enciclopédia do Cinema Brasileiro, de Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda, “a fiscalização da Igreja católica sobre os filmes ganhou reforço em 1937 com a Encíclica Vigilanti Cura de Pio XI, que viabilizou a criação da Orientação Moral dos Espetáculos (OME), nos seus primórdios vinculada à Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP). A OME estabeleceu o sistema de classificação moral dos filmes, cujas cotações eram publicadas em inúmeros jornais e revistas até os anos 60.
Pela autoridade moral e capilaridade de sua atuação, a Igreja passou a ser a principal instância de controle sobre as projeções cinematográficas no país. Ela no entanto, não proíbe, apenas condena e obtém pronta adesão da comunidade. A medida que o cinema se torna rapidamente a diversão preferida nos centros urbanos, torna-se necessário algum tipo de controle.”
EM BLUMENAU O COLÉGIO SANTO ANTÔNIO E A CONGREGAÇÃO MARIANA TAMBÉM EXIBIAM FILMES
Assim, com o guia de orientação moral a mão, ficava fácil às comunidades católicas programar e exibir os filmes moralmente corretos.
Por isso, o Colégio Santo Antônio mantinha equipamento para projeção de cinema em seu salão nobre. As sessões aconteciam geralmente ás quartas-feiras à noite e eram abertas ao público.
Outras exibições eram feitas só para alunos internos no Colégio. Muitos deles até hoje não esquecem a “censura” do padre que operava o projetor. Mesmo sendo um filme ético e moral, quando um casal se beijava ele não perdoava: colocava a mão em frente à lente de projeção e ninguém via nada. Era uma vaia só !
Também a Congregação Mariana da Paróquia São Paulo Apóstolo de Blumenau possuía equipamento de projeção em 16 mm, e de quando em vez, nos anos 50/60, exibia alguns filmes na sua sede, e foi lá que muitos cruzados e marianos blumenauenses assistiram cinema pela primeira vez, tendo contato, inclusive, com os seriados, que eram apresentados em capítulos semanais.
INDEX DE PROIBIÇÃO
Até os dias atuais a igreja católica exerce forte influência sobre os filmes que contém mensagens que colidam com seus dogmas e princípios.
O caso mais recente envolveu 2 filmes baseados em livros do escritor Dan Brown: o primeiro, “O Código Da Vinci”, aborda o suposto casamento de Jesus com Maria Madalena, uma heresia não suportável para os católicos.
Já em “Anjos e Demônios” a trama aborda uma sociedade secreta, Iluminatti, que pode estar envolvida com o seqüestro de 4 cardeais durante um conclave para a escolha de um novo Papa.
Filmes como “Stigmata” e “O Nome da Rosa” também enfrentaram críticas severas da igreja.
Texto Carlos Braga Mueller/Jornalista e escritor/ Arquivo: Adalberto Day
2 comentários:
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Oi Beto. Há passagens bastante cômicas nesse seu blog, principalmente nos programas de TV. Achei interessante aquela dos trilhos de trem. Me fez lembrar quando o digníssimo presidente da república, Juscelino Kubitschek, JK , com uma canetada extinguiram a rede ferroviária federal. Daí é que começou aquela do quem pode mais roubar trilhos de trem para construção e outros inúmeros fins. E não ficou apenas nos trilhos, começaram a tomar conta das áreas antes pertencentes à RFF. Não tinha mais dono...Triste recordação, pois, enquanto as Nações mais desenvolvidas procuram aperfeiçoar seus meios de transportes, especialmente o ferroviário, muito econômico, o Brasil estimula o rodoviário, antieconômico, custoso, de difícil manutenção, demorado, e com muitos outros inconvenientes. Pois é. O arrependimento sempre chega tarde. Agora estão "pensando" em recuperar a irrecuperável estrada de ferro. Um grande abraço...
ResponderExcluirEutraclínio Antônio dos Santos
Beto,
ResponderExcluirObrigado por continaur nos presenteando com o Braga e o seu cinema.
Assiti recentemente o Anjos e Demonios, tá muito mais para filme de ação e aventura. O clero não precisa se preocupar. Não vai perder nenhum fiel. Abraço