quarta-feira, 30 de abril de 2014

- A História do Tio Alberto Day

Adalberto Day
Em Histórias de nosso cotidiano, apresento hoje a história de um cidadão exemplar, respeitoso, dócil, educado, criativo, inteligente, ótimo pai e esposo. “Era durão quando necessário, mas sem perder a ternura” – cidadão  da comunidade do Garcia.
Tio Alberto Day (foto) querido pela família e para quem o conhecia.
Nascido em Brusque em 30 de abril de 1919 veio para Blumenau servir no 23º RI (Regimento de Infantaria) atual 23º Batalhão de Infantaria.
Residiu por alguns anos em uma transversal da Rua Belo Horizonte e depois Rua 12 de Outubro, nº10 uma transversal da Rua da Glória no bairro Glória. Mais tarde residiu na Rua Rudolfo Hollenweger, transversal da Rua Amazonas e posteriormente na praia de Navegantes localidade Gravatá.
Casado com Iris tiveram três filhos: Osmar, Eliane e Shirley. Faleceu em 08 de novembro de 2006.
Tio Alberto estava cursando o antigo contador em 1952, quando sofre um terrível acidente de moto. Ficou tempos no hospital correndo risco de falecer. Sobreviveu e meu pai (Nicolao Day) ao lado de sua cama no hospital prometeu que se ele sobrevivesse, os dois iriam visitar Nossa Senhora de Fátima. Cumpriram a promessa  no início dos anos de 1970.
Seu primeiro automóvel foi uma Vemaguet que adquiriu do Sr. Alfredo Item diretor da E.I. Garcia, pessoa quem ele admirava muito. O segundo veiculo foi um Volkswagen que comprou “Zerinho” em 1972 de cor verde e que permaneceu com ele até seu falecimento.

Em 1948 meu pai Nicolao Day (1930-1995) também nascido em Brusque, veio procurar emprego na Empresa Industrial Garcia (1948-1980) e neste período foi acolhido pelo seu irmão Alberto.  Fato este e outros meu pai nutria um carinho especial pelo irmão e em sua homenagem colocou meu nome de AdAlberto Day
Quantas recordações desta casa, da rua “12 de Outubro”, das pessoas dos meus tios e primos. Morávamos próximo na Rua Almirante Saldanha da Gama.
Ao lado da casa existia uma cobertura, ali havia um poço público, era ponto de parada das carroças para darem água aos animais cavalos e outros. Também onde meu tio fazia o altar no dia de procissão de Corpus Christi.
Parada quase obrigatória dos alunos que vinham da Escola São José saciar a sede. Depois de uma vitória no campinho do “12”, era o local favorito para tomar a garrafa com capilé ganho na partida.
As casas neste estilo tinham paredes com taboas na horizontal e dupla. Eram muito bem conservadas, constantemente pintadas e reformadas. O telhado neste estilo Técnica alemã era para uma possível neve que viesse a acontecer, facilitando seu deslizamento e escoamento.
EIG - Aos fundos Vila Operária
Ruas  Glória, Almirante Saldanha da Gama e 12 de Outubro 
As casas eram produzidas pelos marceneiros da Empresa Industrial Garcia. Foram feitas mais de 240 residências quase todas idênticas, espalhadas por várias Ruas do Bairro como Rua da Glória, Almirante Saldanha da Gama, 12 de outubro, Cambará, Emilio Tallmann, Tibají , Beco do Luca, - E na Vila Operária João Anastácio da Silva e transversais, Ruas Riachuelo, Caeté, Taío, João Simas, João Deschamps, Botucatu, Tangará, logo após a igreja Nossa Senhora da Glória. Os moradores eram empregados da empresa Garcia, com boa infraestrutura de saneamento básico, como água encanada e recolhimento (coleta) do lixo.
Tio Alberto trabalhou na antiga Cooperativa de Consumo  dos Empregados da Empresa Industrial Garcia S/A  e depois no Departamento de Pessoal no setor Técnico em folha de pagamento. Era autodidata, seu conhecimento e sabedoria impressionavam os que o rodeavam.  Era uma fonte importante de pesquisa para todos.
Quando estava para aposentar-se eu  (Adalberto) fui trabalhar no mesmo setor dando continuidade ao seu trabalho.
Nas horas vagas vendia joias, relógios de marcas importantes como Mondaine, este da imagem adquirido pelo meu pai em 1963 que está em nosso acervo. Vendeu para um diretor da EIG, um relógio da marca Patek Philippe , que na época tinha alto valor.
Costumava passar filmes para crianças da Rua 12 e próximas. A pistola que ele passava os filmes está com meu primo Osmar Day. Cobrava entrada, R$ 1,00 (cruzeiro), comparando, na época R$ 0,50 se comprava um picolé. Cobrava para poder adquirir mais filmes, não gostava de ficar repetindo os mesmos. Os filmes eram passados no  rancho e em frente da casa.
Foi fotógrafo amador. Qualquer evento que houvesse na região era chamado para fotografar, o mais procurado para festas de 1ª comunhão,  “ por seu preço ser mais em conta”.  Além de bater as fotos, fazia as revelações em casa. Possuía um quarto especial e escuro preparado para o procedimento das revelações.

Colaborava nos eventos festivos da E.I. Garcia e clube Amazonas, festa junina, dia do trabalhador, natal. Também seu trabalho se estendia às igrejas como Nossa Senhora da Glória e Santo Antônio, chegando ao posto de Diácono e realizou o casamento de uma das filhas.
Era muito criativo, na década de 1960 com o auxilio de um antigo toca-discos fazia girar o pinheiro nos Natais. Soltava suas pipas ou (pandorgas como era conhecida), no morro ou campinho do 12.
Cuidadoso o tio Alberto deixava tudo desde os moveis, eletrodomésticos, fechaduras, prateleiras, gavetas, portas e janelas funcionando adequadamente como novos.
Produzia vários bonecos de madeira para a alegria da gurizada, um deles o Pinóquio. 
Adendo de Eliane Day
"Fez uma chocadeira elétrica, mas foi uma decepção, caiu à energia e perdeu todos os ovos, em seguida criou uma movida a querosene, com serpentina de cobre que eram aquecidas pela chama de querosene que nunca apagava consequentemente os ovos descascavam”.
Começou a fabricar para vender. Seus clientes eram os colonos da redondeza, pois a chocadeira que ele criou cabia 100 ovos, lembro que havia um sistema que os ovos eram virados de tempos em tempos.
Lembro também, que um dos pintinhos nasceu com alguma deficiência, o pai não matou, deixou para mim, mas por pouco tempo, em seguida deu para o Sr. José Kargel, para cozinhar para o cachorro. Para me consolar me deu um galinho de vidro, que guardo até hoje.
Lembro que achei uma moeda de R$ 0,50 centavos de cruzeiro no poço, fiquei feliz, poderia comprar guloseimas na venda do Maneca padeiro, mas meu pai, sabiamente me fez guardar, “a pessoa que a perdeu poderia vir procurar”, concluindo que o fato de eu ter achado não significava que não tinha dono”. Conta Eliane Day filha do Tio Alberto. 
Em sua oficina confeccionava com muita habilidade, cabos para enxadas, pá, facões, até armários e mesas.

Colaboração Eliane Day e Osmar Day.
Acervo de Adalberto Day e Eliane Day

quinta-feira, 24 de abril de 2014

- Marco Zero de Blumenau

Texto Niels Deeke Memorialista (in memorian) sobre o Marco Zero em Blumenau e esclarecimentos a respeito, incluindo níveis (réguas) de medição das enchentes em Blumenau.
 Foto: Martha Pimpão
Marco Zero da Cidade de Blumenau :  ( Não da Fundação da Colônia – note-se sempre muito bem a qualificação do Marco Zero)  Há, na praça Hercílio Luz, defronte à edificação da antiga Prefeitura de Blumenau, um referencial geográfico constituído em MARCO ZERO que representaria as posições geográficas oficialmente aceitas para o posicionamento da cidade de Blumenau de conformidade com o sistema de latitudes e longitudes conceituado no sistema GMT ou seja Greenwitch Mean Time ou ainda no GUT – Greenwitch Universal Time. Contudo o referido Marco, assim parece-me, seria uma alegoria representativa da pujança desenvolvimentista dos imigrados na Colônia Blumenau, pela razão de ter sido  naquele ponto – dito do porto fluvial de Blumenau -  que a grande maioria dos colonos  então recém ingressos, pisava pela vez primeira estas terras. Era o marco zero para demarcar um início de colonização ou como igualmente assentaram em diversas outras cidades do país, marcos zero simbolizando a fundação das vilas ou cidades, sem relação alguma com seus posicionamentos geográficos globais. Sintetizando trata-se de um marco alegórico ao início da colonização, contudo não verdadeiro, pois a imigração, com a chegada dos 17 pioneiros, teve início na foz do ribeirão da Velha e não na foz  do ribeirão Garcia. Enfim é considerado o Marco Central da Cidade. Localização: Segundo José Deeke a cidade de Blumenau está situada na margem direita do rio Itajaí Açu, na latitude  de 26º  55’ e 26’’ sul  e na longitude de 49º  03’ 22’’ a oeste de Greenwich. Tal posição, acredita Niels Deeke, foi obtida mediante observação a partir do terreno onde situa-se a Igreja Evangélica – Centro em Blumenau. No Relatório dos Negócios Administrativos do Município de Blumenau - referente ao ano 1951 e mesmo nos que foram editados nos anos subsequentes, gestões de Hercílio Deeke, consta: ano 1951 p. 107 : Posição Geográfica:  Latitude S :  26º 55’ 26’’. Longitude –W. Gr. (Oeste de Greenwich): 49º 03’ 32’’, posição que igualmente Niels Deeke, acredita haver sido aferida a partir do ponto de intersecção das atuais Alameda Rio Branco e Rua 15 de Novembro. Já no fascículo “Guia Turístico” editado pelo Prefeito Hercílio Deeke em setembro de 1963 – intitulado “Blumenau” tornam a constar dos dados com longitude W( Oeste) 49º  03’ 22’’ . Outros ainda consignam a longitude em:  49º 03’ e 19’’ W Gr. Há portanto pequena discrepância de dez segundos  nas  longitudes consignadas, cuja diferença poderia ser imputada à observações  tomadas  em pontos  fisiográficos  diversos,  portanto sua exatidão deixamos para futura aferição.  Em 18/8/2.000 O IPUB na Prefeitura Municipal de Blumenau, informava a seguinte posição geográfica : Latitude sul : 26º 55’ e 10’’, e por longitude oeste 49º 03’ e 58’’. Já a Enciclopédia dos Municípios, Volume XXXII Rio 1959 do I.B.G.E. consigna as seguintes coordenadas geográficas : 26º 55’ 26’’ latitude sul e  49º 03’’ e 19’’ longitude oeste Greenwich. Supomos que deva aceita a apresentação fornecida pelo IBGE, que é justamente a que mais se aproxima da consignada por José Deeke em 1917. Já o Departamento Estadual de Estatística do Estado de Santa Catarina em Janeiro de 1948, consigna : Latitude : 26º 55’ 26’’ 20.
Marco Zero - Praça HercílioLuz
E por longitude : 49º 03’ 19’ ’ 80. Entretanto será necessário aferir, com toda precisão, onde realmente esteve fincado, na praça Hercílio Luz, em Blumenau, junto ao chão,  o “marco padrão”, em pedra lavrada com incrustação de Metal Gravado, elaborado pelo IBGE, no qual constavam as coordenadas de localização. Dito marco- padrão  teria sido eliminado com a construção da Cervejaria Continental entre os anos 1993- 1996 e talvez tenha sido transposto para outro local na Praça Hercílio Luz ( conferir). Aliás, a construção da Cervejaria Continental suscitou  demanda judicial de Ação Pública responsabilizando  - por ilícito -  os administradores públicos da Prefeitura de Blumenau, ação ainda inconclusa  até o final de ano 2010.
Tenha-se sempre em conta que poderão haver DIVERSOS MARCOS ZERO  e suas definições estarão  condicionadas  ao complementos qualificativos que se lhe acrescentarem.

O MARCO ZERO REAL APARA AFERIÇÂO DO NÍVEL DO ITAJAÍ AÇU no CENTRO DE BLUMENAU – Não trata-se do símbolo supracitado, presume-se que esteja situado a oito metros do  ao nível do mar) Início da escala 1,50 metros acima do topo da Pedra da Lontra, ou como também a chamavam “Laje da Lontra”, ou ainda “ Laje do Lontra” ( na forma masculina) como os antigos relatórios dos administradores públicos a referiam, qual seja  ¨Do Lontra¨.  Com relação  aos níveis  das águas registrados nas diversas enchentes há que considerar um fato relevante, qual  seja o das  diversas  substituições de locais da régua de aferição. Até os anos 1948,1949 a régua esteve  embaixo da  antiga ponte de ferro sobre o ribeirão Garcia. Na demolição desta, foi colocada na margem direita da foz do Garcia, nos fundos da Prefeitura.
Lá permaneceu até, 1963, quando Hercílio Deeke mandou demolir
o Ponte Bar (foto), que fora inaugurado em 1950, e que era propriedade de Ricardo Bliesner, o qual recebeu gratuitamente para exploração terreno da PMB cf. contrato formado em 19/7/1950, com o compromisso de construir um “sanitário público”. O local é atualmente parcialmente ocupado pelo Mausoléu Dr. Blumenau. No dito Ponte Bar, onde vendiam exclusivamente bebidas, havia, no subsolo, os sanitários.  Cf. consta  da  p. 127  do Rel. Administrativo do Prefeito Hercílio Deeke, “Mandei demolir, mediante indenização ao respectivo concessionário  o “Ponte Bar”, ao lado da Prefeitura, ajardinando o terreno pelo mesmo ocupado e mandando construir novas instalações sanitárias públicas  à margem do Ribeirão Garcia, em local discreto”. Quando Hercílio Deeke iniciou, em 1964, a construção da  Beira Rio, com o enrocamento da foz do Garcia,  foi, a régua de medição,  levada para a barranca da Estação da Estrada de Ferro, na foz do ribeirão da Velha. Conforme era voz  corrente, na transferência para a foz do Velha, a régua teria sido colocada 0,37 metros abaixo do  ponto  mínimo anterior. As discussões foram muitas, entretanto não houve quem dirimisse  a dúvida. Cumpre-me aqui esclarecer um fato que poderá matar a charada. Desde o início da colonização o marco ZERO sempre foi considerado como o  ponto imaginário estabelecido a “HUM E MEIO METROS acima  do cocuruto da “Laje do Lontra”,  lajeado que se encontra pouco mais próximo da barranca esquerda do rio  e que pode ser vista, nas estiagens,  a partir da linha transversal  se faz, com rio, a partir do local onde se encontra a “Caça e Pesca.” A chapada daquela pedra (“ Pedra ou Laje Do Lontra”- no masculino, como costumavam chamá-la até o ano de 1954 e com tal denominação a referia Raul Deeke, que estudou detalhadamente as enchentes visando emergir o casco do “Vapor Blumenau”, então semi submerso na foz do ribeirão de Tigre (Tigerbach)  para colocá-lo na “Prainha”- e o feito é devido a ele Raul Deeke, que realizou a trabalhosa proeza através da entidade “Kennel Clube de Santa Catarina” foi, no passado remoto e mesmo neste século XX, o marco referencial de níveis para a navegação. O nível considerado mínimo normal foi sempre estimado como fixo em 01 metro e 50 centímetros acima da “Pedra da Lontra”, aliás a carreira de estaleiro para reparos da “Cia Fluvial a Vapor Blumenau- Itajaí,  instalações que foram desativadas em 1919”, também servia-se do dito marco ¨Pedra do Lontra ¨ ,vez que situava-se justamente defronte às suas instalações e era notoriamente visível  para as respectivas avaliações.. Este estaleiro para reparos nos vapores “ Progresso” e “Blumenau”, situava-se na foz do ribeirão Bom Retiro, no lugar, que depois de receber grande aterro, serviu para conter a conter a Praça dr. Blumenau. Dessarte as medições  eram efetuadas  considerando-se  um metro e meio acima do topo, medida de nível mínimo da água para possibilitar a navegação dos vapores para Itajaí e vice versa, pois ambas as embarcações calavam profundidades de 1,50 m. considerando, com pequena variação sua  carga ou mesmo dead weight. Portanto era preciso 1,50m. de água acima da Pedra da Lontra, se  bem que o rio sempre tenha  algum nível de água, que a submerge, lá havia no passado, fortemente cravada uma haste de ferro, cuja base encravada em uma fenda no centro da rocha, eu próprio Niels Deeke, ainda a vi e inclusive a apalpei com minhas mãos em, 1940 e 1950, durante as muitas pescarias nas armações dos espinhéis grossos para pescar os grandes bagres. A dúvida para equalizar os verdadeiros níveis de água do rio  atingidos outrora e na atualidade, excluindo-se as diferenças devidas a  fixação das réguas em níveos diversos, poderia ser facilmente esclarecida, tomando como ponto de referência a Casa Husadel, que na sua parede lateral tem (pelos menos tinha)  espetado um vergalhão de metal que indica o nível alcançado pela enchente de 1911, tido como de 16,70 metros. Ora, a partir da chapada da pedra, acrescido 1,50 m, medir-se-ia até o vergalhão espetado (se é que ainda lá esteja) para conferir a medição que  acreditamos  deverá  acusar a  altura alcançada em 1911, fato que talvez  derrubasse  outras medidas  consignadas, se  compulsadas  com a marcas devidamente assinaladas. As marcas  que constam  cravadas nas paredes do prédio da “Casa de Força” da Usina Salto, não podem ser consideradas como, absolutamente, válidas para o centro da cidade, mormente depois do estrangulamento do rio no centro da cidade, causado pelo enrocamento a da margem que consubstanciou-se no talude da Beira-Rio. (Uma das antigas réguas  que constava próxima à ponte sobre o Garcia, depois de substituída por nova, elaborada e pintada sobre “Placa” elaborada pelo marceneiro Schramm da rua Itajaí, fez parte do acervo particular de Niels Deeke – e atualmente só parte dela ainda existe). A altitude de Blumenau sobre o nível do mar, é citada como a de 14,00 metros, em frente a Prefeitura Municipal (Rel. Adm. Hercílio Deeke ano 1951  p. 107- Agendas de serviço de Hercílio Deeke). Em novembro de 1999 - comentavam alguns “entendidos” nas coisas do rio em Blumenau, dizendo que a solução para a erosão das margens do rio Itajaí Açu no centro da cidade de Blumenau, seria explodirem a “Lajota” ou Pedra que desviaria a corrente da água em direção às barrancas-  tal pedra trata-se, na verdade, da “Laje (ou Pedra) do Lontra”. Já  no ano 2.000 informalmente rebatizaram a lajota, denominando-a, certamente os arrivistas desconhecedores do nosso passado, por “Pedra da Fome”, alegando que a rocha ao aflorar visível no rio, indicaria grande  flagelo de seca, provocando escassez de alimentos – consequência muito relativa na atualidade e portanto denominação injustificável, vez que no passado, estando o rio, antes do aterro com pedras que forma o atual talude, mais largo em cerca de oito metros, motivo porque a Pedra do Lontra surgia com mais frequência, pois a vazão d’água em uma superfície mais larga era bem maior. Naquele sítio, tanto em sentido da Ponta Aguda com em direção à cidade na margem direita, o rio praticamente não possui em Talvegue que como tal possa ser definido, pois a laje estende-se em um só nível por toda a largura do rio. Há, entretanto um raso canal – com a largura de três metros em sentido oeste da Pedra, ou seja em direção á margem direita do rio.
Durante as tratativas do Kennel Clube que, em 1961, determinaram o assentamento do Vapor Blumenau, em 08/9/1961, sobre pilares do concreto na “Prainha”, foi, por Raul Deeke, aventada a hipótese de erigirem duas grossas pilastras sobre a Laje da Lontra, elevadas até  nível idêntico ao do piso da Ponte Adolfo Konder (então já existente) para então lá sobreporem o casco da embarcação com sua proa embicada para montante do rio. Pretendiam proceder ao acesso ao Vapor Blumenau, após sua firme fixação sobre os pilotis, mediante o lançamento de uma ponte pênsil até a barranca do rio próxima à Prainha. Raul Deeke inicialmente abraçou tal ideia, e insistiu junto ao seu irmão Hercílio Deeke, que então era o Prefeito Municipal, a fim de que a Prefeitura executasse as duas pilastras. No entanto Hercílio Deeke, apesar de considerar a ideia louvável, ponderou que naquele  período de crise financeira, a execução das soberbas pilastras,  dariam margem à acerbas críticas, vez que nem mesmo meios havia para  restabelecer o prédio da Prefeitura Municipal incendiado cerca de três anos antes. Fazia quase um ano que o casco do Vapor Blumenau havia sido assentado na Prainha, quando em julho de 1962, durante uma caçada na Fazenda de Raul Deeke ( Fazenda Marily) no alto Palmeiras, presentes os dois irmãos  Raul e Hercílio Deeke, além de Niels Deeke que estas linhas consigna, comentavam, os irmãos, ambos embombachados e calçados com suas botas sanfonadas e providas de tacões adequados para encaixar as esporas rosetadas para o incitamento das montarias,  numa noite gélida de rachar os beiços, e estando à beira da fogueira dos nós de pinho cujo crepitar era abafado pela monótona marchinha extraída  do bandoneón que o gordo Xenofonte Lenzi ( apelidado “Fonte”) esticava e  então, no entremeio das passadas da cuia do chimarrão, em seus devaneios, aquelas duas testemunhas oculares de tantos fatos históricos da colonização do Vale do Itajaí, arrazoavam  — feição e olhares saudosos perdidos nos seus passados distantes— quão imponente teria ficado o “Vaporzinho”  postado, sobre a Laje do Lontra,  bem lá no  alto, como um “Brasão Alegórico”, a cingir a cidade de Blumenau. Entretanto imagine-se o que teria ocorrido ao monumento se a sua elevação (altura) não fosse suficiente para, nas enchentes de 1983,1984, deixar o navio imune à força das águas. Por outro lado, também na Prainha, sobre pedestal muito mais baixo, esteve sujeito àquelas enchentes e resistiu, sem maiores problemas, à corrente do rio, se bem que lá estivesse à margem do centro da maior correnteza. 

Acesse sobre A Pedra da Lontra para saber mais detalhes técnicos a respeito.:

Arquivo Adalberto Day/Texto Niels Deeke Memorialista em memória/Colaboração Wieland Lickfeld pesquisador em Blumenau.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

- Revivendo Blumenau

Mais uma bela crônica da historiadora e escritora Urda Alice Klueger.             
(Para Eduardo Venera dos Santos Filho)
       Hoje, de novo, saí em busca do passado. Subi a pequena encosta que leva à Igreja Luterana segurando na mão o coração tremeluzente de densa saudade. Estivera lá em cima diversas vezes nas últimas décadas – afinal, sempre alguém se casa, ou morre, ou se batiza, e há os túmulos dos antepassados – mas sempre subi com os olhos e o coração fechados para a emoção, sempre passei de raspão, sem querer olhar, sem querer lembrar – mas hoje fui lá especialmente para ver.
Fiz os cálculos: mais ou menos aqui se estacionava o carro. Ali embaixo era pasto, e quando chovia muito, ficava tudo inundado, e depois vinha o sol e naquela água parada se refletia o azul do céu e as nuvens vogando livres... E veio a lembrança da liberdade ali, lugar onde ninguém passava em dia de trabalho, abrigo certo e perfeito para quem estava tão, mas tão, mas tão apaixonado quanto nós. Era como se a ternura e o carinho não tivessem ido embora e pairassem por ali, em girândolas coloridas, e até agora, tarde da noite, ainda estou em dúvida se as girândolas estavam ou se foi só produto da minha imaginação.
Desviando um pouquinho o olhar, tinha sido o campo de futebol, Palmeiras Esporte Clube, e entre uma coisa e outra, a rua estreita e tortuosa, a única que havia então. Tudo mudou; a rua se multiplicou em diversas pistas lotadas de carros em movimento, e já não há campo de futebol nem nada é mais como foi: a paisagem está suja de uma imensidade de prédios e prediozinhos, um deles de vidros tão espelhados que parece que nem existe, e a gente só o descobre porque espelha aquela paisagem borrada que parece ter nascido do sonho de um pintor louco.                                                       Tudo mudou mesmo: coisas como grandes supermercados enchem a base do morro, e a encosta, que tivera elegante fileira de azaleias que juntos vimos florir por toda uma primavera, agora está coalhada por aqueles arbustos e outras coisas, como moitas de taquaras.

Mais uma vez olhei para as árvores: qual delas estivera ali naquela época, qual nascera depois, haveria testemunhas dos tempos que amor tão grande ali vinha se abrigar à sombra da igreja? Uma placa indicou-me duas palmeiras que ali estavam desde o século XIX – portanto, havia testemunhos vivos daqueles tempos tão maravilhosos que até parece que foram só de sonho... Indagava-me que outras plantas de então estariam ainda vivas, e então apareceu o zelador do local e conversei com ele, que sabia com exatidão que aquela árvore tinha 27 anos e coisas assim – pude tirar uma medida de quem ali estivera naquele tempo do nosso tempo e, enquanto conversava com o zelador, cumprimentava silenciosamente as velhas testemunhas daqueles momentos que pensava que estavam perdidos lá no passado.
       Deba demolido a partir do dia 23/09/2007
Foi então... Como então, o sino das seis da tarde começou a tocar, o mesmo sino lá das lonjuras do tempo, aquele sino que anunciava seu carro subindo outro morro para me buscar no serviço, aquele sino que ouvíamos ali... Eu mal podia crer que aquele sino ainda existia e continuava tocando, e cada badalada dele batia na minha alma como uma flecha, e de novo era primavera, as azaleias estavam floridas e você usava aquela camisa de tergal branco e eu podia me abrigar, de novo, junto ao seu peito, e sentir seu aroma bom de limpeza e de Pinho Campos do Jordão, do qual guardo um frasco faz mais de quarenta anos... Então, chorei, mesmo que o zelador achasse estranho. O amor é assim... Não há como explicar...
Blumenau, 10 de janeiro de 2014.
Crônica de Urda Alice Klueger/Escritora   
Arquivo de Dalva e Adalberto Day 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

- Blumenau e sua gente (II)



Em histórias de nosso cotidiano, apresentamos Flavio Monteiro de Mattos (foto), carioca de nascimento e BLUMENAUENSE POR OPÇÃO", contando um pouco de suas lembranças quando vinha do Rio de Janeiro visitar Blumenau, com sua família.


BLUMENAU E SUA GENTE – UMA PAIXÃO ANTIGA (II)
Dias atrás, foi postado um comentário no indispensável Blog do Adalberto Day sobre uma das minhas colaborações. 
Desta feita, por causa da riqueza de detalhes do comentário, acabamos trocando e-mails e ironicamente, este cronista geograficamente distante se tornou a ponte para restabelecer contatos entre amigos do passado, cujos vínculos acabaram se perdendo por conta da vida adulta que veio a seguir.

Se o fato não bastasse, é também gratificante constatar que ainda não foi desta vez que fui traído pela memória, uma vez que minha leitora Lígia confirma as peripécias aprontadas em várias estadas minhas, na inesquecível Blumenau de tempo idos. 
Em nossa troca de e-mails, afirma a Lígia: “Brincávamos todos juntos, inclusive quando chegava o "primo carioca", muito bonitinho e sapeca. Até sapo ele pegava com as mãos. Recordas disso?”. 
A casa de meus parentes ficava na Alameda Rio Branco, esquina da Rua Paraná, na época ainda de terra e sem saída e o episódio a que ela se refere, acontecia toda vez que caia uma daquelas tempestades de verão tão comuns nessa época do ano em Blumenau, torrenciais embora curtas. Como durante uma fase da minha infância era dado a ter febres ao fim de cada tarde, minha mãe somente permitia meu retorno às brincadeiras quando não houvesse mais água empoçada e descobrimos que o motivo impedia o rápido escoamento eram os inúmeros sapos que se escondiam nos ralos que haviam no jardim. Ora, se os sapos impedem que a água escoe, retiramos os sapos!

Repetimos o procedimento inúmeras vezes, mas os anfíbios, que em grande número habitavam o local, retornavam e voltavam ocupar os antigos esconderijos. Bastavam alguns pingos mais fortes para que se formassem poças, que pareciam oceanos. Para resolver o problema de vez era preciso medidas mais drásticas: retiramos os sapos de seus esconderijos e os levamos para a calçada em frente à casa. Com o calor, os ditos buscavam novos abrigos e assim conseguimos debelar o problema da água empoçada, até a próxima chuvarada.

Outros que perturbavam eram os marimbondos. Faziam ninhos no beiral do telhado e volta e meia, nos atacavam no campinho de futebol improvisado. Um dia, resolvemos acabar com eles e arrumamos uma longa vara, com um pedaço de pano atado à ponta. Tacamos fogo e... Fui ferrado por um maldito vermelhinho, que segundo o Dr. Aberlardo Vianna, que me atendeu no Pronto Socorro, mais uma picada e “tchau”...
Nesta foto, gentilmente encaminhada pela Lígia, estão alguns dos componentes dessa “galera”, que acrescenta : “a fotinho de infância está feinha, mal dá para reconhecer a petizada ... e infelizmente você não está nela.” 

Segue o relato da Lígia:Mas acho que não vais te lembrar  de mim... era vizinha de muro ou cerca (para trás do beco).

Depois da minha casa tinha "um mato" como chamávamos, onde brincávamos muito de Tarzan, pescávamos no rio, fazíamos “cavernas subterrâneas”, um paraíso. Ao lado desse mato, final do beco, ex-rua Paraná e atual Rua Vidal Ramos, ficava aquela casa da qual te recordas, com imenso gramado e muitas árvores, que quando nos mudamos pertencia aos Funke, proprietários de uma rádio do mesmo nome, localizada na Rua 7 de Setembro. Acho que tinham quatro filhos. 
Depois vieram morar ali o Sr. Arthur Moellmann e Sra. Édi, que tinham 2 filhas loirinhas : Júlia e Zélia, mais ou menos da minha idade. Júlia, a mais velha, desenhava muito bem cavalos e elas tinham uma verdadeira mina de gibis no porão (acho que herança do tempo dos Funke). Ainda tenho Fantasma de 1957, Tarzan, Almanaque do Chiquinho, de 1954, etc.
 Cerca da casa de meus parentes e a da Ligia, ao fundo. 
Na frente da nossa tinha uma casa geminada que pertencia à "temida" Frau Scholz, que alugava preferencialmente para famílias dos oficiais do exército e num dos lados moraram durante muitos anos Dr. Plácido, veterinário e pianista, Dª. Percy e seus dois filhos Antônio José e Rogério.Todos falecidos, menos o Rogério.

A seguir vinha a casa que a Frau Scholz habitava, que já dava frente para a Alameda, da qual te recordas. Estava sempre nos vigiando pelas frestas das janelas e quando algum desobediente relutava em atender os chamados, nossas mães somente apontavam para a casa da temida senhora e tudo se aquietava.

Havia a vendinha do outro lado da Alameda, mais à esquerda, na outra esquina, lembras? Não saíamos de lá... dá-lhe picolé, chicletes e balinhas...
Também brincávamos com as carochas enormes que apareciam no verão, à noite, no asfalto da Alameda, cheio de bolhas, devido ao calor. Chegava a ficar com os dedos amarelos de tanto pegá-las para colocar uma caixinha de fósforo pendurada nelas e vê-las carregar. 
Igualmente recordo que colocávamos uma nota de papel na calçada, devia ser de um cruzeiro, e nela amarrávamos um fio de linha quase invisível, que ficávamos segurando por trás da cerca, atrás de um arbusto florido (na casa do Dr. Carvalhinho). Quando as pessoas se abaixavam para pegá-la, puxávamos a nota e morríamos de rir.
No verão andávamos todos de bicicleta e patins nas cercanias, inclusive logo após o jantar, pois eram tempos tranquilos.” 
E eram mesmo. Tempos tranquilos e inesquecíveis. 
Lembro que num desses anos, meu pai nos levou Santiago, cidade onde nasceu, no Rio Grande do Sul. 
Fomos de carro até Porto Alegre e de lá, tomamos um trem até nosso destino. Era verão e fazia um calor abrasador. O trem era movido a carvão e as fagulhas entravam pela janela da cabine e as opções eram mantê-las fechadas, e derretermos no calor ou mantê-las abertas, com o risco de incêndio da roupa de cama. Foram quase 12 horas de viagem até Santiago e quando lá chegamos, total decepção da minha parte. 
Lembro ter comentado com minha mãe que Blumenau era muito mais bonita.
Somente para que não pensem que sou tendencioso ao compará-la com Santiago, as fotos acima retratam a casa onde meu pai nasceu. A da esquerda, mais ou menos nessa época e a da direita, foto batida por ele, nesta viagem, em 1959.
Salvo engano, 37 anos depois, (ano 2014) as únicas melhorias visíveis foram o calçamento da via e um catavento sobre a casa. 
Como imortalizado por Vinícius de Moraes “as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, inclusive as cidades! 

Texto de Flavio Monteiro de Mattos a partir de lembranças de Maria Lígia Luz Narciso

Fotos acervo de Maria Lígia Luz Narciso e Flavio Monteiro de Mattos