A Curva do Rio Itajaí-Açu em Blumenau
Quando dr. Blumenau esteve por aqui pela primeira vez acompanhado pelo canoeiro Ângelo Dias, logo se encantou com a exuberância das matas, do rio e principalmente com a curva do rio. Este ano foi 1848 e veio para fazer o reconhecimento de sua futura “Colônia Blumenau”, jamais confundir com Colônia alemã.
As boas línguas contam que ao passar pela curva do rio se encantou tanto, que decidiu estabelecer por aqui seu projeto, mesmo sabendo através dos indígenas que lhes disseram: “dr. Blumenau, mas aqui pega enchente - teria respondido Hermann Blumenau ao indígena, “não enche” ...”
Um capitulo a parte e é preciso entender, pois não é nos
ensinado nas escolas entre tantos assuntos que não nos ensinam.
Existe uma pedra ou Laje chamada Lontra., ao ser observada
pelos indígenas, deram o nome (quando o nível do rio estava
abaixo de 2 metros) é escura e tem uma figuração comparada a uma “Lontra”. E
essa laje começa do outro lado na rua Itajaí
na parte visível e passa por baixo do rio até onde se localiza mais ou
menos a praça dr. Blumenau, e casa Caça e Pesca. Os colonos a chamavam de
Bem, mas o que ela tem a haver com a curva?
... há milhares de anos quando o rio começou a se formar, ele (teria) começado a "forçar" o lado frontal dessa Pedra ou Laje, e "percebeu" que não dava para
seguir reto e se curvou a aceitar, contornar e formar a curva do rio, ou Ponta
Aguda também nome chamado pelos indígenas. Simples assim ... nesse caso aquele
ditado: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” as águas se “curvaram” é a lógica.
Presumia-se, até os anos sessentas do século passado, que o nível das
águas do rio Itajaí Açu, quando considerado em seu fluxo padrão, estivesse
situado a cerca de 1,50 metros acima do nível do mar, no trecho, de
seu curso, diante da posterior cidade de Blumenau, ou mais precisamente na
linha da flor d’água que fluía sobre a Pedra do Lontra. Nos primórdios da
colonização o que mais importava quanto ao nível das águas, era a
condição de haver fluxo de águas com volumes suficientes à viabilidade da
navegação, se bem que, por evidente, houvesse grande preocupação com
possíveis enchentes. Nos períodos de longa estiagem a antiga Colônia permanecia
completamente isolada de qualquer comunicação, por não haver, então, via
alternativa de trafego que não fosse o Itajaí Açu.
Situações de calamidade ocorriam quase anualmente quando a pequena vazão
das águas não permitia que as embarcações, provindas de Itajaí, com toda sorte
de mantimentos e mesmo novos colonos, alcançassem Blumenau, necessitando
procederem, quando ainda possível, o desembarque em Gaspar, cujo atracadouro
situava-se onde, no presente, encontra-se a cabeceira da margem direita da
Ponte Hercílio Deeke. Era o quanto acontecia com o vapor São Lourenço – de
navegação marítima - que desde 1874 foi a embarcação que mais
significativamente atendeu a Colônia Blumenau. O primeiro aportamento do São
Lourenço em Blumenau, ocorreu em 22/11/1874.
O ponto referencial para verificarem se haveria condições de navegabilidade
até o porto de Blumenau, era o cabeço da ¨Pedra do Lontra¨. Antes de 1937 era
dita ¨ Otter Stein¨, mas devido a nacionalização que então
ocorria de forma coercitiva, passaram nos documentos oficiais a referi-la como
Pedra do Lontra, no masculino, porque na língua germânica Otter, ou seja
Lontra, é masculino.
Na verdade, trata-se de uma extensa laje de pedra estratificada (em
camadas) que se estende desde a margem direita do Itajaí Açu até pouco antes da
margem esquerda, quando termina formando um cabeço mais elevado.
Observada do alto da margem, em períodos de seca, a aparência da escura
laje coberta de liquens à guisa de pelagem cujos filamentos remexiam com a
fraca correnteza, era a de uma gigantesca lontra, com o corpo submerso e cuja
cabeça sobressaia da água, faz, com rio, a partir do local onde se encontra a casa “Caça
e Pesca.” A chapada daquela pedra (“ Pedra ou Laje Do Lontra”- no masculino, como
costumavam chamá-la até o ano de 1954 e com tal denominação a referia Raul
Deeke, que estudou detalhadamente as enchentes visando emergir o casco do
“Vapor Blumenau”, então semi submerso na foz do ribeirão de Tigre (Tigerbach)
para colocá-lo nesta laje.
Na linguagem popular a Pedra da Lontra indicaria grande flagelo de seca,
provocando escassez de alimentos – consequência muito relativa na atualidade e
portanto denominação injustificável, vez que no passado, estando o rio, antes
do seu aterro com pedras que forma o atual talude, mais largo em oito metros ou
mais, motivo porque a Pedra do Lontra surgia com maior frequência, quando a vazão
d’água em uma superfície mais larga era muito maior.. Há, entretanto, um raso
canal – com a largura de cerca 3,50 metros e talvez 2,00 m de profundidade, em
sentido oeste a partir do cabeço da Pedra, ou seja em direção à margem direita
do rio. O mencionado canal foi aberto justo no ponto da ¨ NUCA do LONTRA ¨,
segundo ouvi dizerem, resultou de explosão procedida por volta de 1905 pela
empresa alemã que construía a Estrada de Ferro, porquanto era necessária maior
profundidade naquele ponto para possibilitar que os vapores que transportavam
os trilhos e ferragens das pontes da futura linha Férrea, pudessem ultrapassar
aquele baixio, trafegando até alcançar a Foz do Velha onde localizava-se o
primeiro canteiro de obras da ferrovia e também a Itoupava Seca no local onde
construíram as oficinas da dita empresa. Pessoalmente penso que tal obra de
explosão aconteceu muito antes, entre 1880 e 1905, ou talvez com os recursos
dos 5 contos de réis, remetidos pelo Império ao dr. Blumenau, visando melhorias
à navegação do rio. Sintetizando: A Laje do Lontra representa, na verdade
absoluta, uma Barragem, um Talude, uma Represa, enfim um imenso Paredão
submerso, que impede o escoamento das águas em nível profundo. Acaso removido,
com o aprofundamento da calha em até quatro metros, o fluxo da vazão de fundo
teria nível idêntico ao que apresenta o fundo do dito portinho da praça
Hercílio Luz. Sim – parece inacreditável, porém o fundo do rio no dito
portinho, situado a menos de cem abaixo da Laje, é 04 metros mais profundo que
a chapada da plataforma da Laje do Lontra. Removida a laje, certamente
ocorrerão efeitos colaterais, quiçá danos à sedimentação da areia na Prainha, o
que, porém, poderá ser evitado mediante construção de proteção específica, em
concreto.
Então a feitura de tais canais não traria vantagem alguma no escoamento
das águas, quando muito formaria duas imensas ilhas, a ILHA DA PONTA AGUDA
e a ILHA DO ABACAXI.
CANAL EXTRAVASOR, sim.... mas do Escalvado em direção à Penha. Tal Barra Morta foi um CANAL Extravasor NATURAL para quando níveis das águas alcançassem 16,00 metros em Blumenau.
Durante as tratativas do Kennel Clube que, em 1961, determinaram o
assentamento do Vapor Blumenau, em 08/9/1961, sobre pilares do concreto na
“Prainha”, foi, por Raul Deeke, aventada a hipótese de erigirem duas grossas
pilastras sobre a Laje da Lontra, elevadas até nível idêntico ao do piso da
Ponte Adolfo Konder (então já existente) para então lá sobreporem, sobre
travessões de concreto constituídos em berço, o casco da embarcação com sua
proa embicada para montante do rio. Pretendiam proceder o acesso ao Vapor
Blumenau, após sua firme fixação sobre os pilotis, mediante o lançamento de uma
ponte pênsil (pinguela) até barranca do rio próxima à Prainha.
2) Kennel Clube de Santa Catarina : Criado em
14/5/1952, com sede em Blumenau, cuja finalidade era amparar e fiscalizar a
criação de cães de toda espécie, como os de caça, serviço, guarda ou luxo, porém
todos de raça. Em 26/10/1952 ocorreu a 1ª Exposição de Cães promovida pelo Kennel
Clube de Santa Catarina, realizada na sede social do Clube Blumenauense de Caça
e Tiro, então ainda situado no bairro Bom Retiro, mais precisamente na atual (
ano 1997) rua Porto Alegre.
Raul Deeke inicialmente abraçou tal ideia, e insistiu junto ao seu irmão
Hercílio Deeke, que então era o Prefeito Municipal, a fim de que a Prefeitura
executasse as duas pilastras e travessões do berço. No entanto Hercílio Deeke,
apesar de considerar a ideia louvável, ponderou que naquele período de crise
financeira, a execução das soberbas pilastras, dariam margem à acerbas
críticas, vez que nem mesmo meios havia para restabelecer o prédio da
Prefeitura Municipal incendiado cerca de três anos antes.
Autoria : NIELS DEEKE, in memorian e Adalberto Day cientista Social e pesquisador da história. Arquivo Adalberto Day
Leia mais:
A história do Rio Itajaí Açu.
https://adalbertoday.blogspot.com/2019/10/historia-do-rio-itajai-acu.html
A Pedra da Lontra:
https://adalbertoday.blogspot.com/2011/09/pedra-do-lontra.html
Parabéns. Muito interessante as informações sobre as pedras que se destacam na região do Centro no nosso rio Itajaí Acú.
ResponderExcluirMuito bom eu não sabia da tal curva, um grande abraço. Ponta aguda.
ResponderExcluirMeu caro Adalberto!! Pouquíssimas pessoas cidadãs da mesma, não sabem a origem e alguns nem sabem da tal curva. Fato esse que deve se dar pelo fato de hoje em dia as pessoas não caminharem as margens do rio, e até mesmo o fluxo na sua maioria ser de automóveis pela avenida. Todavia, sempre se soube e observamos a curva em eventos outrora realizados na prainha nos seus históricos eventos, e até mesmo ponto de encontro de namorados (no passado). Que linda história, lembro bem do vapor ali onde servia de plano de fundo para fotos, o que é lamentável pois poderia ser muito mais útil por se tratar de um exemplo histórico do nosso município. Parabéns!!
ResponderExcluirRicardo da Conceição
ResponderExcluirParabéns! Desconhia essa informação.
Mariane Hofmann
ResponderExcluirAdministrador
Interessante o relato sobre a Pedra do Lontra.
Daniel Faria
ResponderExcluirOlha amigo muito bem elaborada esta tese, porém, o geólogo e paleontólogo Paulo Kasulke possui uma teoria diferente, esta curva nada mais é que uma série de rochas trazidas rio abaixo, que, ao se depararem com a "costa" acumulavam-se formando uma verdadeira parede, entre elas acumulavam-se detritos provindos do Rio, tais como ferro, manganês, argila e areia, com essa mistura, formou-se uma Laje, que até hoje forma uma linda paisagem
Já o pesquisador
Maicon Quintino, em seu estudo recente, acredita que tal formação se deu através de um meteoro, datado de 70 mil anos A.C, que ao se chocar com o Rio, acabou formando esta característica, o meteoro Heinschumüell acabou também, causando muitos prejuízos ao Samae, pois todo encanamento foi comprometido
Gerson Luiz França
ResponderExcluirAchei interessante o relato do alerta dos indígenas, pois também sempre pensei assim. Era previsível que erguer a cidade junto à uma curva acentuada de um rio e entre a foz de dois grandes ribeirões teria consequências em relação às enchentes.
Mas deu no que deu... Essa bela cidade que temos hoje!
Reinolda Zibert
ResponderExcluirQue maravilha!!!
Que bom ganhar um pouco mais de sabedoria da nossa linda Blumenau' que amoooo.
Parabéns , obrigada !!
Eliane Day
ResponderExcluirObrigada Beto, sempre nos surpreendendo com seus relatos. Parabéns.