Texto Niels Deeke Memorialista (in memorian) sobre o Marco Zero em Blumenau e esclarecimentos a respeito, incluindo
níveis (réguas) de medição das enchentes em Blumenau.
Foto:
Martha Pimpão
Marco Zero da Cidade de Blumenau
: ( Não da Fundação da Colônia – note-se
sempre muito bem a qualificação do Marco Zero)
Há, na praça Hercílio Luz, defronte à edificação da antiga Prefeitura de
Blumenau, um referencial geográfico constituído em
MARCO ZERO que representaria as posições geográficas oficialmente aceitas para
o posicionamento da cidade de Blumenau de conformidade com
o sistema de latitudes e longitudes conceituado no sistema GMT ou seja
Greenwitch Mean Time ou ainda no GUT – Greenwitch Universal Time. Contudo o
referido Marco, assim parece-me, seria uma alegoria representativa da pujança
desenvolvimentista dos imigrados na Colônia Blumenau, pela razão de ter
sido naquele ponto – dito do porto
fluvial de Blumenau - que a grande
maioria dos colonos então recém
ingressos, pisava pela vez primeira estas terras. Era o marco zero para
demarcar um início de colonização ou como igualmente assentaram em diversas
outras cidades do país, marcos zero simbolizando a fundação das vilas ou
cidades, sem relação alguma com seus posicionamentos geográficos globais.
Sintetizando trata-se de um marco alegórico ao início da colonização, contudo
não verdadeiro, pois a imigração, com a chegada dos 17 pioneiros, teve início
na foz do ribeirão da Velha e não na foz
do ribeirão Garcia. Enfim é considerado o Marco
Central da Cidade. Localização: Segundo José Deeke a cidade
de Blumenau está situada na margem direita do rio Itajaí Açu, na latitude de 26º
55’ e 26’’ sul e na longitude de
49º 03’ 22’’ a oeste de
Greenwich. Tal posição, acredita Niels Deeke, foi obtida mediante observação a
partir do terreno onde situa-se a Igreja Evangélica – Centro em Blumenau. No
Relatório dos Negócios Administrativos do Município de Blumenau - referente ao
ano 1951 e mesmo nos que foram editados nos anos subsequentes, gestões de
Hercílio Deeke, consta: ano 1951 p. 107 : Posição Geográfica: Latitude S :
26º 55’ 26’’. Longitude –W. Gr. (Oeste de Greenwich): 49º 03’ 32’’,
posição que igualmente Niels Deeke, acredita haver sido aferida a partir do
ponto de intersecção das atuais Alameda Rio Branco e Rua 15 de Novembro. Já no
fascículo “Guia Turístico” editado pelo Prefeito Hercílio Deeke em setembro de
1963 – intitulado “Blumenau” tornam a constar dos dados com longitude W( Oeste)
49º 03’ 22’’ . Outros ainda
consignam a longitude em: 49º 03’ e 19’’
W Gr. Há portanto pequena discrepância de dez segundos nas
longitudes consignadas, cuja diferença poderia ser imputada à
observações tomadas em pontos
fisiográficos diversos, portanto sua exatidão deixamos para futura
aferição. Em 18/8/2.000 O IPUB na
Prefeitura Municipal de Blumenau, informava a seguinte posição geográfica :
Latitude sul : 26º 55’ e 10’’, e por longitude oeste 49º 03’ e 58’’. Já a
Enciclopédia dos Municípios, Volume XXXII Rio 1959 do I.B.G.E. consigna as seguintes
coordenadas geográficas : 26º 55’ 26’’ latitude sul e 49º 03’’ e 19’’ longitude oeste Greenwich.
Supomos que deva aceita a apresentação fornecida pelo IBGE, que é justamente a
que mais se aproxima da consignada por José Deeke em 1917. Já o Departamento
Estadual de Estatística do Estado de Santa Catarina em Janeiro de 1948,
consigna : Latitude : 26º 55’ 26’’ 20.
Marco Zero - Praça HercílioLuz
E por longitude : 49º 03’ 19’ ’ 80.
Entretanto será necessário aferir, com toda precisão, onde realmente esteve
fincado, na praça Hercílio Luz, em Blumenau, junto ao chão, o “marco padrão”, em pedra lavrada com
incrustação de Metal Gravado, elaborado pelo IBGE, no qual constavam as
coordenadas de localização. Dito marco- padrão
teria sido eliminado com a
construção da Cervejaria Continental entre os anos 1993- 1996 e talvez tenha
sido transposto para outro local na Praça Hercílio Luz ( conferir). Aliás, a
construção da Cervejaria Continental suscitou
demanda judicial de Ação Pública responsabilizando - por ilícito - os administradores públicos da Prefeitura de
Blumenau, ação ainda inconclusa até o
final de ano 2010.
Tenha-se sempre em conta que poderão
haver DIVERSOS MARCOS ZERO e suas
definições estarão condicionadas ao complementos qualificativos que se lhe
acrescentarem.
O
MARCO ZERO REAL APARA AFERIÇÂO DO NÍVEL
DO ITAJAÍ AÇU no CENTRO DE BLUMENAU – Não trata-se do símbolo supracitado,
presume-se que esteja situado a oito metros do
ao nível do mar) Início da escala 1,50 metros acima do topo da Pedra da
Lontra, ou como também a chamavam “Laje da Lontra”, ou ainda “ Laje do
Lontra” ( na forma masculina) como os antigos relatórios dos administradores
públicos a referiam, qual seja ¨Do
Lontra¨. Com relação aos níveis
das águas registrados nas diversas enchentes há que considerar um fato
relevante, qual seja o das diversas
substituições de locais da régua de aferição. Até os anos 1948,1949 a
régua esteve embaixo da antiga ponte de ferro sobre o ribeirão
Garcia. Na demolição desta, foi colocada na margem direita da foz do Garcia,
nos fundos da Prefeitura.
Lá permaneceu até, 1963, quando Hercílio Deeke mandou
demolir
o Ponte Bar (foto), que fora inaugurado em 1950, e que era propriedade de
Ricardo Bliesner, o qual recebeu gratuitamente para exploração terreno da PMB
cf. contrato formado em 19/7/1950, com o compromisso de construir um “sanitário
público”. O local é atualmente parcialmente ocupado pelo Mausoléu Dr. Blumenau.
No dito Ponte Bar, onde vendiam exclusivamente bebidas, havia, no subsolo, os
sanitários. Cf. consta da p.
127 do Rel. Administrativo do Prefeito
Hercílio Deeke, “Mandei demolir, mediante
indenização ao respectivo concessionário
o “Ponte Bar”, ao lado da Prefeitura, ajardinando o terreno pelo mesmo
ocupado e mandando construir novas instalações sanitárias públicas à margem do Ribeirão Garcia, em local
discreto”. Quando Hercílio Deeke iniciou, em 1964, a construção da Beira Rio, com o enrocamento da foz do
Garcia, foi, a régua de medição, levada para a barranca da Estação da Estrada
de Ferro, na foz do ribeirão da Velha. Conforme era voz corrente, na transferência para a foz do
Velha, a régua teria sido colocada 0,37 metros abaixo do ponto
mínimo anterior. As discussões foram muitas, entretanto não houve quem
dirimisse a dúvida. Cumpre-me aqui
esclarecer um fato que poderá matar a charada. Desde o início da colonização o
marco ZERO sempre foi considerado como o
ponto imaginário estabelecido a “HUM E MEIO METROS acima do cocuruto da “Laje do Lontra”, lajeado
que se encontra pouco mais próximo da barranca esquerda do rio e que pode ser vista, nas estiagens, a partir da linha transversal se faz, com rio, a partir do local onde se
encontra a “Caça e Pesca.” A chapada daquela pedra (“ Pedra ou Laje Do
Lontra”- no masculino, como costumavam chamá-la até o ano de 1954 e com tal
denominação a referia Raul Deeke, que estudou detalhadamente as enchentes
visando emergir o casco do “Vapor Blumenau”, então semi submerso na foz do
ribeirão de Tigre (Tigerbach) para
colocá-lo na “Prainha”- e o feito é devido a ele Raul Deeke, que realizou a
trabalhosa proeza através da entidade “Kennel Clube de Santa Catarina” foi, no
passado remoto e mesmo neste século XX, o marco referencial de níveis para a
navegação. O nível considerado mínimo normal foi sempre estimado como fixo em
01 metro e 50 centímetros acima da “Pedra da Lontra”, aliás a carreira de
estaleiro para reparos da “Cia Fluvial a Vapor Blumenau- Itajaí, instalações que foram desativadas em 1919”,
também servia-se do dito marco ¨Pedra do Lontra ¨ ,vez que situava-se
justamente defronte às suas instalações e era notoriamente visível para as respectivas avaliações.. Este
estaleiro para reparos nos vapores “ Progresso” e “Blumenau”, situava-se na foz
do ribeirão Bom Retiro, no lugar, que depois de receber grande aterro, serviu
para conter a conter a Praça dr. Blumenau. Dessarte as medições eram efetuadas considerando-se um metro e meio acima do topo, medida de
nível mínimo da água para possibilitar a navegação dos vapores para Itajaí e
vice versa, pois ambas as embarcações calavam profundidades de 1,50 m.
considerando, com pequena variação sua
carga ou mesmo dead weight. Portanto era preciso 1,50m. de água acima da
Pedra da Lontra, se bem que o rio sempre
tenha algum nível de água, que a
submerge, lá havia no passado, fortemente cravada uma haste de ferro, cuja base
encravada em uma fenda no centro da rocha, eu próprio Niels Deeke, ainda a vi e
inclusive a apalpei com minhas mãos em, 1940 e 1950, durante as muitas
pescarias nas armações dos espinhéis grossos para pescar os grandes bagres. A
dúvida para equalizar os verdadeiros níveis de água do rio atingidos outrora e na atualidade,
excluindo-se as diferenças devidas a
fixação das réguas em níveos diversos, poderia ser facilmente
esclarecida, tomando como ponto de referência a Casa Husadel, que na sua parede
lateral tem (pelos menos tinha) espetado
um vergalhão de metal que indica o nível alcançado pela enchente de 1911, tido como de 16,70 metros. Ora, a
partir da chapada da pedra, acrescido 1,50 m, medir-se-ia até o vergalhão
espetado (se é que ainda lá esteja) para conferir a medição que acreditamos
deverá acusar a altura alcançada em 1911, fato que
talvez derrubasse outras medidas consignadas, se compulsadas
com a marcas devidamente assinaladas. As marcas que constam
cravadas nas paredes do prédio da “Casa de Força” da Usina Salto, não
podem ser consideradas como, absolutamente, válidas para o centro da cidade,
mormente depois do estrangulamento do rio no centro da cidade, causado pelo
enrocamento a da margem que consubstanciou-se no talude da Beira-Rio. (Uma das
antigas réguas que constava próxima à
ponte sobre o Garcia, depois de substituída por nova, elaborada e pintada sobre
“Placa” elaborada pelo marceneiro Schramm da rua Itajaí, fez parte do acervo
particular de Niels Deeke – e atualmente só parte dela ainda existe). A
altitude de Blumenau sobre o nível do mar, é citada como a de 14,00 metros, em
frente a Prefeitura Municipal (Rel. Adm. Hercílio Deeke ano 1951 p. 107- Agendas de serviço de Hercílio Deeke).
Em novembro de 1999 - comentavam alguns “entendidos” nas coisas do rio em
Blumenau, dizendo que a solução para a erosão das margens do rio Itajaí Açu no
centro da cidade de Blumenau, seria explodirem a “Lajota” ou Pedra que
desviaria a corrente da água em direção às barrancas- tal pedra trata-se, na verdade, da “Laje (ou Pedra) do
Lontra”. Já no ano 2.000
informalmente rebatizaram a lajota, denominando-a, certamente os arrivistas
desconhecedores do nosso passado, por “Pedra da Fome”, alegando que a rocha ao aflorar
visível no rio, indicaria grande flagelo
de seca, provocando escassez de alimentos – consequência muito relativa na
atualidade e portanto denominação injustificável, vez que no passado, estando o
rio, antes do aterro com pedras que forma o atual talude, mais largo em cerca
de oito metros, motivo porque a Pedra do Lontra
surgia com mais frequência, pois a vazão d’água em uma superfície mais larga
era bem maior. Naquele sítio, tanto em sentido da Ponta Aguda com em direção à
cidade na margem direita, o rio praticamente não possui em Talvegue que como
tal possa ser definido, pois a laje estende-se em um só nível por toda a
largura do rio. Há, entretanto um raso canal – com a largura de três metros em
sentido oeste da Pedra, ou seja em direção á margem direita do rio.
Durante as
tratativas do Kennel Clube que, em 1961, determinaram o assentamento do Vapor
Blumenau, em 08/9/1961, sobre pilares do concreto na “Prainha”, foi, por Raul
Deeke, aventada a hipótese de erigirem duas grossas pilastras sobre a Laje da
Lontra, elevadas até nível idêntico ao
do piso da Ponte Adolfo Konder (então já existente) para então lá sobreporem o
casco da embarcação com sua proa embicada para montante do rio. Pretendiam proceder
ao acesso ao Vapor Blumenau, após sua firme fixação sobre os pilotis, mediante
o lançamento de uma ponte pênsil até a barranca do rio próxima à Prainha. Raul
Deeke inicialmente abraçou tal ideia, e insistiu junto ao seu irmão Hercílio
Deeke, que então era o Prefeito Municipal, a fim de que a Prefeitura executasse
as duas pilastras. No entanto Hercílio Deeke, apesar de considerar a ideia
louvável, ponderou que naquele período
de crise financeira, a execução das soberbas pilastras, dariam margem à acerbas críticas, vez que nem
mesmo meios havia para restabelecer o
prédio da Prefeitura Municipal incendiado cerca de três anos antes. Fazia quase
um ano que o casco do Vapor Blumenau havia sido assentado na Prainha, quando em
julho de 1962, durante uma caçada na Fazenda de Raul Deeke ( Fazenda Marily) no
alto Palmeiras, presentes os dois irmãos
Raul e Hercílio Deeke, além de Niels Deeke que estas linhas consigna,
comentavam, os irmãos, ambos embombachados e calçados com suas botas sanfonadas
e providas de tacões adequados para encaixar as esporas rosetadas para o
incitamento das montarias, numa noite
gélida de rachar os beiços, e estando à beira da fogueira dos nós de pinho cujo
crepitar era abafado pela monótona marchinha extraída do bandoneón que
o gordo Xenofonte Lenzi ( apelidado “Fonte”) esticava e então, no entremeio das passadas da cuia do
chimarrão, em seus devaneios, aquelas duas testemunhas oculares de tantos fatos
históricos da colonização do Vale do Itajaí, arrazoavam — feição e olhares saudosos perdidos nos seus
passados distantes— quão imponente teria ficado o “Vaporzinho” postado, sobre a Laje do Lontra, bem lá no
alto, como um “Brasão Alegórico”, a cingir a cidade de Blumenau.
Entretanto imagine-se o que teria ocorrido ao monumento se a sua elevação (altura)
não fosse suficiente para, nas enchentes de 1983,1984, deixar o navio imune à
força das águas. Por outro lado, também na Prainha, sobre pedestal muito mais
baixo, esteve sujeito àquelas enchentes e resistiu, sem maiores problemas, à
corrente do rio, se bem que lá estivesse à margem do centro da maior
correnteza.
Acesse
sobre A Pedra da Lontra para saber mais detalhes técnicos a respeito.:
Arquivo Adalberto Day/Texto Niels Deeke
Memorialista em memória/Colaboração Wieland Lickfeld pesquisador em Blumenau.
Esta foi mais uma grande tarde cultural.
ResponderExcluirSão muitas coisas a aprender neste seu blog.
É impossível não se surpreender com tudo o que se lê aqui.
Muito obrigada, e mais uma vez parabém.
Abraços gasparenses da Arlete e do Bridon
Meu caro Adalberto,
ResponderExcluirQuando comecei a ler este texto(muito bom por sinal),Lembrei de dois fatos.
1-Se fizermos uma pesquisa em nossa cidade sobre nomes das nossas praças, certamente 80% dos entrevistados não saberão o nome delas, confesso que e incluo neste percentual, quanto mais MARCO ZERO.
Comento sobre este assunto porque ora outra estou descobrindo nomes das nossas praças através de seus textos, ou de seus colegas.
2-Eu tive a honra de conhecer ,e entrar no então VAPOR BLUMENAU(namorava lá dentro aos domingos a tarde kkkk), quando estava na prainha, lembro que aos domingos era cheio de pessoas visitando tal local, e pessoas da cidade.
Quão bom é viajar nestas maravilhosas historias, parabéns....
Amigo beto este realmente é comentario para que tem estudo, muito longo complicado, e de varias respostas como voce diz,para quem entende deve ser interessante mas para mim so o que me chamou a atenção foi a falta do capim que desapareceu das margens de nosso rio talves por causa da maré alta e a agua salgada que desapareceu a forragens de capim, nos pescavamos com balaio de taquara ou de cipo pegava camarões, quanto ao Bar da ponte como era chamado não vendia so bebidas pois eu tambem freuqentei e tinha bolinho de carne pastel e lanche que eram servidos os funcionaros publicos da prefeitura, e eu pergunto onde esta os banheiros publicos do masuleu? que tomou seu lugar? quanto ao vapor Blumenau ifelismente foi o Sr Raul Deeke e o Kennil Club os culpados de nos deixarem com o compromisso de gastar um dinheiro jogado fora vergonhosamente, pois eu ainda acreditei quando da ultima vez a restauração foi com a promessa que seria uma bibliotéca flutuante depois de gastar até com a restauração do motor de 150 cavalos, para os burros verem. abraços Valdir Salvador
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