BAÚ DA SAUDADE
Por Carlos Braga Mueller
Carlos Braga Mueller
JORNAIS
DE FOFOCA: BLUMENAU TEVE VÁRIOS....
Hoje em dia os
jornais que circulam em Blumenau dedicam amplo espaço a colunas voltadas para os problemas do dia a
dia do município, ensejando a que surjam várias opiniões sobre cada assunto,
geralmente desencontradas, originando quase sempre extremadas opiniões dos
leitores, expressas e reproduzidas em colunas a eles dedicadas.
Em cada cabeça, um pensamento.
E é assim que surgem as “fofocas”, começando pelas rodas dos que matam seu tempo
tomando um cafezinho no bar, e que se estendem, invariavelmente, às páginas dos
jornais.
Mas este gostinho de fazer fofoca nas páginas
dos jornais em Blumenau não é de hoje.
Começou lá no início do Século XX e
aproveitava a época do carnaval (sim, já tinha carnaval por aqui naqueles
tempos) para mostrar as “garras”, fofocando a torto e a direita sobre os
moradores da então pacata cidade fundada por Hermann Blumenau.
Geralmente eram jornaizinhos que apareciam e
desapareciam em poucos meses.
Mas houve alguns que duraram mais tempo e
eram temidos pelos habitantes da cidade, porque colocavam a vista tudo o que de
bom (ou ruim) acontecia por estas bandas.
Se num baile a menina olhasse para um
determinado mancebo, na semana seguinte a fofoca estava no jornal, às
vezes citando o nome dos envolvidos, outras vezes dando somente pistas sobre os
envolvidos no “affair”.
DIE
SCHNAUZE, O “BOCA GRANDE”
Em 28 de fevereiro de 1920 circulou em Blumenau
o número 1 do jornalzinho “Die
Schnauze”, que trocando em miúdos significava mais ou menos a expressão
“boca grande”. E isso é o que ele era. Foi lançado para comemorar o
primeiro aniversário da Sociedade Musical Lyra, que tinha sua sede no Teatro
Frohsinn.
Teve vida longa entre os jornais
carnavalescos e editou 17 números até fevereiro de 1936, um por ano. Publicava
muitas críticas ferinas; era temido porque atingia autoridades e por
isso enfrentou processos judiciais.
A
ORTIGA
Grafado erroneamente, “A Ortiga” (ao invés de
Urtiga) apareceu no carnaval de 1924 e não saiu do primeiro número.
Segundo o historiador José Ferreira da Silva em seu livro “A Imprensa
em Blumenau”, trazia apenas críticas a pessoas da sociedade local ,
redigidas com pouca graça e nenhum senso de humor. Tinham tanta coragem que
seus redatores assinavam como “Eu, tu, ele”.
A medida em que os anos iam passando, novos
fofoqueiros surgiam. Em 1926 apareceu um jornal intitulado “O Espião” que se
auto intitulava “órgão crítico e noticioso.”
Segundo consta não passou do número 8. Na
edição nr. 7 estava a pleno vapor uma pesquisa entre os leitores para se saber
qual era a mais bela “senhorinha” de Blumenau. Um cupom publicado no
jornal dava o direito de votar.
O número 8 trazia o resultado do concurso: 19
integrantes da sociedade blumenauense de 1926 receberam votos. Nos primeiros
lugares despontaram as senhoritas Luiza Landriane, com 458 votos, Wally
Schneider com 380 votos, e Yolanda Rodrigues com 360.
O jornal mandou um recado à vencedora:
“Tendo tirado o primeiro lugar neste concurso
a gentil senhorita Luiza Landriane, a mais bella de Blumenau segundo a
opinião popular, fica a mesma convidada para
honrar com sua presença a domingueira a realizar-se hoje às 3 horas da
tarde no Salão Holetz na qual lhe será feita a entrega do brinde que
temos o prazer de lhe offerecer.” (grafia da época)
1928. Ano em que surgiu o jornalzinho “O Cyclope”. É bem possível que
seus responsáveis fossem os mesmos do abortado “A Ortiga”, porque também se
identificavam como “Eu, tu, ele.”
Na edição número 3, de 29 de setembro de 1928,
o jornal deixava a fofoca de lado para registrar o quarto aniversário do semanário
“A Cidade”, conduzido pelos jornalistas Octaviano Ramos e José Ferreira
da Silva.
Destaque para as páginas 3 e 4, com anúncios
em quadros, certamente um precursor local dos “tijolinhos”
publicitários.
DER
MOSQUITO
Se até agora estes jornais de fofoca eram
redigidos em português, em 1930 apareceu em Blumenau o “Der Mosquito”,
em língua alemã. O número 1 circulou no dia 22 de fevereiro daquele ano.
O “Der Mosquito” era patrocinado pelo Clube
dos Atiradores Schützenverein Neue Velha.
Trazia críticas leves aos sócios do clube. Do
número 4 ao 6 apareceu tendo como responsável a seção de cantores da mesma
sociedade de atiradores, a Gesangs-Absteilung.
Existiu até 1935, embora só fossem editados
mais 5 números, encerrando sua vida com o número 6, em 2 de março de 1935.
O
BISTURI
Em 1931 circulou, em 31 de maio, “O
Bisturi”, dizendo-se “órgão oficial do Bloco do Chantin”. Tinha como
diretores J.Castro e P.V.Cunha, que bem poderiam ser pseudônimos, porque no próprio expediente
vinha gozação:
“Repórter: qualquer desocupado,
Expediente: depois das dez.”
E ainda acrescentava:
“Distribuímos esmolas só aos sábados e
aceitamos donativos monetários”.
Apareceu até o número 16.
José Ferreira da Silva escreveu sobre ele
que “era um jornalzinho de brincadeiras e blagues inofensivas, tão ao gosto dos
mocinhos daqueles idos”.
DIE
QUASSELBUDE
O ano era 1932 e surgiu outro órgão em
alemão, “Die Quasselbude”,
qualquer coisa como “celeiro de tagarelas”.
O número 1 circulou no dia 23 de janeiro e
era editado pela Sociedade dos Cantores Concórdia, sediada no Bom
Retiro.
Abaixo do título trazia inscrito, em alemão:
“Quem sentir coceira, que se coce. Nós não
somos responsáveis.”
O número 2 apareceu no carnaval de 1933 , o
número 3 em janeiro de 1934.
Publicava críticas bem humoradas sobre
associados e autoridades.
1934 – RECORDE DE PUBLICAÇÕES
Em 1934, ainda circulando o “Die Schnauze”,
apareceram mais alguns jornais de fofocas:
A
FOLIA
– Este jornalzinho crítico circulou no carnaval desse ano e não passou do
número 1.
KCT – O “KCT” era bimensal. Trazia
críticas e piadas. Teve vida curta. Começou em abril de 1934 e não foi além do
número 7.
PIRANHA – No mesmo ano
surgiu o “Piranha”, jornal crítico e humorístico, mas que também não
passou do número 5.
O
TINHOSO
– No dia 1º de abril de 1934 circulou o número 1 de “O Tinhoso”, uma alusão ao
diabo. Não passou do número 2, pois foi proibido de circular pela polícia:
criticava autoridades estaduais, principalmente em razão de Blumenau ter
perdido grande parte do seu território, desmembrado em vários outro municípios.
Essa insatisfação dos blumenauenses contra o governo estadual resultou na
campanha “Por Blumenau Unido”, de resultado infrutífero.
FINAL
Não se encontram registros de novos jornais
fofoqueiros a partir de então, pois durante o “Estado Novo” de Getúlio
Vargas (1937/1945) a imprensa era vigiada severamente pelo DIP-Departamento
de Imprensa e Propaganda, uma espécie de polícia política de Vargas, instituída
para censurar rádios, cinemas, jornais e
revistas.
Foi então que foram sendo fechados os jornais
que eram editados em língua alemã e começou o movimento de se “abrasileirar” os
alemães e seus descendentes, embora alguns já tivessem nascido no Brasil. Mas
carregavam a cruz de ser filho ou filha de um alemão.
Mas esta já é outra história...
Nota:
Os dados do presente trabalho devem-se,
principalmente, a meus familiares, que me legaram exemplares de jornaizinhos de fofocas e,
também, ao que José Ferreira da Silva deixou registrado em seu livro “A
Imprensa em Blumenau”.
Arquivo
e texto de Carlos Braga Mueller/Jornalista e escrito