Vivências e narrativas de um blumenauense
Dia 30 de setembro
de 2013 recebi a visita do Presidente da Fundação Cultural de Blumenau, Sr. Sylvio
Zimmermann Neto. Veio me presentear com um importante livro (autografado)
que relata o início da Colônia Blumenau.
Este livro estará junto ao meu acervo composto por mais de 1000 exemplares.
Neste espaço reproduzirei um pequeno histórico do autor Karl Kleine e o
texto páginas 83,84,85,86,87.
Após ler o livro, aprendi um pouco mais sobre nossa rica
história de nossa querida Blumenau. As dificuldades que cada um que aqui aportaram tiveram que enfrentar, para construir esta rica e pujante cidade, os esforços, amargos dissabores foram muitos.
Agradeço ao Sylvio este privilegio. Conclamo aos blumenauenses adquirir um exemplar para desfrutar dessa genial obra, já que são 342 páginas seria impossível transcrevê-la toda.
Agradeço ao Sylvio este privilegio. Conclamo aos blumenauenses adquirir um exemplar para desfrutar dessa genial obra, já que são 342 páginas seria impossível transcrevê-la toda.
“Ao amigo Adalberto Day Na certeza de uma ótima leitura sobre a
história de Blumenau”.
Sylvio Zimmermann Neto
Karl Kleine
(1849-1922)
Theodor Karl Nikolaus Kleine, conhecido como Karl Kleine,
nasceu na Província de Posen, atualmente Poznan – Polônia, em 2 de fevereiro de
1849 e faleceu em 11 de março de 1922.
Emigrou para o Brasil acompanhado pelos pais e irmãos em 1856 e, após longa
viagem, a família chegou à foz do Rio Itajaí, com destino a Blumenau.
Ainda muito jovem, exerceu a função de emissário do correio, entre Blumenau e
Itajaí; aprendiz de jardinagem, em Florianópolis e ajudante na demarcação de
terras, no Vale do Itajaí.
Também atuou como trabalhador nas estradas do Paraná, na
demarcação de terras no planalto catarinense e exerceu a função de agricultor e
professor em Blumenau.
Vivências e Narrativas de um
blumenauense
- Não iremos adiante! Aqui é Blumenau.
A nossa chegada foi muito triste; ninguém nos recepcionou;
ninguém apareceu; ninguém se preocupou conosco e, apesar de saberem sobre a
nossa chegada, que deveria ser importante para eles, ninguém veio nos
cumprimentar. Certamente, um procedimento estranho e incompreensível que abateu
nossos ânimos.
Não havia nada à nossa frente, além de um pedaço de
terra desmatado e coberto de capoeira. Subimos pela margem do rio a procura da
cidade de Blumenau. Bom Deus! Onde estaria exatamente a cidade? Não esperávamos
encontrar uma cidade grande, mas, pelo menos, uma cidadezinha ou uma aldeia.
Porém, nada disso! Ali se encontrava uma casa grande e larga, de um andar e
meio, com uma sacada na parte frontal e paredes enxaimel preenchidas com barro.
A casa, aliás, estava inacabada. Em toda a construção, via-se apenas uma janela
de vidro, e, por trás da mesma, encontrava-se o gabinete do diretor. As demais
janelas eram de madeira. Essa única casa seria Blumenau? – Oh não! Ali havia mais uma casa, lá outra e,
mais adiante, via-se uma fileira de casebres, contudo, nenhuma dessas construções
fazia jus à denominação de “casa”, pois eram apenas casebres, ou melhor,
barracas construídas de acordo com o costume brasileiro e, em parte,
inacabadas.
Esse era o Stadtplatz (centro) de Blumenau, como
ainda hoje é denominado pelos colonos, embora tenha sido elevado à categoria de
Vila.
Assim, os recém-chegados avistaram Blumenau pela primeira
vez. Um olhava para o outro e ninguém ousava perguntar: por acaso isso é
Blumenau?
Finalmente, vieram ao nosso encontro, o cônsul Gärtner e seu
tio, o diretor, Dr. Blumenau, que trajava apenas camisa e calça, tendo na
cabeça um chapéu de palha bem simples, denominado “chapéu de negro”. Calçava
tamancos e, trazia pendurado no cinto, um facão.
Nesse “traje regional”, que no inverno era complementado por
um jaquetão e um par de sapatos ou botas, vimos Dr. Blumenau andando por lá,
durante muitos anos. Ele era alto e magro, e por trás de seus óculos,
cintilavam olhos inteligentes Cumprimentou os imigrantes de forma rápida, porém
cordial, deixando-os aos cuidados do Consul e de um companheiro de viagem, que
havia chegado a Blumenau em companhia do Consul, visto que sua irmã casada
vivia aqui há mais tempo.
- Se precisarem de alguma coisa, dirijam-se ao meu sobrinho
ou ao Schröder.
Eles já estão a par de tudo. Hoje estou sem tempo, voltarei
amanhã – disse o diretor, com seu modo pausado de falar, afastando-se, a seguir
com um amável acesso.
- Venham, eu quero lhes mostrar os quartos – comunicou Schröder.
Bem, então havia quartos, algo bastante promissor. Ele nos
levou em direção ao Garcia, onde realmente se encontrava o “hotel” com os
nossos “quartos”! Que aspecto maravilhoso e promissor: uma edificação longa e
estreita com muitas repartições, cujas paredes externas estavam tão lavadas
pelas chuvas e danificadas pelas enchentes, que apenas o enxaimel permanecia em
pé, e todo o barro de reboco se encontrava no solo, formando uma papa em tempo
chuvoso. As paredes internas dessas repartições eram apenas ripas rachadas de um tipo especial de palmeira, aqui
denominada “palmito”, amarradas com cipó (raiz de parasita) em travessões. As
ripas estavam jogadas desordenadamente e, em algumas partes, faltavam
completamente.
Provavelmente, foram utilizadas como lenha e, ao que tudo
indica, as camas do alojamento tiveram o mesmo fim, pois eram feitas do mesmo
material. O chão não era assoalhado, nem aplainado. Podia-se contemplar o céu
através do telhado, o que todos achavam muito prático, especialmente na época
de chuva. Juntando-se a tudo isso ao estrume de alguns bois, que circulavam
livremente por ali, podia-se obter uma imagem do rancho de imigrantes, ou como
dizia Schröder: “a casa de recepção”. Finalmente, Schröder nos comunicou:
- Pois bem, aqui vocês terão que se acomodar da melhor
maneira possível.
Após ter apresentado essa maravilha toda aos recém –
chegados, despediu-se e seguiu seu caminho. Os pobres imigrantes realmente não
sabiam se deviam rir ou chorar.
Porém, logo se concluiu que não restava alternativa, se não
pôr mãos à obra e, vejam, foi mais fácil do que se imaginava! Alguns moradores
dos arredores propuseram-se a nos ajudar e, antes de anoitecer, tudo estava
acomodado. Naturalmente, faltava muito para que pudéssemos nos instalar
confortavelmente, contudo, precisávamos nos conformar com aquilo durante os
dias seguintes.
A noite, depois do jantar, todos estavam sentados ao ar livre
e um sentimento estranho invadiu cada um – era a primeira noite na nova pátria,
era noite de Natal! – Todos recordavam os natais na antiga pátria e, de repente,
fez-se um silêncio estranho. De vez em quando se ouvia um som que parecia um
soluço.
- Oh pátria! Oh, terra natal! Quão distante estás, e , ao
mesmo tempo, tão próxima!
A principio, baixinho e timidamente, a seguir, cada vez mais
alto e forte, ouvia-se a canção “Noite Feliz”, que se misturava com canto
estridente das cigarras. Ninguém sabia quem havia iniciado, mas todos
acompanhavam a pequena canção de rico conteúdo, cujos acordes ecoavam pelo céu
estrelado. Era como se um anjo estivesse descido para acalentar todos os
corações.
Nessa noite, mais do que durante a viagem inteira, todos se
sentiram muito próximos uns dos outros. Ninguém percebeu que já era meia-noite!
Passaram-se mais algumas horas entre conversas ora sérias, ora descontraídas,
quando meu pai falou:
- Logo devem ser dez horas.
Aproximando o relógio à claridade da fogueira, Goldener
respondeu sorrindo:
- Passaram-se quatro horas das dez, e agora são duas horas
da madrugada!
Todos se levantaram admirados, apressando-se para chegar aos
seus leitos. Será que adormeceram imediatamente? É difícil de responder! O
pequeno coração humano é algo estranho, em determinadas ocasiões é difícil consolá-lo.
O primeiro dia na
nova pátria.
Na manhã
seguinte, o Sol apareceu no horizonte com uma grande bola de fogo. Iluminando o
novo dia, um feriado.
Com o Sol também veio o diretor, sozinho, passando por todos
os alojamentos, dirigindo palavras cordiais aos presentes. Ele estava novamente
com pressa, dando apenas respostas breves. Como não havia cozinha os imigrantes
pediram lenha.
- Cozinha?
Bem, vocês devem construí-la sozinhos, porque as velhas caíram aos pedaços –
respondeu sorrindo e, fazendo um movimento circular com a mão, explicou – Aí,
ao redor, há mato suficiente, retirem o material que quiserem. Apanhem a lenha onde possa ser encontrada.
- Sim, sim,
tudo isso pode ser muito bom, mas se os índios, ou as onças nos comerem? –
murmurou, em dialeto, um segeiro.
O diretor riu
mais ainda. - Nesses arredores não há,
onças nem índios – explicou ele aos novatos assustados – Vocês devem se cuidar
apenas para não se perder nas mata.
Ainda havia
muito para ser esclarecido, porém, o diretor cortou a conversa com as palavras:
- Hoje, não!
Hoje, não! Fica tudo para depois de amanhã.
Hoje, não tenho tempo! Desejo a todos um Feliz Natal –
retirou-se às pressas.
- Sujeito esquisito
– comentou Goldenercom meu pai – Ele deve ter certas manias.
- Deixa estar
– retrucou meu pai – Nós precisamos conhecê-lo melhor.
Enquanto meu
pai e Goldener conversavam, alguns colonos da redondeza começaram a chegar e , aos poucos, vieram mais e mais
pessoas que ficaram sabendo de nossa chegada.
{...}
Karl Kleine
O livro é uma transcrição
do manuscrito original de Theo Kleine. Tradução Annemarie Fouquet
Shünke. Organização Cristina Ferreira; Editora Cultura em Movimento, Blumenau
2011. Titulo original “Blumenau Einst.Erlebnisse und Erinnerungen”.
Livro com 342 páginas.
Arquivo família Kleine/Sérgio da Silva/Adalberto Day/Arquivo HJFS
Cada história passadas que você expõe pra gente,que a vontade que dar é de ler o livro todo. Lembrei da minha vinda pra Blumenau. As pessoas foram pouco receptivas, diferente das pessoas do norte. Que não te conhece, mas fala com você, como se conhecesse a muito tempo. Abraço Beto
ResponderExcluirOlá senhor Adalberto!
ResponderExcluirAqui é o Oscar, filho da Geonilda, neto do mais conhecido como Antonio Candinho!
Vi este livro que o senhor ganhou, sabe se tem para vender??
Outro livro que talvez o senhor pudesse me ajudar a achar é: Pedro Wagner: o pioneiro, pois este Pedro Wagner era meu antepassado tb!!
Abraços e parabéns pelos belos trabalhos históricos!!
OSCAR EWALD
Interessante ler estas historias. Nunca sabemos ao certo as dificuldades que estas pessoas passaram. Trazendo para o futuro, hoje ocorre a mesma coisa. Não é por naquela época se viver no meio de muita falta de esclarecimento não. É porque hoje a ignorância impera, e impera muito entre nós.
ResponderExcluirAdalberto
ResponderExcluirOlá amigo parabéns, pois você merece este importante presente.
desculpe assim que tiver um tempinho assisto este encontro.
abraços Bráulia e Joaquín
Prezado amigo e irmão...
ResponderExcluirBeto,realmente dá vontade de ter esse livro em mãos,para debruçar e reviver o passado,sinto-me filho desse rincão, amo essa cidade e admiro seu povo...
Baitabraço do irmão e amigo Antonio Aires - Santos SP
Beto,
ResponderExcluirParabenizo o amigo pela relevante posição conquistada no âmbito cultural do Município e região.
A ida do Presidente da Fundação Cultural ao teu museu (casa), para entregar-lhe pessoalmente um exemplar do livro "Vivências e Narrativas de um Blumenauense", é a prova concreta da respeitabilidade que todos têm para com você e teu blog.
Que continue assim são os meus votos.
Abraços
Carlos Braga Mueller
Jornalista e escritor
Caro Adalberto, este é sem dúvida um interessantíssimo relato sobre os primórdios de Blumenau. Foi publicado em alemão há vários anos com o título 'Blumenau einst' e nos últimos anos, em capítulos, na revista Blumenau em Cadernos. Grande abraço!
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