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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

- Histórias da minha Avó

Em histórias de nosso cotidiano, apresentamos hoje mais uma crônica da Escritora Urda, relatando em sua crônica sobre os costumes e histórias de sua avó Emma.
 
Minha avó¹ não tinha dentes. Eu passei a conviver diariamente com ela quando ela tinha se tornado irremediavelmente velha, aos sessenta anos, e ela me fascinava por ser um poço sem fundo de histórias para contar, e também pelo fato de não ter dentes.

Minha avó Emma ensinou-me coisas estranhas. Por exemplo, no começo do verão, naquelas maravilhosas tardes de começo de verão em que os pepinos estavam começando a formar os frutos no nosso quintal, minha avó fazia coisa estranhíssima: colhia um pequeno pepino ainda em formação, tenro pepino de casca verde, e sentava-se à sombra, numa grande pedra que havia no nosso jardim. Com uma faca afiada, ela ia cortando o pepino em finas fatias translúcidas, com casta e tudo, e punha-se a mascá-las.
É claro que eu não arredava do pé dela, totalmente fascinada por aquela pessoa estranha que comia pepino sem sal e sem vinagre, e COM CASCA!, e podia ficar por horas acocorada perto dela, a espiar como suas gengivas sem dentes mascavam as finas fatias do pepino, que ela saboreava com tanto prazer. É claro, também, que em pouco tempo eu também comia pepino do mesmo jeito que ela, e aquele é um gosto que ainda hoje tenho na boca, de tão bom que era!
Nas amenas tardes do começo do calor, minha avó, além de me dar o espetáculo das suas gengivas desdentadas trabalhando, me deu o incomensurável presente das suas histórias.
Ela chegara ao Brasil prestes a fazer sete anos, oriunda da Lituânia, que a gente não sabia bem onde era e ela dizia que era na Rússia. Hoje sei muito bem que a Lituânia é, de novo, um país soberano, depois da dissolução da União Soviética, mas, naqueles idos de 1960, a Lituânia era apenas um lugar nebuloso na minha Geografia pitoca, que, de certo, só existia nas histórias da minha avó.
Ela se lembrava muito bem de como as coisas eram lá, e aquilo era muito mais empolgante do que qualquer livro com histórias de fadas, ainda mais contado por ela, a comer pepino com casca com as suas gengivas vazias.
Do que ela se lembrava? Do inverno, com certeza a coisa mais marcante que guardara da sua primeira pátria. No inverno, andava-se de trenó por cima de muito gelo e, se  jogasse para cima um punhado de água com a mão, a água caía transformada em pedrinhas de gelo. Eu a ouvia contar totalmente fascinada; daria qualquer coisa para conhecer um lugar assim, onde eu poderia produzir o meu próprio granizo o inverno inteiro, e não ter de esperar pelos raros granizos que já vira na minha terra de Blumenau.
Nem tudo tinha sido fascinação nos invernos de gente pobre da Lituânia no final do século passado, claro que não. A família da minha avó morava em casa exígua, que tinha como peça e/ou objeto principal o que ela chama de forno. Considerando que ela nunca aprendeu corretamente o português, eu creio que com “forno”, ela queria dizer lareira. Era em torno desse “forno” que a vida da família decorria no inverno. Dormia-se em torno dele; degelavam-se diante dele os repolhos e as batatas das parcas refeições, repolhos e batatas contados e recontados, para que durassem até o final do inverno, sempre mais escassos conforme a estação se adiantava.
E no forno, pensam que havia farta lenha para as chamas crepitantes? Nada disso, a lenha era racionada, o governo lituano só permitia que cada família cortasse pequeno trecho da floresta por ano, insuficiente para o calor na época das grandes neves. Era mister secar todo o esterco do gado e armazená-lo, para queimar quando a lenha acabasse.
Dona Emma e Sr. Oskar Klueger.
O mais incrível de tudo o que a minha avó contava, porém, era sobre as visitas. Se se fizesse ou recebesse visita, ficava implícito que os visitantes trariam sua própria comida, já que o anfitrião não tinha o que oferecer à uma boca a mais. Seria isto possível, em algum lugar no mundo? Esse fato ficava além da minha imaginação de menina criada em terra de fartura, e para exorcizá-lo, eu ia correndo buscar grossa fatias de pão de casa com manteiga e mussi de banana, o quitute preferido da minha infância. Enquanto eu mastigava o meu pão com mussi, minha avó, placidamente continuava mascando suas finas fatias de pepino novo, a olhar, lá atrás dos morros, o Sol que se escondia.
Minha avó não tinha dentes. Mas como ela sabia contar histórias!
¹ Emma Katzwinkel Klueger.
  
Blumenau, 08 de Abril de 1996. 
Urda Alice Klueger/escritora em Blumenau
Arquivo Família Kluger/Adalberto Day

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

- Emil Odebrecht

Rolf Odebrecht  (falecido aos 99 anos dia 10/10/12) e Renate Sybille Odebrecht 
Cartas de Família
E Ensaio Biográfico de seu filho Oswaldo Odebrecht Sênior.
Senhora Renate e Adalberto
Fomos presenteados no dia 26 de outubro de 2012, com um belo exemplar autografado pela Senhora Renate Sybille Odebrecht que nos recebeu calorosamente em sua residência em Blumenau.
Foram décadas de pesquisa nos relatou a Senhora Renate, com a publicação em 2006; composta por  576 páginas.
Apresentamos neste espaço apenas uma pequena passagem de apresentação do livro sobre a família Odebrecht.
 Capa (D) e contra capa (E)
Velho Mundo – a pátria das raízes Dieser Stein und Begraebnis gehöret Andreas Odebrecht und seinen Erben. Ano 1686. Esta pedra e túmulo pertencem a Andreas Odebrecht e a seus herdeiros. Ano 1686. (inscrição em lápide mortuária na Igreja da Universidade, em Greifswald) Em 1834 casavam-se os pais de Emil, o Conselheiro Jurídico do Real Tribunal de justiça August Odebrecht com a Srta. Louise Juliane Albertha L`oeillot de Mars, na Igreja do Palácio da Cidade de Stettin, Reino da Prússia.
Novo Mundo – a pátria da esperança. Em 1864 casava-se o filho, engenheiro Emil Odebrecht, com a Srta. Bertha Bichels, na Igreja Evangélica da Colônia de Blumenau – uma simples construção de madeira, que por exigência de lei imperial, era desprovida de torre, sino e cruz – em Santa Catarina, província do império do Brasil.
No dia 9 de fevereiro de 1863, em sua primeira grande expedição pela mata brasileira, escreve em seu diário: “(...) Queimei, ontem a noite, as perneiras das minhas calças, que eu havia estendido perto do fogo para secar (...). Já estou prevendo que, não vai demorar e eu terei de andar nu mesmo, através dos espinheiros.
Mas o que nos resta fazer, sem os alimentos? Comer traíras apenas e sem sal? Palmito não existe mais e caça rendosa não avistamos, há dias, (...) farinha que dá para sete dias apenas, (...). Não tivessem os soldados deixado cair nosso feijão no rio !!
Selo do prêmio 2007 CBG –
História e Cotidiano na Colônia Blumenau
Saga de um cartógrafo Europeu no Sul do Brasil.
Nos 35 anos em que Emil palmilhou as selvas brasileiras, nem ele nem seus homens tiveram problemas com os índios. Emil várias vezes acampou ao lado de suas malocas. Sabia fazer entender-se na língua deles.
Emil foi o engenheiro que Dr. Blumenau sempre de novo requeria para seus serviços... O governador Imperial constantemente o requisitava para missões difíceis, sigilosas... Netos e bisnetos se destacaram por admiráveis avanços no campo da engenharia.
Emil sonhava com o progresso, que estava acontecendo na Europa, Estados Unidos, Canadá...Em 1893 adquiriu um terreno no Salto Pilão, Vale do Itajaí, prevendo a construção de uma usina elétrica. Hoje, 106 anos depois, foi iniciada a terraplenagem para a mesma.
Os pais dos alunos reivindicavam e Dr. Blumenau, Diretor da Colônia, pedia insistentemente para que as autoridades do Governo mandassem professores de português, mas não foram atendidos.
(...) julgam por um lado, que o colono poderá ser tanto melhor explorado quanto mais baixo for o seu nível de instrução (...)
O tenente Odebrecht e a espada de duas guerras, 1864/70 e 1939/45. Na ativa, na guerra do Paraguai, e depois enterrada tempestivamente pela Sociedade de Atiradores de Blumenau.
“... Moças bonitas que também fariam a alegria numa aldeia da Alemanha montavam a cavalo à moda masculina” (Gieserbrecht, 1899,p.65).
Os imigrantes pomeranos: “...e nessa empreitada vingamos assim como, pois é, como nossa batatinha pomerana. Todas as famosas variedades de batatinhas com que os alemães ocidentais atingiram suas colheitas recorde por hectare, foram criadas e selecionadas no magro solo de Pomerânia Oriental e, como diz o autor:  Só depois do seu transplante, demonstraram todas as qualidades nela existentes” (Rautenberg, 1989).
  
Para saber mais acesse:

Transcrição das cartas, a letra gótica para a latina – Emilio Odebrecht, filho de Oswaldo Odebrecht.
Traduções Renate Sybille Odebrecht e Christiane Odebrecht Rupp.
Revisão : José Roberto Rodrigues.
Projeto Gráfico, coordenação editorial e capa: Max Jensen
Diagramação/Editoração: Saulo Kozel Teixeira.
Tratamento de imagens: Paulo Arazão
Ilustrações: Obra em Giz pastel (na capa em primeiro plano) e a vinheta no rodapé do Cap.16: Sônia Baier Gauche
Publicação: Copyright 2006

Para adquirir o livro:
Livraria Catarinense no Shopping, podendo ser  encomendado via internet. E em qualquer Livraria Curitiba e outros Estados. 

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