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segunda-feira, 13 de abril de 2009

- Traumas da Segunda Guerra Mundial

Introdução:
Por solicitação através das centenas de e-mails que recebi de estudantes de Blumenau e região, vamos abordar através de uma série, a IIª Grande Guerra Mundial, e seus reflexos à Blumenau. De acordo com os estudantes, as pesquisas relacionadas ao tema são para os trabalhos escolares, sugeridos pelos professores.
Adalberto Day
Artigo do Jornalista e escritor Carlos Braga Mueller
Por Carlos Braga Mueller
Nos seus sonhos de grandeza, Adolf Hitler tinha uma atenção muito especial em relação à América do Sul..
Um livro recente do jornalista Jens Glüsing, correspondente da revista “Der Spiegel” no Brasil, cita planos nazistas para invadir o Suriname e a Guiana Francesa com tropas que desembarcariam na Amazônia brasileira. O livro tem o título sugestivo de “Das Guyana-Projekt (O Projeto Guiana) e revela que entre 1935 e 1937 cientistas alemães visitaram a região e levaram para Hitler a idéia de se criar uma “área nazista” na região. O autor também esclarece que o plano não foi adiante porque os nazistas tinham outros projetos mais importantes a realizar e a Guiana Francesa estava sob o comando do regime de Vichy, na França, que era uma marionete dos nazistas. Submarinos alemães usaram a Guiana Francesa como base, para atacar navios que trafegavam na região.
Quando o líder alemão invadiu a Polônia em 1939, deflagrando a segunda guerra mundial, a Alemanha já havia implantado importantes núcleos do Partido Nazista na América, especialmente nas colônias fundadas pelos alemães. no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Os núcleos do NSDAP (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães) em Santa Catarina foram sendo fundados, com o incentivo do Consulado Alemão, acenando com atividades sócio-culturais e em breve despontavam em cidades como Hansa-Hammonia (hoje Ibirama), Rio do Sul, Blumenau e até na capital, Florianópolis.
Em 1937 o NSDAP de Blumenau reuniu todos os clubes do município e submeteu a eles um calendário das festividades que seriam realizadas durante o ano.
Muitas destas datas eram significativas para os nazistas e por isto a organização deveria ser exemplar. Apenas os feriados da Independência, 7 de Setembro, e da República, 15 de Novembro, podiam ser organizados exclusivamente pelos clubes. As outras datas seriam festejadas de acordo com a orientação do núcleo do NSDAP e do Consulado Alemão, inclusive a comemoração do dia 1º de maio, festejado também na Alemanha e, portanto organizado em conjunto.
Muitos clubes, cujos sócios brasileiros não concordaram com esta “intromissão”, protestaram. Mas no fim, acabaram assinando sua concordância ao calendário.
Neste documento, foram apostas as assinaturas dos presidentes de praticamente todos os clubes de Blumenau.
Não está na lista o nome do Esporte Clube Brasil, depois Palmeiras Esporte Clube, talvez até em virtude da sempre declarada brasilidade da sociedade.
A confiança dos alemães era tão grande em relação à conquista de novas terras, que o quartel-general de Hitler já havia, inclusive, elaborado um novo mapa da América do Sul, com divisões estratégicas, para que os futuros conquistadores administrassem corretamente as terras latinas.
Enquanto os alemães plantavam a semente da conquista de novos territórios, grupos brasileiros começaram a interessar-se pelos ideais nazistas. Foi assim que até partidos políticos abraçaram a filosofia e as atitudes do nazi-fascismo.
Em 1932 o brasileiro Plínio Salgado fundou a AIB – Ação Integralista Brasileira. Logo depois a AIB transformou-se em um partido político, cujos adeptos usavam camisas verdes e uma braçadeira onde estava estampado um emblema, o “sigma” , símbolo do integralismo. A saudação entre seus membros era feita, levantando-se o braço direito, dizendo-se “anauê” !
Na imagem o movimento integralista em Blumenau – Plínio Salgado – Cartaz anauê – e Congresso Integralista em Blumenau.
Em 1935 a Ação Integralista Brasileira promoveu um Congresso em Blumenau que ficou famoso pelo grande número de integralistas que vieram de todo o país. As cenas foram fotografadas e filmadas pelo blumenauense Alfredo Baungarten, sendo um dos registros mais importantes de um cine jornal daquela época em nosso Estado.
Um desfile imponente aconteceu na Rua 15 de Novembro, na frente do qual vinham Plínio Salgado, presidente nacional do partido, e Alberto Stein, prefeito de Blumenau, também integralista.
Em Blumenau, integralistas e nazistas se interligaram, até que em 1937 Getúlio Vargas (foto) decretou o “Estado Novo” e extinguiu a Ação Social Integralista.
Mas nas sociedades de atiradores (Foto acima), igrejas, outros clubes de Blumenau, a ação implantada pelos nazistas continuava em plena efervescência...mesmo porque o Brasil só iria declarar guerra à Alemanha em 1942, muito depois da conflagração ter iniciado, em 1939.
É natural que todo este clima fosse seduzindo os alemães daqui, que viam na ascensão da Alemanha, sob a batuta de Hitler, o ressurgimento da supremacia da raça ariana.
E quando a guerra eclodiu, muitos alemães que haviam migrado para o Brasil começaram a ser convocados para se alistarem no exército do Terceiro Reich.
Alguns, entusiasmados, atenderam ao apelo e disseram adeus ao Brasil. Foram lutar nas fileiras nazistas. Os que se recusaram, foram declarados “desertores” por Hitler. Anos mais tarde o governo da República Federal da Alemanha reconheceu que estes cidadãos foram, isto sim, verdadeiros patriotas, rejeitando as loucuras de Hitler, reabilitando-se oficialmente sua honra.
1945. Terminada a Segunda Guerra Mundial, Blumenau recebeu de volta inúmeros soldados, muitos mutilados de guerra.
Ao invés do que aconteceu com nossos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, que foram recebidos com flores e beijos e desfilaram triunfantes pela Rua 15 de Novembro, os que lutaram ao lado de Hitler acabaram preservados no anonimato, protegidos por ex-simpatizantes do nazismo.
Antes de o Brasil entrar na guerra, o presidente Vargas já havia determinado uma série de medidas “nacionalistas” para toda a região sul do país, colonizada por alemães. Jornais em língua alemã foram proibidos de circular; escolas que ensinavam em alemão foram fechadas; cultos religiosos deviam ser realizados só na língua portuguesa.
O “Der Urwaldsbote”, o mais tradicional jornal de Blumenau, despediu-se dos leitores em língua alemã e passou a ser impresso somente em português. Logo depois fechou em definitivo e seu maquinário foi adquirido pelo saudoso jornalista Honorato Tomelin que fundou o jornal “A Nação” em 1943. Cerca de ano e meio depois, “A Nação” foi adquirida pelo empresário e político Assis Chateaubriand, dos Diários Associados. Era diário, circulou até os anos 80 e Chateaubriand fez questão de colocar, logo embaixo do nome do jornal, o sub-título “O Mensageiro das Selvas”, que era a tradução de “Der Urwaldsbote”.
A partir de 1942, com a entrada do Brasil na guerra, a perseguição aos alemães nesta região foi intensificada, transformando-se em uma página negra da história de Blumenau e do Vale do Itajaí. Não se podia falar a língua alemã e quem fosse flagrado falando, era preso.
E se insistisse, as “autoridades” despejavam óleo de rícino goela abaixo do insolente.
Houve casos em que os alemães, pelo simples fato de pedirem “brot”, ao invés de pão, no balcão da venda, eram obrigados a engolir o papel onde tinham anotado o rol das compras.
Há alguns anos os arquivos da época da ditadura getulista foram abertos aos historiadores e muitas coisas sobre a repressão aos alemães e seus descendentes vieram a público. Inclusive sabe-se agora que existiam dois campos de concentração em Santa Catarina para onde eram encaminhados os “nazistas de Blumenau e do Vale do Itajaí”. Um ficava em Florianópolis, na Trindade, onde hoje se situa o campus da UFSC. O outro, situava-se em Joinville e o prédio foi demolido quando o local foi ocupado pelo principal cemitério da “Cidade dos Príncipes”.
Arquivo Adalberto Day texto e colaboração do Jornalista e escritor Carlos Braga Mueller

7 comentários:

  1. Adalberto,
    Durante muitos anos critiquei meu pái e minha avó, que falavam alemão fluentemente, por não ensinarem o idioma aos filhos e netos.
    O medo deles nos privou do aprendizado. Pena!
    Abraço.

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  2. Bom dia Adalberto;
    É muito bom ler sobre a segunda guerra mundial, pois só assim, podemos compreender alguns trumas que a sociedade as vezes não consegue explicar.Lembro-me das dificuldades que passamos quando ainda jovem. Mesmo não vivendo no período da guerra,sofri os traumas da guerra pois,as primeiras palavras foi em alemão.
    Pedro Prim

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  3. Caro Amigo Beto!
    Endosso o comentário do Valdir Appel. Lembro-me de meus avós falarem sobre a resistência ao ensino do idioma Alemão e também do sofrimento no período do II grande conflito mundial, na nossa pequena Massarandubinha (distrito de Massaranduba). Discordo de quem tenha dito que a guerra é a continuidade da diplomacia por outros meios.
    Um grande Abraço a você e Dalva

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  4. Muito Bom Adalberto, sou o Filipi que fez uma entrevista com você ano passado, fiquei repleto de entusiasmo com sua matéria magnífica, aliás quero avisá-lo que publicaremos nossa matéria em uma revista cientifica, em forma de artigo.

    Saudações Mestre.

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  5. Beto
    Acontece que o seu blog é extenso e abrange uma vasta gama de assuntos dos mais variados, trazendo recordações de saudosos tempos e várias passagens que também tive oportunidade de vivenciar. Você tocou no assunto referente à 2ª guerra mundial.. Presenciei fatos marcantes e constrangedores quando a guerra terminou, em 1945, as manifestações de euforia exacerbada e descontrolada de pessoas que se pode dizer, mal educadas e que se prevaleciam da situação para extravasar seus recalques ou alguma mágoa contida. Viam-se coisas absurdas acontecerem por conta dessa euforia do final da guerra. Tudo era motivo para festas e arruaças. Uma horda de arruaceiros que surgiram não se sabe de onde, comandados por um advogado de nome Luiz Stotz, iam buscar em suas residências as pessoas que eram tidas como 5ªs coluna (traidores) e as traziam à presença do público e humilhavam-nas de toda forma. Um empresário de nome Werner Garni (fabricante de artefatos de cimento) foi trazido a força de sua residência, colocaram em suas costas um pesadíssimo boneco de areia e fizeram-no caminhar até o centro, de fronte a um café de nome Café Pinguim, e foi obrigado a permanecer com esse boneco às costas até o termino do discurso desse tal Stotz. E agora, um fato muito interessante. Os blumenauenses devem ao comandante do então 23º Regimento, a proteção das indústrias de nossa cidade, pois, colocou o batalhão de prontidão para defender as indústrias, que estavam sendo ameaçadas pela horda de quebra-quebra. Imagina o ganha-pão do povo blumenauense. Em Floripa, foi muito pior. A horda que se formou percorria a cidade em busca de alguém com nome alemão. Encontraram os Brugemann, uma família pacata, donos de uma empresa de lá,que nunca falavam alemão, invadiram o prédio onde residiam(2º andar) e começaram a atirar todos os seus pertences pelas janelas. Pegaram o piano da família, mas, como não passava pela janela, destruiram-na, arrombaram-na e atiraram o instrumento para baixo. Em Porto Alegre foi mais triste. Lá, invadiram a Indústria Renner, e destruíram inúmeras máquinas, resultando em grande prejuízo para a empresa que teve que suspender suas atividades por longo tempo, com prejuízo também para os operários. Eu, pessoalmente, na minha família, mais precisamente meus ascendentes por parte de mãe (tenho antecedentes alemães), prenderam meu avô que na época tinha m.m. 80 anos, por haver pronunciado uma palavra em alemão. Apesar da interferência de meu irmão que na época estava de visita aos avós, não o atenderam respondendo simplesmente que se ele tem toda essa idade já deveria ter aprendido o português. Coitado isso he custou um trauma tão profundo que três meses após faleceu..Beto, se eu fosse enumerar as barbaridades que se viu naquela ´época durante a manifestação do povo mal educado e motivado iria muito longe. Felizmente, quando a coisa foi ficando pior, as autoridades intervieram para por fim as arruaças. Desculpe o meu alongamento no assunto, mas, são coisas que ficam gravadas pra sempre. Um grande abraço e um bom descanso.
    E.A.Santos

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  6. Na epoca em que o Brasil declarou guerra 'a Alemanha (1939-45) meu Pai trabalhava como engenheiro na construcao de uma escola de agricultura em Guaratingueta'(SP). Como falava alemao, foi solicitado para traduzir a correspondencia dos alemaes que estavam internados na regiao. Onde estavam, nao sei. Porque estavam internados, tambem nao sei.
    Qualquer informacao sera' muito bemvinda. CECILIA

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  7. Prezado Adalberto

    Na epoca da 2a guerra, meu falecido avô, João Mélo, trabalhava no porto de Itajai.
    Encontrou escondido um soldado alemão que fugia da guerra. Meu pai, então com 5 anos, lembra do homem escondido no porão de sua casa. Depois de algum tempo o assustado soldado foi-se, provavelmente ajudado pelo meu avô. Gostaria muito de conhecer esta é outras histórias de pessoas que se refugiaram do horrores desta guerra, mas esses fatos eram tão bem guardados por medo do governo e dos perseguidores do nazismo que não há registros ou fontes vivas que contem essas histórias.

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