domingo, 3 de maio de 2009
- Estrada de Ferro Santa Catarina
No dia dia 03/maio/2009 comemoramos o centenário da inauguração da EFSC – Estrada de Ferro de Santa Catarina. Infelizmente extinta em 13/março/1971.
A imagem de 1930 – Mostra a antiga estação ferroviária de Blumenau – demolida a partir de Setembro de 1974
– Esta estação funcionou até 1954 – se localizava onde hoje é a atual prefeitura de Blumenau. Em 13 de março de 1971, os trilhos foram arrancados logo depois, sob protestos da comunidade. O trajeto existente e único restaurado da locomotiva fabricada em 1920 compreende apenas 600 metros, vagão de madeira em seu interior, ainda é possível regressar no tempo. O passeio de trem, no Bairro Bela Aliança, em Rio do Sul, relembra os tempos dourados da Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC),
Idealizadores e construtores da Estrada de Ferro de Santa Catarina, no início do século 20. Sentados da esquerda para direita: Dr. Castilho, o engenheiro Musika, o alemão Werner, inspetor e auxiliar técnico Roepcke.
De pé, os técnicos Ludwig Muzika, Pfau, Gelbert, os engenheiro Hanz Meyer e Schwingt, Mike, Goldner, Schroeder, Otto Rohkohl, Wehlert e Otto Baumeier.
(Imagem: livro A Ferrovia no Vale do Itajaí, de Angelina Wittmann)
Macuca que hoje está na praça ao lado da prefeitura de Blumenau.
Desde 31 de agosto de 1991
Primeira locomotiva de Blumenau. Importada da Alemanha em 1.908, chegou ao Brasil a bordo do Vapor Klobenz que também trazia oitocentas toneladas de material para a Estrada de Ferro Santa Catarina. Sinônimo de progresso e modernidade quando chegou ao município, em 1908 , a Macuca simboliza a memória de uma época. Além disso, reforça a necessidade de preservação da única locomotiva que sobrou da frota da Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC). Produzida em Berlim, na Alemanha, carregava inicialmente a missão de levar material de construção para as obras ferroviárias entre Blumenau e Indaial. Ela veio para o Vale do Itajaí como uma locomotiva para trens de serviço, mas também puxou trens com autoridades ferroviárias e governamentais e até militares em inspeção ao longo da via férrea.Curiosidade: O apelido “Macuca” foi dado carinhosamente pela comunidade devido a semelhança com o macuco (Tinamus Solitárius – Ave da família Tinamidae). Além da anatomia, o seu apito lembrava o piu do macuco e o ruído da descarga de sua caldeira recordava o som produzido pelas asas da referida ave. A locomotiva inaugurou o trecho Blumenau – Warnow ( cidade de Indaial).
História:
Ponte Aldo Pereira de Andrade - Centro de Blumenau e a passagem do trem.
"O primeiro trecho inaugurado em 1909 ligava Blumenau ao Warnow, em Indaial. A possibilidade de percorrer o trajeto a 30 km/h, era fundamental,e mostrava uma nova era pois o transporte mais popular era a carroça na época . Dos 184 quilômetros que a ferrovia já abrangeu, o trem hoje funciona apenas no trecho de Rio do Sul – Ficaram apenas lembranças vivas dos ruídos, a fumaça e o ranger dos trilhos".
A ESTAÇÃO:
A estação de Blumenau, a original, foi inaugurada com a linha, em 03 de maio de 1909, em estilo (Técnica) enxaimel. Em 1.904, o Governo Estadual concedeu autorização a Companhia Colonizadora Hanseática para a construção e exploração de uma via férrea ao longo do Vale. O primeiro trecho, com 30 quilômetros de extensão, entre Blumenau e Warnow, hoje Indaial, foi inaugurado em 3 de maio de 1.909. Em junho do mesmo ano, o leito chegou em Ascurra; e, em outubro em Hansa, atual Ibirama. A Estrada de Ferro Santa Catarina foi a primeira obra da época, realmente planejada na região do Vale do Itajaí. Seu leito foi construído em uma altitude especial, visando a proteção contra as cheias já registradas pelos primeiros colonizadores. Foi desativada em 1954, com a extensão da linha até Itajaí, quando se construiu uma nova estação. Chegou a funcionar por algum tempo juntamente com a nova estação, como pátio de manobras e estação de cargas.
Oficina em 1948
Em 1954, quando o trecho finalmente foi inaugurado, a linha velha permaneceu por uns anos. Normalmente as locomotivas usavam a linha velha para fazer a limpeza da caldeira (jato de vapor) numa ponte que existia perto da velha estação. Mas, isto durou uns anos e depois a linha foi erradicada. A estação velha a partir de 1954, passou a abrigar apenas o escritório da ferrovia, a diretoria, por exemplo, por ser área central da cidade, e assim ficou até a desativação em 13 de março 1971.
Foi este local um dos primeiros a ser "encampado" pela Prefeitura de Blumenau, que ali construiu o fórum da cidade onde era o antigo colégio Luiz Delfino (foto fundos),e onde era a estação a atual prefeitura nova de Blumenau em 1982- e lamentavelmente demolindo a estação, isto já pelos fins de 1968. Além do prédio do fórum, que já não é mais fórum, o local abriga hoje o grande prédio da Prefeitura de Blumenau" (Luiz Carlos Henkels, 2008). Ao lado direito da foto, antigo Hotel Esperança, onde depois foi construída a Casa Willy Sievert, hoje Loja Millium.
Adendo de Luiz Carlos Henkels sobre
a última viagem e seus maquinistas
Enviado por Angelina Wittmann
Vamos por partes que o assunto
é mais complexo: Dois maquinistas operaram o trem
da última viagem. Anibal Rocha na tarde de 12 de março
entre Itajaí até Itoupava Seca. Ali trocou a escala. De Itoupava
Seca até Trombudo Central, na tarde de 12 de março quem levou
o trem foi José Pacheco, ao qual ainda pude
entrevistar em 1994.
Agora
vamos à composição. O trem na última viagem não tinha mais
cargas por questões óbvias. Era um trem mais pra fazer
o rescaldo, recolher os vagões que ainda estavam pelas
estações. A desativação da EFSC foi uma questão bem
planejada Então de Itajaí a Trombudo Central, subindo, o
trem tinha apenas 4 vagões tracionados pela locomotiva 331.
Era composto da seguinte forma. Atrás da locomotiva um pequeno vagão
pra transportar mercadorias avulsas de maior volume
numerado como FB 9301. Após este vinha o bagageiro, que é aquele vagão que
levava o correio, bicicleta, cachorro, lambreta, verdura,
geladeira, armário, etc....e que era também a administração
do trem, ou seja abrigava o reservado do chefe de trem. Este
carro era o BC 101. Atrás deste vinha o carro passageiro de
2ª classe que neste dia era o S 101 e por fim o último carro que
era um misto ( tinha assentos de 1ª classe e 2ª classe ) e
que não me lembro qual era porque tinha dois iguais,
mas, ou era o PS102 ou o PS103, mas, creio ter sido o PS 103.
Ao
chegar a Trombudo o trem voltou imediatamente para Itoupava Seca,
conduzido pelo mesmo José Pacheco, recolhendo ainda alguns vagões
ao longo das estações. Este trem passou aqui por Encano por volta
de 2:00hs da manhã. Levantei para vê-lo passar. Devia
ter uns 10 vagões.
No
dia 13 de março que era sábado, estes vagões
remanescentes foram levados até Itajaí, onde permaneceriam
até o momento de serem transladados via marítima até o porto de São
Francisco, onde foram incorporados à frota da RVPSC. Neste dia 13 somente
a locomotiva 331 voltou para Itoupava Seca, sendo guardada
no galpão principal. As locomotivas a vapor eram muito
pesadas e o pessoal não queria ter o trabalho de
transladar todas as 12 que tinha para São Francisco, por ser desnecessário.
Jurássicas como eram, não teriam serventia na RVPSC que já operava
a diesel. Assim ficaram em Itoupava até 1973 para
daí serem sucateadas.
Nestas
operações do dia 13 não se sabe o nome do maquinista. Os
ferroviários davam pouca importância pra isso, afinal era só
mais um trem na escala deles, apesar de ser
a última escala. Interessante também colocar que o
próprio José Pacheco se irritou várias vezes na
última viagem para Trombudo, pois alguns filhos de
ferroviários, para curtir a última viagem, foram na cabine da
locomotiva e sucessivamente trilavam o apito pra
chamar a atenção, até que irritado, o Pacheco pediu pra eles
pararem com essa “M...” porque " estava
enchendo o saco". Curto e grosso, o Pacheco não era afeito
a esses fru - fru - fru - e me disse que odiava
cada vez que alguém acenava ou abanava com lenços a passagem do
último trem.
Mas
quem apitou pela última vez em Blumenau
foi o Aníbal Rocha, já aposentado, em 1973, quando foi
convocado para puxar as locomotivas para fora do pátio da
Itoupava Seca para o procedimento do sucateamento,
quando foi acesa novamente a 331 . Neste dia várias fotos
foram feitas e o próprio Anibal Rocha mais afeito à fotos
fez .
Este último trem, que
como já postei no grupo da EFSC
não tinha nada de muito romântico. Nem em Blumenau não tinha muita
gente na estação não. A maioria aplaudiu mesmo
é a parada do trem que “enfeava "
a glamorosa Blumenau
de então e o trem era tido como o
transporte da pobreza de então e como alguém escreveu num jornal
de Brusque, que o trem servia mesmo só
pros pobres que afinal tinham tempo pra andar de
trem ou seja, eram pobres porque não gostavam de trabalhar.
Na década de 1990 a Macuca foi reformada e colocada na Praça ao lado da prefeitura de Blumenau desde 31 de agosto de 1991.
(Fonte: A Estrada de Ferro no Vale do Itajaí, de Angelina C. R. Wittman, 2001; Luiz Carlos Henkels, 2008). Wieland Lickfeld
Arquivo : Dalva e Adalberto Day /José Geraldo Reis Pfau
12 comentários:
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PARABÈNS! PARABÉNS mais uma vez! Gostaria que você fizesse um PPS com as imagens de Blumenau, pois elas precisam ser divulgadas. O brasileiro tem preguiça de ler,por isso perde maravilhas como as do seu
ResponderExcluirblog.No PPS se pode condensar um pouco e abrir os olhos dos preguiçosos! Amei!Um abração, do tamanho da minha alegria... MARÍLIA CARQUEJA
Um dos posts mais bacanas, ao meio de tantos posts bacanas.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho Adalberto (de novo)!
Oi Beto, se você me permite. tenho alguns comentários a fazer sobre essa antiga estrada de ferro da nossa região, e, por que não dizer, de nossa antiga Ferrovia Nacional. Antes de mais nada, quero fazer uma crítica (construtiva) contra nosso antigo Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira . Autor da famigerada idéia de transferir a nossa capital federal lá praqueles planaltos. A alegação na época, era de que nossa Capital Federal ficava muito a mercê dos inimigos invasores (quem seriam eles?), então, acharam mais seguro transferi-la para mais longe. O processo de transferência foi uma novela quase sem fim. Quando iniciaram a construção da NOVACAP esse J.K.O. contratou os melhores arquitetos entre eles o famoso O.Niemeyer, e ai começaram a festa (da roubalheira). Um de seus primeiros atos foi eliminar a Via Férrea brasileira, como se aquilo fosse um grande empecilho para seu governo. No seu entender, havia necessidade premente de buscar capital estrangeiro para o Brasil por isso, abriu as portas do pais para as multinacionais, montadoras de automóveis principalmente, sem contar outro tubarões do exterior. Focou-se o principal interesse de todos os ministérios na construção de rodovias asfaltadas para o transito de automóveis que aqui seriam montados. INFELIZMENTE, e uso sempre essa expressão quando a isso me refiro, abandonaram-se as vias férreas por DECRETO, por incrível que pareça. Foi aí que o Brasil começou a andar de ré. Como escoar toda a nossa produção de grãos (já na época éramos um país destacado na produção de soja) pela estrada de rodagem, na época em fase incipiente e mal feita, competindo em desigualdade com outros paises produtores, fato esse que mais tarde se agravou e continua a se agravar até hoje. Pois, não temos como competir com paises que utilizam principalmente navegação fluvial para esse transporte, sem contar as estradas de ferro que levam uma vantagem imensa sobre o transporte rodoviário (mais caro e de manutenção difícil como se sabe.) Esses graneleiros que continuam em uso até hoje, já em condições precárias, vão escoando sua carga pelas frestas das caçambas estrada a fora, e, quando chegam aos portos, já com a carga bastante reduzida pelas perdas, ainda encontram um porto sem infra-estrutura para absorver a quantidade de grãos que esses graneleiros trazem. Por ai você vê Beto, como é que chegam a referir-se a esse tal de Juscelino K.de Oliveira, como um grande estadista, que se preocupou mais em mandar construir suntuosas obras em Brasília apenas para ostentação. Não se preocupou com a nossa economia. São coisas que a gente grava durante a vida e cala fundo nos porões da memória das decepções históricas. Tenho ainda muitos comentários a fazer sobre a maneira como foi construída essa nova Capital Federal e não encontraria espaço aqui. E isso Beto, quando alguém se refere à nossa antiga Estrada de Ferro, sempre me vem à memória fatos marcantes a ela relacionados. Em outra oportunidade lhe contarei mais alguns fatos marcantes da época. Abrs. e parabéns pelo Blog.
ResponderExcluirEutraclínio Antônio dos Santos
Quanta saudade da viagem de Blumenau à Rio do Sul, que levava aproximadamente cinco horas no começo dos anos 60, com a parada no meio do milharal para coletar espigas, e depois vende-las no interior do trem, ja cosidas.
ResponderExcluirParabéns pelo seu post. Como filho de Ferroviário, vivenciei e trabalhei junto com meu pai na EFFSC.
ResponderExcluirMeu pai foi Agente de Estação em Indaial, Ascurra, Apiuna, Subida, Rio do Sul. Ajudava-o no telégrafo ao receber e transmitir as mensagens de "PODE"... que era a indicação para o Trem seguir até a próxima Estação. PARABÉNS.
Moacir José Constantino
Email: astro@tpa.com.br
Nos idos de 48 trabalhei na EFSC,no almoxarifado,com o Sr.Edmundo Poses,meu chefe e outros colegas.Era desenhista e lembro-me que nos fundos daquela construção havia o porto onde um vagonete descia sobre trilhos para pegar as cargas.Meu pai era Chefe da Contabilidade.
ResponderExcluirBom dia Sr, Adalberto,
ResponderExcluirComo vai, tudo bem?
Fiz uma pesquisa e acabei encontrando o blog em que o senhor escreve sobre a EFSC. Apesar de eu ser de São Paulo, sempre gostei e me interessei por ferrovias, aqui no meu caso, como resido em Santo André, sempre tíve contato com Estrada de Ferro Santos a Jundiaí e a Central, na época da RFFSA.
Achei muito interessante os artigos que postou e o que me chamou bastante à atenção, foi a foto da vaporeira passando lotada pela ponte metálica, uma foto espetacular. Sempre que posso, visito Blumenau, tenho alguns conhecidos aí.
Queria saber se o senhor conhece um livro que contava a história da EFSC, me recordo que tinha vista algo na internet e voltei à procurar agora e não achei mais, se conhecer e puder me indicar eu agradeço.
Muito obrigado,
olá Adalberto sou filha e neta de ferroviários tinha 11 anos qdo desativaram a estrada de ferro do vale do itajai. Andei muito de trem,de ascurra onde residia para blumenau e fui até trombudo central.Todos ficamos muito tristes com o fechamento da ferrovia.Sinto saudades de andar de trem,gostaria de levar meus filhos para andar de trem.Hoje meu pai já faleceu.Sou INEZITA MARIA MATTIUZZI FILHA DE LUIGGI MATTIUZZI QUE SUA FUNÇÃO ERA GUARDA-FIOS DA FERROVIA .ADOREI SUA PESQUISA NÃO CONSEGUI LER AINDA MAS LEREI E MOSTRAREI A MINHA MÃE OBRIGADA.
ResponderExcluirParabéns gostei muito desta matéria , estive a procurar quando enceraram as viagens de rio do Sul a Itajaí, seja no trem de carga como nós chamávamos ou de passageiros, estou discutindo a data com um amigo e não tive a certeza até onde li e acho que não entendi a última viagem seria em 1971? se tiver uma resposta agradeço ..Abraços ...Saile.
ResponderExcluirOi Adalberto, meu nome é Isabel, sou professora do estado e trabalho na Escola Deputado Abel Avila dos Santos, que fica no bairro Estação Ascurra. Estamos realizando pesquisas sobre a ferrovia afinal deu origem ao nome do bairro.Graças ao seu trabalho consegui informações para repassar aos alunos e fazer um mural informativo. Gostaria de obter fotos da estação de nossa cidade,sabe de alguém que tem?Desde já agradeço e Parabéns!
ResponderExcluirProfessora
ResponderExcluirObrigado por acessar o nosso trabalho.
Mas como poderei responder se a senhora não deixou seu e-mail?
Em meu Blog se desejar é só clicar a direita em familiday@terra.com.br e vou encaminhar alguma coisa. Me mande mais detalhes da estação e local.
Adalberto Day
Boa tarde, Adalberto,
ResponderExcluirdescobri o seu blog ao pesquisar sobre as ferrovias em SC, e reparei na abrangência e profundidade das informações e das contribuições dos seus inúmeros leitores.
Se for possível, gostaria que me indicasse como encontrar o decreto que determinou o fechamento da ferrovia EFSC - bem como de tantas outras - uma decisão certamente criminosa e irresponsável.
Meu nome é Romeu Rössler Telma, Doutor pela Universität Mannheim (Alemanha) e um curioso sobre nossa história. E-mail: rt@datamidianet.com.br Tel. (41) 9982 2838.