O AEROPORTO QUE GASPAR ... E BLUMENAU, UM DIA PERDERAM
!...
Por Carlos Braga Mueller
UM SONHO: O AEROPORTO INTERNACIONAL DE BLUMENAU
Antigo aeroporto de Itajaí, com duas pistas, em forma de cruz.
Mais uma
bela colaboração de Carlos Braga Mueller/Jornalista e escritor,
onde relata sobre “O Aeroporto que Blumenau perdeu”.
Por Carlos Braga Mueller
UM SONHO: O AEROPORTO INTERNACIONAL DE BLUMENAU
Em 1949 começou a ser construído o aeroporto de
Itajaí, situado à beira da margem direita do Rio Itajaí Açú, tendo por
limite, do outro lado, a Rua Blumenau. O aeroporto foi batizado de Salgado
Filho, nome que hoje já identifica outro aeroporto, o de Porto Alegre.
Em setembro de 1952 foi inaugurada a Estação de
Passageiros daquele aeroporto, nominada Presidente Vargas, cuja placa foi
descerrada pelo então Prefeito de Blumenau, Hercílio Deeke.
Era por ali que, já naqueles tempos, os
blumenauenses embarcavam para suas viagens aéreas.
Para avaliar a importância que na
época o transporte aéreo significava para nossa
região, existem registros de que a construção do aeroporto de Itajaí
foi em parte subsidiada pela Prefeitura de Blumenau. Em 27 de dezembro de 1949,
o Prefeito blumenauense Frederico Guilherme Busch Jr. assinou a Lei
n° 98, concedendo um auxilio de Cr$ 10.000,00 para a construção do "Campo
de Pouso" em Itajaí.
Aeroporto Salgado Filho em Itajaí (Foto: autor desconhecido)
Aeroporto Salgado Filho em Itajaí (Foto: autor desconhecido)
Com o correr dos tempos o aeroporto de Itajaí
foi ficando acanhado. Novos aviões precisavam de pistas maiores, embora ele
tivesse duas pistas, em forma de cruz. Houve casos em que, ao decolar,
cercas que delimitavam a cabeceira da pista foram arrancadas pelos pneus
do trem de pouso da aeronave.
Primeiro voo da companhia aérea Varig a chegar
em Itajaí em 1959. A Varig tinha voos para Porto Alegre e São Paulo (Foto : autor desconhecido)
Foi então que alguns homens públicos,
juntamente com empresários da nossa região, começaram a pensar em um novo local
para sediar um aeroporto que, além de grande, pudesse atender tranquilamente
Blumenau e todo o Vale do Itajaí.
A AÇÃO DE UM HOMEM PÚBLICO
Hercílio Deeke, eleito duas vezes Prefeito de
Blumenau (1951/1956 e 1961/1966), eleito também deputado federal em 1955,
licenciou-se do mandato para exercer as funções de Secretário Estadual da
Fazenda de Santa Catarina (31/01/1956 a 30/06/1960).
Seria o principal articulador da construção de um
novo aeroporto para o Vale do Itajaí.
Depois de estudos, foi encontrado um terreno
ideal para se construir um aeroporto de nível internacional: na margem
esquerda do Rio Itajaí Açu, correndo paralelo ao centro urbano de Gaspar.
Existia, porém, um obstáculo: como chegar ao
futuro aeroporto, do outro lado do rio?
Graças aos esforços de Hercílio Deeke, o Governo
Estadual construiu ali uma ponte, depois batizada "Ponte Hercílio
Deeke", que lá está até hoje, servindo a comunidade gasparense.
O projeto era na verdade audacioso, e em
Florianópolis Deeke desenvolvia as tratativas e os estudos
técnicos para a implantação do aeroporto em Gaspar, em uma área que
possibilitaria a construção de uma pista de até 3.800 metros.
Enquanto isso, Dorval Pamplona, prefeito de
Gaspar também se movimentava.
O "Projeto Gaspar" ia de vento em popa
e o prefeito daquele município, em 29/04/1958, enviou correspondência ao
Ministério da Aeronáutica pedindo que fosse efetuado o levantamento da área,
visando à execução do futuro aeroporto e a assinatura do respectivo convênio.
Em 14 de novembro de 1958, o
prefeito Dorval Pamplona, assinou a Lei n° 141/58, "declarando
de utilidade pública, para fins de aquisição amigável ou judicial, áreas
de terras destinadas à construção e ao aproveitamento do Aeroporto de
Gaspar."
Neste documento estavam relacionados 27
terrenos, cujos proprietários foram indenizados pelo Governo do Estado e
realocados em área próxima à margem do rio.
E O AEROPORTO PERMANECEU EM ITAJAÍ
Mas enquanto as forças políticas e da comunidade
de Blumenau e Gaspar se movimentavam para a efetiva construção do
aeroporto na margem esquerda do Rio Itajaí Açú, distante apenas 15 quilômetros
de Blumenau, em Itajaí forças idênticas se articulavam para manter o aeroporto
naquela cidade.
Um novo local foi mapeado, no então bairro, hoje
município de Navegantes. Na verdade, houve apenas a sua transposição para o
outro lado do rio. Espremida entre o mar e o Rio Itajaí-Açú, a área foi então,
segundo alguns na "calada da noite", homologada pelo Ministério
da Aeronáutica, definindo oficialmente o novo aeroporto de
Itajaí, na praia de Navegantes, em detrimento ao de Gaspar/Blumenau.
Aeroporto de Navegantes, espremido entre o
mar e o rio.
Hoje, o aeroporto ostenta o nome de Ministro
Victor Konder, porque foi no mandato deste ilustre catarinense como Ministro da
Viação e Obras Públicas que foi implantada a aviação comercial no Brasil.
Para não construí-lo em Gaspar foram arrolados
vários problemas, muitos morros ao redor, excesso de neblina causada pelo rio,
e por aí afora ....
Ato consumado, ficamos a ver navios
(no verdadeiro sentido da palavra) e só restava arquivar o nosso
projeto e lamentar a decisão do Governo Federal.
Em 1970 o Aeroporto Salgado Filho de Itajaí
foi finalmente desativado e o local ocupado pela CELESC.
Uma das últimas personalidades a utilizá-lo foi
a Miss Brasil 1969, blumenauense Vera Fischer que, depois da
vitória, foi ali recepcionada com palmas e foguetes.
A partir de então, para chegar até Navegantes os
passageiros deviam fazer a travessia em balsas. Ou então acessar o
novo aeroporto pela BR-101, seguindo depois por estrada de barro até
Navegantes, o que só seria melhorado muitos anos depois inclusive com a
construção da BR-470, pela qual os blumenauenses seguem agora direto para
Navegantes.
Hoje, sob a administração da INFRAÉRO, já existe
projeto para a construção de uma nova pista em Navegantes. O aeroporto
ficou pequeno para receber aeronaves mais possantes.
Se ele estivesse situado em Gaspar, a pista
poderia se estender até 3.800 metros!
E nós teríamos um aeroporto internacional
aqui pertinho!
Registro: para a elaboração deste trabalho foram
fundamentais as lembranças e "Memorabilia" do Memorialista blumenauense
Niels Deeke, ao qual
agradecemos pela colaboração (Carlos Braga Mueller).